Recomendações de adubação nitrogenada para o feijoeiro referem-se ao sistema de preparo convencional do solo, e pode ocorrer subestimação da necessidade da cultura em sistema de plantio direto, já que nesse sistema pode haver demanda de nitrogênio. O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) a doses de N, em dois sistemas de manejo do solo, como também a possibilidade de uso do teor de clorofila como indicativo do teor de N nas folhas. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, em esquema de parcela subdividida, com quatro repetições. As parcelas foram constituídas pelos sistemas de manejo do solo: plantio direto e preparo convencional (uma gradagem pesada + duas gradagens leves). Cinco doses de N (0, 35, 70, 140 e 210 kg ha-1, como uréia), aplicadas em cobertura, constituíram as subparcelas. O feijoeiro demonstrou maior necessidade de N quando cultivado em plantio direto do que no sistema convencional de preparo do solo. O sistema de plantio direto do feijoeiro proporcionou maior eficiência na utilização do N aplicado em cobertura, acarretando maior produtividade por unidade do nutriente aplicado em relação ao sistema convencional. A avaliação indireta do teor de clorofila mostrou-se viável em indicar o estado nutricional de N do feijoeiro, em ambos sistemas de manejo.
Termos para indexação: Phaseolus vulgaris, plantio direto, preparo convencional, nitrogênio, adubação de cobertura.
Nitrogen fertilizer recommendations for common bean crop regard conventional tillage, which may underestimate the crop necessity in no-tillage system, because greater demand for nitrogen can occur in this system. The objective of this work was to evaluate the performance of common bean (Phaseolus vulgaris L.) affected by different nitrogen levels on two management soil systems, as well as to verify the possibility on the use of chlorophyll content as an indicative of N content in leaves. A randomized complete block design, in splitplot scheme with four replications, was used. The plots were constituted by management soil systems: no-tillage and conventional tillage (one disk harrow + two levelling harrow). Five N levels (0, 35, 70, 140, and 210 kg ha-1, as urea) sidedressing fertilization constituted the subplots. Common bean crop grown in no-tillage system demanded more N than in conventional tillage system. No-tillage system provided greater sidedressing N use efficiency by common bean crop, causing greater yield by each nutrient unit applied than the conventional tillage system. The indirect measurement of chlorophyll content was feasible for indicating the common bean N nutritional status, in both management soil systems.
Index terms: Phaseolus vulgaris, no-tillage, conventional tillage, nitrogen, sidedressing fertilization.
O preparo do solo tem como objetivo principal controlar plantas daninhas e favorecer o desenvolvimento e a produtividade das culturas. No entanto, o uso intensivo do solo pode predispô-lo à formação de camadas compactadas, à redução da estabilidade dos agregados e ao aumento da erosão.
O sistema de plantio direto propicia, principalmente na camada superficial, maior estabilidade estrutural, menor porosidade total e macroporosidade, em relação ao sistema convencional (Corrêa, 1985). Assim, aliando-se a estabilidade estrutural à manutenção dos resíduos culturais na superfície do solo, tem-se maior proteção contra o impacto direto das gotas de chuva, além do favorecimento da infiltração e da redução da perda de água por escoamento superficial por causa da não formação de crostas e da maior rugosidade superficial (Stone & Silveira, 1999). Esse sistema reduz significativamente as perdas de solo por erosão, com conseqüente melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo, que irão repercutir na sua fertilidade (Wutke, 1993). Além disso, fatores como temperatura e cobertura superficial têm, em muitas situações, disponibilizado mais água às plantas em solos sob plantio direto, influenciando diretamente a economia de água, o desenvolvimento e a produtividade das culturas (Stone & Silveira, 1999; Andrade et al., 2002).
No entanto, pelo fato de os resíduos vegetais permanecerem na superfície do solo, a taxa de mineralização da matéria orgânica é mais lenta, comparada com o sistema convencional, em que há incorporação dos resíduos (Merten & Fernandes, 1998; Gonçalves & Ceretta, 1999), o que tem provocado maior demanda de N, principalmente no início do sistema (Balbino et al., 1996; Soratto et al., 2001). Em virtude da manutenção da água no solo, o sistema de plantio direto pode contribuir para a maior eficiência de utilização do N aplicado em cobertura, pois o nitrato entra em contato com as raízes por fluxo de massa (Rosolem, 1996).
O N é o nutriente absorvido em quantidades mais elevadas pelo feijoeiro e, conseqüentemente, a sua deficiencia é mais freqüente (Oliveira et al., 1996). Plantas com deficiência desse elemento apresentam-se atrofiadas e as folhas revelam coloração entre verde-pálido e amarela, que se inicia pelas folhas mais velhas e relaciona-se com a participação do N na estrutura da molécula de clorofila (Oliveira et al., 1996). Além disso, a deficiência de N provoca mudanças na resistência difusiva do CO2, em virtude do aumento na resistência do mesófilo e em menor proporção na resistência estomática (Ryle & Hesketh, 1969), alterando a síntese e atividade da ribulose 1,5 bisfosfato carboxilase-oxigenase (Rubisco), o que provoca redução nas taxas fotossintéticas (Costa et al., 1988), com conseqüências no desenvolvimento e produtividade das culturas.
A maioria das recomendações de adubação nitrogenada para o feijoeiro é direcionada ao sistema de preparo convencional. Carvalho et al. (1992) recomendam 90 kg ha-1 de N para alcançar a produtividade máxima. Já Silveira & Damasceno (1993) recomendam apenas 72 kg ha-1 de N para maximizar a produtividade do feijoeiro. Silva et al. (2000), em sistema de preparo convencional, obtiveram resposta quadrática do feijoeiro ao N e a produtividade máxima foi alcançada com 74 kg ha-1 de nitrogênio. Por outro lado, no mesmo tipo de solo, sob sistema de plantio direto, Soratto et al. (2001) e Silva (2002) verificaram resposta linear da produtividade até a dose máxima testada, ou seja, 100 e 150 kg ha-1, respectivamente. Como os cultivos foram realizados em sucessão a gramíneas, a elevada quantidade de N exigida está relacionada à necessidade dos microrganismos presentes no solo. Essa grande quantidade de N é utilizada pelos microrganismos na decomposição dos restos culturais, de alta relação C/N, competindo, portanto, com o feijoeiro. Esses resultados subsidiam os pressupostos da necessidade de maiores quantidades de N para o feijoeiro em sistema de plantio direto (Carvalho et al., 2003). Além do que, sob condições de menor estresse hídrico, proporcionado por esse sistema (Stone & Silveira, 1999; Andrade et al., 2002), o feijoeiro pode apresentar melhor eficiência de utilização do N aplicado em cobertura (Costa et al., 1988).
Como o N é constituinte da molécula de clorofila, geralmente existe alta correlação entre o seu teor e a clorofila nas folhas do feijoeiro. Dessa forma, vários autores têm relatado a viabilidade de se utilizar a avaliação indireta de clorofila como indicativo do estado nutricional em relação ao N (Furlani Junior et al., 1996; Carvalho et al., 2003; Silveira et al., 2003).
O objetivo deste trabalho foi avaliar a resposta do feijoeiro a doses de N, em dois sistemas de manejo do solo, como também verificar a possibilidade de uso do teor de clorofila com indicativo do teor de N nas folhas.
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