Artigo original: Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Mar 2005, vol.27, no.3, p.130-136. ISSN 0100-7203
Objetivo:
Analisar o peso ao nascer da coorte de recém-nascidos do ano 2000, em Goiânia, pela determinação do coeficiente de mortalidade e probabilidade de sobrevivência neonatal, estratificados por categorias de peso ao nascer e, ainda, pela identificação dos fatores associados ao baixo peso ao nascer (BPN).
Métodos:
Estudo de coorte retrospectivo, constituído por linkage dos arquivos do SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) e do SINASC (Sistema de Informações de Nascimentos). Foram calculados coeficientes de mortalidade neonatal para as categorias de peso ao nascer e construído um gráfico de probabilidades de sobrevivência neonatal por meio de análise de regressão linear. Foram identificados fatores de risco para o BPN mediante análise univariada (RR) e regressão logística, considerando-se nível de significância de 5%.
Resultados:
A incidência de BPN foi de 6,9%, sendo que 140 (66,8%) óbitos neonatais ocorreram nesse grupo. Trinta por cento dos óbitos se deram na categoria de peso entre 1.500-2.500 g. Os fatores identificados como de risco para o BPN foram: prematuridade, presença de malformações congênitas, mães com idade em extremos reprodutivos, residência na região noroeste do município, baixo número de consultas no pré-natal, parto em hospital público e sexo feminino.
Conclusão:
A incidência de BPN foi semelhante aos países desenvolvidos e os coeficientes de mortalidade neonatal, por categoria de peso, aquém dos encontrados naqueles países. Os resultados encontrados orientam atenção para: prematuridade, hospitais públicos e região noroeste de Goiânia.
Palavras-chave: Mortalidade neonatal; Peso ao nascer; Baixo peso ao nascer; Prematuro; Desenvolvimento embrionário e fetal.
Purpose:
To analyze birth weight in a cohort of newborns for the year 2000, in Goiânia, by determining the coefficient of mortality and neonatal survival probability, stratified by categories of birth weight, and also, through the identification of factors associated with low birth weight (LBW).
Methods:
A retrospective cohort study, made possible by the linkage of data from the ISM (Information System on Mortality) and ISLB (Information System on Live Births) files. Coefficients of neonatal mortality were calculated for the categories of birth weight and a neonatal survival probability chart was constructed with the help of linear regression analysis. Risk factors for LBW were identified by univariate analysis (RR) and logistic regression analysis, and the level of significance was set at 5%.
Results:
The incidence of LBW was 6.9% and 140 (66.8%) neonatal deaths took place in this group. Thirty percent of these deaths occurred in the 1,500-2,500 g weight bracket. The following risk factors were identified for LBW: preterm pregnancy, presence of congenital malformations, mothers at the extreme ages for reproduction, mothers living in the northwestern region of the city, insufficient prenatal appointments with the doctor, delivery in a public hospital, and female babies.
Conclusion:
Goiânia had an incidence of LBW which is comparable to that of developed countries and coefficients of neonatal mortality by category of weight were below those found for those countries. These results recommend that we pay attention to: prematurity, public hospitals, and the northwestern region of Goiânia.
Keywords: Infant mortality; Birth weight; Infant, low birth weight; Infant, premature; Embryo and fetal development; Survival rate
Cerca de 7,1 milhões de crianças morrem a cada ano, em todo o mundo, no primeiro ano de vida. Metade dessas mortes ocorre no período neonatal sendo que, nesse período, 75% dos óbitos se dão na primeira semana e 40% nas primeiras 24 horas de vida. Aproximadamente 98% de todas as mortes neonatais ocorrem em países em desenvolvimento¹.
São várias as causas de morte entre os recém-nascidos (RN), como: infecções, asfixia de parto, anomalias congênitas e complicações relacionadas à prematuridade. No entanto, o baixo peso ao nascer (BPN), ou seja, inferior a 2.500 g, responde por uma parcela significante das mortes neonatais - cerca de 40 a 70%¹.
O peso ao nascer é, isoladamente, o principal fator associado ao risco de morte no período neonatal². Complexo processo resultante de uma série de fatores de origem biológica, social e ambiental, o peso ao nascer é forte preditor da probabilidade de sobrevivência nos primeiros 28 dias de vida. Seu estudo coloca em evidência fatores relacionados à condição de vida, que podem estar modificando o potencial genético para a distribuição do peso ao nascer em determinada região e, dessa forma, estar influen-ciando sobre a mortalidade infantil3-5.
Os coeficientes de mortalidade neonatal são amplamente usados como indicadores sensíveis da qualidade de assistência à gestação, parto e ao RN de uma dada população. Por outro lado, a probabilidade de sobrevivência neonatal, estratificada por grupos de peso ao nascer, permite formular prognósticos e orientar condutas obstétricas antenatais diante da necessidade de se interromper uma gestação de alto risco6-8.
A cidade de Goiânia apresenta uma população de 1.093.007 habitantes, dos quais 105.100 são crianças menores de cinco anos de idade com coeficientes de mortalidade infantil e neonatal de, respectivamente, 16/1000 e 11/1000 habitantes9 e incidência de BPN de 6,8%10. A grande parcela do componente neonatal para o coeficiente de mortalidade infantil coloca esse período como prio-ridade das políticas de saúde quando se pretende reduzir o coeficiente de mortalidade infantil nesse município, e o estudo do peso ao nascer funciona como estratégia para atingir esse alvo.
O objetivo do presente estudo é analisar o peso ao nascer da coorte de RN de Goiânia, no ano 2000, pela determinação do coeficiente de mortalidade e probabilidade de sobrevivência neonatal, estratificados por categorias de peso ao nascer e, ainda, pela identificação dos fatores associados ao BPN entre as variáveis epidemiológicas e demográficas, referidas na Declaração de Nascimento (DN) do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC).
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