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Problemas de pernas em avestruzes – revisão (página 2)

E. A. García; A. A. Mendes; C. C. Pizzolante; N. Veiga; T. K. Mattos

 

Frequentemente, os desequilíbrios nutricionais são os grandes vilões quando nos referimos a problemas de pernas em avestruzes. Dentro desta categoria os mais importantes são: dietas com elevados níveis de proteína, excesso de vitaminas, desequilíbrio entre cálcio e fósforo e microminerais como o selênio.

Níveis de proteína superiores aos recomendados para a fase inicial provocam um rápido crescimento muscular consequentemente deformidades nos membros posteriores. Também, o excesso de energia induz a uma massa corporal excessiva sobre uma ossificação incompleta. O excesso de proteína, absorvida no intestino delgado, pode levar a problemas de pernas principalmente em filhotes até oito semanas (DICK & DEEMING, 1996; KORNFELD et al., 2001; CARBAJO, 2003; CARRER et al., 2004). O excesso de vitamina pode causar um crescimento elevado do animal, levando-o a problemas músculo-esqueléticos como torções de pernas, problemas em tendões e ossos, podendo levar ainda a má absorção da gema, morte do animal ou ao seu sacrifício. Por isso, é recomendada a administração de vitaminas a partir do 10º dia de vida do animal e em doses mínimas (SHIVAPRASHAD, 1993). A ingestão de alimentos ricos em fibras longas é importante para que não ocorra desequilíbrio na absorção de cálcio e fósforo. Alimentos como a farinha de ostras não devem ser utilizados para não desequilibrar a relação Ca:P (MARTIM & SPEER, 1993; SAMSON, 1997).

Tanto os filhotes como os adultos são muito sensíveis a alimentação e respondem muito rápido a qualquer alteração. A ração deve ser completa, de boa qualidade e com níveis de garantia. Um alto índice de não eclosão dos ovos ou uma alta mortalidade de filhotes pode estar ligado à alimentação dos animais de reprodução. Rações mal balanceadas, ou que precisam de muita suplementação, levam os adultos a produzirem filhotes fracos, ocorrendo a não eclosão dos ovos ou a morte dos mesmos antes do 20º dia (MORE, 1997).

Deve-se manter um alto controle de qualidade, garantindo uma excelente formulação de dieta, não devendo exceder ou faltar nutrientes, pois, em ambos os casos há sérios problemas para estas aves, evitando assim problemas com as aves adultas e suas crias, pois a nutrição deficiente da matriz ou a falta de um período de descanso na produção podem afetar a formação do filhote e o surgimento de problema de pernas (MORE, 1997).

Um controle eficiente da taxa de crescimento é essencial pois o ganho excessivo de peso corporal na fase inicial de criação é um dos fatores para surgimento de problemas de pernas nos avestruzes jovens. Algumas restrições alimentares podem ser adotadas a partir de três semanas de idade para reduzir o ganho de peso. Portanto, é necessária a pesagem periódica dos filhotes, com registro destas e de outras informações em fichas zootécnicas para auxiliar no controle da alimentação e de todo o sistema de criação (SQUIRE & MORE, 1998).

4. Rotação tíbio-társica

A rotação tíbio-társica pode ocorrer nos filhotes a partir de duas semanas de vida, podendo afetar somente uma ave ou atingir uma grande porcentagem do plantel. Esse problema de pernas tem maior incidência nas aves em desenvolvimento (Mc LENDON, 1993).

O osso tíbio-tarso, geralmente da perna direita, faz um giro sobre si mesmo acima da articulação coxo-femural, como uma barra retorcida, numa rotação entre 40-90°, virando o pé (tarso-metatarso e dedos) para fora. Essa rotação ocorre muito rapidamente, frequentemente dentro de 24 horas. As aves afetadas geralmente não conseguem mais ficar em pé e lesam a perna ao esfregá-la sobre o piso na tentativa de se levantar. As aves que ainda podem ficar em pé e andar têm dificuldade para alcançar o alimento e a água, ocasionando perda de desempenho (LIMA, 2005; SQUIRE & MORE, 1998). A dor, aliada às dificuldades cada vez maiores para acessar o comedouro e bebedouro, levam o filhote ao estresse agudo, podendo facilmente matá-lo. Os animais mais resistentes sofrem lesões de pele, derivadas pelo atrito com o piso das instalações. A desnutrição e a desidratação geralmente se instalam, resultando, na maioria dos casos, no sacrifício do animal.

Os fatores envolvidos na rotação tíbio-társica são mecânicos, nutricionais, genéticos e infecciosos. Como as outras doenças multifatoriais, nem todos esses fatores têm de estar presentes em todos os casos (SQUIRE & MORE, 1998; HUCHZERMEYER, 2000).

5. Fraqueza nas pernas ou síndrome do entortamento das pernas

A fraqueza nas pernas é um problema comum aos avestruzes jovens em crescimento, particularmente aqueles com idade abaixo de quatro meses, os animais têm andar cambaleante e claudicações, dependendo da intensidade as aves podem apresentar-se prostradas, com queda no desempenho. Esta fraqueza pode ser causada ou se desenvolver a partir de uma série de fatores, atuando sozinhos ou combinados (DICK & DEEMING, 1996). Para aves brandamente afetadas, deve-se restringir a alimentação. As aves severamente afetadas raramente se recuperam e o melhor neste caso é a eliminação. As causas prováveis para os problemas nas pernas são: qualidade genética ruim ou endogamia (consangüinidade); excesso de alimentação, especialmente dietas ricas em proteínas e pobres em fibras; crescimento rápido de filhotes criados em fazendas; desequilíbrio na relação cálcio: fósforo; falta de exercícios; stress; dietas muito energéticas; doenças infecciosas. O crescimento rápido pode ser prevenido pela restrição alimentar (Mc LENDON, 1993; HUCHZERMEYER, 2000).

6. Desvio de pernas

  Os filhotes nascem com aproximadamente de 900 gramas a 1kg de peso vivo, com as pernas fracas e descoordenadas, durante os primeiros dias de vida é uma tarefa difícil sustentar o corpo e se forem mantidos sobre uma superfície deslizante não conseguem manter as pernas juntas, abrindo-se lateralmente.

Duas hipóteses para o problema, a primeira é que às vezes o filhote nasce fraco e não consegue se manter em pé, até mesmo sobre uma superfície adequada desenvolvendo esta condição. O outro fator suspeito é um saco vitelínico muito grande que empurra as duas pernas para a lateral (SHIVAPRASHAD, 1993).

Para a prevenção ou tratamento enfatiza-se a importância de fornecer uma superfície antiderrapante, vigiar continuamente os filhotes recém-nascidos, particularmente durante os primeiros esforços para ficar de pé e andar, e no caso de tratamento, colocar um esparadrapo ou velcro, preso em ambas as pernas com suficiente amplitude para que possa caminhar, isso o auxilia a permanecer em pé e executar sua primeira caminhada. A retirada do esparadrapo se dará após o total restabelecimento das pernas.

CARRER & KORNFELD (1999) afirmam que os filhotes oriundos de ovos de início de postura são predispostos a esta lesão.

7. Entortamento de dedos

  Os problemas de dedos tortos ocorrem em filhotes de avestruzes quando suas mães passam por processos de deficiências nutricionais, podendo se agravar quando os filhotes são criados sobre superfícies duras. Individualmente eles também podem ser causados por traumatismos. Os dedos dos filhotes se curvam para dentro se os pais estiverem sofrendo de deficiência de riboflavina, e para fora, se os filhotes forem mantidos em uma superfície inadequada (LIMA, 2005).

  Por estar relacionado com fatores nutricionais, manejo e com fatores genéticos, nos casos precoces pode tentar um tratamento entalando-se e enfaixando-se o dedo, de forma a mantê-lo em sua posição normal por alguns dias, existindo boas chances de recuperação na maioria dos casos (LIMA, 2005).

8. Conclusões

 As alterações do aparelho locomotor frequentemente afetam a vida dos avestruzes. Dessa forma, a atenção deve centrar-se na prevenção. A nutrição equilibrada, o planejamento correto das instalações, a sanidade, o controle da incubação entre outros, são procedimentos que eliminam parte das patologias e tornam viável a criação comercial.

E para diminuir ao máximo o risco de doenças e lesões, deve-se ter um acompanhamento zootécnico profissional, instalações e cercas adequadas correspondentes às idades dos filhotes. Para uma contenção correta dos animais na hora do manejo dentro dos berçários, evitando traumatismos e fraturas, a utilização de pisos apropriados em cada fase da criação, controlar as taxas de lotação dos berçários, o fornecimento de ração balanceada controlada por pesagens, a higienização e desinfecção eficiente no interior dos berçários e, tomar todas as precauções necessárias com a biossegurança podendo eliminar uma série de fatores que muitas vezes têm por conseqüências patologias irreversíveis, resultando em perdas na produção e muitas vezes prejuízos que só serão recuperados em longo prazo.

9. Bibliografia

ACAB – Associação Brasileira dos Criadores de Avestruz. www.acab.org.br/progestruz. Acessado em 25/09/2005.

CARBAJO, E. Principales patologias em pollos de primera edad y avestruces jóvenes. Producción del Avestruz: aspectos claves. 1ed. Ed. Mundi-Prensa, Madri, p.747-782, 2003.

CARBÓ, C. B. Producción del Avestruz: Aspectos claves – 1 ed. Ed. Mundi-Prensa, Madri. 2003.

CARRER, C. C.; ELMÔR, R. A.; KORNFELD, M. E.; CARVALHO, M. C. A Criação de Avestruz: guia completo de A a Z. Pirassununga, SP. 1 ed. Brasil Ostrich, p.63-65. 2004.

CARRER, C. C.; KORNFELD, M. E. A Criação de Avestruzes no Brasil. Brasil Ostrich. Pirassununga, SP. 1999.

DICK, A. C, K; DEEMING, D. C. Veterinary problems encountered in ostrich farms in Great Britain. Proc. Int. Confeerence I.O.U.R.F.E., Manchester, p.40-41. 1996.

HUCHZERMEYER, F. W. Doenças de Avestruzes e Outras Ratitas. Funep. Jaboticabal, SP. 2000.

KORNFELD, M. E.; ELMÔR, R. A.; CARRER, C. C. Avestruzes no Brasil: Incubação e Criação de Filhotes. Brasil Ostrich. Pirassununga, SP. 2001.

LIMA, D. L. Fatores que afetam a integridade das pernas em filhotes de avestruz na fase de cria e recria. www.portaldoavestruz.com.br/materiais. Acessado em 25/09/2005.

MARTIM, J. A.; SPEER, B. L. Restraint and techniques of ratites for the veterinary technician. Proc. of the Annual Conf. of the AAV. Ed. AAV, Nashville. p..369-380, 1993.

Mc LENDON, A. B. Pediatric disorders of ostriches. Proc. of the Annual Conf. of the AAV. Ed. AAV, Nashville. p.267-271, 1993.

MORE, S. J. Monitoring the health and productivity of farmed ostrich flocks. Austrilian Vet. J. v.75 (8), p.583-587, 1997.

PHILBEY, A. W. Anasarca and myopathy in ostrich chicks. Australian Vet. J. v.68(7), p.237-240. 1991.

SAMSON, J. Prevalent diseases of ostrich chicks farmed in Canada. Canadian Vet. J.v.38, p. 425-428. 1997.

SHIVAPRASHAD, H. L. Neonatal mortality in ostrich: an overview of possible causes. Proc. of the Annual Conf. of the AAV. Ed. AAV, Nashville. p.282-293, 1993.

SQUIRE, B. T.; MORE, S. T. Factors on farms in Eastern Australia associated with the development of tibiotarsal rotation in ostrich chicks. Australian Vet. J. v. 76 (2), p.110-117, 1998.

Augusto Balog Neto1, Ibiara Correia de Lima Almeida Paz2, Rodrigo Garófallo Garcia3 - arielmendes[arroba]fca.unesp.br

1 Aluno de Graduação em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Unesp - Botucatu - SP

2 Aluna de Pós-Graduação em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Unesp - Botucatu - SP

3 Docente da Universidade Católica Dom Bosco, UCDB – Campo Grande - MS



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