Gava A., Sousa R.S., de Deus M.S., Pilati C., Cristani J., Mori A. & Neves D.S. 1999. [Phalaris angusta (Gramineae) causing neurological disease in cattle in the State of Santa Catarina, Brazil.] Phalaris angusta (Gramineae) como causa de enfermidade neurológica em bovinos no Estado de Santa Catarina. Pesquisa Veterinária Brasileira 19(1):35-38. Depto Clínica e Patologia, Centro de Ciências Agroveterinárias, Universidade do Estado de Santa Catarina, Av. Camões 2090, Lages, SC 88520-000, Brazil.
Two outbreaks of spontaneous poisoning in cattle by Phalaris angusta Nees ex Trin.("aveia louca", "aveia de sangue") are reported in cattle. The outbreaks occurred in the State of Santa Catarina, Brazil, during the winters of 1993 and 1996. In both outbreaks the animals were held in paddocks where P. angusta was a prevalent forage. Clinical signs in affected cattle included generalized tremors, alertness, hypermetria, ataxia and convulsions. Gross lesions were restricted to the brain and consisted of gray to greenish discoloration in the thalamus and mesencephalon. The disease was experimentally reproduced in cattle by administration of P. angusta.
Index terms: Phalaris angusta, poisonous plants, cattle, pathology.
São relatados dois surtos de intoxicação natural por Phalaris angusta ("aveia-louca" ou "aveia-de-sangue") em bovinos no Estado de Santa Catarina, nos invernos de 1993 e 1996. Nos dois surtos os animais estavam lotados em piquetes onde P. angusta era a planta dominante. Os sinais clínicos incluíam tremores generalizados, olhar atento, hipermetria, ataxia e convulsões. Alterações macroscópicas eram restritas ao encéfalo e se caracterizavam por coloração cinza-esverdeada no tálamo e mesencéfalo. A doença foi reproduzida experimentalmente em bovinos pela administração de P. angusta.
Termos de indexação: Phalaris angusta, plantas tóxicas, bovinos, patologia.
Uma doença em bovinos ocorreu nos invernos de 1993, no município de Capinzal e de 1996, no município de Canoinhas, Santa Catarina. Foi verificado que nas propriedades onde ocorreram os surtos, havia grande quantidade de Phalaris angusta popularmente conhecida por "aveia louca" ou "aveia de sangue". Esta gramínea foi encontrada em restevas de soja, ou associada a pastagens de aveia (Avena sativa), de azevém (Lolium multiflorum) e em lavouras de trigo (Triticum vulgare).
Phalaris spp são utilizadas em vários países na alimentação de bovinos comumente consorciadas com leguminosas. Diversas espécies deste gênero são citadas como tóxicas para bovinos e ovinos, dentre elas, P. aquatica, anteriormente denominada P. tuberosa (Kennedy et al. 1986, Bourke et al. 1987, Lean et al. 1989, Bourke et al. 1990), P. minor (Mendel et al. 1969), P. caroliniana (Nicholson et al. 1989), P. angusta (Odriozola et al. 1991), P. brachystachys (De Luco et al. 1991) e P. arundinaceae (Ulvund 1985).
São descritas duas síndromes associadas à intoxicação por Phalaris spp, uma caracterizada por morte súbita e outra por sinais clínicos nervosos. Ambas ocorrem em bovinos e ovinos. Os sinais clínicos citados na síndrome da morte súbita são de quedas repentinas, seguidas de fibrilação ventricular por alguns minutos, dificuldade respiratória e cianose das mucosas. Alguns ovinos morrem em seguida ou recuperam-se espontaneamente (Bourke et al. 1988). As alterações clínicas descritas para a forma nervosa são variáveis e consistem de paresia dos membros torácicos e pélvicos, alterações do equilíbrio, hipermetria dos membros torácicos, andar rígido, tremores musculares de intensidade variável, contrações rápidas da musculatura da face, orelhas e cauda, e decúbito esternal ou lateral. Podem ser observados ainda opistótono, ptialismo, nistagmo, espasmos tetânicos, movimentos de pedalagem, distúrbios de consciência, convulsão e coma (Nicholson et al. 1989, Bourke et al. 1990). Como lesão macroscópica é citada coloração cinza-esverdeada no sistema nervoso central, principalmente nos corpos geniculados e corpos mamilares do tálamo e na porção ventral da medula espinhal (East & Higgins 1988, Lean et al. 1989, Bourke et al. 1990). Os rins também podem apresentar pigmentação semelhante à encontrada no sistema nervoso central, distribuída difusamente na região cortico-medular e na medular (Bourke et al. 1990).
Microscopicamente, a lesão típica encontrada no cérebro e na medula espinhal, corresponde à pigmentação neuronal intracitoplasmática, marrom-amarelada. Alguns neurônios com o pigmento podem apresentar-se hipercromáticos, contraídos e necróticos. No epitélio tubular renal é descrita a presença de pigmento intracitoplasmático semelhante ao encontrado no sistema nervoso central. Ultra-estruturalmente o pigmento neuronal é observado em lisossomos e mitocôndrias sob forma de corpos lamelares concêntricos, únicos ou múltiplos, envoltos por membrana dupla (East & Higgins 1988, De Luco et al. 1991).
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