A biomecânica é a base da actividade músculo-esquelética. Os músculos geram forças que agem através do sistema de alavancas ósseas. O sistema ósseo ou move-se ou age estaticamente em oposição a uma resistência. O arranjo de fibras de cada músculo define a quantidade de força que pode produzir e o comprimento no qual os músculos se podem contrair. Dentro do corpo, os músculos são as principais estruturas controladoras da postura e movimento, diferenciando-se, segundo a função, em agonistas, antagonistas, fixadores e sinergistas. Para além da musculatura, ligamentos, cartilagens e outros tecidos moles também ajudam no controle articular ou são afectados pela posição ou movimento.
Logo, torna-se indispensável conhecer toda a estrutura muscular do corpo, de modo a que se possa determinar um plano de tratamento adequado à enfermidade do paciente. Para além disso, o conhecimento da inervação permite distinguir se a lesão é apenas num músculo ou em vários músculos com inervação comum, o que aponta para uma irregularidade nesse nervo. Não menos importante é o saber que abrange as estruturas articulares, cartilaginosas, ligamentares, bem como a vascularização, mecanismos que interagem na motricidade e que deles depende o bem-estar da pessoa.
Os padrões escapulares são determinantes para o tratamento dos membros superiores e do tronco, porque, apesar da omoplata não estar directamente relacionada com os movimentos desse, os músculos da escápula intervêm nos movimentos do tronco (colunas cervical e torácica). Além disso, a aplicação de resistência nos músculos mais potentes da escápula ou a sua estabilização produz irradiação para músculos mais fracos de outras zonas corporais, como o tronco e os membros superiores.
A escápula consiste num osso par, chato e fino, de forma triangular, podendo evidenciar-se em certos pontos. Possui duas faces, três bordas e três ângulos. Forma a parte dorsal da cintura escapular e é um dos dois ossos que compõem o ombro e que estabelecem uma ligação entre os membros anteriores ao tronco. Situa-se na região dorsal do ombro, em altura entre a segunda e a sétima costela e articula-se com dois ossos: úmero e clavícula. A escápula não irá articular-se directamente ao tronco, mas sim através da clavícula. Mesmo assim, a movimentação dos braços está relacionada à musculatura que parte desse osso de grande importância funcional. Quando se realizam movimentos como erguer os braços lateralmente ou para frente, não estamos apenas a movimentar os úmeros, mas também as escápulas e até mesmo as clavículas.
No que se refere à vascularização, os músculos escapulares são, em geral, irrigados pela artéria subescapular, derivada da artéria subclávia.
Face Dorsal/Posterior
Face Costal/Ventral
Borda Superior
Borda Lateral - emerge da margem da cavidade glenóide e inclina-se obliquamente para o ângulo inferior.
Borda Medial - apresenta um lábio ventral, um dorsal e uma área intermediária, com o lábio ventral dando inserção ao Serrátil Anterior.
Ângulo Superior - fino, liso e arredondado, e dá inserção a algumas fibras do Elevador da Escápula.
Ângulo Inferior - espesso e áspero, dá inserção ao Redondo Maior e a algumas fibras do Grande Dorsal.
Ângulo Lateral - é ampliado num processo espesso e é a parte da omoplata que entra na articulação do ombro, sendo escavada para formar a cavidade glenóide.
A espinha escapular consiste na lâmina óssea que se projecta da face dorsal da escápula e separa as fossas supra e infra-espinhal.
Início - borda vertebral, numa área lisa e triangular, sobre a qual desliza o tendão de inserção do músculo Trapézio.
Face Superior - côncava, colabora na formação da fossa supra-espinhal e dá origem a parte do músculo Supra-Espinhoso.
Face inferior - forma parte da fossa infra-espinhal, dando origem a uma porção do músculo infraespinhoso., e apresenta, próximo ao seu centro, o forame do canal nutrício.
Borda Dorsal/Crista da Espinha - ampla, com o Trapézio inserindo-se no seu lábio superior e Deltóide inserindo-se em toda a extensão do lábio inferior.
Borda Lateral/Base da Espinha - continua-se com a face inferior do acrómio e o colo da escápula, formando o limite medial da grande incisura escapular, que comunica as fossas supra e infra-espinhais.
Movimentos da Articulação Escapulo-Torácica
Os movimentos da escápula requerem deslizamento da mesma sobre o tórax. Normalmente existe flexibilidade considerável de tecido mole, o que permite que a escápula participe de todos os movimentos do membro superior.
Os movimentos da escápula são:
Músculos Intervenientes na Diagonal de Póstero-Depressão
Acção |
Músculos Principais |
Músculos Secundários |
Retracção escapular (adução) |
Rombóide Grande Dorsal |
Angular da Escápula Trapézio |
Depressão escapular |
Peitoral Menor Porção inferior do Trapézio |
Subclávio Grande Dorsal |
Rotação escapular para baixo |
Peitoral menor Grande Dentado |
Rombóide Angular da Escápula |
Caracterização dos Músculos Intervenientes
Origem: processos espinhosos das vértebras torácicas
Inserção: espaço triangular na base da espinha da escápula
Orientação das fibras: para cima e para fora, da coluna até à espinha escapular
Acção principal: Roda superiormente, deprime, aduz e estabiliza a escápula
Inervação: nervo acessório (nervo craniano XI_ espinhal) e ramos de C3-C4
Origem: processos espinhosos de C7 a T5
Inserção: bordo vertebral da escápula, entre a espinha e o ângulo inferior
Orientação das fibras: para baixo e para fora
Acção principal: retrai a escápula
Acção secundária: estabiliza, roda e eleva a escápula
Enervação: nervo escapular dorsal C4-C5
Origem: processos espinhosos de T6-T12, vértebras lombares e sagradas, da 8ª à 12ª costela, fáscia toraco-lombar, ângulo inferior da escápula e, por vezes, lábio posterior da crista ilíaca
Inserção: lábio medial do sulco intertubercular do úmero
Orientação das fibras: para cima e para fora, em direcção ao úmero
Acção principal: aduz o braço (e a escápula)
Acção secundária: estende e roda medialmente o braço
Inervação: nervo toraco-dorsal
Origem: superfícies anteriores da 3ª à 5ª costela
Inserção: processo coracóide
Orientação das fibras: para cima e para fora
Acção principal: deprime a escápula ou eleva as costelas
Inervação: nervo torácico anterior
Origem: 1ª costela
Inserção: na clavícula, entre os ligamentos costoclavicular e conóide
Orientação das fibras: para cima e para fora, quase horizontalmente
Acção principal: estabiliza a cintura escapular
Acção secundária: deprime a cintura escapular e eleva a 1ª costela
Inervação: nervo subclávio
Fig. 1 – Aplicação da diagonal de póstero-depressão escapular
Ana Catarina Cruz Andrade
anandrade_ft[arroba]hotmail.com