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Dois mil e quatrocentos pintos de corte de um dia da linhagem comercial Ross foram distribuídos em um delineamento inteiramente ao acaso com esquema fatorial 2 x 2 x 2 (macho e fêmea, com e sem probiótico, com e sem antibiótico), oito tratamentos com seis repetições de 50 aves cada uma. O antibiótico utilizado foi a avoparcina nas dosagens de 15 e 10 ppm, respectivamente, nas rações inicial e de crescimento; e o probiótico usado foi LBC ME 10Ò, constituído do ingrediente ativo Enterococcus faecium Cernelle 68 (SF 68), com uma concentração de 1x1010 CFU/g de produto, adicionando-se 40 g/t de ração em todas as fases de criação.
O experimento foi realizado no galpão experimental da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP, Campus de Botucatu, composto de 48 boxes com capacidade para 50 aves (10,6 aves/m2) cada um, no período de 03 de outubro a 14 de novembro de 1997. Para o registro da temperatura e umidade relativa do ar no interior do galpão experimental, durante todo período experimental, foi utilizado um termohigrógrafo.
Cada boxe foi equipado com um comedouro inicial (com capacidade para 4 kg), um definitivo (capacidade para 25 kg), um bebedouro inicial (capacidade para 4 l ), outro definitivo e um sistema de aquecimento composto por uma lâmpada infravermelha. A cama utilizada foi de maravalha (5 cm de espessura).
Para atender as exigências nutricionais das aves, o período de criação foi dividido em duas fases: inicial (1 a 21 dias) e crescimento (22 a 42 dias). A água e as rações, na forma farelada, foram fornecidas ad libitum. Em nenhuma das fases de criação foi adicionado agente anticocciano ou qualquer outro produto que pudesse ter ação antibiótica. As composições percentual e calculada das rações experimentais encontram-se na Tabela 1.
O desempenho das aves foi medido por intermédio do registro do peso inicial (um dia) e peso final, do ganho de peso, do consumo de ração e da conversão alimentar aos 21 e 42 dias. A mortalidade foi controlada diariamente.
Aos 42 dias de idade, foram separadas duas aves por repetição (12 aves por tratamento, 48 machos e 48 fêmeas, 96 aves no total), as quais foram identificadas por etiquetas plásticas numeradas, submetidas a um jejum de seis horas, pesadas e, em seguida, processadas, segundo os procedimentos normais de abate: atordoamento, sangria, depenagem e evisceração. As carcaças, sem pés, cabeça, pescoço, vísceras comestíveis e gordura abdominal, foram pesadas antes do resfriamento em chiller. Em seguida, procedeu-se à extração de peito e pernas, os quais foram desossados, e a carne pesada sem pele. O rendimento de carcaça foi calculado em relação ao peso vivo antes do abate [%RC = (Peso Carcaça x 100)/Peso Vivo] e o rendimento de carne de peito e pernas, em função do peso da carcaça [%RP = (Peso Parte x 100)/Peso Carcaça]. Após a pesagem da carne, as amostras foram mantidas em congelador para posteriores análises sensoriais de carne do peito e das pernas (coxa+sobrecoxa) dos machos.
Foram realizadas as análises sensoriais das características intensidade de aroma, aroma estranho, sabor, sabor estranho, maciez, suculência, preferência, cor característica e aparência geral, utilizando-se oito provadores treinados (ROÇA e BONASSI, 1985), conforme o procedimento recomendado pelo INSTITUTE OF FOOD TECHNOLOGISTS (1981).
Os dados de desempenho, rendimento de carcaça e partes nobres, e a análise sensorial foram submetidos à análise de variância para um delineamento inteiramente ao acaso com esquema fatorial, utilizando-se o procedimento GLM do programa SAS (1989). Os dados percentuais de mortalidade foram transformados em (%/100)0,5, segundo SNEDECOR e COCHRAN (1967), antes da análise de variância.
Durante o período experimental, as médias, as mínimas e as máximas absolutas de temperatura e umidade relativa do ar, verificadas no interior do galpão experimental, foram 25,27±3,36°C, 16°C, 37°C; 65,4±12,25%, 26% e 99%, respectivamente.
5.1 Desempenho
Os resultados de desempenho encontram-se nas Tabelas 2 e 3. No período inicial, de 1 a 21 dias de idade, e no período total, de 1 a 42 dias de idade, não houve interação significativa entre os fatores estudados. Portanto, os fatores principais (antibiótico, probiótico e sexo) foram analisados separadamente.
Tanto para o período inicial (1-21 dias) quanto para o período total (1-42 dias), as diferenças entre sexo, superiores para os machos nas características de desempenho, corroboram vários trabalhos apresentados anteriormente (JIRAPHOCAKUL et al., 1990; OWINGS et al., 1990; e WOLKE et al., 1996).
Ao final do primeiro período experimental (1-21 dias), o peso final e o ganho de peso das aves suplementadas com antibiótico foram maiores (P<0,05) do que aqueles das aves que não receberam antibiótico. Para o período total de criação, de 1 a 42 dias de idade, somente o consumo de ração foi aumentado pelo uso da avoparcina (P<0,05), demostrando que o efeito benéfico do antibiótico no período experimental inicial não foi mantido para o período total de criação, concordando com os resultados obtidos por HENRIQUE et al. (1997). Entretanto, LESSON et al. (1980) e KRINKER E JAMORZ (1996) constataram melhora no ganho de peso e conversão alimentar dos frangos de corte que receberam avoparcina como promotor de crescimento durante todo o período de criação.
Independente dos fatores antibiótico e sexo, as aves suplementadas com probiótico apresentaram menores (P<0,05) peso final, ganho de peso e consumo de ração no período inicial de criação (primeiras três semanas), resultados estes que foram mantidos até o final da criação. A conversão alimentar não diferiu em nenhuma das fases de criação.
Resultados benéficos com o uso de probiótico, em todas as fases de criação, foram reportados por diferentes autores (DIRWORTH e DAY, 1978; OWINGS et al., 1990; e JIN et al., 1997), mas não por outros pesquisadores (JERIGAM e MILES, 1985; JIRAPHOCAKUL et al., 1990; KHAN et al., 1992; CAVAZZONI et al., 1993; WATKINS e KRATZER, 1984; e HENRIQUE et al., 1997), os quais encontraram resultados semelhantes aos observados neste experimento. Como a eficácia do produto é estritamente dependente da quantidade e das caraterísticas das cepas do microrganismo utilizado na elaboração do probiótico (TOURNUT, 1998), é muito difícil estabelecer um paralelo entre estudos e comparar resultados.
O efeito sobre (P<0,05) o desempenho dos tratamentos que receberam suplementação do probiótico pode ser conseqüência da criação das aves em instalações novas, com ótimas condições profiláticas, não constituindo, portanto, uma situação de desafio. Assim, a microbiota intestinal teria se desequilibrado com a suplementação do Enterococcus faecium em quantidade acima da que normalmente é encontrada no trato digestório. Desse modo, o microrganismo que deveria promover o crescimento tornou-se um agente "infectante" e, provavelmente, deprimiu a metabolização e absorção dos nutrientes e, como conseqüência, o desempenho da ave. É necessário ser ressaltado que, quando o Enterococcus faecium foi utilizado como exclusor competitivo de uma cepa de Escherichia coli hemolítica, obtiveram-se resultados positivos sobre o desempenho dos frangos de corte (TOURNUT, 1998).
5.2 Rendimento de carcaça, partes e gordura abdominal
Observando-se a Tabela 4, pode-se notar que houve interação significativa para rendimento de carcaça entre probiótico e antibiótico (P<0,05), obtendo-se rendimento maior, quando do uso do probiótico associado ao antibiótico (P<0,01). Dentro do fator sexo, evidenciou-se maior rendimento de carcaça para as fêmeas (69,15%) em relação aos machos (68,56%) (dados não apresentados).
Não houve interação (P<0,05) entre os fatores estudados para os rendimentos de cortes nobres e a porcentagem de gordura abdominal (Tabela 5). Para o fator antibiótico, não se observaram diferenças nas características das carcaças avaliadas (P<0,05).
Somente o rendimento de vísceras comestíveis totais e moela foi afetado pelo uso de probiótico (P<0,05). O rendimento de partes, cortes nobres (com osso e sem osso), vísceras não-comestíveis, coração, fígado e gordura abdominal das aves suplementadas com probiótico não apresentaram diferença.
Resultados similares de rendimento de carcaça foram encontrados por MERKLEY (1985), OWINGS et al. (1990) e MOHAN et al. (1996). Já WATKINS e KRATZER (1984) observaram que os tratamentos com probiótico não apresentaram diferença no peso úmido e o peso seco do intestino delgado, enquanto MOHAN et al. (1996) não verificaram diferenças de rendimento de coração, baço, fígado e moela. Com relação à gordura abdominal, o uso do probiótico propiciou diminuição de 5,1%, não sendo, porém, detectada estatisticamente. Este resultado pode ser atribuído à ação lipolítica do produto, um dos seus mecanismos de ação, resultando em menor deposição de gordura no organismo da ave (MOHAN et al., 1996; JIN et al., 1998).
As diferenças entre sexo observadas para rendimento de partes, cortes nobres e gordura abdominal são semelhantes ás de outros trabalhos apresentados anteriormente (FULLER, 1989; OWINGS et al., 1990).
5.3 Análise sensorial
Os resultados da análise sensorial da carne de peito e da carne de pernas estão apresentados na Tabela 6.
Para a análise sensorial de carne de peito, observa-se que não houve efeito significativo entre os tratamentos. Para a carne de pernas, houve diferença significativa (P<0,05) nas características aroma estranho, sabor estranho e preferência no tratamento contendo associação de probiótico+antibiótico em relação aos tratamentos com adição de antibiótico e sem promotor de crescimento, mas não em comparação ao tratamento com adição de probiótico. Resultados parecidos foram obtidos por WILLIAMS e DAMRON (1998) para frangos de corte, quando usaram farinha cozida de aves descartadas e mortas, nas características sensoriais de suculência, intensidade de sabor, maciez e aparência geral da carne de peito e de coxa.
O uso de probiótico não propiciou melhorias nos resultados de desempenho, excetuando-se o rendimento de carcaça e a análise sensorial na característica de preferência, no momento em que o probiótico foi associado ao antibiótico. A suplementação somente do probiótico determinou diminuição dos índices de desempenho (peso, ganho de peso e consumo de ração), indicando que o uso de produtos à base de Enterococcus faecium não é indicado em condições de baixo desafio sanitário.
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Maria Marta Loddi2, Elisabeth Gonzales3, Tânia Sayuri Takita4, Ariel Antônio Mendes3, Roberto de Oliveira Roça3 - arielmendes[arroba]fca.unesp.br
1 Pesquisa financiada pela FAPESP.
2 Zootecnista, Bolsista da CAPES. Rua Mato Grosso, 385, Maringá, PR. 86033-110.
3 Professor da UNESP - Botucatu, SP.
4 Zootecnista, Bolsista FAPESP.
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