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A vigilância florestal e o estudo de agentes supressores de pragas (página 2)

Júlio Marcos Melges Walder

 

METODOLOGIA, RESULTADOS E DISCUSSÃO

As equipes de campo da Divisão de Entomologia e Ambiência da Aracruz Florestal, 3 equipes na região de Aracruz e 2 na região de São Mateus/ Conceição da Barra, são orientadas para detectar focos de pragas e coletar insetos mortos ou aparentemente doentes e enviá-los ao laboratório.

A equipe mais efetiva, nesse trabalho, é a de vigilância preventiva contra pragas, existindo uma em cada região. Esta equipe detecta e acompanha os focos iniciais de pragas. A vigilância é feita sistematicamente, sendo que todas as "áreas de identificação" da empresa, que compreendem um conjunto de talhões no mesmo estágio silvicultural, são percorridas uma vez a cada mês. Os dados coletados são registrados em uma ficha de campo.

Após a detecção dos focos, eles semanalmente são observados com a finalidade de se avaliar os seguintes parâmetros:

a) evolução populacional;

b) nível de danos;

c) identificação dos inimigos naturais e seu potencial no controle do foco.

A análise desse conjunto de fatores e das condições climáticas é que determina a necessidade de adoção de uma medida de controle, sendo essa medida imediatamente adotada, desde que compatível com o esquema de manejo da praga.

A Tabela 1 foi elaborada a partir de dados obtidos no período de 1978 a 1985, referentes à filial Aracruz. Essa tabela mostra o número de focos ocorridos, em 3 graus de intensidade de ataque, para cada espécie de inseto.

TABELA 1.
Constatação de focos de pragas, em três intensidades,
durante o período de 1978 a 1985 nas áreas da filial Aracruz.

Espécie

No de focos/intensidade de ataque

X

XX

XXX

Psiloptera sp.

146

122

25

Euselasia hygenius

153

76

15

Hylesia spp.

126

42

5

Thyrinteina arnobia

71

55

14

Eupseudosoma involuta

51

27

2

Lonomia sp.

34

13

2

Sarcina violacens

46

4

Dalcera sp.

16

9

Phobetron hiparchia

21

2

Phocydes polibius

16

Nystalea sp.

14

Apatelodes sericea

13

Glena sp.

4

1

1

Oxydia sp.

4

1

1

Eacles imperialis

1

Atta spp

Ocorrência generalizada

Totais

716

352

64

X - foco de baixa intensidade - até 3 ha
XX - foco de média intensidade - 3 a 10 ha
XXX - foco de alta intensidade - acima de 10 ha

Apesar da ocorrência de 1.132 focos, apenas 64 (5,6%) foram considerados de alta intensidade ou seja, ocorreram em áreas acima de 10 ha. Desses, apenas dois focos tiveram que ser controlados pela aplicação do Bacillus thuringiensis.

Essa diminuição natural das populações das pragas se deve, provavelmente às condições climáticas altamente favoráveis aos seus inimigos naturais, representados principalmente pelos patógenos, os quais são protegidos pelas condições microclimáticas propiciadas pela planta e pelo subbosque, diminuindo o efeito deletério da radiação ultravioleta.

São apresentados abaixo alguns parâmetros ecológicos da região de Aracruz - ES:

- Latitude

19o 48'S

- Longitude

40o 17'W

- Altitude

5 a 50m

- Precipitação Média Anual

1.364mm

-Temperatura Média Anual
Médias das Temperaturas Máximas
Médias das Temperaturas Mínimas

23,6°C
29,3°C
19,1°C

- Umidade Relativa Média Anual

80%

Para mostrar a importância da vigilância florestal e a eficiência dos patógenos na região, estudou-se a ocorrência de uma epizootia de Paecilomyces amoenoroseus sobre uma lagarta desfolhadora Dalcera sp. (Lepidoptera: Dalceridae).

Na Figura 1 são encontrados os valores diários de temperatura, umidade relativa e precipitação durante o período de ocorrência de epizootia. A ação desses fatores foi determinante para o bom desempenho do patógeno.

FIGURA 1
Valores diários de temperatura, umidade relativa e precipitação durante o período de ocorrência do P. amoenoroseus
em Dalcera sp. em Aracruz - ES. IC - Dia de avaliação da intensidade de colonização do fungo.

As observações foram feitas nos ramos inferiores, ramos medianos e nas plantas inteiras, localizadas na borda do talhão e no interior do povoamento. Os dados referentes ao número de lagartas sadias e colonizadas, assim como à porcentagem de colonização encontram-se na Tabela 2

TABELA 2.
Locais de observação, lagartas sadias e colonizadas pelo fungo P. amoenoroseus em Aracruz-ES.

Local da árvore observado

Número de lagartas

Porcentagem de colonização

Sadias

Colonizadas pelo fungo

Ramo baixo*

1

27

96,4

Ramo baixo*

-

66

100,0

Ramo mediano*

5

34

87,2

Ramo mediano

22

27

55,1

Ramo mediano

12

27

69,2

Árvore inteira

28

206

88,0

Árvore inteira

4

16

69,2

Total

72

403

84,8

  • Material de borda do talhão. O restante é do interior do povoamento.

CONCLUSÃO

As condições ecológicas da região de Aracruz-ES são muito favoráveis à ocorrência de patógenos, sendo que estes são os principais responsáveis pela manutenção de algumas pragas a níveis de danos não econômicos.

O fungo P. amoenoroseus foi o principal agente de supressão do foco de Dalcera sp. ocorrendo em 84,8% das lagartas.

BIBLIOGRAFIA

  • ALVES, S.B., coord. - Controle microbiano de insetos. São Paulo, Manole, 1986. 465p.
  • ALVES, S.B.; LARANJEIRO, A.J. & ALVES,J.E. - Ocorrência de epizootia natural de Paecilomyces amoenoroseus em Dalcera sp. (Lepidoptera: Dalceridae) e cultura de eucalipto. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENTOMOLOGIA, 10, Rio de Janeiro, 1985. Resumos. Rio de Janeiro, 1985, p.399.

IPEF, n.38, p.50-51, abr.1988

Sérgio Batista Alves ESALQ/USP, Departamento de Entomologia
13400 - Piracicaba, SP.
Alberto Jorge Laranjeiro; Jorge Edson Machado Alves
Aracruz Florestal S.A.
29190 - Aracruz - ES

Sérgio Batista Alves; Alberto Jorge Laranjeiro; Jorge Edson Machado Alves
sebalves[arroba]esalq.usp.br

 

 



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