Objetivou-se neste trabalho verificar se a restrição alimentar no pós-parto em vacas Girolanda, multíparas, de bom escore de condição corporal (ECC = 3,5 a 4,5) ao parto será suficiente para impedir o reinício da atividade ovariana luteal cíclica (AOLC) pós-parto. Os animais foram distribuídos em três tratamentos: Grupo I (n = 15), mantença; Grupo II (n = 10) e Grupo III (n = 13), sendo que os grupos II e III receberam restrição alimentar até 90 e 180 dias pós-parto, respectivamente. As pesagens e avaliações do ECC foram efetuadas logo após o parto, e depois semanalmente. A AOLC foi avaliada por palpação retal, observação de cio e concentração de progesterona no leite. Os intervalos do parto ao primeiro cio foram de 53,1, 63,2 e 51,2 dias (P>0,05), respectivamente para os Grupos I, II e III, que apresentaram perdas de peso de 7,3 kg, 57,0 kg e 63,7 kg nesse período; e de 14,2 kg, 63,8 kg e 78,4 kg do parto até 90 dias pós-parto, repectivamente. Em vacas Girolanda de bom escore de condição corporal ao parto, a perda de 15,2% do peso nos três primeiros meses de lactação, e de 16,3% do peso até 180 dias pós-parto, não é suficiente para atrasar o reinício ou interromper a AOLC nos respectivos períodos.
Termos para indexação: condição corporal, ciclo estral, bovinos, subnutrição.
The objective of this study was to evaluate the effect of weight loss on postpartum cross bred Holstein x Gir (HZ) cows in good body score condition (BSC = 3.5 to 4.5) at calving on the delay of beginning or on maintenance of ovarian luteal cyclic activity (OLCA). Cows were distributed in three treatments: Group I (n = 15), maintenance; Group II (n = 10) and Group III (n = 13); Groups II and III were feed restricted until 90 and 180 days postpartum, respectively. The weight and BSC were measured after calving and then weekly. The OLCA was evaluated by rectal palpation, estrous detection and milk progesterone level. Intervals from the calving to first estrous were 53.1, 63.2 and 51.2 days (P > 0.05), respectively, for the Groups I, II and III; weight loss were of 7.3 kg; 57.0 kg and 63.7 kg up to the first estrous, and of 14.2 kg, 63.8 kg and 78.4 kg up to 90 days postpartum, for the Groups I, II, and III, respectively. In cross bred (HZ) cows in good body score condition at calving, the weight loss of 15.2% of body weight in the first three months of milking, and of 16.3% up to 180 days postpartum do not arrest the beginning or impair the maintenance of OLCA.
Index terms: body condition, estrous cycle, bovines, malnutrition.
A maximização da exploração de gado leiteiro tem como base a eficiência reprodutiva, cujo fator mais limitante, no Brasil, é o manejo nutricional. A insuficiente ingestão de nutrientes, via dieta inadequada, é causa comum de infertilidade ao atrasar a puberdade e prolongar o anestro após o parto, por bloqueio da atividade ovariana (Ferreira, 1993). A maior ou menor influência da nutrição sobre a reprodução está na dependência de fatores como intensidade e duração da restrição alimentar, escore da condição corporal (ECC), idade e estado fisiológico.
Em virtude do longo intervalo de partos no rebanho leiteiro nacional (Carneiro, 1992), o Brasil está deixando de produzir cerca de 10 bilhões de litros anualmente (Ferreira, 1991a) que, somados aos 20 bilhões produzidos, alcançariam os 30 bilhões de litros de leite/ano, citados como demanda para o ano 2000 (Gomes, 1996). Objetivando alcançar a meta desejável de um intervalo de partos próximo de 12 meses, torna-se necessário que a vaca manifeste o estro e conceba até 90 dias pós-parto (Ferreira, 1991a; Ferguson, 1996).
No Brasil, a maioria dos rebanhos é caracterizada por apresentar um nível nutricional inadequado, mesmo os menos exigentes do ponto de vista genético, fazendo com que a inatividade ovariana pós-parto (anestro) constitua-se na principal causa do longo intervalo de partos. A alta taxa de animais em anestro foi confirmada por Ferreira et al. (1992), que encontraram, em 3.408 vacas de 50 rebanhos leiteiros da Zona da Mata de Minas Gerais, 73,1% de vacas em anestro até 90 dias pós-parto e 54,4% após esse período. A inatividade ovariana estava quase sempre associada ao baixo ECC.
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