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Tropical: novo pêssego de coloração vermelha-intensa e bem precoce para São Paulo (página 2)

W. Barbosa

 

2. MATERIAL E MÉTODOS

A metodologia para a realização de cruzamentos controlados, germinação das sementes, obtenção de plântulas, plantio e tratos culturais em campo, análises pomológicas, seleção preliminar e definitiva é a rotineiramente empregada ao longo dos anos pela Seção de Fruticultura de Clima Temperado, do IAC, em seu programa de melhoramento genético do pessegueiro (BARBOSA et al., 1983 e 1985; OJIMA et al., 1983; 1986).

O ‘Tropical’ (IAC 180-1) é descendente em polinização natural do híbrido IAC 371-2 (‘Tutu’ x ‘Rubro-sol’) F2. O pêssego ‘Tutu’ é F1 do cruzamento ‘Rei da Conserva’ x ‘Jewel’; a nectarina ‘Rubro-sol’ (Sunred) descende em polinização natural de Panamint (Southland x hawaiian) F2 (CAMPINAS, 1980). Dos 124 descendentes do pêssego IAC P 371-2, o ‘Tropical’, e seus dois irmãos – IAC P 180-43 e IAC P 180-58 – foram os que segregaram, em conjunto, as características objetivas pelo programa, como a precocidade de maturação, alta produtividade e bom colorido dos frutos. Esses materiais, após todas as análises pomológicas e organolépticas, foram eleitos para serem examinados com mais cuidado junto a outros híbridos IAC, nos chamados lotes de seleção final de cultivares. Para tanto, instalaram-se de 1983 a 1987 vários ensaios de competição com diferentes espaçamentos e podas nas Estações Experimentais de Jundiaí, Monte Alegre do Sul, Capão Bonito e São Roque, e propriedades particulares à exemplo da APIJUNIOR – Produtora de Frutas e Mel, Limeira-SP. Destacou-se em todos os ensaios regionais pela excelente adaptação climática, produtividade, precocidade, beleza e sabor dos frutos, a seleção ‘Tropical’, que há cinco anos vem sendo difundida entre fruticultores e viveiristas paulistas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Aspectos Bio-Agronômicos do Novo Cultivar

a) Características vegetativas das plantas

O ‘Tropical’ possui porte medianamente vigoroso com copa pouco densa; essa relativa baixa densidade foliar permite boa distribuição de luz no interior da planta, o que deve contribuir ao aumento da taxa fotossintética das folhas intra-copa. Em ultra-alta-densidade apresenta ramos de produção de maior diâmetro, quando comparado com cultivares mais vigorosos e de maior ciclo de maturação dos frutos. Possui em média, 50 nós de gemas por metro de ramo (m.r.), o que equivale a 0,50/cm de ramo. O número de gemas/nó situa-se na faixa de 2,70, sendo 22,0% vegetativas. Apresenta moderada resistência às doenças e pragas mais comuns da espécie. Na base da lâmina foliar apresenta duas glândulas reniformes maiores e outras bem menores.

O ‘Tropical’ além do curto ciclo de maturação apresenta a característica de diminuir o desenvolvimento vegetativo bastante precoce. No planalto paulista, paralisa o crescimento dos ramos em abril, o que possibilita a sua desfolha e indução de floração logo a seguir. Essa paralização de crescimento dos ramos é caracterizada pela diferenciação de uma gema apical que, endodormente, impede que a planta vegete. Por esse comportamento vegetativo peculiar, constitui-se em adequada opção à exploração sob alta densidade de plantio com ou sem poda drástica pós-colheita (CAMPO-DALL’ORTO et al., 1984). Nessas condições; seu porte é relativamente baixo, atingindo em média, 2,40m de altura no ciclo anual, facilitando os tratos culturais diversos, além de promover conveniente antecipação da floração (BARBOSA et al., 1989a).

b) Características reprodutivas das plantas

A indução e diferenciação floral nas gemas de ‘Tropical’ ocorre em condições normais, em fins de dezembro. O domo meristemático, da forma cônica se torna achatado, sucedendo o desenvolvimento dos órgãos florais. Ao final do verão, em março, seus botões florais encontram-se totalmente desenvolvidos no interior das gemas (BARBOSA et al., 1989b). Em abril, com a planta em endodormência, ocorre a senescência gradual das suas folhas. Para haver adequada deiscência foliar, o ‘Tropical’, assim como outros pessegueiros cultivados em áreas mais quentes, necessita de um tratamento desfolhante, indutor de floração e brotação uniformes. A sua plena floração ocorre, após 30-40 dias desse tratamento de quebra de endodormência.

Em plantas fisiologicamente maturas, cerca de 78% das gemas são floríferas, com uma média de 2,1 flores/nó. O número de flores/m.r. geralmente tende ultrapassar a 100. As flores são do tipo "rosácea", de tamanho médio e de coloração rosa normal, porém de tonalidade mais escura na base das pétalas. O cálice e as sépalas são vinho-esverdeados e pubescentes; o nectário é de cor abóbora-forte, e a superfície do ovário também bastante pubescente. As anteras aparecem em número x = 46/flor; são bem formadas, amarelas e com leves tons avermelhados. O ‘Tropical’ é auto-fértil; apresenta x = 1.800 e 85.000 grãos de pólen por antera e flor, respectivamente. O pólen apresenta germinação acima de 80%, quando cultivado in vitro, com a solução salina de MURASHIGE & SKOOG (1962), acrescida de agar, sacarose e outros compostos orgânicos (BARBOSA et al., 1989b).

A frutificação efetiva aproxima-se dos 40%, com uma densidade máxima de 40 frutos/m.r. Na época do endurecimento do endocarpo (caroço), de 50 a 60 dias da floração, os frutinhos pesam x = 10 gramas, e já são bem avermelhados externamente (30-40%). Poucos dias da colheita, o colorido dos frutos se intensifica, evidenciando claramente as estriações características.

O ‘Tropical’, devido a sua adequada adaptação a regiões de clima mais quente, pode amadurecer seus frutos na terceira década de agosto. A sua colheita normal se processa durante o mês de setembro, porém até em outubro, se cultivado em regiões de clima ameno, a exemplo do Sul Paulista.

Em termos comparativos, a safra de ‘Tropical’ ocorre concomitantemente à de ‘Flordaprince’ ou ‘Maravilha’ e precede em cerca de 10, 20, 30 e 60 dias, as safras de ‘Rubro-sol’, ‘Jóia-1’, ‘Aurora-1’ e ‘Talismã’, respectivamente (RIGITANO et al., 1975; OJIMA et al., 1986).

c) Produtividade das plantas

A produtividade observada em ensaios regionais, sob diferentes espaçamentos e modos de cultivo, pode ser considerada elevada. As produções regionais relatadas a seguir foram obtidas de plantas jovens em suas segundas frutificações.

Em Jundiaí (23º08’S; ± 80,0 horas de frio abaixo de 7ºC, (HF-7), nos espaçamentos de 5x2m, 4x2m, 3x2m e 3x1m (neste último com poda drástica anual), a produção média de frutos foi equivalente a 15,5; 10,0; 8,3 e 6,0 kg/planta, respectivamente.

Em Monte Alegre do Sul (22º41’S; 39,6HF-7), no espaçamento de 4x1,5m, colheram-se cerca de 9,0kg/planta correspondente a 15 toneladas/hectare.

Em Capão Bonito (24º00’S; ± 100 HF-7), no espaçamento de 5x3m, as plantas sobreenxertadas no alto, produziram cerca de 30kg cada, correspondendo a 20 ton/hectare.

Na região de Limeira (22º32’S; 24,1 HF-7), no espaçamento de 6,1m, sob poda drástica pós-colheita, em consorciação com o feijoeiro (BARBOSA et al., 1989a), obtiveram-se de 6 a 8kg por planta, equivalendo a cerca de 12 ton/ha.

d) Características organolépticas dos frutos

Os frutos maduros de ‘Tropical’ são bem atraentes, havendo predominância da coloração vermelho-escura (90%) sob fundo amarelo-ouro, com muitas estrias e pubescentes. São na maioria globosos e sem ápice, atingindo (um) tamanho médio de 85 gramas (5,0cm de diâmetro). Os frutos maiores aproximam-se de 100 gramas. A base dos frutos é medianamente ampla, com a cavidade peduncular de amplitude e profundidade medianas; a linha sutural rasa os divide simetricamente. A polpa amarelo-clara é de natureza bem fibrosa e aromática, pouca sucosa e fundente; os frutos "de vez" apresentam textura bem firme, que se torna macia após quatro a cinco dias de colhidos; sob frigorificação comum conservam-se bem por cerca de 15 dias. O caroço é solto, porém bem próximo à polpa, pequeno (3,6 gramas), oval, corrugado e de cor acastanhada; devido à rapidez no crescimento dos frutos, apresenta-se às vezes partido e as amêndoas atrofiadas. O sabor marcadamente doce possui equilíbrio bastante agradável entre os ácidos (pH 4,2) e açúcares (ºBrix 16,0), o que evidencia a sua superioridade aos demais pêssegos de ciclos curtos cultivados na época, São Paulo.

4. CONCLUSÕES

1) O cultivar Tropical, descendente em polinização livre do híbrido IAC P371-2 = (Tutu x Rubro-sol) F2 é resultante do programa de melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas, iniciado em 1970, objetivando a seleção de pêssegos e nectarinas precoces, coloridos, produtivos e de adequada adaptação climática ao Estado de São Paulo. É heterozigoto para nectarina.

2) Dentre os cultivares de pêssegos pouco exigentes de frio, obtidos ao longo de 40 anos de pesquisas com melhoramento genético no Instituto Agronômico (IAC), o ‘Tropical’ constitui-se no mais precoce, amadurecendo os frutos em geral durante o mês de setembro, 80 ± 5 dias após florada. Em paladar é superior aos demais cultivares de ciclo curto da época, a exemplo de ‘Maravilha’, ‘Flordaprince’, ‘Rubro-sol’ e ‘Colombina’.

3 O ‘Tropical’ é de produtividade elevada e de comportamento fitotécnico adequado sob diferentes práticas culturais; em pomares com poda drástica anual atinge porte de médio a baixo (x = 2,40m de altura), com ramos vigorosos e copa pouco densa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BARBOSA, W.; CAMPO-DALL’ORTO, F.A. & OJIMA, M. Aspectos reprodutivos das fruteiras de clima temperado, objetivando o melhoramento genético. O Agronômico, Campinas, 35:15-20. 1983.
  • _____________. Cultura de embriões in vitro, para melhoramento de pessegueiros precoces. Bragantia, Campinas, 44(1):509-514, 1985.
  • _____________. O Pessegueiro no sistema de pomar compacto: conjeturas, experimentação e prática. O Agronômico, Campinas, 41(1), 1989.
  • _____________. Relação entre precocidade de maturação e desidratação das sementes de pêssegos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 19(3):337-339, 1984.
  • BARBOSA, W.; CAMPO-DALL’ORTO, F.A.; OJIMA, M.; SAMPAIO, V.R. & BANDEL, G. Ecofisiologia do desenvolvimento vegetativo e reprodutivo do pessegueiro em região subtropical. Campinas, Instituto Agronômico, 1989b. (Documentos, IAC).
  • CAMPINAS, Instituto Agronômico. Cultivares lançados pelo IAC no período 1968-1979. O Agronômico, Campinas, 32:39-168, 1980.
  • CAMPO-DALL’ORTO, F.A.; OJIMA, M.; BARBOSA, W.; MARTINS, F.P. & RIGITANO, O. O ‘Centenário’: nova seleção de pêssego amarelo. Bragantia, Campinas, 46(2):443-8, 1987.
  • CAMPO-DALL’ORTO, F.A.; OJIMA, M.; BARBOSA, W.; TOMBOLATO, A.F.C.; RIGITANO, O. & ALVES, S. Cultivo de seleções de pessegueiros precoces no sistema de pomar compacto com poda drástica. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, 19(6):719-27, 1984.
  • MURASHIGE, T. & SKOOG, F. A revised medium for rapid growth and biossays tobacco tissue cultures. Physiology plantarum, 15:473-97, 1962.
  • OJIMA, M.; CAMPO-DALL’ORTO, F.A.; BARBOSA, W.; MARTINS, F.P. & RIGITANO, O. Melhoramento das frutíferas de clima temperado – novos cultivares IAC. O Agronômico, Campinas, 39(3)227-36, 1986.
  • OJIMA, M.; CAMPO-DALL’ORTO, F.A.; RIGITANO, O.; TOMBOLATO, A.F.C. & BARBOSA, W. Melhoramento da nectarina em São Paulo. I. Cruzamentos de 1970: seleção nas gerações F1 e F2. Bragantia, 42:1-14, 1983.
  • PEDRO JÚNIOR, M.J.; ORTOLANI, A.A.; RIGITANO, O.; ALFONSI, R.R.; PINTO, H.S. & BRUNINI, O. Estimativa de horas de frio abaixo de 7 e de 13ºC para regionalização da fruticultura de clima temperado no Estado de São Paulo. Bragantia, Campinas, 38:123-30, 1979.
  • RIGITANO, O.; OJIMA, M. & CAMPO-DALL’ORTO, F.A. Comportamento de novas seleções de pêssegos introduzidos da Flórida. Campinas, Instituto Agronômico, 1975, 12p. (Circular, 46).

 

Wilson Barbosa, Mário Ojima, Fernando A. Campo-Dall’orto, Orlando Rigitano, Fernando P. Martins, Jairo L. De Castro & Rui R. Dos Santos
wbarbosa[arroba]iac.sp.gov.br



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