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Avaliação do consumo de silagens de sorgo tratadas com amônia anidra e, ou, sulfeto de sódio (página 2)

Daniele Rebouças Santana Loures; Rasmo Garcia; Odilon Gomes Pereira; Paulo

 

Ao tratarem silagem de pés de milho, contendo 40% de matéria seca, com 6,6% de uréia, ou 6,5% de uréia mais 5% de SO2, Fahmy & Klopfenstein (1994) encontraram valores crescentes para a proteína bruta, que variaram de 5,2% para a silagem sem tratamento, 13,4% para a silagem tratada com 6,6% de uréia, e 17,1% para a silagem tratada com ou 6,6% de uréia mais 5% de SO2, o que corresponde a aumentos de 156 e 227%, respectivamente, para os tratamentos com uréia e uréia mais SO2, comprovando, dessa forma, maior retenção de nitrogênio ao se adicionar uma fonte de enxofre.

Objetivou-se com o experimento avaliar o consumo de matéria seca (MS), de proteína bruta (PB), de fibra em detergente neutro (FDN) e de fibra em detergente ácido (FDA) por novilhas alimentadas com silagens de sorgo tratadas com amônia anidra e, ou, sulfeto de sódio.

4. Material e métodos

O experimento foi conduzido na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, no Campus Juvino Oliveira, na cidade de Itapetinga, BA. Foram utilizadas oito novilhas ¾ Indubrasil/Holanadês de peso médio 160 kg, distribuídas em dois quadrados latinos 4 x 4, em quatro períodos de 21 dias, sendo 15 dias de adaptação e seis de coletas de amostras.

Os animais receberam dieta na proporção de 60:40 de volumoso:concentrado (base da MS), ad libitum, sendo permitida uma sobra diária em torno de 10% do fornecido. O volumoso utilizado foi a silagem de sorgo com teor de MS de 30%, e o concentrado à base de milho e farelo de soja, contendo 15,6% de proteína bruta.

Os tratamentos foram classificados em: T1 - controle (silagem sem aditivo), T2 - silagem tratada com 2,5% de sulfeto de sódio, T3 - silagem tratada com 2,5% de amônia anidra e T4 - silagem tratada com 2,5% de sulfeto de sódio + 2,5% de amônia anidra, sendo todos tratamento com base da MS do sorgo (30%).

A composição química do concentrado e do sorgo cortado pode ser verificada na Tabela 1.

Foram utilizados quatro silos de superfície, com aproximadamente 5 toneladas cada, acondicionados sobre lona no solo, para evitar perdas de amônia anidra. A amônia anidra foi aplicada (2,5%) por meio de dois canos de pvc, perfurados e com uma extremidade vedada para melhor difusão da amônia. Foram utilizados botijões de 80 kg de amônia, os quais foram colocados em cima de uma balança para que desta forma, por diferença de peso, registrasse a quantidade de amônia anidra aplicada.

Para o sulfeto de sódio (2,5%), o material foi diluído em água na proporção 3:1 (água:sulfeto) e aplicado com regador e homogeneizado em seguida. Para todos os tratamentos, o período de armazenamento foi de seis meses.

Após seis meses, foram abertos os silos, iniciando-se o fornecimento aos animais, onde se estudou o consumo de matéria seca (MS), consumo de proteína bruta (PB), consumo de fibra em detergente neutro (FDN), e consumo de fibra em detergente ácido (FDA), diário expressos em kg, em percentagem do peso vivo e em função do peso metabólico. Amostras de volumosos foram coletadas no momento do fornecimento dos animais. Para as silagens que receberam tratamento com amônia, o material foi retirado e fornecido somente após 24 horas, para que não houvesse rejeição pelos animais, em função do forte cheiro de amônia anidra.

As análises de volumoso, de concentrado e de sobras foram realizadas conforme procedimentos descritos por Silva (1990).

Os resultados foram interpretados, estatisticamente, por meio, de teste Tukey, a 5% de probabilidade, utilizando-se Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas, SAEG versão 8.0 (UFV, 1998).

5. Resultados e discussão

Após abertura dos silos não foram observadas perdas por fungos, através da observação visual, para as silagens tratadas com NH3, enquanto que para a silagem sem tratamento ou tratada com Na2S, verificou-se visualmente a presença de fungos em algumas partes.

Utilizando bagaço e ponta de cana-de-açúcar tratados com amônia anidra, uréia e sulfato de amônia, Gesualdi et al. (2001) verificaram conservação dos subprodutos sendo que os benefícios resultantes dos tratamentos persistiram até 48 dias para o bagaço e até 28 dias para a ponta de cana, demonstrando a capacidade de conservação quando fontes de nitrogênio não protéico são adicionados à forragens com alta umidade. Conservação da quirera de milho com alta umidade (25%) foi também relatada por Pires et al. (1999), quando utilizaram 2 e 3% de NH3. Os autores relataram ainda que para o tratamento controle (sem NH3) e para o tratamento utilizando 1% de NH3, sinais de fungos visíveis foram observados, enquanto para os demais tratamentos (2 e 3% de NH3) os materiais permaneceram por 28 dias de aeração não apresentaram sinais visíveis de fungos.

A composição química das silagens pode ser verificada na Tabela 2. Observa-se teores de MS constantes para os tratamentos, enquanto para PB os valores aumentaram para as silagens tratadas com NH3. Os aumentos foram de 124,8 e 128,1%, respectivamente, para a silagem com NH3, e NH3 mais Na2S, quando comparadas ao controle. Neste caso, o Na2S, não afetou o teor de PB. Estes dados concordam com os de Neiva et al. (1998) que ao amonizarem silagem e rolão de milho, tendo como fonte a amônia anidra, verificaram um aumento de 204%, independentemente do volumoso. Estes aumentos, relatados, são em função da amônia anidra fornecer nitrogênio não protéico (NNP) e este permanecer em grande parte, mesmo após abertura de silos. Este nitrogênio é de extrema importância, uma vez que deverá ser utilizado por microrganismos do rúmen para síntese protéica.

Na Tabela 2, podem-se verificar valores menores de FDN e hemicelulose, quando amostras de volumoso dos quatro silos foram coletadas, correspondendo ao controle, 2,5% Na2S, 2,5% NH3, e 2,5% Na2S + 2,5% NH3, respectivamente sugerindo como na maioria dos trabalhos (Reis et al., 1997, Sarmento et al., 1999), redução destes componentes quando forragens são amonizadas. E também como a maioria dos trabalhos (Fahmy & Klopfenstein, 1994; Madrid et al., 1997; Pires et al., 1999), FDA, celulose e lignina normalmente não se alteram (Tabela 2).

Na Tabela 3, são apresentados os valores obtidos para o consumo médio diário de matéria seca (MS) e de proteína bruta (PB) para os diferentes tratamentos. Verificou-se efeito (P<0,01) para consumo diário de MS e de PB para os tratamentos, sendo verificados para a NH3 maiores valores, independentemente da adição do Na2S.

Apesar de não terem sido submetidos a análises estatísticas, os valores apresentados na Tabela 2 sugerem que a amônia anidra possui efeito de redução do conteúdo de parede celular e aumento no teor de PB, o que pode ter contribuído para melhoria no consumo de MS e de PB.

Resultados semelhantes quanto à variação no consumo MS e de PB foram encontrados por Pires (2000) quando utilizou bagaço de cana-de-açúcar, tratados com, NH3, e, ou Na2S, e fornecidos à novilhas ½ Holandês/Indubrasil, com peso vivo médio de 230 kg. Os resultados para consumo diário de MS foram de 1,92, 2,06, 2,46 e 2,42% PV, e 76,72, 82,40, 100,18 e 97,44, e para consumo diário de PB de 0,25, 0,26, 0,45 e 0,47% PV, e 9,87, 10,17, 18,15 e 18,80 g/kgPV0,75 para os tratamentos controle, Na2S, NH3, e Na2S, NH3. Segundo o autor o aumento no consumo tanto de MS quanto de PB, foi devido ao aumento da digestibilidade do material tratado e do aumento no teor de PB promovidos pela amônia anidra.

Damasceno et al. (2000) ao fornecerem a ovinos castrados, palha de arroz amonizada com 5% de uréia, nos níveis de oferta de 1,5, 3,0, 4,5, 6,0 e 7,5% do peso vivo, verificaram que o consumo potencial máximo de matéria seca e da matéria seca digestível foi de 2,5 e 1,4% PV, e que decréscimos consideráveis no consumo de MS e de matéria seca digestível ocorreram em níveis de oferta abaixo de 3,0 e 4,3% do peso vivo, respectivamente.

Utilizando também silagem de sorgo, porém, como suplementação protéica a farinha de penas hidrolisadas, o farelo de soja e o farelo de soja tratado com formaldeído, na alimentação de bovinos de corte em crescimento (156 kg de peso vivo), Fontanelli et al. (2002) verificaram consumos de matéria seca, independentemente da fonte protéica, semelhantes aos do presente trabalho, os valores encontrados foram de 4,43, 4,74 e 4,85 kg/dia, 2,54, 2,68 e 2,66% do peso vivo, e 90,8, 97,5 e 97,0 g/kgPV0,75, respectivamente para os tratamentos citados. Entretanto, para o consumo diário de proteína bruta, os autores encontraram valores de 598, 614 e 624 g/dia, e de 13, 13 e 12,9 g/kgPV0,75, respectivamente, para a farinha de penas hidrolisadas, farelo de soja e farelo de soja tratado com formaldeído. Estes resultados quando comparados aos do presente trabalho, sugerem que ao se utilizar silagem de sorgo tratada com NH3, independentemente do Na2S, bovinos em crescimento aumentam o consumo diário de PB (Tabela 3).

Rahal et al. (1997), utilizando palhada de arroz sem tratamento ou tratada com 3% de uréia em dietas para novilhas com peso médio de 106 kg, verificaram ingestão de matéria orgânica degradável de 2,1 e 2,6% PV, respectivamente, concordando com dados do presente trabalho.

Independentemente das fontes de N e dos volumosos amonizados, em geral, observa-se aumento no consumo de matéria seca da ordem de 10 a 20%, quando comparados aos volumosos que não recebem tratamentos.

Para as variáveis consumo de FDN e FDA, foram verificados efeito (P<0,01) para os tratamentos, onde se observa maior consumo diário de FDN e de FDA expressos em kg/dia, % PV e g/kg/PV0,75 para as silagens tratadas com NH3, independentemente do Na2S (Tabela 4). O aumento no consumo pode ser justificado por redução dos teores de FDN e, conforme Fahmy & Klopfenstein (1994), ocorre expansão da celulose, o que contribui para aumento na DIVMS e, conseqüentemente, maior taxa de passagem.

Aumentos na digestibilidade de FDN, FDA, celulose e hemicelulose foram relatados por Rosa et al. (1998) quando utilizaram fenos de braquiária tratados com uréia e NH3. Os valores médios de aumento encontrados foram de respectivamente de 8,3, 6,4, 11,4 e 7,2%, quando comparados ao controle. Estes relatos dão subsídios para reafirmar que ocorre aumento no consumo de forragens amonizadas, quando comparadas a materiais não tratados, em razão de haver desestruturação dos constituintes da parede celular, às vezes reduzindo, como é o caso do FDN e hemicelulose, ou mantendo constante, mas aumentando sua digestão como é o caso da FDA e da celulose, promovendo desta forma um maior ataque dos microrganismos ruminais à parede celular. Os resultados do presente trabalho estão de acordo com os obtidos por Pires (2000), que verificou aumentos no consumo de FDN, para novilhas em crescimento, ao utilizar como volumoso o bagaço de cana-de-açúcar tratado com NH3. Os valores foram de 0,84, 0,97, 1,17 e 1,14 % PV e 33,37, 38,64, 47,61 e 46,14 g/kgPV0,75, para os tratamentos controle, Na2S, NH3, e Na2S mais NH3.

6. Conclusões

A amônia anidra provocou alterações na composição química da silagem de sorgo resultando em aumento no consumo diário de MS, PB, FDN e FDA, expressos em kg/dia, em percentagem do peso vivo e em função do peso metabólico, enquanto o sulfeto de sódio não provocou tais alterações, refletindo em valores de consumo semelhantes ao tratamento controle.

7. Literatura citada

DAMASCENO, J.C.; SANTOS, G.T.; CECATO, U. et al. Consumo voluntário e balanço de nitrogênio recebendo palha de arroz amonizada em diferentes níveis de oferta. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, n.4, p.1167-1173, 2000.        [ SciELO ]

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GESUALDI, A.C.L.S.; COELHO DA SILVA, J.F.; VASQUEZ, H.M. et al. Efeito da amonização sobre a composição, a retenção de nitrogênio e a conservação do bagaço e da ponta de cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.2, p.508-517, 2001.        [ SciELO ]

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SARMENTO, P.; GARCIA, R.; PIRES, A.J.V. et al. Tratamento do bagaço de cana-de-açúcar com uréia. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.6, p.1203-1208, 1999.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. SAEG - Sistema de análises estatísticas e genéticas. Versão 8.0. Viçosa, MG: 1998. 150p. (Manual do usuário).

Aureliano José Vieira PiresI; Rasmo GarciaII; Alexandre Lima de SouzaIII; Fabiano Ferreira da SilvaIV; Cristina Mattos VelosoIV; Gláucon Cezar CardosoV; Tatiana Neres de OliveiraVI; Polyana Albino SilvaVII - rgarcia[arroba]ufv.br

IProfessor Adjunto DTRA/UESB, Itapetinga, BA, Pós-Doutorando da FAPESB.

IIPesquisador do CNPq, DZO/UFV, Viçosa, MG

IIIDoutor em Zootecnia/UFV, Viçosa, MG

IVProfessor Adjunto DTRA/UESB, Itapetinga, BA

VMestre em Zootecnia pela UFV, Viçosa, MG

VIDoutoranda em Zootecnia/UFRPE, Recife, PE

VIIMestranda em Zootecnia/UFV, Viçosa, MG



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