Quantidade absorvida e concentrações de micronutrientes em tomateiro sob cultivo protegido



RESUMO

A produção sob cultivo protegido é uma prática relativamente recente no Brasil e a área com tomate nesse ambiente vem crescendo a cada ano, e junto com esse crescimento, cresce também a falta de informações técnicas apropriadas para as nossa condições. Este trabalho avaliou a quantidade absorvida e os teores de micronutrientes pelo tomateiro em ambiente protegido. Foram utilizados diferentes fertilizantes, via solo, foliar e fertirrigação, foi utilizada a cultivar Lúcia, o experimento foi instalado em Piracicaba-SP, no período de dez/95 a março/96. O delineamento utilizado foi o aleatorizados em blocos, com três tratamentos e seis repetições. Em média, a planta apresentou na época do florescimento (35 dias após transplante) a seguinte concentração em mg kg-1: 56,1 de B; 107,8 de Cu, 440,4 de Fe; 313,8 de Mn e 194,9 de Zn. Para uma produção de 10.2 kg m-2 a planta extraiu em g m-2: 0,0274 de B; 0,0826 de Cu; 0,1694 de Fe; 0,1702 de Mn e 0,1133 de Zn.

Palavras-chave: Lycopersicon esculentum, fertirrigação, nutrição, hortaliça

Content And Concentrations Of Absorbed Micronutrients In Tomatoes Under Protected Cultivation

ABSTRACT: Production under protected cultivation is a relatively new practice in Brazil, and the area planted to tomatoes in such an environment is increasing year by year. Along with this growth comes a lack of proper technical information regarding our present stand. This work evaluates the grade and the quantity of micronutrients absolved by the tomato plant in a protected environment. Fertilizers were applied via soil, leaves and fertirrigating, using the cultivar Lucia. The experiment was carried out in Piracicaba, SP, Brazil, from December/95 to March/96. A completely random design was used with three treatments and six replications. At the flowering stage, plants presented the following micronutrient concentrations in mg kg-1: 56.1 of B; 107.8 of Cu, 440.4 of Fe; 313.8 of Mn e 194.9 of Zn. For a yield of 10.2 kg m-2, plants extracted the following quantities of nutrient in g m-2: 0.0274 of B; 0.0826 of Cu; 0.1694 of Fe; 0.1702 of Mn e 0.1133 of Zn.

Key words: Lycopersicon esculentum, fertirrigation, nutrition, vegetable

INTRODUÇÃO

Considerando-se os aspectos sócio-econômicos, a cultura do tomateiro é hoje, dentre as hortaliças produzidas no Brasil, a mais importante. Comparando-se as décadas de 70 e 80, observa-se que no Brasil a produtividade aumentou em 49% e a área cultivada em 11%, evidenciando a evolução da produção de tomate nos principais estados produtores. Na Região Sul, embora tenha aumentado a produtividade em 25%, a área cultivada manteve-se estável, no Rio de Janeiro a situação foi similar. A Região Nordeste aumentou sua produção em 131% graças à expansão da área cultivada e ao aumento da produtividade nos períodos de 1971-80 e 1981-90. A produção brasileira de tomate é de aproximadamente 2,6 milhões de toneladas numa área aproximada de 60.400 ha, com uma produtividade média de 43,04 t ha-1. Os estados que mais produzem são São Paulo, Pernambuco, Goiás e Bahia (Agrianual, 1996; Camargo Filho & Mazzei, 1996)

Os solos cultivados com a cultura do tomateiro apresentam características completamente diferentes, com sérias implicações na recomendação do correto uso de fertilizantes e corretivos. No cultivo intensivo, é comum encontrar-se solos com teores elevados dos nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas, porém completamente desbalanceados entre si. Já no cultivo nômade, é comum encontrarem solos onde os nutrientes minerais encontram-se em concentrações menores do que aquelas requeridas para o cultivo econômico das hortaliças (Takazaki & Della Vecchia, 1993).

Para adubações, quando eram realizadas em áreas de terceiros, não se percebia o problema do desequilíbrio nutricional, porém, à medida que os agricultores deixaram de ser nômades e iniciaram o uso mais intensivo de suas propriedades, em função da adição maciça de nutrientes e da sensível depauperação da matéria orgânica do solo, esse fenômeno tornou-se mais freqüente (Takahashi, 1993).

Fernandes et al.(1975), em um experimento de marcha de absorção de nutrientes em condições de campo, em um solo Latossolo Roxo, concluíram que uma cultura de tomate, com 57.000 plantas/ha e uma produção de 41 toneladas, absorve as seguintes quantidades em g m-2: B-0,0086; Cu-0,0037; Fe-0,135; Mn-0,0393; Zn-0,0119. Fayad (1998) cultivando tomate em ambiente protegido obteve a seguinte absorção em g m-2: 0,32 de Mn, 0,21 de Fe, 0,16 de Cu e 0,07 de Zn.

Com experimento de marcha de absorção dos nutrientes pelo tomateiro industrial, Haag et al. (1981) observaram que o crescimento da cultura foi lento até os 30 dias, após há um crescimento acelerado, com o peso do material seco, dobrando a cada quinzena no período dos 45 aos 75 DAT1, atingindo o máximo com 105 DAT. Os frutos cresceram em peso de material seco, cerca de 20 vezes no intervalo de 45 até 75 DAT duplicando o peso, no período de 75 até 90 dias e estabilizando-se aos 105 DAT. Na época da floração, as folhas apresentavam, em função do material seco em mg kg-1: B-72; Cu-15; Fe-434; Mn-375; Mo-0,18 e Zn-148. A produção efetiva de 65 t ha-1 de frutos contém: 93g B; 45g Cu; 547g Fe; 163g Mn; 485mg Mo e 321g Zn.

Stripari (1999) cultivando o Híbrido Momotaro em ambiente protegido obteve a seguinte concentração em mg kg-1: Fe ¾ 119,2 a 137,0, Zn ¾ 56,6 a 114,5, Cu ¾ 15,6 a 40,4, Mn ¾ 106,1 a 340,9 e B ¾ 58,4 a 75,3. Costa (1999) com o Momotaro em soluções nutritivas obteve em média a seguinte concentração em mg kg-1: B-67,8, Cu-15,8, Fe-141, Mn-117 e Zn-28,4.

A ordem de absorção de micronutrientes pela cultura do tomateiro é Fe, Zn, B, Mn e Cu. Embora não tenha apresentado valores para Mo, sabe-se que este é o absorvido em menor quantidade, para quase a totalidade das culturas Segundo Castellane (1982).

Até hoje, a pesquisa brasileira, na área de nutrição e adubação mineral de hortaliças, parece ter-se preocupado em gerar conhecimento e resultados mais para o cultivo nômade de hortaliça. Porém, no cultivo protegido, a forma de aplicação de nutrientes precisa ser diferenciada em relação ao campo, pois o produtor, utilizando-se de uma estrutura de boa qualidade, sementes de alto valor, bom sistema de irrigação, deverá utilizar critérios técnicos específicos para que a planta receba a quantidade ideal e que não ocorra desperdício de fertilizantes, pois além de ser oneroso, nesse sistema não ocorrem chuvas, podendo ocorrer danos irreparáveis ao solo, como a salinização por exemplo.

Freire et al. (1980) trabalharam com formas diferentes de aplicação de nutrientes e relatam o seguinte: a adubação foliar é um meio eficiente no suprimento de nutrientes para a planta. Em se tratando do fornecimento de macronutrientes, a adubação foliar deve ser encarada como, um complemento da adubação no solo e nunca como substitutiva, pois, pelas exigências nutricionais do tomateiro, verifica-se que seria necessário um número elevado de pulverizações, para suprir as necessidades da planta, o que seria antieconômico. Para os micronutrientes, exigidos em pequenas quantidades, a adubação foliar poderá suprir todas as exigências da cultura.

A adubação foliar não pode substituir totalmente o fornecimento de adubos ao solo, através da absorção pelas raízes Camargo & Silva (1990). Entretanto, a expansão do uso da adubação foliar a um número cada vez maior de culturas, vem demonstrando que há culturas que podem ser mantidas, em relação a determinados nutrientes, quase que exclusivamente por via foliar. Afirmam também, que a adubação foliar tem, ainda, a vantagem de ser de baixo custo, e de poder ser aplicada em mistura com vários defensivos agrícolas, nas pulverizações fitossanitárias.

A adubação foliar é uma técnica de utilização muito restrita (Minami (1986). Há algumas condições para o seu uso, senão os resultados podem ser desastrosos. A adubação de plantio deve ser bem feita e o estado de sanidade da cultura deve ser bom, pois ela não corrige um estado de carência, quando muito temporariamente. A adubação foliar deve ser usada complementarmente à adubação convencional e só deve ser usada em determinadas fases de desenvolvimento da cultura. A concentração dos nutrientes e o intervalo mínimo e máximo entre uma e outra aplicação devem ser muito bem observados.

Já a fertirrigação em nosso país, somente nestes últimos anos é que tem se firmado como técnica, mesmo assim, seu uso, quando comparado ao seu potencial, pode ser considerado incipiente. Proprietários de sistemas de irrigação localizada e de pivô-central são os que fazem uso mais freqüente da técnica, notadamente para a aplicação de adubos nitrogenados (Hernandez, 1994).

A aplicação de fertilizantes através da água de irrigação é uma prática que pode ser associada aos sistemas de irrigação localizada e tipos de aspersão. Essa prática, denominada fertirrigação, constitui-se numa técnica de aplicação simultânea de fertilizantes e água ao solo, através de um sistema de irrigação. É uma prática agrícola essencial para o manejo de culturas irrigadas, quando se utiliza sistema de irrigação localizada, sendo uma das maneiras mais eficientes e econômicas de aplicar fertilizantes nas plantas, principalmente nas regiões de climas áridos e semi-áridos, pois aplicando-se os fertilizantes em menor quantidade por vez, mas com maior freqüência, é possível manter-se um nível uniforme de nutrientes no solo, durante o ciclo vegetativo da cultura, o que aumentará a eficiência do uso de nutrientes pelas plantas e, consequentemente, a sua produtividade (Bernardo, 1986, Villas Boas et al., 1994).

Os problemas de fertilidade do solo no cultivo protegido poderão ser ainda maiores do que os do cultivo intensivo a céu aberto, pois pela proteção proporcionada contra as chuvas, evita lixiviação de nutrientes e, aumenta a sua concentração na camada de solo explorada pelas raízes. Necessita-se ainda, de conhecimentos e informações geradas nas condições de solo, clima, cultivo e cultivares disponíveis no Brasil (Takazaki & Della Vecchia, 1993).

A produção sob cultivo protegido é uma prática relativamente recente no nosso país e faltam ainda informações técnicas na recomendação de nutrientes; formas de aplicação, etc. Este trabalho teve como objetivo, estudar a forma de aplicação de fertilizantes via solo, via foliar e via água de irrigação, denominada fertirrigação influenciando o desenvolvimento a produtividade da planta, teores e quantidades absorvidas de micronutrientes pelo tomateiro sob cultivo protegido.

 


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