Projeto de gestão para a abertura de um novo negócio

Indice
1. Apresentação da organização
2. Marketing e planejamento estratégico
3. Dimensão Organizacional
4. Gestão Com Pessoas
5. Integração - Gestão De Informações E Processos
6. Planejamento Financeiro
7. Encaminhamentos, rumos e forças de movimentação.
8. Bibliografia

1. Apresentação da organização

É uma imensa satisfação dissertar sobre um sonho que se concretiza a cada dia. A CASA DA GLÓRIA é hoje uma realidade alocada em uma bela casa da Rua Santo Amaro. Essa casa vem a ser o efeito de uma ampla e generosa ambição. Além de produzir uma atenção de qualidade, respeito e competência em saúde mental; fomentar um convívio que propicie um espaço de valorização da singularidade de cada pessoa, tendo como foco principal as pessoas que passam por problemas mentais, ou que delas se ocupam, seja por laços familiares, profissionais entre outros. Precisamos resgatar o que se chama de espírito empreendedor junto a essa clientela. A falta de investimentos nesse setor nos trouxe cronificação das doenças, preconceito, estigma e famílias aflitas.

Participamos de um intenso esforço em transformar as práticas de atenção em psiquiatria. O que aqui vamos apresentar é o que há de mais atual dentro das iniciativas recomendadas pela OMS, OPAS e Ministério da Saúde. A condição das pessoas que passam por problemas mentais requer uma complexa rede de atenção e acompanhamento. É impossível isolar a questão do adoecimento psíquico de todo o contexto que lhe dá lugar. Constata-se que estamos lidando com uma problemática que na verdade anuncia múltiplos contextos; a destacar : os familiares, relacionais com a comunidade, amigos e sobretudo os relativos às questões que a todo tempo nos afetam produzindo novas subjetividades, como as inquietações acerca da globalização, transformações econômicas, tecnológicas, além dos grandes problemas como o desemprego a dificuldade em dar consistência e permanência às oportunidades, entre tantas questões.

Atender a essas pessoas nos faz ter um contato muito direto com essas problemáticas e constatar o quanto tratar esses problemas implica em tomar novas responsabilidades junto aos clientes e a contemporaneidade que nos atravessa. O desafio que nos impulsiona se refere a desenvolver um espírito e uma praxis empreendedora junto aos clientes, viabilizando empreendimentos dentro de uma perspectiva solidária, generosa e responsável, de acordo com as mutáveis possibilidades dos sujeitos implicados. Para que isso seja possível, é necessário ouvir muito, de perto e constantemente o que nos dizem os clientes, estendendo essa categoria aos pacientes, familiares, profissionais (médicos, psicólogos, entre outros) e convênios; mantendo uma intimidade na convivência com os problemas mais prementes de cada segmento, procurando viabilizar soluções que aproximem essas parcerias. Vejamos os aspectos mais relevantes da preocupação desses agentes e nossa posição.

Pacientes - A maioria das doeças mentais acometem adultos jovens, em plena idade de possíveis realizações profissionais, afetivas e sociais. A fissura que toda essa problemática acarreta, traz uma realidade muito dolorosa que inclui além das limitações e impactos que o problema traz, todo o estigma e isolamento que passa a sofrer a pessoa com problemas mentais. Na maior parte das vezes esses clientes incorporam toda uma expectativa negativa, que os destitui de responsabilidades e direitos, fragilizando-os em suas relações e transformando sua condição em marca de identidade da qual dificilmente pode escapar. Para melhor entender esse processo vale ouvir pessoas que foram tratadas correta e dignamente e o que elas podem revelar com seus discursos:

"Eu quero ter o direito a ter deveres"

"A pessoa que passa por problemas mentais pode e deve ter responsabilidades, mas não aquela responsabilização nazista, que vem de cima pra baixo, que faz todo mundo igual"

"Olha, vir aqui, tomar remédios, tudo isso eu topo… eu não quero morrer esquizofrênico…, mas da minha loucura não abro mão"

Daqui por diante usarei a palavra cliente, ao invés de paciente, por supor que a condição de escolha é necessária a qualquer iniciativa que suponha ser terapêutica. Mesmo nas situações mais graves é preciso resguardar o direito de escolha dessa clientela e é esse princípio que irá revelar o sucesso do trabalho. Podemos listar os principais anseios dessas pessoas:

Cidadania: Direitos e Deveres
Convívio social e afetivo em um ambiente de solidariedade e acolhimento
Harmonia familiar
Autonomia, incluindo financeira
Oportunidades de uma vida mais produtiva. "Sentir-se útil"
Confiança e autoestima ( uma "via de mão dupla")
Não ser tratado todo o tempo como um doente
Qualidade e presteza no atendimento
Preço
Localização, transporte
Acesso a informações relativas ao tratamento e a instituição

Convênios

Ambiente (estética, aconchego, disponibilização de espaços) e ambiência ("clima", acolhimento, sinceridade e calor humano)

Familiares - Por muito tempo as famílias foram culpadas e excessivamente responsabilizadas, criando um ambiente de pouca compreensão, chegando mesmo à rivalidade e competição entre estes e profissionais. As internações prolongadas são a concretização do esvaziamento das possibilidades no acolhimento familiar. Hoje vemos que o ambiente desse encontro deve ter seu maior sentido na arte de compartilhar responsabilidades. Para que consigamos a colaboração dos familiares, é preciso entender as dificuldades que o cotidiano apresenta e criar condições para resolvê-las, tendo a consciência e a necessária tolerância em relação às resistências e possíveis mudanças. Os padrões dessas relações são geralmente muito duradouros e não foram construídos do nada, portanto requerem muita delicadeza para serem modificados. Principais necessidades:

Rapidez, disponibilidade e qualidade do atendimento

Empatia com os familiares e clientes, mantendo e estimulando novas possibilidades críticas da situação

Acesso a informações relativas ao cliente, o tratamento e possível participação no investimento de vida que o acompanhamento indicar

Localização, transporte
Preços
Convênios
Clareza nas metas e objetivos do tratamento

Vislumbrar possibilidades de resposta à angustiante questão: "O que será do meu filho quando eu me for?"

Profissionais-Com muita freqüência os profissionais observam que a exclusividade do acompanhamento em consultório, oferece possibilidades limitadas em relação aos clientes mais graves. O envolvimento com uma instituição que realmente seja parceira, criando uma relação de confiança e colaboração é fundamental. Nosso serviço procura deixar claro que está à serviço dos profissionais, procurando atender às principais preocupações destes para um melhor atendimento à clientela. São valores que procuramos atender:

Constante feed-back aos encaminhamentos. Acesso à todos os tipos de informação sobre o cliente, bem como participações em reuniões clínicas

Pacientes e familiares satisfeitos

Qualidade no atendimento e receptividade ao corpo clínico que encaminha seu cliente ao nosso serviço, fazendo com que o mesmo "sinta-se em casa"

Preço
Convênios
Localização

Disponibilização de espaço onde o profissional possa atender ao seu cliente no ambiente da instituiçãoNão concorrência, e sim sinergia em relação aos rumos do tratamento

Convênios- Diante da vigência da nova legislação relativa aos planos de saúde (lei 9656/98 e suas resoluções complementares), as coberturas em saúde mental ainda mostram-se pouco conhecidas no setor privado. Embora a legislação estabeleça um nítido reconhecimento dos benefícios do atendimento extra-hospitalar em psiquiatria, há muitas dúvidas em relação aos preços e durabilidade do tratamento. Qualquer doença ou perturbação "crônica" é fonte de muitas preocupações quanto às possibilidades de financiamento. Sabemos o quanto a centralização no regime hospitar e suas consequências - reinternações, fragilização dos laços familiares e sociais, fazendo com que cliente e familiares recorram de forma cada vez mais duradoura à instituição hospitalar - são onerosas. Cada vez que essa clientela perde maiores graus de autonomia, maiores serão os custos para se manter os cuidados necessários (vide dados contidos nas páginas 21 e 22 do presente trabalho). Assim planejamos lidar com essas questões:

Preços competitivos
Flexibilidade e transparência nas negociações
Pagamentos por pacote, co-responsabilidade
Investimento por tempo limitado no Centro de Convivência
Planejamento e viabilização discutidos em parceria
Diversidade de recursos assistenciais
Facilidade no acesso às informações relativas aos clientes
Compartilhar iniciativas de responsabilidade social junto aos clientes

Responsabilidade Pública

Entendemos que as práticas em Saúde devem ser eminentemente públicas independente do sistema jurídico e administrativo da instituição. A Cooperativa de Trabalho em Saúde Mental Casa da Glória acolherá pesquisas relevantes ao aprimoramento do conhecimento nessa área, sejam elas oriundas de instituições públicas ou privadas, tendo sua aprovação ratificada pela Assembléia Geral dos Sócios da Cooperativa.

É compromisso da cooperativa fomentar por todos os meios que estiverem ao seu alcance a integração com os desejos e necessidades da comunidade, visando um ambiente de colaboração e confiança nos empreendimentos. Pensamos que o ambiente público é nosso principal cliente e faremos tudo para que os serviços emanados da Casa da Glória primem por sua abertura e transparência.

Por que uma cooperativa?

Quando utilizamos a cooperativa enquanto estratégia, estamos querendo fazer de uma constituição de uma determinada doutrina econômica, uma disposição pronta a acolher certos anseios sociais, que para serem alcançados requerem investimentos de solidariedade, generosidade e confiança. Daí o uso do neologismo "cooperativação" no título do presenta trabalho.

A escolha do aspecto jurídico da organização se deve a muitos fatores e penso ser importante trabalhá-los nesse momento, pois eles interferem profundamente na missão, nos objetivos, e em toda a concepção do serviço. Avaliamos que uma cooperativa pode favorecer uma eficiente estratégia clínica, política e administrativa, como detalharemos a seguir.

Flexibilidade e diversidade de propostas - Os profissionais e clientes engajados nesse tipo de praxis passam a participar de várias atividades, podendo experimentar-se e ter várias oportunidades de aprendizado. Essa disposição procura evitar a cronificação de papéis e funções na organização.

Gestão participativa - Seguindo os princípios que devem resguardar o funcionamento da organização, todos os integrantes participam das decisões, tendo a Assembléia Geral dos Sócios como órgão soberano nas decisões e ratificador das deliberações realizadas no Conselho Administrativo e Conselho das Unidades de Produção.

Autonomia e agilidade

Solidariedade e transparência - Estamos lidando com negócios que envolvem a saúde e o bem estar da comunidade, é dever ético que essas iniciativas sejam acessíveis às pessoas interessadas. Aqui o "fora" constitui o "dentro" da instituição, em realidade, instaurar graus progressivos e abrangentes de "porosidade".

Posição estratégica do "terceiro setor" na economia contemporânea - Funcionamento na interface entre o setor público e privado; prestando serviços a ambos e mantendo seus resultados e responsabilidades na esfera pública.

Menor custo

Risco e solidariedade empreendedora - A autonomia traz um maior desafio na capacidade de gestão dos riscos, pois não se tem o assistencialismo e paternalismo que com frequência ocorrem no setor público.

"Ao experimentar a lógica da empresa se faz um descobrimento: descobrimos que há um mundo de riquezas, energias e capacidades para valorizar, justamente ali onde nos haviam ensinado a ver só miséria, menos valia, carências e desvios. Mas sobretudo: temos descoberto a capacidade mais importante, a capacidade de risco, de empreendimento, de experimentar, tentar, equivocar-se, aprender."( Leonardis, Mauri, Rotelli, 1995).

A cooperativa de trabalho em saúde mental casa da glória ltda. - coopglória, desde sua concepção, tem primado por edificar uma cooperativa com consistência e sustentação teórico-prática. Para tanto realizamos um curso que trabalha profundamente as questões institucionais, procurando criar uma cultura organizacional de grande repercussão; investindo na formação e aprendizado dos participantes. Desfazer expectativas de que a cooperativa seja uma mera forma de alocação de recursos profissionais, mas sim uma estratégia de cooperativação, de convívio, confiança e empreendimentos intensos.

"Rizoma, rizomático: os diagramas arborescentes procedem por hierarquias sucessivas, a partir de um ponto central em relação ao qual remonta cada elemento local. Os sistemas em rizoma ou "em treliça", ao contrário, podem derivar infinitamente, estabelecer conexões transversais sem que se possa centrá-los ou cercá-los".(Rolnik, S; Guattari,F, 1986)

Mais uma questão de enorme valor para essa concepção de serviço é o local e o ambiente onde ele se desenvolve. Cumpre desenvolver uma ambiência que desenvolva trabalho, cultura, lazer, aprendizado e clínica a um só tempo, integrando esses aspectos a partir de uma "ética do servir", onde todos estão implicados em formas criativas de atenção ao outro, fazendo dessa experiência relacional, a principal fonte de riquezas que a organização irá proporcionar. Escolhemos uma ampla casa, onde já funcionou um convento, contando com cinco consultórios, cinco salas de oficinas, espaço para restaurante, café, uma ampla sala de estar, além de área livre, jardim e horta. O estilo neoclássico, o cuidado na decoração, o ambiente ao mesmo tempo plural e aconchegante são cenários concretos de uma iniciativa de valorização e respeito junto aos clientes.

2. Marketing e planejamento estratégico

Desenvolver o planejamento do lançamento de uma cooperativa focada no atendimento em saúde mental constitui-se como uma amostra do vigor que esse exercício pode trazer à condução de nossa trajetória. O próprio ambiente gerado pelo planejamento altera substancialmente a cultura organizacional, no sentido de manter um grau de energia intensa no empreendimento e procurando organizá-lo para que produza efeitos satisfatórios. Esse tipo de ação é uma boa prova do quanto trabalho e prazer podem ter uma relação bastante próxima.

Hoje participamos de uma importante mudança nos paradigmas em relação à loucura e as mais variadas maneiras de sofrimento psíquico. Esses estados vem sendo acolhidos por formas cada vez mais diversificadas de atenção, tendo como foco a singularidade da clientela. Passa-se a investir em tratamentos e intervenções que privilegiem a manutenção do cliente em seu meio sócio-familiar, compartilhando responsabilidades e valorizando os vínculos como condição de novas tomadas de posição. Ao cliente passa-se a zelar por seus direitos e este gradativamente vem assumindo graus diferenciados de autonomia e responsabilidade e a tal condição "crônica" das doenças mentais, vêm assumindo contornos cada vez mais diferentes. Estamos vibrando numa tensão produzida entre uma necessária postura assistencial e uma desejada ação produtiva, que aqui chamaremos de "solidariedade empreendedora", onde técnicos, clientes e familiares compartilham sinérgicamente soluções para as mais variadas questões (trabalho, moradia, família, questões jurídicas, etc.).

O estigma e o isolamento são as piores dores e sequelas que um sistema tradicional pode manter. Nosso compromisso é uma ação ética, estética e clínica no sentido de dotar de movimento, questões que parecem estáticas.

Acreditamos que as condições hospitalares para o tratamento de problemas mentais são cada vez mais circunscritas a situações específicas, e portanto devem ser menos duradouras e custosas (tanto do ponto de vista financeiro, como afetivo).

O que iremos propor com este estudo é a defesa e o investimento persistente em uma atitude coerente e viável de estar a serviço dos clientes (pacientes, familiares, profissionais de saúde, operadoras e sociedade em geral), promovendo um outro olhar em relação às mais diversas possibilidades de funcionamento dos seres humanos, que merecem respeito, acolhimento e valorização pelo vital ensinamento que a singularidade de cada pessoa estimula.

Nosso plano de marketing será desenvolvido abordando os seguintes itens:

Lei E Oferta De Serviços A lei 9.656/98 e a resolução de número 11 estabelecem o tempo máximo para internação de 30 dias anuais. Entretanto, essa limitada cobertura da internação só se sustenta com o necessário investimento em recursos que viabilizem um maior convívio do cliente com seu meio. Além disso, serão necessários mecanismos do tipo "porta de entrada" e reavaliações dos processos durante a internação para uma maior efetividade da mesma. A qualidade dos serviços, o atendimento às famílias e a socialização dos clientes são alguns dentre os vários fatores que irão fazer o sucesso dessa proposta. Estruturas extra-hospitalares são a rede de sustentação desse sistema e merecem uma atenção especial no que se refere a custos e prazos de tratamento.

Esta lei contempla 180 dias por ano para serviços de atenção diária como hospitais-dia e centros de convivência. O processo de credenciamento das instituições hospitalares e dos profissionais é de suma importância para uma boa performance no atendimento, o que também constitui um desafio para os gestores.

No município do Rio de Janeiro a oferta de serviços em saúde mental na rede privada é uma questão particularmente problemática. A maioria das instituições apresenta inúmeras deficiências técnicas, gerando tempo de internação prolongado e reinternações, além de pouco investir na capacitação profissional relativa a assistência extrahospitalar.

Custos E Saúde Mental
Nos Estados Unidos, as doenças mentais se encaixam no rol do gerenciamento de grupos depacientes crônicos (disease management). Em 1995 foram gastos US$ 1 trilhão com assistência médica e 7 doenças representaram cerca de 36% dos gastos:

Hoje, vemos o quanto é difícil prover um sistema de planejamento e custos que reflitam as atuais tendências em relação ao sistema assistencial. Deve-se levar em conta também que as conquistas em relação à cidadania das pessoas que passam por problemas mentais nos Estados Unidos estão bastante avançadas. No Brasil, estas questões vem sendo discutidas, mas ainda convivemos com muito atraso, o que perpetua situações de repetidas hospitalizações e poucas chances de reabilitação social.

Estima-se que existam 41milhões de usuários do sistema de planos e seguros privados de saúde, sendo que 70% estão concentrados nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. No Rio, encontra-se de 18 a 20% dessa população, ou seja, 8 milhões e duzentos mil usuários aproximadamente. Calcula-se que 1,5% a 2% da população sofra de algum transtorno psíquico resultando em 1milhão e 23 mil clientes potenciais, apenas em nosso estado.

Os custos de um tratamento psiquiátrico em caráter totalmente privado são altíssimos. A despesa cresce proporcionalmente em relação à complexidade, tomando-se como exemplo mais marcante o grupo das esquizofrenias. Isto pode provocar uma tendência de migração para os planos e seguros privados dessa parcela da população, na medida em que estes se adeqüem à nova legislação.

O serviço público brasileiro vem protagonizando uma gradual, mas irreversível, implantação de sistemas extra-hospitalares de atenção: Centros de Atenção Psicosocial, moradias protegidas, cooperativas de trabalho... Há uma reversão de um quadro que se mostrava caótico, com o maior número e longevidade das internações por especialidade, os maiores gastos e a pior das espectativas de reabilitação da clientela, angustiando e desesperançando clientes e familiares. Estamos em um momento muito importante no sentido de formular novas propostas para um atendimento mais eficiente em Saúde Mental.

A cidadania, os direitos e os deveres das pessoas com problemas mentais são condições para uma existência digna e fundamentam a estruturação ética dos serviços, que assim devem manter uma profícua articulação com os variados setores sociais. Assim o sistema possibilitado pela COOPGLÓRIA, vem a constituir uma oportunidade pioneira dentro das atuais tecnologias de atenção em Saúde Mental. O sistema de atendimento aqui proposto está concentrado nos aspectos de prevenção e reabilitação, possibilitando uma redução significativa de internações e reinternações, bem como recuperação mais rápida do paciente.

Ao contrário do sistema clássico, em que os custos de tratamento aumentam ao longo do tempo, a experiência de cerca de dez anos com o tratamento extra-hospitalar vem demonstrando uma redução gradativa e consistente de custos.

Planejamento Estratégico
A confecção do planejamento estratégico traz em si uma indagação: "Como poderíamos fazer o que estamos querendo, sem isso?" Longe de pensar que o planejamento é a solução de todos os problemas do empreendimento, o mais interessante é poder manejar nossas criatividades e ações de forma sistemática e persistente.

O que aqui apresentaremos é o resultado de um esforço que alcançou longas horas de discussão madrugada adentro: sanduíches, café, refrigerantes e o melhor dos ingredientes - a vontade de acertar, compor e desenvolver propostas consistentes e viáveis; trazendo uma sensação de aglutinação e desenvolvimento dos vários agentes interessados ao empreendimento. Estimula-se uma cultura que aqui chamaremos de "solidariedade empreendedora", propiciando novas tomadas de responsabilidade e maturação da proposta da organização. Optamos por desenvolver um planejamento estratégico geral, de lançamento das iniciativas da COOPGLÓRIA em todos seus setores e serviços. Em um segundo momento, faremos um planejamento para cada unidade de produção.

Iniciaremos nosso planejamento com indagações que visam uma melhor identificação e análise situacional de nossa posição no mercado.

Definição do negócio:
Atenção diversificada em saúde mental, atendendo amplamente a necessidade de nossos clientes (pacientes, familiares, profissionais e operadoras).

Análise externa:
Utilizaremos o modelo SWOT (strengths - pontos fortes; weaknesses- pontos fracos. Obs. - aqui usaremos a expressão pontos de risco, por julgá-la mais adequada ao processo, opportunities - oportunidades, threats- ameaças) para tecer o diagnóstico do mercado. Entendendo as oportunidades e ameaças se referindo ao ambiente externo e as forças e fraquezas como pertinentes ao ambiente interno da empresa.

3. Dimensão Organizacional

Histórico

Os manicômios e as internações psiquiátricas por muito tempo se apresentaram como única opção de tratamento em saúde mental. A partir da década de 70, sobretudo no serviço público, começa um vigoroso questionamento desse modelo, tendo como um de seus pontos culminantes a Conferência Regional para Reestruturação da Assistência Psiquiátrica no Continente (Caracas, Venezuela, 1990). Foram propostas pela "Declaração de Caracas" as seguintes diretrizes:

  • Superação do hospital psiquiátrico como serviço central da atenção em saúde mental.
  • Humanização dos hospitais psiquiátricos.
  • Ampliação dos direitos das pessoas com transtornos mentais.

No Brasil, participamos de um intenso movimento de implementação de serviços "substitutivos" do sistema manicomial e asilar, podendo destacar os seguintes:

- Centros de Convivência

- Hospitais - dia

- Serviços psiquiátricos em hospital geral

- Lares Abrigados

- Trabalho Assistido

- Clubes terapêuticos

- Cooperativas Sociais

A Cooperativa de Trabalho em Saúde Mental Casa da Glória é formada por profissionais especializados em atendimento psiquiátrico extra-hospitalar, com experiência na implantação deste modelo assistencial na rede pública e privada.

Parte Executiva Do Serviç
O plano de atendimento constitui-se através dos dispositivos que serão tratados como UNIDADES DE PRODUÇÃO:

Centro De Convivência E Hospital-Dia
O Centro de Convivência ocupa posição privilegiada nos serviços oferecidos pela Casa da Glória. Através dos anos estamos constatando a eficiência dessa perspectiva de atenção em saúde mental. No início do acompanhamento, alguns clientes podem necessitar de cuidados intensivos e hospitalares. A interação dos vários aspectos contemplados pelo tratamento, proporciona sensível melhora e o cliente passa a frequentar o espaço não só para seu tratamento, mas sobretudo por lá encontrar amigos, relações afetivas, oportunidades de produção, convívio e experiências vivenciais variadas.

Nossa proposta consiste em criar projetos de vida e convívio junto aos clientes, diversificando suas relações com os dispositivos institucionais, de maneira que o mesmo venha a ter necessidades menores e menos custosas com o serviço. Assim o cliente tem a seu dispor créditos coletivos que visem concretizar empreendimentos que sejam significativos para sua existência, no âmbito do trabalho, das relações sociais, familiares, de moradia, entre tantas outras. Desde o início das atividades, procura-se um sinergismo com as famílias para que as mesmas concretizem os investimentos necessários a uma maior autonomia dos clientes. São algumas de nossas estratégias:

CLUBE - Funcionamento nos finais de semana, priorizando o "ócio criativo" (di Masi, 2000), procurando interações diferenciadas para os participantes, sejam eles técnicos ou clientes, trazendo outras possibilidades de convívio. Esse uso tambem será proporcionado às pessoas que estão há cinco anos frequentando o serviço em pelo menos cinco turnos por semana. Nesta fase, estarão arcando com uma taxa de manutenção e a frequência é livre.

Incubadora De Cooperativas Sociais - Esse dispositivo é o agenciador institucional por exelência. No plano do Centro de Convivência o cliente terá oprtunidades de engajar-se no que aqui chamaremos de "processos de autonomização". O tempo máximo para que esse processo seja desenvolvido foi estipulado em cinco anos, para os que freqüentarem ao menos cinco turnos por semana. Assim, caso o cliente ainda use a instituição por vários motivos, a partir dessa fase o mesmo passará a contribuir com uma taxa de manutenção. Em paralelo estaremos trabalhando em conjunto com familiares e clientes, para que após esse período de investimento no Centro de Convivência, sejam deslocados recursos para as perspectivas próprias aos clientes, viabilizando empreendimentos laborativos, residenciais e outros que sejam necessários ao bem estar dos participantes. Vejamos um exemplo:

O restaurante do Centro de Convivência será terceirizado; o preço das refeições pactuado com o Conselho Diretor e dentro das cláusulas do contrato haverá uma que tornará a firma responsável pelo restaurante, como uma unidade de aprendizado de culinária e todos os demais aspectos relativos à atividade (estoque, condições de armazenamento, modos de servir, contabilidade e preços, etc). Vamos supor que um grupo permaneça estável e confiante nessa atividade. Estaremos discutindo e estudando aspectos teóricos e práticos junto a clientes e familiares. Até um ponto em que estejamos preparados para a abertura de um empreendimento como uma lanchonete ou um restaurante, através de uma cooperativa social (lei federal n. 4688-A/94) ou uma Associação sem fins lucrativos.

"…as estratégias da empresa social - em nosso caso se tratam de cooperativas de produção e serviços - está no fato de que estas ativam e expandem uma lógica do investimento, do empreendimento. Mas para investir é necessário ter capacidade de crédito, em dois sentidos: capacidade de obter e dar crédito. Mais ainda, para poder usufruir do crédito, para saber usá-lo, há que saber concedê-lo. Conceder crédito, ao menos em nosso caso, significa pressupor a existência de um valor, atribuir valor a um recurso humano - ainda que residual - e investir no mesmo…. Nosso objetivo empresarial é produzir um valor agregado de natureza social, portanto não uma coisa - mercadoria ou dinheiro - mas relações, intercâmbio, sociabilidade." (Leonardis, Mauri e Rotelli, pp.108).

Essa citação bem ilustra o quanto nessa área o investimento pode ter um efeito entre a assistência e a capacidade produtiva dos clientes. Essa posição "entre" é de fundamental importância. É nosso dever preparar e estar próximo aos nossos clientes para enfrentar as situações reais de vida, fazendo com que o tratamento não crie um laboratório intelectual, que a longo prazo traz estagnações no comportamento dos participantes. Nos apoiaremos em outra citação a esse respeito:

"Em princípio, risco e segurança são duas condições polarizadas que pertencem uma ao mercado e outra à assistência, ao Estado, à burocracia (exemplificado pela estabilidade no posto de trabalho). O risco da empresa implica em crédito, um abastecimento de recursos para arriscar (também para tentar, equivocar-se, etc.): este abastecimento, a possibilidade de crédito, é outro tipo de segurança. O risco - diferente do perigo - é escolha, decisão, produção de futuro e de si: empreendimento. Para retomar uma formulação que circulou nuitos anos em Trieste, o "risco é terapêutico"". (Ibid, pp 101).

Nosso objetivo é criar empresas e agenciar soluções para boa parte das dificuldades enfrentadas por essas pessoas. A viabilidade desses negócios, assim como qualquer unidade de produção da cooperativa, requer aspectos técnicos, jurídicos e financeiros; sendo que os recursos serão provenientes de co-investimentos e participações da equipe técnica, familiares, clientes e setores empresariais da iniciativa privada e do "terceiro setor", buscando empreendimentos solidários e responsáveis.

Consultórios
A dimensão clínica é uma tradição muito trabalhada em nosso meio. Soubemos compor as iniciativas da psiquiatria social italiana com a tradição da psicoterapia institucional e a psicanálise tão bem estudada nos círculos franceses. Em realidade não nos filiamos a qualquer linha; antes procuramos compor com o que for mais adequado ao contexto de nossos clientes. Na concepção da COOPGLÓRIA a combinação clínica com a perspectiva de ações sociais é fundamental. Os consultórios da cooperativa atenderão aos segmentos particular, convênios e parcerias com instituições e ONGs, oferecendo serviços em:

Home Care
O conceito de home care que aqui apresentaremos abrange um arco bastante amplo de ações e agentes, visando um trabalho em equipe integrada, agindo a serviço dos clientes (pacientes, médicos, familiares e convênios), sempre visando a preservação do cliente em seu ambiente de escolha, procurando atender e compartilhar responsabilidades. Também estamos habilitados a estruturar programas de desospitalização, com gestão de moradias entre outras ações. Esse tipo de atendimento será proporcionado também em situações agudas. Assim, disponibilizaremos:

Como já foi dito a diversidade de dispositivos é importante à constituição de uma perspectiva de atenção que faça dos vínculos com o cliente, um referencial a partir do qual ele poderá se deslocar, produzindo mudanças e investimentos de acordo com suas necessidades.


 
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