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Norberto Bobbio em seu livro "Direita e Esquerda", afirma:
Direita "e" Esquerda "são termos antitéticos... habitualmente empregados para designar o contraste entre as ideologias e entre os movimentos em que se divide o universo, eminentemente conflitual, do pensamento e das ações políticas". (1994, p. 31)
Luiz Carlos Bresser Pereira em seu trabalho "Por um partido democrático, de esquerda e contemporâneo" publicado na revista de cultura e política "Lua Nova" nos dá uma definição, à primeira vista, muito próxima da anterior: "É de esquerda quem está disposto a arriscar a ordem em nome da justiça. É de direita quem prioriza a ordem em relação à justiça social". (1997, p. 55)
Bresser, em sua definição, insere dois novos conceitos: ordem e justiça . Ordem , no sentido de segurança e estabilidade; justiça no sentido de eqüidade, senão a igualdade pelo menos a igualdade de oportunidade.
Ainda segundo Bresser:
Quando a ordem é tão importante para alguém a ponto de não arriscar nada em nome dela, essa pessoa será de direita. Quando, porém, estiver disposta a arriscar a ordem em nome da justiça, então será de esquerda (1997, p. 55).
Retornando ao conceito de Bobbio que diz: "É de esquerda quem defende a igualdade, quem luta por uma distribuição de renda mais igual, por uma maior justiça social. E é de direita que não tem esse objetivo como prioridade".
Defende que esquerda e direita, além de serem termos antitéticos, eles são reciprocamente excludentes e conjuntamente exaustivos. São excludentes no sentido de que nenhuma doutrina ou nenhum movimento pode ser simultaneamente de direita e de esquerda. São exaustivos no sentido de que uma doutrina ou um movimento pode ser apenas ou de direita ou de esquerda.
Bobbio pretende que sua definição seja neutra ideologicamente, axiologicamente e valorativamente. Bresser, por outro lado, propõe uma definição que não sofra dessa limitação e que, ao invés de opor uma afirmação a uma negação, opõe dois valores afirmativos.
Bresser diz:
Quem quer acabar com a ordem é um extremista ou um revolucionário, que busca instalar uma outra ordem. Extremista se sua perspectiva for autoritária, se a ordem que busca destruir for democrática; revolucionário, se seu compromisso for com a democracia, se a ordem que precisa derrubar é opressiva. De esquerda, se seu objetivo for à igualdade plena, de direita, se sua aspiração maior for apenas restaurar uma ordem que julga perdida ou ameaçada.
A distinção entre esquerda e direita que Bresser propõe, segundo ele próprio, tem por base a prioridade atribuída à justiça ou à ordem que parte de uma perspectiva lógico-dedutiva. Como todo conceito derivado do método lógico-dedutivo, tem origem em uma definição, em um pressuposto, a partir do qual tudo o mais se deduz logicamente. O pressuposto está baseado em uma convenção, que naturalmente se refere a alguma realidade ou a alguma experiência, mas esta é colocada em segundo plano, para que o conceito ganhe o máximo de generalidade, para que se torne o mais abstrato e universal possível.
Retornando a Bobbio:
Esquerda e direita indicam programas contrapostos com relação a diversos problemas cuja solução pertence, habitualmente, à ação política. Contrastes não só de idéias, mas também de interesses e de valorações a respeito da direção a ser seguida pela sociedade.
Bobbio questiona: "... desde que ‘direita' e ‘esquerda' continuam a serem usadas para designar diferenças no pensar e no agir políticos, que a razão, ou quais as razões, da distinção?".
Consultando o Dicionário Aurélio, encontrar-se as seguintes definições:
Esquerda: Ciênc. Pol. Conjunto de indivíduos ou grupos políticos partidários de uma reforma ou revolução socialista.
Direita: Regime político de caráter conservador. P. ext. Parte conservadora da opinião pública.
As definições do dicionário não ajudam na simplificação de entendimento dos conceitos, além de coloca-se três novos termos: Revolução , Socialista e Conservador .
Revolução é a transformação radical de uma estrutura política, econômica ou social. Ela, via de regra, é violenta.
Socialista é uma designação dada ao indivíduo partidário do socialismo que, por sua vez, prega a primazia dos interesses da sociedade sobre os dos indivíduos, e defende a substituição da livre-iniciativa pela ação coordenada da coletividade, na produção de bens e na repartição da renda.
Conservador é a designação política dada ao individuo que é favorável à conservação da situação vigente, opondo-se a reformas radicais.
Disso pode-se concluir que socialista e conservador , são condições que caracterizam os indivíduos e revolução é o meio utilizado para se alcançar uma das condições almejadas, ou seja a ruptura com o status quo . Logo, tanto à esquerda quando a direita pode ser conservadora. Tudo depende de que lado você se coloca.
Do contexto geral conclui-se que as denominações se tornaram ambíguas ao longo da história e, por conseqüência, dão margem a muita confusão, cujo aprofundamento é necessário para o esclarecimento.
Sobre os movimentos sociais, quanto ao seu aspecto conceitual e, particularmente, quanto ao seu projeto de mudanças dentro ou para além das condições societárias atuais , entre outros que tematizam encontram-se Alan Touraine, Alberto Mellucci, Manuel Castells, Claus Offe , Sidney Tarrow , Maria da Glória. Gohn , Ilse Scherer-Warren .
Gohn Em seu livro teoria dos movimentos sociais, realiza um itinerário histórico-conceitual de diferentes paradigmas, tais como o paradigma europeu, o americano e latino-americano, aos quais se vinculam, com suas particularidades, autores de influência no campo das ciências sociais e, principalmente, nas análises sobre movimentos sociais.
O dissenso dessas concepções sobre "novas" formas de organização dos sujeitos sociais em torno de interesses particulares com concepções de movimentos sociais defendidas pelos autores de inspiração marxistas está no marco de um debaté em torno do papel dos movimentos sociais na superação das formas de dominação capitalistas e na construção de uma nova sociabilidade.
Segundo Ilse Scherer-Warren, referindo-se aos movimentos sociais no campo,
sem sociabilidade política não há MS nem projeto coletivo em torno do que lutar. A participação direta das bases camponesas em grupos de reflexão e em assembléias deliberativas, conforme tem sido estimulado, sobretudo, pelo trabalho de mediação das pastorais, dos agentes das Igrejas progressistas e dos sindicatos "combativos", contribui para o desenvolvimento de uma nova sociabilidade política (1996, p.71),
Por "novos" movimentos sociais compreendem-se os movimentos das mulheres, ecológicos, contra a fome e outros, sinalizando em princípio um distanciamento do caráter classista que se configurava nos movimentos sindicais, operários em torno do mundo do trabalho, o que não significa que em determinados momentos históricos possam assumir uma contraposição com o sistema econômica e social vigente. Entretanto, assevera Gohn que os novos movimentos sociais se contrapõem aos "velhos" e historicamente tradicionais movimentos sociais em suas práticas e objetivos.
Para Gohn, movimentos sociais
são ações coletivas de caráter sóciopolítico, construídas por atores sociais pertencentes a diferentes classes e camadas sociais. Eles politizam suas demandas e criam um campo político de força social na sociedade civil. Suas ações estruturam-se a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em situações de: conflitos, litígios e disputas. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva ao movimento, a partir de interesses em comum. Esta identidade decorre da força do princípio da solidariedade e é construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo. (1995, p. 44)
Os "novos" movimentos sociais desenvolvem ações particularizadas relacionadas às dimensões das identidades humanas, deslocadas das condições socioeconômicas predominantes, de modo que suas práticas não se aproximam de um projeto de sociabilidade diferenciada das relações sociais capitalistas, ou seja, não se voltariam para a transformação das atuais formas de dominação política e econômica, no sentido da construção de sociedade baseada na organização coletiva e no desenvolvimento das potencialidades humanas na direção não-capitalista.
Segundo Ilse Scherer-Warren têm emergido "novos" movimentos sociais
que almejam atuar no sentido de estabelecer um novo equilíbrio de forças entre Estado (aqui entendido como o campo da política institucional: o governo, dos partidos e dos aparelhos burocráticos de dominação) e sociedade civil (campo da organização social que se realiza a partir das classes sociais ou de todas as outras espécies de agrupamentos sociais fora do Estado enquanto aparelho), bem como no interior da própria sociedade civil nas relações de força entre dominantes e dominados, entre subordinantes e subordinados. (1996, p.49/50)
Na óptica de Alan Touraine movimentos sociais podem ser definidos como ações coletivas associadas à luta por interesses, associados à organização social, a mudanças na esfera social e cultural. Evidentemente, essa mobilização é realizada contra um opositor, que resiste. Ele ainda Afirma que os :
movimentos sociais são frutos de uma vontade coletiva. "Eles falam de si próprios como agentes de liberdade, de igualdade, de justiça social ou de independência nacional, ou ainda como apela à modernidade ou à liberação de forças novas, num mundo de tradições, preconceitos e privilégios" (Touraine, 1977, p.35).
Os movimentos, não seriam heróis coletivos, acontecimentos dramáticos, mas simplesmente parte do sistema de forças sociais dessa sociedade, disputando a direção de seu campo cultural. Ao mesmo tempo, Touraine assinalou que os movimentos são as forças centrais da sociedade por serem sua trama, o seu coração. Suas lutas não são elementos de recusa, marginais à ordem, mas ao contrário, de reposição da ordem. Ele chegou a postular que a sociologia contemporânea seria o estudo dos movimentos sociais, pois tratar-se-ia de um objeto de análise que traz o ator social de volta.
Com base nesse conceito de Touraine pode-se observar claramente o que esta acontecendo hoje é muito semelhante ao que ele defende, quando se percebe uma nova postura internacional por parte dos paises latinos americanos, contra a ofensiva imperialista, ao mesmo tempo, uma nova onda de resistência com variados matizes, formas e conteúdos, contra a globalização neoliberal, acontece em várias partes do mundo, e particularmente na América Latina.
Os movimentos sociais latino-americanos, começam a aparecer com maior representatividade na fase neoliberal, durante os anos 90, com um caráter étnico e cultural distinto dos da esquerda tradicional. Esses movimentos, perceberam que, mesmo após 500 anos de dominação na América, ainda havia muitos motivos para se continuar lutando.
Segundo o intelectual argentino Atílio Boron, as empresas transnacionais e os organismos financeiros internacionais, baseados em uma concepção neoliberal da economia, são quem ditam os rumos do mundo, sendo os principais responsáveis pela miséria e por todos os problemas sociais vividos na região. Para ele, o imperialismo não será derrotado com lutas entre exércitos. "O que vale hoje é a batalha de idéias", acredita. E para vencer essa batalha, um grande obstáculo a ser ultrapassado, em sua opinião, é a dominação cultural sofrida pelos países latino-americanos.
É nesse contexto que surgem diversos movimentos emancipatórios, todos eles com suas particularidades, porém tendo em comum a luta contra-hegemônica capitalista, fator este, determinante, que os tornam esquerdistas por concepção, uma vez que lutam por melhores distribuição de renda, ou de terra.
Nesse sentido considero tambem, cinco movimentos sociais como ícones dessa nova maneira de se fazer política e de resistência às dominações, sejam elas das transnacionais, do sistema político ou dos aparelhos repressores do Estado, como a polícia. São eles o zapatismo, no México, a revolta contra a privatização da água, em Cochabamba, na Bolívia, em 1999, e os piqueteros, na Argentina, em 2001, MST no Brasil, e os Campesinos na Venezuela. Estes movimentos vão de encontro a uma tradição da esquerda, que, segundo ela, durante muito tempo se tornou "um pensamento único, mas do outro lado.
Uma característica distintiva: a esquerda é coletivista ou "social", enquanto a direita prefere as liberdades individuais e a liberdade de iniciativa, com retenção de ganhos para o detentor dos "meios de produção", ao passo que a esquerda privilegia a redistribuição da "riqueza social".
O primeiro elemento a ser aqui discutido, na caracterização das diferenças entre esquerda e direita, seria que a primeira é "geneticamente" anti-capitalista, ainda que poucos da esquerda, atualmente, acredite, que se vá conseguir "liquidar", de fato, com o chamado "modo de produção capitalista". A esquerda acredita que o capitalismo e responsável pela ausência do bem-estar social e acusá-lo das piores perversões sociais, mas, uma vez no poder se contenta apenas em administrar o capitalismo realmente existente construindo uma "alternativa ao modelo neoliberal".
Estes são, os elementos centrais da tradicional divisão entre esquerda e direita. No atual cenário em que vivemos : regimes de escassez e de fortes desigualdades distributivas, que a esquerda atribui às estruturas inerentemente injustas da sociedade capitalista, e que a direita apenas credita a mecanismos de mercado, essa divisão promete continuar no futuro previsível, sem que alguma conciliação seja possível entre linhas tão díspares de concepção do mundo e da sociedade.
Restaria, então, para aprofundar o debate , examinar a consistência intrínseca e a validade empírica – isto é, submetida ao teste da realidade – das propostas respectivas da esquerda e da direita para a resolução desses contenciosos que não são apenas filosóficos, mas têm a ver com a própria organização política, social e econômica das sociedades humanas.
Percebem-se hoje, na América Latina, dois tipos de esquerda, uma moderna ou renovada, e outra populista. Os renovados assumem a globalização, com a internacionalização do mercado e suas conseqüências.
A esquerda populista está fundada no clientelismo, com governos que abusam do uso dos recursos fiscais, ludibria a separação dos Poderes do Estado, restringe a democracia, dificultando a participação da cidadania organizada, e a fiscalização independente da coisa pública e entende que o desenvolvimento de seu projeto político conflita com os interesses dos Estados Unidos.
Segundo Luiz Carlos Bresser a distinção entre esquerda e direita, além de seu caráter histórico, mudando através do tempo, depende do estágio de crescimento econômico de cada país. "Há diferenças substanciais entre o que pode ser a Nova Esquerda na América Latina, quando comparada com a existente, por exemplo, na Europa". Afirma que em primeiro lugar, para tanto a esquerda quanto a direita conquistarem o centro político, devem ser tão ou mais nacionalistas do que os países avançados, uma vez que têm ainda de construir uma nação e um Estado —tarefa que já foi realizada pelas nações desenvolvidas.
Em um estudo feito recentemente Bresser defende o surgimento de uma nova esquerda afirmado que a Nova esquerda é o resultado da grande mudança histórica, que ocorreu nas sociedades contemporâneas em meados dos anos 70, quando o centro político deslocou-se para a direita. Em anos recentes, o centro novamente começou a mover-se, agora para a esquerda, mas o mundo não está retornando aos anos 50: pelo contrário, está irrompendo num novo milênio, no qual as mudanças serão ainda maiores.
Bresser ainda defende nesse estudo, intitulado de : A NOVA ESQUERDA: UMA VISÃO A PARTIR DO SUL que os países desenvolvidos todos são nacionalistas, na medida em que ninguém tem dúvida de que é dever de seus governos defender o interesse nacional. Já nos países em desenvolvimento há dúvidas. Aponta ainda nesse estudo as diferenças entre uma nova e velha esquerda/ direita, e nesse ponto diz que :
A Velha Esquerda tem uma visão negativa do nacionalismo, convencida de que o país é cercado por potências imperialistas. Tem, em geral, uma atitude "contra" países avançados, vistos como "potências imperialistas", e prefere antes fechar o país à influência estrangeira a negociar interesses mútuos e conflitantes. A Nova Esquerda, por seu lado, nega que os interesses nacionais de países em desenvolvimento e desenvolvidos sejam sempre contraditóríos, mas não acredita — como a Nova Direita normalmente faz — que eles sejam sempre semelhantes. Em vez da atitude geral "contra" ou "a favor" dos países avançados, crê que o interesse nacional deve ser avaliado em cada caso. Em outras palavras, seu nacionalismo é semelhante ao existente nos países desenvolvidos. (2000p. 155)
Em síntese, Bresser diz que tomado como exemplo o Brasil, a Velha Esquerda é corporativista e estatista, enquanto a Nova Esquerda é pró-mercado e comprometida com a reconstrução do Estado. Já a Nova Direita é radicalmente pró-mercado e está envolvida no jogo de construção de confiança.
Por fim mostramos neste capitulo as definições de esquerda e direita e ainda suas diferenças e também as como a esquerda e a direita nos paises latino americanos.
Com a Guerra Fria aparece o componente ideológico e a participação ativa das ditaduras militares nos governos da América Latina. Em Cuba, no Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil.
Na América Latina, principalmente nos anos 70 a história é recheada de ditaduras, golpes e contra golpes, revoluções e contra-revoluções. O principal é o caudilhismo. Depois, com a polarização causada pela Guerra Fria, ficou claro que esta desculpa fora utilizada para manter os ditadores no poder. Entre tantos personagens, se destacaram Antonio López de Santa Anna e José Antonio Páez, no México; Francisco Solano López e Dr. Francia, no Paraguai. Na Venezuela, com Juan Vicente Gómez cuja ditadura foi tirana, entre outras tantas que pipocaram em todo o continente
Já década de 80 foi um período de crise para a América Latina e para a Europa Oriental. Nos países desenvolvidos a crise foi mais branda, mas, mesmo assim, houve, desde o início dos anos 70, uma queda efetiva de suas taxas de crescimento, ao mesmo tempo em que o desemprego transformou-se no principal problema desses países: nos últimos vinte anos, o crescimento foi correspondente à metade do que havia sido nos vinte anos anteriores. Na Europa Oriental a transição do estatismo para o capitalismo foi uma fase na historia européia na qual os paises enfrentaram muitas dificuldades. Embora já esteja ocorrendo uma recuperação, na maioria dos países, a renda per capita é ainda 25% menor que em 1989.
O colapso do comunismo foi o ápice de uma longa crise que se iniciou na década de 70. O primeiro choque do petróleo foi o ponto de inflexão para a economia mundial, mas, antes disso já havia sinais de problemas na economia, expressos, por exemplo, na suspensão da convertibilidade do dólar. Desde então, a taxa de crescimento dos países desenvolvidos decresceu, ao mesmo tempo em que se abria espaço para o início de uma nova onda conservadora. Os Estados Unidos diminuir sua influencia sobre economia mundial. Sua taxa de crescimento foi especialmente insatisfatória, a taxa de salários estagnou, a renda se concentrou ainda mais e o número de pessoas abaixo da linha de pobreza continuou a crescer.
Nos anos 90 aparece então o neoliberalismo na América Latina – Já havia surgido nos Estados Unidos e na Europa quando, a partir dos anos 70, as políticas keynesianas se provaram incapazes de controlar a economia: quando a inflação se acelerou, o desemprego cresceu e as taxas de crescimento diminuíram. Na América Latina, a mesma crise econômica ocorreram dez anos depois, na década de 80, mas de uma forma mais aguda. Sua contrapartida ideológica foi o "consenso de Washington" - que se tornou dominante na região apenas no final da década de 80 - consenso que formalmente limitava-se a afirmar a necessidade de liberalização comercial, privatização e ajuste fiscal, mas que na verdade implicava em uma guinada conservadora profunda.
As reformas econômicas propostas pelo credo neoliberal eram radicais e irrealistas. Mas não há dúvida de que era necessário implementar reformas orientadas ao mercado. Depois de vários anos de expansão, o Estado tornara-se distorcido, a crise fiscal paralisara sua capacidade de governar, as economias estavam claramente super protegidas e super-regulamentadas. Uma síntese pragmática entre as antigas estratégias desenvolvimentistas e a crítica neoliberal se fazia necessária.
O início dos anos 70 é considerado os "anos de chumbo" para a América Latina, marcada por golpes militares, que inauguraram ditaduras em quase todo continente, destacando-se Bolívia (agosto de 1971), Chile (setembro de 1973) e Argentina (março de 1976), entre outros.
No Brasil, onde os militares já estavam no poder desde 1964, a ditadura ganhou força com a publicação do Ato Institucional nº 5 em dezembro de 1968. Nesse período muitos militantes sofreram torturas que levaram a morte, outros foram exilados, Muitas instituições foram reprimidas e fechadas, seus dirigentes presos e enquadrados, suas famílias vigiadas. Na mesma época se formou dentro do governo um grupo que depois seria chamado de comunidade de informações. As greves de trabalhadores e estudantes foram proibidas e passaram a ser consideradas crime; os sindicatos sofreram intervenção federal, os líderes sindicais que se mostravam contrários eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional como subversivos. Muitos cidadãos que se manifestaram contrários ao novo regime foram indiciados em Inquéritos Policiais Militares (IPM). Aqueles cujo inquérito decidisse que seriam culpados eram presos. Políticos de oposição tiveram seus mandatos de políticos cassados, suas famílias postas sob vigilância. Muitos daqueles que foram processados acabaram expulsos do Brasil e seus bens postos em indisponibilidade.
Em 1974, no Brasil, assume a presidência o general Ernesto Geisel que começa um lento processo de transição rumo à democracia. Seu governo coincide com o fim do milagre econômico e com a insatisfação popular em altas taxas. A crise do petróleo e a recessão mundial interferem na economia brasileira, no momento em que os créditos e empréstimos internacionais diminuem.
Geisel anuncia a abertura política lenta, gradual e segura. A oposição política começa a ganhar espaço. Nas eleições de 1974, o MDB( Movimento Democrático Brasileiro) conquista 59% dos votos para o Senado, 48% da Câmara dos Deputados e ganha a prefeitura da maioria das grandes cidades.
Os militares, chamados linha dura, não contentes com os caminhos do governo Geisel, começam a promover ataques clandestinos aos membros da esquerda.
No ano de 1976, Jimmy Carter elegia-se presidente dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, com uma campanha baseada na luta pelos direitos humanos, o que poderia representar o fim da colaboração norte americana com as ditaduras militares na América Latina.
Em 1978, Geisel acaba com o AI-5, restaura o habeas-corpus e abre caminho para a volta da democracia no Brasil
A vitória do MDB nas eleições em 1978 começa a acelerar o processo de redemocratização. O general João Baptista Figueiredo, presidente no período de 1979 a 1985, decreta a Lei da Anistia, concedendo o direito de retorno ao Brasil para os políticos, artistas e demais brasileiros exilados e condenados por crimes políticos. Os militares de linha dura continuam com a repressão clandestina. Cartas-bomba são colocadas em órgãos da imprensa e da OAB (Ordem dos advogados do Brasil). No dia 30 de Abril de 1981, uma bomba explode durante um show no centro de convenções do Rio Centro. O atentado fora provavelmente promovido por militares de linha dura, embora até hoje nada tenha sido provado.
Em 1979, o governo aprova lei que restabelece o pluripartidarismo no país. Os partidos voltam a funcionar dentro da normalidade. A ARENA muda o nome e passa a ser PDS, enquanto o MDB passa a ser PMDB. Outros partidos são criados, como : Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista ( PDT )
No Peru o militarismo teve características bastante peculiares: Assumindo o poder em 1968, o general Juan Velasco Alvarado deu início a uma política caracterizada por um discurso nacionalista e anti imperialista e colocou e marcha a reforma agrária, garantindo a uma parcela dos camponeses o acesso a terra, reivindicação secular da sociedade rural, reformou a legislação social criando condições para a elevação do nível de consumo do país, fato que interessou tanto a burguesia internacional como à incipiente burguesia nacional.
O governo militar (1968-75) foi responsável por importantes mudanças, eliminando o poder das oligarquias, transferiu a hegemonia econômica para a burguesia; a sindicalização aumentou, assim como a participação do Estado na economia.
Luisa Moura e Silva em um artigo publicado na revista cientifica O Mercosul: ‘Globalização’, Crise e Regionalização da Economia na América Latina". Observa :
Não que necessariamente a subordinação dos Estados dependentes pelo imperialismo e sua conseqüente "desnacionalização" tivesse que se dar sob a forma de ditadura militar. Mas essa foi a situação mais comum basicamente porque o imperialismo, sendo uma força externa, ainda que se compusesse com determinadas forças nacionais (particularmente a burguesia e o latifúndio) para realizar a sua dominação, tinha dificuldades reais para constituir, a nível interno, qualquer partido que, com seu projeto político, conseguisse penetrar em setores importantes da sociedade a ponto de permitir sua vitória eleitoral e de governar em seu nome.( 1996. p.49)
Com a derrota do nazismo alemão, do fascismo italiano e do militarismo japonês para os aliados, as forças fascistas que cresciam no Brasil, em particular dentro do exército, perderam espaço para o conservadorismo "democrático" que a burguesia tradicional tanto desejava manter. Além disso, União Soviética e Estados Unidos saíram vitoriosos da guerra, cada um, porém, seguindo um caminho diferente do outro. Os Estado Unidos, defendendo a propriedade, o capitalismo e a liberdade como balizas fundamentais do crescimento econômica. Já a ex-URSS tinha sua ideologia solidificada no comunismo, buscando a horizontalidade nas relações econômicas e sociais, algo totalmente diverso do que o american way of life pregaria a partir da década de 50.
Isto fez com que o mundo se dividisse, ao menos imaginariamente, em dois: uns países do lado dos Estados Unidos e seus dogmas capitalistas e outros, de maior proximidade ao poderio comunista da então União Soviética. E o Brasil, com seu papel estratégico na América do Sul, tinha a obrigação de se posicionar. Assim, Washington fez de tudo para trazer os brasileiros para junto de suas convicções e anseios.
A campanha do comunismo como o monstro e causa de todos os males estava colocada e foi levada à exaustão pela mídia durante aqueles anos, apoiada por políticos e militares. Isso tanto é verdade e solidificou-se de tal maneira que no Brasil o medo dos ideais igualitários se tornou algo por demais assustador. De tão arraigado, qualquer um que se colocasse a favor do comunismo ou mesmo se demonstrasse simpatia ao comunismo já será visto de forma estigmatizada e julgada sob pré-conceitos capitalistas ocidentais desprovidos de reflexão dialética, mesmo hoje em dia, com supostos ares democráticos nos embalando.
Com tudo isto, qualquer sinal de movimentação democrática nos anos que se seguiram foram abortado pelo discurso do senso comum burguês, erguendo à condição de "comunista" toda e qualquer pessoa que defendesse os ideais democráticos e libertários que poderia crer. Por conta desta ameaça, foi instaurada no Brasil a "Revolução Brasileira" (que possui este nome entre os historiadores, dadas as suas características marcantes de uma revolução), com o propósito de "livrar o país do comunismo", mergulhando a nação num dos períodos mais nebulosos e trágicos de toda a nossa história recente.
O golpe contou com grande participação dos Estados Unidos, devido a intensao de controlar os governos dos países latino-americanos, impedindo que comunistas os contaminasse, como "ocorrera" com Cuba, com a revolução socialista de 1959. Esse "controle" procurava manter governantes alinhados com a proposta imperial, isto é, de dependência ao mercado externo, e fortalecer as culturas primárias de exportação.
Com este cenário estabelecido, ocorreu a derrubada do governo democrático de João Goulart e a subida do general Castelo Branco à Presidência da República. Justificados na burguesia, que via a ditadura como uma benção ante o avanço democrático que vivia o país, os militares impuseram todo o tipo de arbitrariedade em suas ações. Governaram através de decretos-lei, sem precisar passar pelo Legislativo, expurgando funcionários públicos e políticos que ameaçavam os interesses do regime, ao mesmo tempo que mantinha uma relativa liberdade de imprensa e firmava pontes com posições amenas da esquerda nacional. Assim, Castelo Branco e a ala "branda" da ditadura aumentavam seu poder.
O "aperfeiçoamento da ditadura" ocorreu em fins de 1968, com a instauração do mais conhecido ato institucional imposto durante o regime, o AI-5. Com isto, a ponte foi sabotada e todas as possibilidades de negociações entre governo ditatorial e oposição foram minadas com a extinção dos partidos políticos e a criação de mecanismos contra a realização de greves. Mesmo assim, para tentar demonstrar tolerância e também sabotar a articulação da oposição, foram criados dois partidos: a Arena (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Só que essa concentração do inimigo em um só dos lados seria prejudicial aos militares num futuro próximo.
Prosseguindo com as contradições, o Congresso era aberto e fechado à revelia dos mandatários, a imprensa fora censurada e as perseguições políticas intensificadas, com o aumento de torturas, assassinatos e desaparecimentos de pessoas, institucionalizando, assim, a violência contra quem ousasse questionar o regime. Tudo isso ocorreu principalmente durante 1969-74, período em que a ditadura mostrou sua face mais ríspida e também, como contraste, a pele mais graciosa de um crescimento econômico fictício.
Durante esse tempo os militares estiveram sempre ao lado da burguesia. Isso porque, com o "milagre econômico" – plano de abertura total e irrestrita do mercado nacional, implementado por Antônio Delfim Neto, então Ministro da Fazenda, que possibilitou ao país crescer vertiginosamente – a classe média teve acréscimo substancial em seu poder aquisitivo, possibilitando comprar vários artigos importados dos Estados Unidos. Enquanto isso a população pobre se distanciava ainda mais nos índices econômicos das poucas pessoas que possuíam muito, acentuando perigosamente a desigualdade social.
Ocorre que, esse tão propalado milagre estava com seus dias contados desde sua implantação. Era impossível manter o mercado brasileiro aberto e desprotegido daquela forma, contraindo empréstimos e cedendo vantagens a empresas estrangeiras, sem causar um rombo nas contas públicas e crescimento inimaginável da inflação e da dívida externa. Tal fato tornou-se mais evidente quando da crise mundial do petróleo, em 1973. Muitas nações, como o Brasil, quebraram e economias inteiras tiveram de ser remodeladas, abrindo espaço para premissas neoliberais, em contrapartida aos métodos keynesianos que estavam em voga na Europa desde a última guerra mundial.
Na segunda metade da década de 70, uma nova crise mundial se instaura, nesse cenário a luta democrática no mundo inteiro reacende-se, fragilizando a unidade e a "paz social" construída sob a égide dos Estados Unidos A luta democrática e de libertação dos países oprimidos é impulsionada.
Esse período, é marcado pela presença maciça da direita no poder. A esquerda estava exilada e esmagada nos anos de chumbo, não havia espaço para que ela se manifestasse de forma democrática, uma vez que a ditadura militar comandava o pais, impedindo qualquer manifestação que fosse contraria. Os que se aventuraram, muitos não sobreviveram para contar ou continuar sua historia. Os movimentos sociais, existentes nessa época se posicionaram entre os sindicatos, mas acrescentando especificidades oriundas da vida cotidiana, das questões de gênero, habitação, preservação da natureza, questões urbanas e rurais, porém, sem muita representatividade.
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