A enxaqueca pode ocorrer em pessoas susceptíveis a vários fatores, incluindo o jejum e o exercício físico. De acordo com a literatura, esses fenômenos poderiam relacionar-se com os níveis de glicemia.
Objetivo: Pesquisar a relação entre o diabetes mellitus, a enxaqueca e o exercício físico.
Casuística e Método: Foram entrevistados 100 diabéticos (50 do tipo 1 e 50 do tipo 2) e 100 pessoas normais (grupo-controle) sem associação com enxaqueca e exercício físico.
Resultados: A enxaqueca ocorreu em 28% no grupo-controle. Ela esteve presente em 32% dos diabéticos tipo 1, sendo que um doente relatou melhora da cefaléia após o início do diabetes;
outros 20% passaram a ter enxaqueca após o estabelecimento do diabetes; dois pacientes referiram piora após o início do diabetes. A enxaqueca esteve presente também em 18% dos diabéticos tipo 2. Quanto à relação entre enxaqueca e exercício físico, observou-se que dos 38 pacientes diabéticos que praticavam esportes rotineiramente, apenas 20,5% apresentaram enxaqueca, enquanto que, dos 60 diabéticos que não faziam exercício físico, 30% relataram esse quadro. No grupo-controle, os achados foram proporcionalmente os mesmos: das 71 pessoas normais com vida sedentária, 31% apresentaram enxaqueca. Entre os 29 indivíduos que praticavam esporte regularmente a taxa de enxaqueca foi de 20,7%.
Conclusão: A prática de exercício físico associou-se a menor freqüência de enxaqueca.
UNITERMOS: Enxaqueca. Diabetes Mellitus. Exercício.
Petroianu A; Soares Arg; Rocha CG; Souza CM; Cardoso FA & Silva Ml. Relação entre enxaqueca, diabetes mellitus e exercício físico. Medicina, Ribeirão Preto, 33: 515-519, out./dez. 2000.
Background - Migraine may be due to several factors, including the fast and physical exercise. According to literature, these phenomena may be related to glicemia.
Purpose - The present study verified the relation between diabetes mellitus, migraine and physical exercise.
Methods - This study assessed 100 diabetics (50 type 1 and 50 type 2) and 100 normal people (control group) in order to study the relation between diabetes mellitus, migraine and physical exercise.
Results - Migraine occurred in 28% of control group and 32% of diabetics type 1: migraine was reduced in one patient after starting diabetes, 20% developed migraine in presence of diabetes and 2 patients worsen their migraine episodes after diabetes. Migraine was present in 18% of the diabetics type 2. 20,5% of diabetics who practiced exercises had migraine and 30% of sedentaries had such episodes. The results of control group were similar: 31% of 71 sedentaries had migraine; and 21,7% of 29 who regularly practice exercises had migraine.
Conclusions - Physical exercise is associated with less migraine either in control or diabetic groups.
UNITERMS: Migraine. Diabetes Mellitus. Exercise.
Petroianu A; Soares Arg; Rocha CG; Souza CM; Cardoso FA & Silva Ml. Relation between migraine, diabetes mellitus and physical exercise. Medicina, Ribeirão Preto, 33: 515-519, oct./dec.2000.
A enxaqueca caracteriza-se pelo aparecimento de cefaléia recorrente, em geral, com caráter pulsátil, precedida ou não de sintomas neurológicos focais, denominados de aura. Seguem-se, às vezes, náuseas, vômitos, foto e fonofobia. Alguns sintomas premonitórios podem aparecer horas ou dias antes da cefaléia, tais como: hiperatividade, depressão nervosa, irritabilidade, bocejos repetidos, dificuldade de memória, desejo por determinados alimentos, sonolência e outros.
Essa afecção parece ocorrer em pessoas predispostas e é desencadeada por muitos fatores, entre eles a vasodilatação e o jejum. É possível que o jejum esteja relacionado a uma redução da glicemia, que seria o fator desencadeante, neste caso, da cefaléia. A relação entre enxaqueca e glicemia é apontada pela literatura com uma incidência menor de enxaqueca entre os diabéticos(1,2). Segundo Blau & Pyke (1970), as crises de enxaqueca reduziram, em freqüência e intensidade, após o estabelecimento do diabetes(1,2) .
Em relação aos fenômenos vasculares, constatou- se que os diabéticos apresentam uma menor capacidade de vasodilatação cerebral, mesmo em presença de CO2, que é um potente vasodilatador cerebral (2,3). Talvez esse fato contribua, em parte, para a menor incidência de crises de enxaqueca. O mecanismo desse fenômeno vascular, de acordo com Dondona et al (1985)(3) seria mediado pela menor concentração de prostaciclina nos diabéticos(3). Tal bloqueio à vasodilatação poderia decorrer da ação de ácidos graxos e outros lipídios que alteram a resposta do músculo liso vascular a substâncias vasoativas, inibem a secreção de prostaglandinas e aceleram sua degradação(3,4). Por outro lado, a ativação plaquetária libera fatores plaquetários, que são substâncias vasoativas, diretamente implicadas na patogênese da enxaqueca e que aumentam em presença de diabetes. Nessa afecção também já foram detectados maiores níveis plasmáticos de tromboxane A(3,4).
De acordo com a literatura, existe relação entre as crises de enxaqueca e o exercício físico, bem como entre a prática de esportes e diabetes(2,3,5). Vários artigos relatam a existência da cefaléia benigna de esforço, de caráter pulsátil e curta duração que ocorre durante a prática de exercícios(5). Sua etiopatogenia é ainda desconhecida, porém acredita-se que seja decorrente de uma hipoperfusão cerebral acompanhada de edema(5). Além disso, segundo dados angiográficos, ocorre vasoespasmo assimétrico e difuso(6) .
Com relação à enxaqueca, há relatos de casos em que o exercício físico reduziu ou preveniu crises de enxaqueca e outros em que ele as desencadeou( 7,8,9). O gatilho, nesse caso, poderia estar relacionado a uma descarga alta de adrenalina, que é comprovada por sua excreção urinária aumentada(10) .
No que diz respeito ao diabetes, é indiscutível a inclusão da atividade física como complementação terapêutica( 5,6,10). Seus benefícios estão diretamente ligados ao aumento do rendimento cardiovascular, do tono e flexibilidade muscular e da produção de energia por meio de processos metabólicos e hormonais, além da diminuição do estresse. O exercício físico induz, ainda, a longo prazo, uma menor resistência periférica à insulina(11).
Seguindo uma linha de pesquisa voltada ao diabetes mellitus, decidiu-se verificar a associação entre diabetes e enxaqueca e também esclarecer uma eventual influência do exercício físico nesse quadro.
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