RESUMO. Com o objetivo estudar o comportamento do cultivar de feijoeiro IAC Carioca Eté, em função do preparo do solo, manejo de água e parcelamento da adubação nitrogenada, no período "de inverno", foi instalado um experimento no município de Selvíria-MS, no ano de 2000. O delineamento foi em blocos casualizados no esquema de parcelas subsubdivididas, com as subparcelas em faixas e quatro repetições. Foram utilizados três preparos do solo (grade pesada, escarificador e plantio direto), três níveis de irrigação por aspersão (L1 = 0,75L2, L2 = lâmina calculada com base nos Kcs recomendados por Doorenbos e Kassan (1979) e L3 = 1,25L2) e quatro formas de parcelamento do nitrogênio (0-75, 25-50, 50-25 e 75-0 kg ha-1 na semeadura e em cobertura, respectivamente). O preparo do solo com grade proporcionou maior produtividade do feijoeiro comparado com plantio direto e não diferiu do escarificador. O feijoeiro não apresentou redução na produtividade, mesmo com utilização de um coeficiente de cultura 25% menor que o recomendado, para reposição de água na cultura. A aplicação de todo o nitrogênio em cobertura proporcionou maior produtividade do feijoeiro.
Palavras-chave: Phaseolus vulgaris, grade, escarificador, plantio direto, níveis de irrigação.
ABSTRACT. Common bean response to soil tillage, water management and nitrogen split application. IAC Carioca Eté cultivar is evaluated with regard to soil and water management and nitrogen split application, during the winter, in Selvíria MS, Brazil.
Randomized completely block design, in split-split plot scheme, with subplots in strips, with four replications, was used. Plots consisted of three soil management systems: harrow disk, chisel plough and no-tillage system. Three water levels (L1 = 0.75L2, L2 = water level based in Kcs, recommended by Doorenbos & Kassan (1979) and L3 = 1.25L2), applied through a sprinkler system, constituted the subplots and four nitrogen split application: 0- 75, 25-50, 50-25, and 75-0 kg ha-1 applied at sowing time and side dressing, respectively, formed the subsubplots. Soil management with harrow disk provided highest grain yield when compared to no-tillage system. However, it did not differ from chisel plough treatment. Bean crop failed to show yield reduction, even when crop coefficient 25% lower than recommended to water replace in this specific crop was used. Total nitrogen applied in side dressing provided the highest grain yield.
Key words: Phaseolus vulgaris, harrow, chisel plough, no-tillage, irrigation levels.
Em algumas regiões do Brasil, o uso do sistema convencional de preparo do solo, com arados e grades pesadas associados a gradagens mais leves, por anos sucessivos, além de ocasionar a excessiva degradação física e preparo superficial (12 a 15 cm), pode levar à formação de uma camada de baixa permeabilidade abaixo da superfície do solo, conhecido como "sola de grade" (Fornasieri Filho e Fornasieri, 1993). A compactação do solo é uma das condições que tem efeito marcante sobre a aeração devido às modificações que provoca na estrutura do solo e na drenagem da água. O efeito imediato da compactação é a redução no volume de macroporos, afetando a difusão da água e dos gases, dificultando o desenvolvimento das raízes das plantas (Pedroso e Corsini, 1983).
Em menores tensões matriciais, a distribuição do tamanho dos poros é bastante correlacionada com o armazenamento de água no solo. Desta forma, aqueles sistemas de preparo que provocam um maior revolvimento do solo promovem um menor armazenamento de água na camada revolvida do que em outra camada idêntica sem revolvimento (Vieira, 1984). Stone e Moreira (2000), estudando o efeito do preparo do solo com arado de aiveca, arado escarificador, grade aradora e plantio direto sobre a produtividade e a utilização da água pelo feijoeiro, observaram que a resposta da produtividade do feijoeiro à lâmina de água aplicada varia com o cultivar e com o sistema de preparo do solo adotado e, que o sistema de plantio direto foi o mais eficiente no uso da água, propiciando maior produtividade com menor consumo de água. Stone e Silveira (1999) verificaram tensão de água no solo menor e menos variável, ao longo do ciclo do feijoeiro em plantio direto, em comparação ao preparo do solo com arado de aiveca ou grade aradora, e, sob irrigação, a menor resistência do solo à penetração e a melhor distribuição do sistema radicular, no preparo com arado, não possibilitou a obtenção de maior produtividade em relação aos outros sistemas de preparo. A maior produtividade observada no plantio direto deve-se, entre outros fatores, aos menores valores e a menor variação ao longo do ciclo da tensão matricial do solo, em comparação aos demais sistemas.
A disponibilidade de água no solo é fator limitante na produção do feijoeiro, visto que as plantas são sensíveis ao estresse hídrico durante as fases críticas (germinação, florescimento e enchimento de grãos). A literatura apresenta resultados distintos quanto à redução da produtividade em função do estresse hídrico nos diversos estádios de desenvolvimento. Assim, Mackay e Eaves (1962) consideram como período crítico o pré-florescimento; Kattan e Fleming (1956) indicaram que o período crítico é o florescimento e Doorenbos e Pruitt (1976) afirmaram que o florescimento e o aparecimento das vagens são os períodos mais críticos. Por outro lado, o feijoeiro é bastante sensível ao excesso de umidade no solo.
Solos com alta umidade, além de propiciarem condições de baixa aeração do sistema radicular, prejudicando o desenvolvimento das plantas, resulta em aumento da incidência de doenças. Segundo Moreira et al. (1988), o excesso de água no solo provoca deficiência de oxigênio, levando a uma concentração inadequada deste elemento na planta e redução da atividade microbiana do solo. Os autores citam que o consumo de água pela cultura do feijão depende do estádio de desenvolvimento, condições do solo, época de cultivo e das condições climáticas.
De acordo com Doorenbos e Kassan (1979), a necessidade de água pelo feijoeiro com ciclo de 60 a 120 dias varia entre 300 a 500 mm para obtenção de alta produtividade. Assim, o agricultor que irriga não deverá permitir a ocorrência de déficit hídrico em nenhuma das fases do ciclo vegetativo do feijoeiro. A água de irrigação deve atender à exigência hídrica da planta, que varia, principalmente, com as condições de clima do local, época de semeadura, cultivares e estádios de desenvolvimento da planta (Silveira e Stone, 1998).
A quantidade de água no solo tem grande influência na disponibilidade dos nutrientes para as plantas. Para que determinado nutriente da solução do solo possa ser absorvido pelas raízes é necessário, antes de tudo, que haja o contato entre nutriente e raiz (Malavolta, 1980). A forma que possibilita o contato, mais importante para o nitrogênio é o fluxo de massa e, para o fósforo e potássio, é a difusão.
Nessas formas, a presença de água no solo fornecida pela chuva ou irrigação, é indispensável.
A aplicação de N mineral nos solos tropicais pode apresentar, às vezes, baixa freqüência de resposta (Franco, 1977). O aproveitamento do nitrogênio usado no adubo é normalmente inferior a 50%, podendo, em determinadas situações, em solos arenosos, atingir entre 5 e 10% (Duque et al., 1985), devido às grandes perdas por volatilização, lixiviação e desnitrificação. Embora muitos resultados envolvendo o fornecimento de nitrogênio, no solo ou foliar, apresentem resultados negativos em relação à eficiência dessas práticas, vários trabalhos apontam bons resultados com o fornecimento do nutriente e também quando se utiliza o artifício do parcelamento, que tende a minimizar as perdas de N no solo. Os resultados do trabalho realizado por Miyasaka et al. (1963), que estudaram modo e época de aplicação de nitrogênio na cultura do feijão, mostram que a aplicação do N em cobertura é mais eficiente quando aplicada até 20 dias após a emergência.
Urben Filho et al. (1980) verificaram que as maiores doses de N, sobretudo quando aplicadas totalmente na semeadura, podem influenciar negativamente o estande e causar acamamento do feijoeiro e que não houve efeito significativo dos modos de aplicação sobre a produção de grãos e matéria seca. Entretanto, Diniz et al. (1995) relataram que a planta responde à aplicação de doses maiores de 40 kg ha-1 na semeadura. Já Araújo et al.
(1994), estudando o comportamento do feijoeiro em função da adubação nitrogenada parcelada, de acordo com a fase de desenvolvimento das plantas, verificaram que é vantajosa a aplicação parcelada do nutriente. Andrade et al. (1998) verificaram que, tanto a aplicação de nitrogênio na semeadura como em cobertura, proporcionaram incrementos na produtividade de grãos. Carvalho et al. (2001), avaliando parcelamentos e fontes de fertilizantes nitrogenados no desenvolvimento do feijoeiro de inverno, verificaram que a aplicação de nitrogênio aumentou a produtividade do feijoeiro comparativamente ao tratamento testemunha, entretanto, não houve diferença de produtividade entre os parcelamentos do nitrogênio.
Este trabalho teve por objetivo avaliar o comportamento do feijoeiro cultivado no período "de inverno" em função do preparo do solo, manejo da água e parcelamento do nitrogênio.
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