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Consumo, digestibilidade total e desempenho de novilhos (página 2)

Daniele Rebouças Santana Loures; Rasmo Garcia; Odilon Gomes Pereira; Paulo

 

4. Material e métodos

Este trabalho foi conduzido na Central de Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (CEPET), da Universidade Federal de Viçosa, no período de abril a julho de 2002. A CEPET localiza-se no município de Capinópolis, na região do Pontal do Triângulo Mineiro, Minas Gerais, com altitude média de 620,2 m, latitude sul de 18,41º e longitude oeste de 49,34º. O clima é do tipo Aw, segundo a classificação de Köppen (1948), quente e úmido, com temperatura do mês mais frio acima de 18ºC e estação chuvosa no verão e seca no inverno, apresentando precipitações médias anuais entre 1.400 e 1.600 mm.

O plantio do sorgo (Volumax) foi feito em novembro de 2001, conforme recomendações do produtor de sementes. O solo da área é classificado como Latossolo Vermelho Escuro e sua correção foi realizada com base em análise, segundo as "Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais" (CFSEMG, 1989). Foram aplicados 300 kg/ha de 8-28-16 como adubação de plantio e duas adubações de cobertura, aos 25 e 45 dias pós- semeadura, com 150 kg/ha da mistura 20-0-20 e 100 kg/ha de uréia, respectivamente. O sorgo foi colhido com máquina colhedora de forragem, aos 118 dias pós-semeadura, quando os grãos atingiram o estádio farináceo-duro, e, posteriormente, ensilado em dois silos tipo superfície, cada um com capacidade de aproximadamente 50 toneladas.

Os tratamentos consistiram de dietas isoprotéicas, com 13,0% de proteína bruta, apresentando as seguintes proporções de silagem de sorgo e concentrado, com base na matéria seca: 80:20, 65:35, 50:50 e 35:65.

A proporção dos ingredientes nas dietas experimentais (com base na MS) e o custo dos concentrados (US$/100 kg de MS) e das dietas (US$/animal/dia) encontram-se na Tabela 1 e a composição química dos alimentos e das dietas, nas Tabelas 2 e 3, respectivamente.

 

Foram utilizados 24 bovinos machos, castrados, Holandês x Zebu, com peso vivo inicial de 435 kg e 36 meses de idade, distribuídos em um delineamento em blocos completos casualizados, com quatro tratamentos e seis repetições, distribuídos nos tratamentos conforme o peso. Os animais foram pesados, vermifugados e distribuídos por sorteio em baias individuais de 10 m2 com cocho coberto e bebedouro automático.

O ensaio teve duração de 78 dias, divididos em 15 dias de adaptação e três períodos de 21 dias. Os animais foram pesados ao final do período de adaptação, após 14 horas de jejum total, e em intervalos de 21 dias, de modo que as pesagens intermediárias foram feitas sem jejum prévio e a do final do período experimental, após 14 horas de jejum total.

A alimentação foi fornecida diariamente às 8 e 15h, de forma a manter as sobras em 5 a 10% do total consumido. A soja grão foi adicionada na ocasião da alimentação dos animais, em razão das dificuldades de se realizar sua mistura aos demais ingredientes do concentrado no misturador de ração. Diariamente, pela manhã, antes do fornecimento das dietas, as sobras de cada animal foram retiradas e pesadas, anotando-se os dados em planilhas apropriadas para o controle diário das quantidades de alimentos fornecidos e das sobras. As sobras foram amostradas diariamente, após pesagem e anotações, e os alimentos fornecidos (silagem, concentrados e soja em grão) três vezes por semana. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, devidamente identificados, e armazenadas em freezer. Ao final de cada período de 21 dias, as amostras da silagem, dos concentrados e da soja em grão e das sobras de cada animal foram descongeladas em temperatura ambiente e homogeneizadas manualmente, elaborando-se uma amostra composta por animal para cada período e outra composta por alimento fornecido por período.

Realizou-se ensaio de digestibilidade, com início no 31º dia experimental, utilizando-se todos os animais. Durante seis dias (período de coleta), procedeu-se à coleta dos alimentos fornecidos, das sobras e das fezes de cada animal. As amostras foram acondicionadas em sacos plásticos devidamente identificados e guardadas em freezer. Ao final deste período, as amostras de silagem, concentrados, soja em grão e das amostras de sobras de cada animal foram descongeladas em temperatura ambiente e homogeneizadas manualmente, efetuando-se uma amostra composta por animal. Da mesma forma, procedeu-se à confecção de uma amostra composta por alimento fornecido. Foram coletadas uma vez ao dia, antes da primeira alimentação, amostras de fezes frescas dos animais (em torno de 300 g), diretamente no piso (raspado diariamente), de modo que não houvesse contaminação com fezes secas ou solo. As amostras de fezes foram homogeneizadas, acondicionadas em pratos de alumínio e pré-secas em estufa de ventilação forçada a 65ºC, durante 72 horas. Em seguida, foram processadas em moinho tipo "Willey" com peneira de 30 mesh e agrupadas proporcionalmente, constituindo amostras compostas de cada animal para análises posteriores.

Todas as amostras compostas de alimentos e sobras foram submetidas à pré-secagem em estufa de ventilação forçada a 65º C, por 72 horas. Posteriormente, foram processadas em moinho de faca tipo "Willey", com peneira de 30 mesh, e armazenadas para posteriores análises laboratoriais.

Os teores de MS, MO, NT, EE, lignina, NIDN e NIDA foram determinados segundo técnicas descritas por Silva & Queiroz (2002), sendo a proteína bruta (PB) obtida pelo produto entre o teor de nitrogênio total e o fator 6,25. Os teores de fibra em detergente ácido (FDA) e fibra em detergente neutro (FDN) foram determinados conforme metodologia descrita por Pell & Schofield (1993), denominada método da autoclave. A correção da FDN para cinzas e proteína (FDNcp) foi realizada nas amostras de alimentos, para cálculo da digestibilidade da FDN e NDT das dietas. Todas as análises foram realizadas nos Laboratórios de Nutrição Animal e Forragicultura do Departamento de Zootecnia da UFV.

Utilizou-se o indicador interno fibra em detergente ácido insolúvel (FDAi) para estimativa da produção de matéria seca fecal (MSF), conforme proposto por Cochran et al. (1986). Porém, adotou-se a digestibilidade in situ, incubando-se as amostras compostas no rúmen em sacos de ankom, por 144 horas, em vez da digestibilidade in vitro, sugerida pelos autores. O total de matéria seca fecal foi calculado segundo a equação: kg de MSF estimada = kg de indicador ingerido/% do indicador nas fezes.

O NDT das dietas foi calculado segundo equação proposta pelo NRC (2001): NDT = PBD + 2,25 x EED + FDNcpD + CNFD, em que: PBD, EED, FDNcpD e CNFD significam, respectivamente, proteína bruta digestível, extrato etéreo digestível, fibra em detergente neutro (corrigida para cinzas e proteína) digestível e carboidratos não-fibrosos digestíveis.

Em razão da presença de uréia nas dietas, os CNF foram calculados como proposto por Hall (2000): CNF = 100 [(%PB - %PB derivada da uréia + % de uréia) + %FDNcp + %EE + %cinzas].

Os animais foram abatidos ao final do período experimental, para determinação do rendimento de carcaça (RC), calculado como a razão percentual entre o peso de carcaça quente (PCQ) e o peso vivo final (PVF) em jejum.

O custo da dieta (Tabela 1) foi estimado considerando-se a quantidade total de MS fornecida ao animal por dia e o custo da silagem de sorgo, de R$ 0,17/kg de MS (Anualpec, 2003). Para o cálculo do custo da arroba produzida durante o período experimental (Tabela 6), consideraram-se apenas o custo da dieta – uma vez que os demais custos variáveis e fixos envolvidos foram praticamente constantes em todos os tratamentos – e o rendimento de carcaça dos animais nos diferentes tratamentos.

O experimento foi analisado segundo delineamento em blocos completos casualizados, sendo a variação associada a tratamentos decomposta em contrastes ortogonais relativos aos efeitos de ordens linear, quadrática e cúbica (Steel et al., 1997), com posterior ajustamento de equações de regressão linear, por intermédio dos mínimos quadrados ordinários, adotando-se 0,05 como nível crítico de probabilidade para o erro tipo I. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa SAEG 8.0 – Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (UFV, 2001).

5. Resultados e discussão

A silagem de sorgo utilizada no experimento apresentou valor médio de pH de 3,9 e concentração de nitrogênio amoniacal, como porcentagem do nitrogênio total, de 7,94%, o que permite classificá-la como de boa qualidade, segundo parâmetros preconizados por McDonald et al. (1991) e Muck & Pitt (1993).

Constam na Tabela 4 as médias, os coeficientes de variação e as equações de regressão ajustadas para os consumos de nutrientes, de acordo com o nível de concentrado nas dietas. Os consumos de MS e MO, em kg/dia, não foram influenciados (P>0,05) pelo aumento de concentrado nas dietas, registrando-se valores médios de 10,9 e 10,2 kg/dia, respectivamente. Quando expresso em porcentagem do peso vivo (%PV) ou (g/kgPV0,75), o consumo de MS aumentou linearmente (P<0,05) com o aumento do nível de concentrado na dieta, estimando-se acréscimos de 0,007836 e 0,36132 unidades por unidade de acréscimo de concentrado. Resende et al. (2001b) avaliaram os níveis de 15, 30, 45, 60 e 75% de concentrado na dieta de bovinos de corte (5/8 Europeu x Zebu) e verificaram que os consumos de MS e MO, quando expressos em kg/dia, não variaram com os níveis de concentrado, apresentando médias de 10,09 e 9,49 kg/dia, respectivamente. Todavia, quando expressos em % do PV, os consumos de MS e MO foram influenciados de forma quadrática pelos níveis de concentrado, apresentando, respectivamente, valores de 2,87 e 2,70% do PV, para dietas com 39 e 42% de concentrado na dieta. Comportamento semelhante foi verificado por Gesualdi Jr. et al. (2000), ao estudarem os níveis de 25, 37,5, 50, 62,5 e 75% de concentrado na dieta.

 

Carvalho et al. (1997), trabalhando com níveis de 20; 32,5; 45; 57,5 e 70% de concentrado e Moraes et al. (2002), com as mesmas proporções de concentrado utilizadas neste trabalho, também não verificaram variação nos consumos de MS e MO em resposta ao aumento do nível de concentrado nas dietas, quando expressos em kg/dia. Entretanto, Souza et al. (2002), utilizando silagem de milho, e Silva et al. (2005), silagem de Brachiaria brizantha cv. Marandu, avaliaram os níveis de concentrado na dieta de 22, 37, 53 e 67% e 20, 35, 50 e 65%, respectivamente, e verificaram aumento linear no consumo de MS e MO com o aumento do nível de concentrado.

A redução no consumo de matéria seca (% do PV) com o acréscimo de silagem de sorgo na dieta poderia ser atribuída ao efeito de enchimento ocasionado pelo aumento do consumo de FDN das dietas com maiores teores de silagem. Contudo, em todas as dietas avaliadas, o consumo de FDN foi inferior ao valor sugerido por Mertens (1992), de 1,2%PV, necessário para que a ingestão de alimentos seja controlada pelo efeito de enchimento no rúmen. Para dietas com níveis de concentrado acima de 50%, a ingestão de matéria seca provavelmente foi controlada pela demanda energértica do animal. Segundo Van Soest (1994), o consumo de dietas com alta densidade calórica é definido pela demanda energética do animal. Véras et al. (2000) também verificaram que, com a inclusão de concentrado em níveis superiores a 50% na dieta, a ingestão de MS foi limitada pela demanda energética do animal.

Os consumos de PB e NDT também não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis de concentrado nas dietas, registrando-se valores médios de 1,48 e 7,34 kg/dia, respectivamente. Embora o teor de NDT das dietas tenha aumentado com o incremento dos níveis de concentrado nas dietas (Tabela 3), não houve aumento no consumo deste nutriente com o incremento do concentrado nas dietas, uma vez que o consumo de MS foi similar (P>0,05) entre os tratamentos. No caso da PB, essa tendência pode ser explicada pela similaridade deste nutriente entre as dietas (Tabela 3) e pelo consumo de MS (kg/dia), que não variou com os níveis de concentrado (Tabela 4).

Moraes et al. (2002) trabalharam com as mesmas proporções de concentrado utilizadas neste trabalho, mas utilizando silagem de milho, e também não encontraram variação no consumo de PB e NDT com o incremento de concentrado na dieta. Entretanto, efeito linear crescente nos consumos de PB, em relação ao nível de concentrado, foi verificado por vários autores (Tibo et al., 2000; Souza et al., 2002; Silva et al., 2005).

Os valores obtidos para os consumos médios diários de PB e NDT (1,48 e 7,34 kg, respectivamente) foram superiores às exigências para ganhos diários de 1 kg de bovinos castrados Holandês x Zebu com 435 kg de PV inicial e 520 kg de PV final, que são de 0,948 kg de proteína e 6,42 kg de NDT, segundo o NRC (1996).

Os consumos de CNF e EE aumentaram linearmente com o incremento do nível de concentrado na dieta, como resultado do aumento no teor desses nutrientes nas dietas com o acréscimo de concentrado (Tabela 3). Comportamento semelhante foi observado por Carvalho et al. (1997), Véras et al. (2000) e Souza et al. (2002). Entretanto, Ítavo et al. (2002), ao avaliarem os níveis de 20, 40, 60 e 80% de concentrado, não encontraram efeito dos níveis de concentrado na dieta sobre o consumo de EE.

O consumo de FDN, no entanto, independentemente da forma de expressão, decresceu linearmente com o aumento do nível de concentrado, o que era esperado, uma vez que o teor de FDN das dietas decresceu de 55,4 (20% de concentrado) para 31,6% (65% de concentrado) (Tabela 3). Estimou-se redução de 0,0435 kg no consumo de FDN por unidade de concentrado adicionada à dieta.

Vários autores verificaram efeito linear decrescente do consumo de FDN com o aumento do nível de concentrado (Carvalho et al., 1997; Gesualdi Jr. et al., 2000; Moraes et al., 2002). Entretanto, Dutra et al. (1997), em estudo com novilhos mestiços Holândes x Zebu, não observaram diferença no consumo de FDN para rações pobres ou ricas em fibra (38,7 e 57,2% de FDN na MS total), cujo consumo médio foi de 0,91% do PV, e concluíram que o consumo de MS foi regulado pela ingestão de FDN. Silva et al. (2005) também não detectaram efeito do nível de concentrado sobre o consumo de FDN. Resende et al. (1994) afirmam que ainda são escassas pesquisas sobre o consumo de FDN em gado de corte, em relação ao PV, e as existentes indicam que o consumo de FDN deve situar próximo a 1,0% do PV.

Na Tabela 5 encontram-se os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes, as equações de regressão ajustadas, conforme os níveis de concentrado na dieta, e os respectivos coeficientes de determinação e variação.

As digestibilidades aparentes de MS, MO e CNF não foram influenciadas (P>0,05) pelos níveis de concentrado na dieta, apresentando médias de 63,8; 65,1 e 82,2%, respectivamente, o que não era esperado, pois houve aumento linear do consumo de CNF com o incremento dos níveis de concentrado, que são mais digestíveis. Moraes et al. (2002), no entanto, aumentaram a proporção de concentrado na dieta e encontraram variações apenas para o coeficiente de digestibilidade dos CNF.

Alguns pesquisadores (Ítavo et al., 2002; Silva et al., 2005) relataram aumentos lineares nos coeficientes de digestibilidade de MS e MO com o incremento dos níveis de concentrado nas dietas. Entretanto, Véras et al. (2000) avaliaram os níveis de 25; 37,5; 50; 62,5 e 75% de concentrado na dieta e verificaram efeito quadrático dos níveis de concentrado sobre os coeficientes de digestibilidade da MS e MO.

Os coeficientes de digestibilidade aparente da PB e do EE decresceram linearmente com o incremento dos níveis de concentrado na dieta (Tabela 5). As digestibilidades da PB e do EE aumentaram com o incremento de seus níveis na dieta, pois foi diluído o efeito da proteína e do extrato etéreo endógeno, mas o aumento do teor de NIDA (Tabela 2) pode ter inibido a digestibilidade da PB. Tibo et al. (2000), ao trabalharem com níveis de 25; 37,5; 50; 62,5 e 75%, constataram efeito linear crescente, Véras et al. (2000) verificaram efeito quadrático e Carvalho et al. (1997), Moraes et al. (2002), Ítavo et al. (2002) e Silva et al. (2005) não notaram efeito dos níveis de concentrado sobre a digestibilidade da PB e do EE.

O coeficiente de digestibilidade aparente da FDN também decresceu linearmente (P<0,01) com o incremento do concentrado nas dietas (Tabela 5), possivelmente em decorrência do mecanismo de competição entre bactérias amilolíticas e fibrolíticas, no qual os microrganismos amilolíticos se desenvolvem mais rapidamente por sua maior eficiência na utilização do nitrogênio presente no rúmen (Olson et al., 1999). Dessa forma, dietas com maiores níveis de concentrados promovem maior proliferação de microrganismos amilolíticos em detrimento dos celulolíticos e, conseqüentemente, menor digestão da fibra. Outro fator que também pode ter influenciado este resultado é a possível ocorrência de efeito associativo entre a qualidade da FDN, relacionada ao teor de lignina, principalmente da silagem em si, e sua digestibilidade, que pode ser afetada pela fermentação dos CNF, cujo consumo aumentou com o nível de concentrado (Tabela 4). Resultados semelhantes foram encontrados por Tibo et al. (2000), Resende et al. (2001b) e Ítavo et al. (2002).

Na Tabela 6 encontram-se os pesos vivo inicial e final, os ganhos médios diários, o rendimento de carcaça, a conversão alimentar dos animais, o custo da arroba produzida durante o período experimental (US$/@), bem como as equações de regressão e os coeficientes de variação.

O ganho médio diário de peso corporal (GMD) e a conversão alimentar (CA) não foram influenciados (P>0,05) pelos níveis crescentes de concentrado às dietas, registrando-se valores médios de 1,40 kg/dia e 8,08 kg de MS/kg GPV, respectivamente, o que pode ser atribuído ao efeito das dietas sobre os consumos de MS, PB e NDT, embora o valor energético das dietas tenha aumentado com o incremento de concentrado, promovendo pequenos acréscimos no GMD.

Ressalta-se que, mesmo na dieta com apenas 20% de concentrado, foram verificados elevados consumos médios de PB e NDT (1,35 e 6,69 kg/dia, respectivamente), que foram significativamente superiores às exigências para ganhos de 1,0 kg de animais com 450 kg, segundo o NRC (1996). Silva et al. (2002), utilizando feno de capim-tifton 85 e níveis de 20, 40, 60 e 80% de concentrado, também não verificaram variação no GMD e na CA dos animais e atribuíram este fato ao alto valor nutritivo do feno e ao potencial genético dos animais utilizados no experimento, o que, talvez, não tenha permitido que os ganhos fossem maiores, uma vez que haviam sido atingidos com a dieta de menor valor energético (20% de concentrado).

Em contrapartida, Souza et al. (2002) e Silva et al. (2005) constataram aumentos lineares no ganho de peso dos animais com o incremento dos níveis de concentrado, verificando maiores ganhos quando utilizaram 65% de concentrado na dieta. Entretanto, estes autores não averiguaram o custo da arroba produzida em função dos níveis de concentrado. Aumentos lineares no ganho de peso de animais confinados com o incremento do nível de concentrado na dieta são freqüentemente encontrados na literatura (Resende et al., 2001a; Costa et al., 2002).

Numericamente, foi observado maior ganho de peso nos animais que receberam dietas com 50% de concentrado. Todavia, a utilização da dieta contendo 20% de concentrado proporcionou produção de carne com menor custo, pois a inclusão de apenas 20% de concentrado na dieta total utilizada neste tratamento refletiu em menor custo diário da dieta por animal, mesmo quando o custo por quilo de concentrado desta dieta foi mais elevado que o das demais (Tabela 1). Ressalta-se que o desempenho dos animais que receberam a dieta com 20% de concentrado também foi superior ao dos animais alimentados com 35% de concentrado na dieta (Tabela 6).

Feijó et al. (1996) avaliaram o efeito do fornecimento de dietas com 0, 20, 40 e 60% de concentrado, tendo como fontes protéicas farelo de soja ou soja em grão e, como volumoso, silagem de milho, sobre o desempenho de novilhos Nelore e observaram efeito quadrático dos níveis de concentrado sobre o GMD quando utilizaram soja em grão, estimando valor máximo de 1,3 kg/dia para o nível de 54% de concentrado. Esses autores concluíram que a maior rentabilidade econômica ocorreu quando utilizaram o nível de 20% de concentrado na dieta e soja em grão como fonte protéica. Contudo, quando utilizaram o farelo de soja no concentrado, os melhores resultados de rentabilidade e desempenho ocorreram com níveis de 40 a 60% de concentrado na dieta.

A resposta animal à adição de concentrado parece ser variável, de modo que o ponto ótimo de concentrado na ração tem como fatores determinantes o sexo, a raça e a idade do animal, além da qualidade do volumoso e do concentrado (Araújo et al., 1998).

Atualmente, o sistema de confinamento deve ser utilizado de forma estratégica em um sistema de produção de gado de corte, visando explorar principalmente suas vantagens indiretas, como melhor manejo e aproveitamento das pastagens para outras categorias animais, melhor controle da engorda dos animais, melhores preços na entressafra, melhor qualidade da carne produzida e em menor tempo, aumentando o giro de capital e a taxa de desfrute da propriedade. Todos os fatores devem ser criteriosamente avaliados, uma vez que o custo de arroba produzida durante o período de confinamento dos animais geralmente supera o preço de mercado.

Quanto à conversão alimentar, pesquisas relatam efeito linear decrescente com o incremento de concentrado à dieta, visto que a densidade energética da dieta é aumentada com o incremento de concentrado, resultando em maior ingestão de energia e, conseqüentemente, em menor quantidade de alimento necessária para o ganho de peso (Resende et al., 2001a; Costa et al., 2002). Esses relatos contrariam os resultados obtidos neste estudo, em que esse efeito possivelmente decorreu do tipo de animal, pois os novilhos eram castrados e se encontravam, no início do experimento, com peso médio relativamente elevado (435 kg) e idade acima dos 36 meses. Souza et al. (2002), trabalhando com silagem de milho e níveis de concentrado semelhantes aos deste estudo, também não verificaram efeito do aumento dos níveis de concentrado sobre a conversão alimentar, encontrando valor médio de 7,81. Resultados semelhantes foram reportados por Silva et al. (2002), que utilizaram feno de capim-tifton 85 e níveis de 20, 40, 60 e 80% de concentrado na dieta.

O rendimento de carcaça dos animais respondeu linearmente (P<0,01) ao aumento dos níveis de concentrado (Tabela 6). Comportamento semelhante foi observado por Gesualdi Jr. et al. (2000) e Silva et al. (2002), que constataram que o principal fator a influenciar o aumento do rendimento de carcaça foi a diminuição linear do peso do conteúdo do trato gastrintestinal com o aumento dos níveis de concentrado na dieta, pois aquelas com maiores níveis de concentrado apresentaram maior digestibilidade. Entretanto, Steen & Kilppatrick (2000) e Souza et al. (2002) não registraram efeito de níveis de concentrado sobre o rendimento de carcaça dos animais.

6. Conclusões

Dietas contendo silagem de sorgo de boa qualidade, associadas a níveis de 20, 35, 50 e 65% de concentrado, não influenciam os consumos de matéria seca, proteína bruta e nutrientes digestíveis totais, expressos em kg/dia, bem como o ganho de peso e a conversão alimentar dos animais. A dieta contendo 20% de concentrado para bovinos machos castrados Holandês x Zebu com 435 kg e idade acima de 36 meses e castrados proporcionou produção de carne com menor custo que aquelas com 35, 50 e 65% de concentrado.

7. Literatura citada

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1 Parte da dissertação de Mestrado em Zootecnia apresentada pelo primeiro autor à UFV.

Dalton Henrique PereiraI; Odilon Gomes PereiraII; Sebastião de Campos Valadares FilhoII; Rasmo GarciaII; Amanda Prates OliveiraIII; Fernanda Helena MartinsII; Valéria VianaIV - rgarcia[arroba]ufv.br

IPós-graduação em Zootecnia/UFV

IIDepartamento de Zootecnia da UFV, Viçosa-MG. Bolsista do CNPq

IIIPós-graduação em Zootecnia - Unesp, Jaboticabal, SP

IVUniversidade Presidente Antônio Carlos – UNIPAC, Araguari-MG



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