Composição química e digestibilidade in vitro do feno de Brachiaria decumbens Stapf. tratado com uréia

Enviado por Rasmo Garcia


1. Resumo

Avaliaram-se os efeitos da adição de uréia em níveis crescentes sobre a composição química e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) do feno de Brachiaria decumbens colhida no estádio de pós-florescimento. O feno foi tratado com seis níveis de uréia (0, 2, 4, 6, 8 e 10%), com base na matéria seca (MS). A uréia foi dissolvida em quantidade de água suficiente para elevar o teor de umidade do feno para 30%. O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com três repetições. O feno tratado foi armazenado em sacos plásticos (2 kg/saco) vedados, por 35 dias, e, após abertura, foram coletadas amostras para as análises químicas. Verificou-se que o teor de nitrogênio total (NT) aumentou linearmente em função dos níveis crescentes de uréia. Os teores de NIDN e NIDA, em relação ao nitrogênio total (NIDN/NT e NIDA/NT), tiveram redução linear em função dos níveis crescentes de uréia, demonstrando aumento nos teores de nitrogênio disponível no material amonizado. A adição de uréia promoveu redução no teor de fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e celulose. Os teores de hemicelulose e lignina não foram alterados pelo tratamento com uréia. A digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) foi influenciada de forma quadrática pelos níveis de uréia, estimando-se valor máximo de 68, 9% para o nível de 7, 15% de uréia. A amonização com uréia alterou a composição química e a digestibilidade do feno de Brachiaria decumbens, melhorando o valor nutritivo do material tratado.

Palavras-chave: amonização, NIDA, NIDN, nitrogênio total, parede celular

2. Abstract

An experiment was conducted to evaluate the effects of urea treatment on the chemical-bromatologic compounds and in vitro dry matter digestibility (IVDMD) of Brachiaria decumbens hay. The hay were reconstituted with water to get final forage moisture concentration of 30%, and treated with urea at 0, 2, 4, 6, 8, and 10% of the forage dry matter. A completely randomized design with three replicates was used. The material was stored in plastic bags (2kg/plastic bag) for 35 days, and after plastic bag opening, samples were collected to chemical analysis. Hay total nitrogen (TN) concentration increased linearly with increasing urea level. The NDIN/TN and ADIN/TN ratios decreased with increasing urea level. The neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF) and cellulose contents decreased due to ammoniation with urea. The hemicellulose and lignin contents were no affected with urea treatment. The in vitro dry matter digestibility (IVDMD) had a quadratic response to the increasing urea level reaching the maximum digestibility of 68.9% at the 7.15% urea level. Urea ammoniation altered the chemical composition and digestibility of the Brachiaria decumbens hay, improving the nutritive value of forage.

Key Words: ADIN, ammoniation, cell wall, NDIN, total nitrogen

3. Introdução

A maior parte do território brasileiro caracteriza-se por duas estações (chuvosa e seca) bem definidas, o que implica na estacionalidade da produção de forragens.

A alta produção de forrageiras no período chuvoso muitas vezes é subutilizada e parte acaba sendo perdida, enquanto, no período seco do ano, ocorre escassez de forragem para alimentação dos rebanhos. No entanto, para que os animais mantenham bons níveis de produção ao longo do ano, é necessário o uso de volumosos de qualidade também no período seco, uma vez que as exigências nutricionais dos animais permanecem as mesmas durante todo ano.

A fenação pode ser boa opção para o aproveitamento do excesso de forragem produzida no período chuvoso. No entanto, encontra-se como obstáculo a adequação do estádio de desenvolvimento ideal da forrageira, ou seja, a produção máxima com elevado valor nutritivo, às condições apropriadas para rápida desidratação do material (Burns, 1978; Seiffert, 1988). Com o intuito de contornar os problemas climáticos que limitam os processos de conservação, muitas vezes, opta-se pelo corte da forrageira no período de outono, quando diminui o risco de chuvas. Entretanto, nesta época do ano, geralmente ocorre queda acentuada no valor nutritivo das gramíneas forrageiras tropicais, em decorrência do florescimento (Reis et al., 2002).

Os fenos produzidos a partir de gramíneas de clima tropical colhidas no estádio de pós-florescimento e as palhadas obtidas após a colheita de grãos de cereais e sementes de gramíneas forrageiras são alimentos essencialmente energéticos, de baixos teores protéico e mineral, pouca digestibilidade e baixo consumo voluntário (Garcia & Pires, 1998).

Apesar de esses produtos serem considerados uma alternativa para a alimentação dos rebanhos no período de escassez de forragem, possuem características que limitam seu aproveitamento pelos animais, destacando-se o elevado conteúdo de parede celular, alto teor de fibra em detergente ácido (FDA) e lignina, a pequena disponibilidade de compostos nitrogenados e baixa digestibilidade da matéria seca (Reis & Rodrigues, 1993). Para que esses volumosos de baixa qualidade possam ser utilizados de forma eficiente na alimentação de ruminantes, deve-se buscar alternativas que permitam aumentar seu valor nutritivo e seu aproveitamento pelos animais, de modo que sejam minimizados esses problemas.

Nos últimos anos, têm-se utilizado diversos tipos de tratamentos químicos, físicos e biológicos visando melhorar as características desses volumosos para que possam ser melhor aproveitados pelos ruminantes.

Entre as diferentes alternativas para o tratamento químico de volumosos, a amonização, utilizando-se uréia como fonte de amônia, vem promovendo resultados bastante satisfatórios (Brown & Adjei, 1995; Rosa et al., 1998; Cândido et al., 1999; Reis et al., 2001a, b, c; Granzin & Dryden, 2003. O uso da uréia para o tratamento químico de volumosos é uma alternativa viável, por ser um produto com grande disponibilidade no mercado, de fácil aplicação e menos perigoso à intoxicação humana e, na maioria das vezes, menos oneroso que a amônia anidra.

Diversas pesquisas têm indicado que o tratamento de volumosos de baixa qualidade, utilizando-se fontes de amônia, pode melhorar a qualidade desses produtos, elevando significativamente seu valor nutritivo e, conseqüentemente, seu consumo e aproveitamento pelos animais (Brown & Adjei, 1995; Reis et al., 2001a, b, c; Granzin & Dryden, 2003 ). No entanto, os resultados obtidos nessas pesquisas são bastante variáveis.

Conduziu-se esse experimento objetivando-se avaliar a composição química e a digestibilidade in vitro do feno de Brachiaria decumbens tratado com diferentes níveis de uréia.


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