ABSTRACT
De uma maneira interdisciplinar, através da análise sociológica e comunicacional-tecnológica o texto trata da convergência tecnológica surgida e desenvolvida no seio da sociedade informacional. Paralelamente à análise é desenvolvida uma reflexão teórica, filosófica e conceitual sobre a TV digital interativa e das as implicações políticas e culturais da mesma na sociedade e das necessárias adequações da comunicação visando às produções para os novos meios convergentes.
A maioria dos estudiosos em análise prospectiva acredita que se vive hoje uma etapa de transformação da sociedade industrial em uma sociedade pós-industrial, tecnotrônica, informacional, sobre dois eixos fundamentais e estritamente relacionados: as novas comunicações integradas, multimídias e interativas, e a engenharia do conhecimento.
O texto (1) em questão trata dessa possibilidade de nova sociedade; das características da sociedade da informação e suas novas tecnologias, do fenômeno da convergência tecnológica que surge no bojo dessa nova sociedade e de seus desdobramentos em particular a TV digital interativa, que exigirá estudos sobre suas implicações políticas e sociais além do posicionamento que devem ter públicos e profissionais de comunicação, uma vez que a convergência tecnológica em suas particularidades lida com o mais precioso dos bens dessa sociedade: a informação.
A proposta é uma reflexão teórica, filosófica e conceitual sobre a TV digital interativa e as particularidades tecnológicas de sua implantação no Brasil e os reflexos políticos e culturais da mesma na sociedade, ou seja, refletir sobre a sociedade da informação e os desdobramentos característicos da mesma, em particular estudar a TV digital interativa ainda em implantação no Brasil.
Devido ao assunto ser relativamente novo, diversas possibilidades podem ser estudadas, entre eles o impacto dos avanços científicos na sociedade atual e reflexões sobre o papel que terá a ciência (por ser a fonte de conhecimento), os cientistas (os produtores do conhecimento) e os comunicadores (como transmissores do conhecimento) na conjuntura atual desta sociedade.
Deste modo, dada a originalidade do próprio tema uma vez que ainda encontra-se em discussão a implantação TV Digital Interativa no Brasil, várias vertentes podem ser estudadas como: as variáveis tecnológicas envolvidas na implantação, políticas de comunicação adotadas, implicações econômicas do modelo de negócios adotado, implicações sociais e culturais que a transição trará. Tais considerações devem levar em consideração a interatividade proposta ao novo meio que evidencia a necessidade de propor produções específicas para esta convergência de conteúdos, uma das características da TV Digital Interativa.
A TV DIGITAL INTERATIVA NA SOCIEDADE INFORMACIONAL
Para diversos observadores e teóricos, entre eles ROSNAY (1998) e LOJKINE (1999), hoje se presencia a chamada revolução informacional, que, partindo da retroalimentação e da sinergia de uma série de tecnologias, constituíram o que CASTELLS (1999) chama de a era da informação e do conhecimento. Este período conjuntural como pode ser visto logo abaixo, também é conhecido como terceira revolução informacional, que nasce sob embasamento do termo tecnologia da informação.
Neste contexto, cabe salientar que de acordo com as modernas teorias, esse fenômeno citado acima, ou terceira revolução industrial se inicia no final dos anos setenta através de uma crise econômica mundial baseada nas tecnologias da informação e comunicação. A partir desse ponto se inicia um processo de mudanças econômicas, políticas e sociais que desemboca na chamada sociedade da informação, onde têm papel destacado os meios de comunicação, que para adaptarem-se a esse novo modelo de desenvolvimento e crescimento, têm sofrido alterações importantes como, por exemplo, a transição para a era digital.
Toda essa conjuntura nasce e se movimenta em torno da tecnologia, uma vez que para explicar as mudanças e diferenças nos padrões e difusão das tecnologias de informação, surge, no final da década de 80, o termo "tecnologia da informação" que incorpora em seu conceito a idéia de envolvimento de um conjunto de áreas: informática, telecomunicações, comunicações, ciências da computação, engenharia de sistemas e de software. Para CASTELLS (1999), as tecnologias de informação fazem parte de um conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, telecomunicações, radiodifusão entre outras que usam de conhecimentos científicos para especificar as coisas de maneira reproduzível.
Para exemplificar essa situação, temos o fenômeno da convergência tecnológica, e particularmente a transição da TV analógica para a TV Digital Interativa, que consiste na possibilidade de uma televisão digital terrestre com canal de retorno que viabilize além a convergência de telefone, televisão e Internet, ou tv a cabo e Internet em um só aparelho, a interatividade entre receptor, aparelho e programação. Devido a essa junção, e às possíveis conseqüências políticas e culturais destes meios na sociedade, as produções comunicacionais que se adaptam a cada um dos meios citados, considerando linguagem, público e alcance, deverão repensar e discutir sua postura diante da tendência atual, a fim de trabalhar novas propostas de conteúdo para os novos meios tendo em vista os públicos atingidos por estes.
Deve-se salientar, no entanto que dentro dessa revolução informacional encontram-se dois fenômenos similares em magnitude, porém distintos em sua essência: mundialização e globalização. De acordo com VILCHES (2001) a mundialização é um fenômeno cultural que surgiu da industrialização e que rompeu com as tradições obrigando a sociedade a uma rápida transformação ou a uma desaparição segura de características culturais heterogêneas. Conceituação similar é feita por LATOUCHE (1994) ao estudar o que ele chama de ocidentalização do mundo, que afirma existir atualmente uma massificação da cultura ocidental sobre as orientais.
Globalização por sua vez para VILCHES (2001) significa que as atividades industriais e econômicas se desenvolvem em escala global e não regional, ou seja, a globalização tem fundo econômico e expressa um certo grau de reciprocidade e interdependência das atividades repartidas nas diversas áreas internacionais. É interessante que ao se observar às características da globalização no que diz respeito à informação e a comunicação, percebe-se, em primeiro lugar, que a emergência dos conglomerados dos multimídias internacionais são chaves para a difusão da informação. Em segundo lugar, que as novas tecnologias da informação, desde os satélites ao cabo, da microeletrônica à digitalização, têm um impacto social de efeitos até agora impossíveis de predizer em toda sua magnitude.
Tendo em vista que na sociedade da informação as novas tecnologias ocupam papel destacado, cabe uma maior delimitação sobre as mesmas, que de acordo com a COMISSÃO EUROPEIA (1997), entre os exemplos de produtos e serviços oferecidos pelas novas tecnologias encontram-se: os serviços de dados sobre as plataformas de radiodifusão numérica; os lançamentos em rede das atualidades, dos esportes, dos concertos e outros serviços audiovisuais; operações bancárias on-line, chats e grupos de discussão, correio eletrônico, serviços específicos de internet como acesso aos dados da world wide web (www) por intermédio das pesquisas de celulares, ainda que sua utilização seja empresarial; e os serviços em linha combinados com a televisão dos sistemas de Web-TV ou em outros países a TV Digital Terrestre Interativa com transmissor via cabo ou satélites numéricos.
Com proposta similar à da Comissão Européia, em 2000 é lançado o Livro Verde sobre a Sociedade da Informação no Brasil (TAKAHASHI, 2000), que apresenta entre suas metas de implementação do Programa Sociedade da Informação e propostas de aplicações de Tecnologia da Informação, considerações sobre a convergência com telecomunicações, a implantação da TV Digital e as preocupações com novos modelos de negócios advindos dessa transição para a digitalização, termo este que segundo BUSTAMANTE E MONZONCILLO (1999) há de ser entendida como uma evolução técnica que vem catalisar os processos anteriores, incentivar suas tendências, extremar e acelerar seus processos (2).
Tais encaminhamentos ocorrem devido ao surgimento e desenvolvimento crescente e contínuo da internet, e, nos últimos anos, devido a uma convergência acelerada das telecomunicações e da comunicação permeadas pela informação. Esse fenômeno aparentemente recente já havia sido estudado anteriormente de maneira quase profética através de um relatório encomendado pelo governo Francês em 1978 em que a convergência recebe o nome de telemática. Tal conceito foi também estudado mais recentemente por DIZARD (1998) que o denomina de "nova mídia".
VILCHES (2001) afirma que começam a desaparecer as diferenças entre os meios tecnológicos (televisão, computador, rádio, telefone) ao mesmo tempo em que a diversificação de empresas tende a disseminação acelerada pelas alianças entre o setor público e privado. Vive-se deste modo frente a inovações de corporações das telecomunicações, da informática e da indústria do entretenimento, ou seja, surge terreno fértil para o desenvolvimento de meios convergentes. O mesmo autor, em 2003 afirma que atualmente a necessidade de estudar a convergência não se limita mais apenas ao âmbito tecnológico, está em andamento também uma convergência de conteúdos, tendo em vista a era digital e o surgimento de meios híbridos como a TV digital Interativa (3) .
A convergência tecnológica da internet com outros meios (TV, rádio e telefones de última geração) assegura a entrada dos consumidores em uma fase de globalização telemática, onde a principal característica é a convivência interativa do telespectador com meios e conteúdos convergentes. Em outras palavras, é possível dizer que os computadores, a convergência tecnológica e a migração para a era digital tornam possível a teoria pós-moderna, ou ainda, dá lugar ao surgimento uma nova forma de televisão, bidirecional, que possibilitará ao telespectador conforme afirma JOLY (2003) o que MATUCK (1995) chama de "interação horizontal e interindividual".
POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES DA IMPLANTAÇÃO DA TV DIGITAL INTERATIVA NO BRASIL
Ainda que tal fenômeno não seja tão marcante no Brasil, as redes telemáticas e a televisão convergirão muito rápido. É realidade em diversos países da Europa e nos EUA, e sua implantação vem sendo objeto de estudos, teste e discussões no Brasil. Tal afirmação pode ser corroborada com as experiências realizadas pela Rede Globo em parceria com a Microsoft na cidade de Sorocaba no início de 2001, onde 200 domicílios testaram a TV digital interativa (4) , testes pilotos sobre TV digital desenvolvidos por organizações especializadas ou de pesquisa em instituições renomadas e principalmente devido aos encaminhamentos que vêm sendo feitos pelo governo tendo em vista a implantação da TV digital no Brasil.
Diante do exposto até o momento é correto afirmar que a introdução das novas tecnologias em geral, da convergência tecnológica, e, da implantação da TV digital em particular, é aparentemente um fato irreversível. Cabe salientar, no entanto, que um estudo como este não deve desconsiderar que normalmente tais processos são conduzidos pela lógica de mercado, das grandes empresas transacionais e baseado em avanços científicos e tecnológicos, desconsiderando muitas vezes as complexidades e implicações que tais processos acarretam à sociedade.
De acordo com WOODARD (1994), a convergência tecnológica trará consigo mudanças significativas para a televisão devido à mídia interativa. A idéia padronizada que se tem é que a TV será incorporada à mídia interativa não sendo mais vista como um meio isolado. Contudo, antes de adentrar em conceituações acerca da TV digital cabe salientar que na verdade muitos fatores neste processo não são tão inovadores assim, tanto interatividade (na arte e na Internet por exemplo) como TV digital (por cabo e/ou satélite como Sky e DirectTV) já existem em meio à nossa sociedade, a inovação é justamente a junção dos conceitos em um processo convergente de tecnologia e conteúdo.
Para exemplificar o exposto pode-se citar a afirmação de TOME (2003) de que um sistema de televisão é composto de três segmentos: produção de conteúdo (estúdio), transmissão entre emissora e usuário, e o receptor do usuário. Tendo em vista que muitos estúdios de produção já são digitais e na recepção também existem funções digitais (embora limitadas), o que se entende por digitalização e vem sendo alvo de estudos e discussões atualmente é necessariamente a transmissão do sinal aberto (terrestre) de televisão no Brasil.
De acordo com o contexto acima, TV digital ou TV de alta definição (HDTV) trata-se de um sistema de radiodifusão televisiva que transmite sinais digitais em lugar dos atuais sinais analógicos. Uma das principais características da mesma diz respeito à sua eficiência, resolução da imagem e possibilidades de serviços interativos oferecidos junto ao sinal, o que caracteriza então a TV interativa.
De acordo com ALBOMOZ et alii (1999), em termos gerais, a transmissão digital de sinais de televisão com suas possibilidades de interatividade e "em conseqüência de oferta de serviços e de mercado e rentabilidades" (BUSTAMANTE, 1999:27) implica uma série de características diferenciadas que possibilitará reduzir custos de equipamentos de transmissão e seus suportes, incrementar o número de programas, serviços e sinais disponíveis, melhorar e graduar a qualidade de transmissão e facilitar a convergência entre o audiovisual, as telecomunicações e a informática, além de permitir ao telespectador de certa forma interagir com a produção do que é transmitido.
Vale ressaltar, no entanto, que até o momento somente o Brasil e a China (que também optou por desenvolver seu próprio padrão) testaram os três padrões disponíveis no mercado. Outros pontos que merecem destaque na conceituação sobre TV digital são os esclarecimentos de ZUFFO (2003:3) que afirma:
Dada a complexidade da questão da TV digital é fundamental a correta diferenciação entre Modelo, Sistema e Padrão digital. O modelo de TV digital incorpora a visão de longo prazo e o conjunto de políticas públicas. (...)O sistema de TV digital é o conjunto de toda a infraestrutura e atores (concessionárias, redes, produtoras, empresas de serviços, ONGs, indústrias de conteúdo e de eletroeletrônicos). O Padrão de TV digital é o conjunto de definições e especificações técnicas necessárias para a correta implementação e implantação do Sistema a partir do Modelo definido.
Os encaminhamentos sobre a implantação da TV digital no Brasil vêm acontecendo desde 1998, quando uma comissão formada pela SET (Sociedade de Engenharia de Televisão), CPqD (Centro de Desenvolvimento e Pesquisa em Telecomunicações), ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) e Universidade Mackenzie realizaram testes entre os padrões (Americano ATSC de 1993, o europeu DVB de 1993 e o Japonês ISDB de 1999) que indicavam o padrão Japonês mais apto ao país. A definição do padrão a ser adotada que estava prevista para setembro de 2000 foi prorrogada e tal decisão deixada para o governo advindo das eleições de 2002 (HERNANDEZ e POSTOLSKI, 2003).
Com a mudança no quadro governamental nas eleições de 2002, várias alterações foram introduzidas neste contexto pelo novo Ministro de Comunicação através do Projeto de Decreto que cria o Grupo Executivo do Projeto de TV Digital - GET, da Exposição de Motivos da Política de TV Digital e do Anexo à Exposição de Motivos, culminando com a não adoção de um dos padrões disponíveis no mercado e proposta de desenvolvimento de um padrão brasileiro de TV digital com características muito particulares como algumas descritas abaixo:
· Oferecer novas ferramentas tecnológicas de comunicação para serem utilizadas em políticas públicas de inclusão social e digital;
· Oferecer total interatividade, ao menor custo de produção de equipamentos, programas e serviços por parte dos investidores, e de uso e acesso por parte dos consumidores;
· Ser aberta, livre e gratuita para o usuário final, quando na modalidade exclusiva de difusão;
· Proporcionar ao povo educação, cultura e entretenimento;
· Contribuir para garantir a universalidade do idioma, a integração nacional e o exercício da cidadania.
Cabe salientar, no entanto, que aparentemente a grande inovação da proposta do governo Brasileiro está relacionado ao fato de pensar a TV digital dotada de total interatividade como uma ferramenta para combater a exclusão digital e conseqüentemente desigualdade social. Tal proposta vem sendo questionada por alguns pesquisadores e a proposta de uso para inclusão social é apontada como inviável no documento de autoria do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (2003) enviado ao Ministério das Comunicações por ocasião do debate público sobre as propostas de Política de TV digital.
O advento da convergência tecnológica e a implantação da TV digital colocarão certamente novas questões, que demandarão também o aperfeiçoamento das matrizes teóricas vigentes. Um questionamento, por exemplo, é sobre como será o comportamento das pessoas frente à televisão interativa, quando já habituadas à passividade ou pseudo-interação da televisão atual. Também relevante são questionamentos acerca do sistema e padrão adotados, do modelo de negócios e de como serão as produções comunicacionais para os meios digitais, e quais os reflexos políticos e culturais destes na sociedade, sendo estes os principais questionamentos que orientam o presente trabalho.
Acerca da Interatividade na televisão, STANDKE (2002), afirma que há algum tempo as emissoras têm buscado interagir com o telespectador. Alguns exemplos são os programas em que você decide o final ou elimina quem participa, onde perguntas são respondidas pela internet ou frases que aparecem nos programas de domingo.
Sobre as possibilidades interativas na televisão, VILCHES (2003:237) afirma que a interatividade afeta também a informação e a comunicação em suas modalidades estruturais como o consumo e a programação. Para o autor, trata-se de um diálogo entre uma pessoa e uma máquina, onde informação, programa e produto aprecem como interfaces da TV Digital interativa.
De acordo com SABATINNI (2000), TV interativa não é um conceito novo, em muitos países europeus, começou com o videotexto e o teletexto, embora o videotexto não seja totalmente interativo. Outro sistema surgido é a Web-TV que também não é totalmente interativo, pois embora agregue dois aparelhos, TV e internet, os mesmos não são usados simultaneamente, ou se assiste TV ou se navega na internet.
A TV interativa propriamente dita é uma tecnologia que integra o acesso à Internet e a recepção de canais de vídeo, uma interface combinada de Internet/TV/telefone ou Internet e TV a cabo, no mesmo aparelho o que permite inclusive, no segundo caso, dispensar a linha telefônica. O autor salienta que para este novo meio convergente não existem limites conhecidos.
É interessante salientar, no entanto, que assim como muitos outros conceitos, interatividade vem sendo utilizado indistintamente sem critérios em sua conceituação. Existem divergências entre pesquisadores sobre os tipos de Interatividade, mas de uma maneira muito simplista quase todos subdividem a mesma em níveis de interação (MORAES, 1998; TAVARES, 2001).
Como exemplo pode-se citar LEMOS (2003), que ao conceituar sobre as possibilidades de interação técnica ou analógica-mecânica (com a máquina), digital (conteúdo) e social (entre pessoas), afirma que os novos meios viabilizarão uma nova qualidade de interação eletrônico-digital, que na verdade é o que vem sendo chamado hoje de interatividade. Neste contexto o autor subdivide a interatividade em quatro níveis descritos abaixo:
· Nível 0 – interatividade que se limita à ação de ligar e desligar aparelhos;
· Nível 1 – ocorre através do uso de parelhos como o controle remoto que institui certa autonomia na telespectação;
· Nível 2 – surge com o uso de equipamentos como o vídeo ou console de jogos por exemplo, que invadem a televisão permitindo ao telespectador que se aproprie do objeto TV;
· Nível 3 – aparenta sinais de interatividade de cunho digital onde o usuário através de emissão por telefones, fax ou e-mail pode interferir de alguma maneira no conteúdo das emissões;
· Nível 4 – o que a TV interativa viabilizará, é o nível que permite a participação ao conteúdo em tempo real (como escolher ângulos, câmeras, etc.).
Contribuições relevantes sobre o assunto é oferecida por TOME (2003), para quem a TV interativa é um conjunto importante na digitalização da televisão, pois usa a capacidade de processamento da TV, aliado ao armazenamento de bits na memória local para que a TV tenha funcionalidades similares à de um computador. Para o autor do ponto de vista técnico existem três categorias de programas interativos conforme exposto abaixo:
· Interatividade local ou enhanced broadcasting- informações são transmitidas ao usuário e armazenadas no receptor;
· Interactive broadcasting – utiliza um canal de retorno, geralmente via telefônica;
· Internet acess profile – junção dos dois tipos anteriores para viabilizar a TV ser utilizada com as funcionalidades de um PC.
O ponto central do artigo situa-se justamente nas transformações sociais advindas da implantação da Televisão Digital dotada de interatividade, pois, se os meios passam a ter em suas características a capacidade de ação mútua com o receptor, os processos comunicacionais e, portanto os comunicólogos devem adaptar-se a essa nova realidade, uma vez que, em breve, não saberemos dizer se uma televisão é uma televisão, um computador ou se o sistema telefônico existe somente para transportar o som através do espaço, interconectando à distância, duas pessoas que não se vêem.
Como dito anteriormente, essas mudanças passam pelas grandes empresas de telecomunicações e comunicações que exigirão do estado, como vem acontecendo na Europa (COMISSÃO EUROPEIA, 1997), estudos para adequação de leis visando à regulamentação das novas tecnologias, alternativas para lidar com as conseqüências políticas e culturais da mesma como, por exemplo, a exclusão digital e também adequação da produção comunicacional, para satisfazer de maneira eficaz as exigências dos meios surgidos da convergência tecnológica.
A preocupação de alguns autores como ALMAS (2003) é que o foco da discussão sobre a TV digital no Brasil tem se limitado aos modelos de implantação e seus desdobramentos tecnológicos, não sendo abordadas até o momento as políticas de comunicação, e principalmente as implicações econômicas, sociais e culturais que a transição acarretará à sociedade, uma vez que a interatividade proposta pelo governo exigirá do telespectador nova postura frente à televisão que passa a ter características interativas da interne. Tal fato certamente exigirá a adequação de conteúdo e programação à digitalização da TV.
Nasce de preocupações como esta, o questionamento central do texto sobre como deve proceder a sociedade frente às implicações políticas, culturais e sociais dos novos meios como a TV digital interativa e como a comunicação deve adequar sua produção para a convergência tecnológica tendo em vista que uma mesma mensagem deve satisfazer diferentes características dos meios convergentes entre os quais alguns são passivos, outros reativos e outros interativos, ou seja, possivelmente serão necessários novos modelos de conteúdos para a TV Digital.
Em resumo, as novas redes estão desenhando um mundo baseado em comunidades informacionais, que enlaçam governos, instituições e empresas, alterando os velhos vínculos determinados pela proximidade e obrigando os espaços globais, porém restritos de simultaneidade, a adaptações emergenciais. Nessa sociedade informacional, surgem novos meios nascidos da convergência tecnológica e que exigirão novos formatos, novos conteúdos, adaptação dos comunicólogos para os formatos comunicacionais específicos e surgidos especificamente para os meios convergentes, em particular a TV Digital Interativa. Somado a isso, tais meios convergentes trarão implicações econômicas, políticas e principalmente culturais para a sociedade onde estiverem inseridos.
Não há como não perceber o que grande parte dos estudiosos defende, que vivemos em meio a grandes transformações onde a comunicação ocupa papel destacado na chamada "sociedade da informação".
As transformações citadas anteriormente são de origem econômica, políticas e sociais e desembocam nessa nova sociedade onde os meios de comunicação também têm sofrido alterações em suas estruturas e funções para adaptarem-se a esse novo modelo de desenvolvimento. Como exemplo dessas alterações e adaptações temos a convergência tecnológica, especificamente a TV interativa e suas formatações que possivelmente serão impostas às profissões e profissionais de comunicação e à sociedade de uma maneira geral.
Desse modo, apesar do assunto ser relativamente novo, é necessário aprofundar discussões que reflitam acerca da necessidade de adaptação das produções comunicacionais os meios convergentes, uma vez que uma das características da comunicação é sua facilidade de adaptação aos diferentes meios de maneiras distintas, fato que com a convergência dos meios pode soar paradoxal e inviável.
Em resumo, a proposta é alertar aos comunicólogos, em particular aos que trabalham diretamente com produção para TV, que tal atividade enquanto profissão e produção deverão repensar e discutir sua postura a fim de que a heterogeneidade e dialogismo dos discursos dos meios de comunicação não inviabilizem as produções para meios convergentes como a TV interativa. Pretende também através do levantamento da pesquisa de campo levantar dados preliminares das implicações econômicas, políticas e culturais que a implantação da TV Digital acarretam à sociedade.
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· [1] - O presente texto é parte da proposta desenvolvida pela autora para Doutoramento na ECA/USP sob o título "Convergência Tecnológica e TV Digital Interativa no Brasil: Implicações políticas, sociais, econômicas e culturais".
· [2] - Tradução livre de "la digitalización há de ser entendida (...) como uma evolución técnica que viene a catalizar los procesos anteriores, a incentivar sus tendências, a extremar y acelerar sus procesos".
· [3] - VILCHES, Lorenzo. Imagem, Sociedade e Novas tecnologias, Seminário realizado na ECA/USP em setembro de 2003.
· [4] - A transformação na mídia. Mídia&Mercado. Outubro de 2001, p.15.
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"Este artículo es obra original de Adriana Cristina Omena Dos Santos y su publicación inicial procede del II Congreso Online del Observatorio para la CiberSociedad: http://www.cibersociedad.net/congres2004/index_es.html"
Adriana Cristina Omena Dos Santos
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