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Produtividade e qualidade industrial de grãos de arroz de terras altas (página 2)

Carlos Alexandre Costa Crusciol; José Ricardo Machado; Orivaldo Arf; Ricard

 

Material e métodos

O trabalho de pesquisa foi realizado em área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia - Unesp, campus de Ilha Solteira, localizada no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, apresentando como coordenadas geográficas 51º 22’ de longitude Oeste de Greenwich e 20º 22’ de latitude Sul, com altitude de 335 metros. O solo do local é do tipo Latossolo Vermelho distrófico típico argiloso (Embrapa, 1999). A precipitação média anual é de 1.370 mm, a temperatura média anual é de 23,5ºC e a umidade relativa do ar está entre 70 e 80% (variação anual).

Antes da instalação do experimento foram coletadas amostras de solo da área experimental e realizadas as análises químicas, segundo metodologia proposta por Raij e Quaggio (1983), cujos resultados foram os seguintes: pH(CaCl2)=5,4; M.O.=26 g dm-3; P=24 mg dm-3; K; Ca; Mg, H+Al, SB e CTC = 1,3; 24,0; 15,2; 29,2; 40,5 e 69,7 mmolc . dm-3, respectivamente e V(%)=54.

A capacidade de retenção de água no solo foi determinada utilizando-se uma unidade de sucção segundo Grohmann (1960) na faixa de 0,002 a 0,01 MPa, aparelhos de pressão de placa porosa recomendados por Richards e Fireman (1943), na faixa de 0,033 a 0,101 MPa, e a membrana de Richards (1947), na faixa de 0,101 a 1,52 MPa. A Tabela 1 contém as tensões utilizadas para determinar a retenção de água no solo nas profundidades de 0 - 15 cm e 15 - 30 cm, com seus respectivos conteúdos de água apresentados em porcentagem do peso.

O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. O experimento foi constituído de cinco lâminas de água, uma das quais, foi a precipitação pluvial natural, ou seja, cultivo sob condições de sequeiro, e as demais, fornecidas através de irrigação por aspersão e definidas com base no coeficiente de cultura (Kc). Os Kcs apresentados por Reichardt (1987) para a cultura do arroz de sequeiro, com algumas adaptações, resultaram na lâmina 2 (L2) (Tabela 2). A lâmina 1 (L1) foi definida com base em 50% dos Kcs utilizados na lâmina 2, enquanto a lâmina 3 (L3) foi 1,5 vezes. Já na lâmina 4 (L4) foi utilizado o maior Kc da lâmina 3 (1,95), durante todo o período de irrigação.

Cada unidade experimental continha seis fileiras de plantas com 6 m de comprimento, espaçadas em 40 cm. Foi considerada como área útil as quatro fileiras centrais, sendo 0,50 m da extremidade de cada fileira de plantas e as duas fileiras externas consideradas como bordadura.

A cultivar utilizado no experimento foi a Caiapó proveniente do cruzamento múltiplo (IRAT-18 X Beira Campo) X (CNAx104-B-Py-2B X Pérola).

Apresenta porte médio (110-130 cm), ciclo médio (128 dias), 95-100 dias da emergência ao florescimento, grãos tipo longo, suscetível à brusone (Pyricularia oryzae Cav.) e ao acamamento. É recomendado para solos de baixa fertilidade em situações de abertura de áreas e reforma de pastagens degradadas.

Durante a condução do experimento foram determinadas, diariamente, a temperatura mínima e máxima do ar no Posto Meteorológico da Fazenda de Ensino e Pesquisa da Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - Unesp, distante, aproximadamente, 500 m do local. A precipitação pluvial foi determinada em um pluviômetro Ville de Paris instalado na área experimental. Todos os dados dos elementos climáticos estão contidos na Figura 1.

A capacidade de água disponível (CAD) do solo utilizada ficou estabelecida em 14,80 mm. As irrigações foram realizadas toda a vez que a evapotranspiração máxima (ETm) da cultura atingiu 8,25 mm, ou seja, 45% da CAD.

Figura 1.
Dados diários da precipitação pluvial, temperatura máxima e mínima,
durante a condução do experimento. Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul.

A evaporação de água (mm) foi obtida diariamente de um Tanque Classe A. O coeficiente do Tanque Classe A (Kp) utilizado foi o proposto por Doorenbos e Pruitt (1976), o qual é função da área circundante, velocidade do vento e umidade relativa do ar. As irrigações foram realizadas por um sistema de aspersão convencional fixo, sendo a vazão dos aspersores de 3,3 mm h-1.

O solo foi preparado por meio de uma aração e duas gradagens, sendo a primeira gradagem levada a efeito logo após a aração e a segunda, às vésperas da semeadura. A adubação constou da aplicação nos sulcos de semeadura de 12 kg de N, 90 kg P2 O5 e 30 kg de K2O . ha-1. Também foram aplicados 40 kg ha-1 de FTE BR-12 como fonte de micronutrientes (B = 1,3%; Cu = 0,30%; Fe = 3,0%; Mn = 2,0%; Mo = 0,1%; Zn = 9,0%).

A semeadura foi realizada em 24/11/94, utilizando-se a densidade de 100 sementes viáveis por metro quadrado. Junto com as sementes aplicou-se 1,5 kg ha-1(i.a.) de carbofuran 5G visando principalmente o controle de cupins (Synterms molestus, Procorniterms striatus e Cornitermes lespesii) e lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus). A emergência das plântulas ocorreu em 02/12/94.

O controle de plantas daninhas foi realizado mediante a utilização do herbicida oxadiazon (1 kg ha-1 de i.a.) em pré-emergência, um dia após a semeadura e, 2,4D (0,67 kg ha-1 de i.a.) em pósemergência.

As avaliações realizadas foram: florescimento (número de dias transcorridos entre a emergência e 50% das panículas emitidas); ciclo total (número de dias transcorridos entre emergência e a colheita); altura média das plantas (m); acamamento (obtida por meio de observações visuais na fase de maturação); número de colmos e de panícula por m2; fertilidade dos colmos (%), número total de espiguetas por panícula, fertilidade das espiguetas, massa de 1000 grãos, massa hectolítrica, produtividade de grãos e rendimento de benefício, de grãos inteiros e de quebrados (retirou-se uma amostra de 100 g de arroz em casca passando-a em um engenho de prova Suzuki, modelo MT, por 1 minuto; em seguida foram pesados os grãos brunidos assim obtidos, e o valor encontrado foi considerado como rendimento de benefício, em porcentagem, posteriormente, os grãos brunidos foram colocados no "trieur" nº 2 e a separação dos grãos foi processada, por 30 segundos; pesou-se os grãos que permaneceram no "trieur" e o valor obtido foi considerado grãos inteiros, e os demais, grãos quebrados, ambos expressos em porcentagem).

Resultados e discussão

Na Tabela 3 estão apresentados o número de dias transcorridos da emergência das plantas até o florescimento, ciclo e a distribuição das lâminas de água de acordo com o tratamento, durante o desenvolvimento da cultura. Verifica-se que o cultivo sem irrigação aumentou 9 e 8 dias o período para as plantas atingirem o florescimento e a maturação respectivamente, quando comparado com o tratamento com o maior nível de água aplicado (L4). Isso indica que a deficiência hídrica proporciona aumento do ciclo da cultura. Stone et al.

(1984) e Arf et al. (2001) também verificaram alteração do período de florescimento e ciclo em função da quantidade de água fornecida à cultura do arroz. O prolongamento no ciclo da cultura no tratamento sem irrigação foi conseqüência, provavelmente, de períodos de baixa precipitação ocorridos durante o desenvolvimento da cultura na fase vegetativa (Figura 1).

A diminuição na disponibilidade de água reduziu a altura da planta, proporcionando entre o cultivo de sequeiro e a maior lâmina de água (L4), fornecida via irrigação por aspersão, uma diferença de 15cm (Tabela 4). Este comportamento no desenvolvimento, mais precisamente na altura da planta, refletiu no acamamento (Tabela 4) que apresentou maior valor (75 a 100% de plantas acamadas) na maior lâmina (L4). Crusciol (1998) e Arf et al. (2001) verificaram aumento na altura e no acamamento de plantas com a utilização da irrigação por aspersão. O número de colmos e de panículas por metro quadrado não foram afetados significativamente pelos tratamentos, apesar de ter ocorrido menor transformação das gemas vegetativas em reprodutivas no tratamento de sequeiro em relação a lâmina 1, como pode ser constatado pelos dados de fertilidade dos colmos (Tabela 4). Os maiores valores de fertilidade dos colmos nos tratamentos irrigados, comparados ao sequeiro permite inferir que a água limitou a diferenciação da gema vegetativa em reprodutiva e/ou pode ter ocorrido uma degeneração do primórdio da panícula, apesar de não ter refletido significativamente no número de panículas.

Embora o número de espiguetas total não tenha sido influenciado significativamente pelos tratamentos, houve tendência dos valores obtidos com as lâminas de irrigação estudadas serem superiores ao obtido sob cultivo de sequeiro. A redução do número total de espiguetas por panícula pela ação de deficiência hídrica foi relatada por Fageria (1980) e Campelo Júnior (1985). De acordo com Yoshida (1981a e b), o número total de espiguetas é influenciado por fatores genéticos e por condições externas vigentes durante a fase reprodutiva, mais precisamente do início da fase reprodutiva até 5 dias que antecedem o florescimento.

Com relação a fertilidade das espiguetas, a irrigação por aspersão obedecendo os valores de Kc recomendados por Reichardt (1987) (tratamento L2), proporcionou o maior valor, porém sem diferir dos demais tratamentos.

A massa de 1000 grãos não foi influenciada pelos tratamentos (Tabela 5), provavelmente, por ser uma característica varietal bastante estável (Matsushima, 1970; Yoshida, 1981b).

A produtividade de grãos (Tabela 5) foi afetada de forma significativa pelos tratamentos. A lâmina 2 proporcionou a maior produtividade de grãos (3986 kg ha-1) diferindo estatisticamente do tratamento de sequeiro. O aumento proporcionado pela lâmina 2 em relação ao cultivo de sequeiro foi de 1147 kg ha-1, que equivale a um ganho de 40,4%. Todos os tratamentos irrigados por aspersão (L1, L2, L3 e L4) proporcionaram produtividades superiores ao tratamento de sequeiro e, apesar das diferenças não terem sido significativas, o aumento médio foi de 28,73%. De modo geral, a precipitação pluvial durante o experimento foi considerada suficiente para o desenvolvimento da cultura, contudo, a distribuição desuniforme resultou em resposta à irrigação por aspersão, principalmente, quando da utilização da lâmina 2, que provavelmente dentre as lâminas estudadas, proporcionou aplicação mais equilibrada de água. Assim, a maior produtividade de grãos constatada com a utilização da L2 foi decorrente de um sinergismo dos efeitos benéficos proporcionados na formação da panícula e granação das espiguetas. Manzan (1984), Pinheiro et al. (1985), Oliveira (1994), Nakao (1995), Crusciol (1998), Rodrigues (1998) e Arf et al. (2001) também obtiveram incremento na produtividade do arroz de terras altas pela da utilização da irrigação por aspersão.

O rendimento de grãos no benefício (Tabela 5) foi significativamente afetado pelos tratamentos, sendo que o cultivo de sequeiro apresentou o menor valor, em média 6,0% inferior aos tratamentos irrigados. Oliveira (1994) e Crusciol (1998) também obtiveram maior rendimento no benefício com a utilização da irrigação por aspersão.

Quanto ao rendimento de inteiros (Tabela 5), o cultivo de sequeiro proporcionou os menores valores, diferindo estatisticamente de todos os tratamentos irrigados. O rendimento de grãos quebrados não sofreu efeito significativo estatisticamente, porém, nota-se pela Tabela 5 que o cultivo de sequeiro proporcionou maiores valores.

Tal fato se deve provavelmente à baixa precipitação pluvial ocorrida durante a maturação (Figura 1).

Oliveira (1994) também verificou que os grãos oriundos do cultivo de sequeiro apresentaram rendimento de inteiros inferior aos provenientes do cultivo sob irrigação por aspersão.

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Received on July 01, 2002.
Accepted on January 29, 2003.

Carlos Alexandre Costa Crusciol1*, Orivaldo Arf2, Rogério Peres Soratto1, Marcelo Andreotti3 e Ricardo Antonio Ferreira Rodrigues4
arf[arroba]agr.feis.unesp.br

1. Departamento de Produção Vegetal, Faculdade de Ciências Agronômicas, Unesp, Campus Botucatu, Fazenda Experimental Lageado, C.P. 237, 18603-970, Botucatu, São Paulo, Brasil.
2. Departamento de Fitotecnia, Tecnologia de Alimentos e Sócio- Economia, Faculdade de Engenharia-Unesp, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil.
3. Departamento Agronomia, Centro de Ciências Agrárias/Unioeste, Rua Pernambuco, 1777, 85.960-000, Marechal Cândido Rondon, Paraná, Brasil.
4. Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, Faculdade de Engenharia-Unesp, Ilha Solteira, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência. e-mail:
crusciol[arroba]fca.unesp.br



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