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O experimento foi realizado com caquis, cultivar Fuyu, na safra 1996/1997, na Empresa Balarin & Cia Ltda., de Caxias do Sul — RS.
Como os dados disponíveis na Empresa indicavam que a data média de colheita dos caquis, em anos anteriores, situava–se no período de 20 e 30 de abril, procedeu–se a aplicação de ácido giberélico (AG3), na concentração de 30ppm, no dia 22 de março, correspondendo, aproximadamente, a 30 dias antes da colheita.
A aplicação de AG3 foi realizada por pulverização de cobertura da parte aérea das plantas, até gotejamento, utilizando–se o produto comercial Progib®, que contém 10% de AG3. Como tratamento controle, pulverizaram–se as plantas com água.
O delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado. Cada unidade experimental foi constituída de 25 plantas e realizaram–se quatro repetições. Para cada avaliação coletaram–se 4 frutas por planta, na porção mediana externa da copa, posições norte, sul, leste e oeste.
Para a monitorização da evolução da maturação das frutas que permaneciam nas plantas, determinaram–se, na instalação do experimento em 22 de março, e a cada 7 dias, até 24 de maio, a firmeza de polpa, o teor de sólidos solúveis totais, a acidez total titulável, a coloração externa, o conteúdo de clorofilas, carotenóides e fenóis, e a produção de etileno.
A firmeza de polpa (FP) foi determinada com o auxílio de penetrômetro manual, com ponteira de 8mm de diâmetro, e os resultados expressos em Newton (N).
O teor de sólidos solúveis totais (SST) foi determinado por refratometria, e os resultados expressos em oBrix.
A acidez total titulável (ATT) foi determinada por titulometria de neutralização, e os resultados expressos em cmol.L-1.
A coloração externa foi avaliada visualmente adotando–se uma escala de notas de coloração variando de: 1–verde; 2–verde–amarelado; 3–amarelo–esverdeado; 4–amarelo–alaranjado; 5–amarelo–avermelhado; 6–vermelho; 7–vermelho intenso.
Os conteúdos de clorofilas e de carotenóides foram determinados através da metodologia descrita em INSTITUTO ADOLFO LUTZ [11], com resultados expressos em mg.kg-1 de peso fresco das frutas.
Conteúdos de fenóis: seguiu–se a metodologia descrita por PECH et al. [13], com resultados expressos em mg.kg-1 de fruta.
O etileno foi determinado por cromatografia em fase gasosa, utilizando um cromatógrafo a gás N, He, marca Varian®, modelo 3300, equipado com uma coluna de aço inox 1/8", preparado com Porapak® N, e um detetor de ionização de chama. As temperaturas da câmara de injeção, coluna (5cm) e do detector foram de 80ºC, 90ºC e 200ºC, respectivamente. Utilizou–se como padrão, uma solução de etileno a 10ppm. Para a determinação da produção de etileno duas frutas foram condicionadas em frascos hermeticamente fechados, durante uma hora a 25ºC. Passado esse período coletou–se, com auxílio de seringas split less hipodérmicas, 1mL da atmosfera gasosa. A quantificação foi feita correlacionando–se a média das alturas dos picos relativos a cada amostra, com a média das alturas dos picos obtidos da solução padrão de etileno.
Para a comparação de médias dos resultados utilizou–se o teste de Duncan a 5% de probabilidade e para o estudo das variações durante a maturação adotou–se a regressão polinomial.
De maneira geral pode–se observar que o tratamento com ácido giberélico influenciou significativamente as variações na firmeza de polpa, no conteúdo de sólidos solúveis totais, clorofilas, carotenóides e fenóis, na acidez total titulável e produção de etileno.
As variações de firmeza de polpa foram significativas entre os tratamentos testados e durante o período de avaliação. Assim, houve uma perda linear da firmeza de polpa passando de 147N em 22 de março, para 62N em 24 de maio, nas frutas de plantas tratadas com AG3. Neste mesmo período, em plantas não tratadas com AG3, a redução de firmeza de polpa foi mais acentuada, atingindo 3N em 24 de maio (Figura 1).
Para caquis Fuyu destinados ao armazenamento e/ou para a comercialização em condições ambientais não controladas, recomenda–se a colheita das frutas com firmeza de polpa entre 60 e 80N. Para consumo imediato ou em curtos períodos, inferiores a 7 dias, a colheita pode ser retardada, aguardando que as frutas atinjam valores de firmeza de polpa entre 40 e 60N. Destaca–se, no entanto, que a firmeza de polpa mínima para a boa aceitabilidade desta cultivar situa–se acima de 20N [3, 16]. Baseando–se nestas considerações pode–se verificar que a aplicação de AG3 permite retardar em aproximadamente 20 dias a colheita desta fruta, já que em 26 de abril as frutas controle apresentavam 74N e as tratadas com AG3 só apresentaram este valor em 15 de maio. O efeito positivo da aplicação do AG3 sobre a preservação de melhores valores de firmeza de polpa deve–se, provavelmente, à diminuição da atividade metabólica na parede [13], especialmente pela redução da produção de etileno em frutas tratadas com esta giberelina.
No que se refere ao conteúdo de sólidos solúveis totais (SST), observou–se um incremento durante a maturação, mais acentuado em caquis não tratados com AG3. Em média, em 22 de março, as frutas apresentavam 8oBrix, passando, para 16,5 e 17,5oBrix em 24 de maio, respectivamente, em caquis tratados com AG3 e não tratados (Figura 2).
Baseando–se nas variações de firmeza de polpa (Figura 1), que apontam para a colheita das frutas do tratamento controle em 26 de abril e do tratamento com AG3 em 15 de maio, o conteúdo de SST nestas mesmas datas, foi, respectivamente de 15,5oBrix e 16,0oBrix. Estes valores estão acima dos limites considerados adequados (14oBrix) para esta cultivar.
No que se refere à acidez total titulável (ATT) observou–se um decréscimo linear para as frutas tratadas com AG3 (Figura 3). Este é o comportamento normal para a maioria das frutas, excetuando–se as de caroço, como pêssegos, ameixas e nectarinas que, em estádios mais avançados de maturação, detecta–se um incremento na ATT correlacionando–se com a geração de radicais ácidos na parede celular [4]. Isto foi observado em caquis do tratamento controle. Houve uma redução inicial de ATT, até 26 de abril, após o qual, observou–se acréscimos.
O conteúdo de fenóis também apresentou reduções significativas durante a maturação, porém mais acentuadas em frutas não tratadas com AG3 (Figura 4). Embora as frutas da cultivar Fuyu sejam enquadradas como caquis do grupo não taninoso, o conteúdo de fenóis é relativamente elevado se comparado a outras espécies [5, 12]. De maneira geral, os caquis devem apresentar, para o consumo, teores de fenóis inferior a 3mg.kg–1 [12]. Baseando–se nesta informação, verifica–se que as frutas colhidas de plantas tratadas com AG3 atendem esta condição a partir de 12 de abril, enquanto àquelas tratadas com AG3, isto só ocorre a partir de 05 de maio.
A coloração da epiderme (Figura 5), avaliada visualmente, também apresentou–se significativamente afetada pela aplicação de AG3. Os caquis não tratados com AG3 atingiram a nota 5 — coloração amarelo–avermelhado, citada por BEN–ARIE [3] como adequada para o consumo, em 26 de abril, enquanto aqueles de plantas tratadas, ainda apresentavam–se com a nota 2 — verde–amarelado. Estes só adquiriram a coloração da epiderme amarelo–avermelhado a partir de 15 de maio. Este comportamento é fundamentado nas variações nos conteúdos de carotenóides (Figura 6) e de clorofilas (Figura 7), já que a aplicação de AG3 reduziu o acúmulo de carotenóides e a degradação de clorofilas.
Semelhantemente as demais variáveis estudadas, o AG3 também teve efeito significativo sobre a produção de etileno (Figura 8). Além da diminuição da produção de etileno, o AG3 retardou o início da crise climatérica em aproximadamente 15 dias. Em frutas sensíveis ao etileno [13], como é o caso de caquis, o controle do início e da intensidade de síntese deste hormônio pode ser fator regulador da maturação.
Neste trabalho, o atraso observado para a ocorrência da crise climatérica corresponde à decalagem para a ocorrência das demais transformações. Porém, pela metodologia empregada, não se pode verificar se o etileno atuou como causa ou conseqüência das alterações.
Adotando–se os valores–base [3], pode–se verificar que a colheita dos caquis tratados com AG3 deve ser realizada em torno do dia 15 de maio. Já para as frutas de plantas não tratadas com AG3, a data de colheita deve ser antecipada para 26 de abril. Nestas condições, as frutas apresentam–se amarelo–avermelhado, com firmeza de polpa em torno de 70N, mais do que 15oBrix e com um conteúdo de fenóis médio de 2mg/kg.
Este retardamento de colheita, de aproximadamente 20 dias, pode ser ainda mais prolongado se as frutas forem destinadas ao consumo/comercialização imediata. Mesmo com a colheita em 24 de maio, o que representa um retardo de aproximadamente um mês, a firmeza de polpa ainda é elevada (62N) e as demais variáveis estão perfeitamente de acordo com as condições para a comercialização. Além disto, as frutas apresentam–se com aspecto mais atraente, sobretudo pela coloração avermelhada mais intensa.
Para frutas de plantas não tratadas com AG3, se a colheita for realizada após 26 de abril, a comercialização deverá ser realizada em curtos períodos, pois observa–se uma significativa perda de firmeza, comprometendo a qualidade das mesmas.
A observação conjunta destes dados indica que a aplicação de AG3 constitui–se, também, numa alternativa para o escalonamento de colheita dos caquis, além de prolongar a oferta. A aplicação deste fitoregulador resultou um ganho no período de oferta de caquis semelhante ao proporcionado pelo armazenamento refrigerado a 0±0,5oC, que é de aproximadamente 30 dias [5, 6, 15]. Além disto, o benefício da aplicação de AG3 pode ser ampliado, pois após a colheita, as frutas poderão ser conservadas por um período adicional, sob refrigeração. Há necessidade, no entanto, de verificar o efeito do AG3 no potencial de conservação após a colheita. Também, sugere–se, na continuidade dos trabalhos, avaliar o efeito do uso de AG3 na produtividade do pomar no ano da aplicação e em safras sucessivas.
A aplicação de AG3 permite retardar a maturação, decalando a colheita de caquis, da cultivar Fuyu, em até 20 dias.
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Valdecir Carlos FerriI; Maria Madalena RinaldiI; Jorge Adolfo SilvaII; Luciano LuchettaI; Leonor MariniI; Cesar Valmor RombaldiII -
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