O pessegueiro no sistema de pomar compacto: I. Conjeturas, experimentação e prática

Enviado por Wilson Barbosa


 

1. INTRODUÇÃO

O sistema de formação de pomares em alta densidade de plantio vem aos poucos obtendo maior reconhecimento dos fruticultores mais evoluídos. Com a adoção desse modelo especializado de cultivo, espera-se um aproveitamento mais racional da terra, por meio do aumento da produção de frutos por área, além da redução da mão-de-obra e de outras práticas culturais. Dessa forma, torna-se possível um maior e mais rápido retorno do capital empregado, fator fundamental ao progresso de qualquer empreendimento agrícola.

A técnica revolucionária de ultra-alta densidade de plantio está sendo pesquisada em fruticultura desde o início dos anos setentas. Tal sistema foi desenvolvido inicialmente na Inglaterra para a cultura da macieira e, posteriormente, transportado com sucesso para o pessegueiro em várias regiões do mundo. Constitui hoje uma das práticas culturais de maior repercussão e importância na persicultura mundial e, em especial, nas regiões de clima subtropical.

No presente trabalho, procurou-se enfocar os fatores ecofisiológicos e fitotécnicos relacionados com o sistema de alta densidade de plantio do pessegueiro e da nectarineira, bem como o direcionamento das pesquisas básicas, aplicada e de desenvolvimento na área.

2. CONSIDERAÇÕES FITOTÉCNICAS E ECOFISIOLÓGICAS DA PERSICULTURA EM ALTA DENSIDADE POPULACIONAL

A compactação extrema de pomares de pessegueiros pode ser caracterizada pelos seguintes conceitos fitotécnicos: a) o espaçamento mínimo entre as plantas e as linhas é aquele agronomicamente mais suportável pelo cultivar, sem que, no entanto, haja competição prejudicial entre os indivíduos; b) as mudas podem ser formadas no próprio local de cultivo definitivo; c) dois metros e meio de altura das plantas deve ser o porte próximo do ideal para uma boa produção de frutos; d) a poda drástica anual constitui a maneira mais prática de manter as árvores sempre pequenas; e) as operações no pomar podem ser total ou parcialmente mecanizadas, reduzindo o trabalho manual; f) as produções anuais de frutos resultam de uma copa totalmente renovada; g) a luminosidade incidente no interior do pomar é muito similar em todos os anos, devido ao regime de desenvolvimento da copa; h) o emprego de pesticidas e adubos tornam-se mais eficientes, e i) o sombreamento causado pelas copas das plantas ajuda a manter a umidade do solo e a diminuir a presença de ervas invasoras (CAMPO DALL’ORTO et al., 1984a, b; EREZ, 1985).

No entanto, para se adotar a maior densidade de plantio, é fundamental um conhecimento prévio do nível de competição biológica que o sistema pode proporcionar às plantas. Sem um estudo preliminar detalhado da época de poda, da necessidade individual em relação a luz, água, nutrientes e outros fatores, o pomar pode não atingir o grau de uniformidade desejável e, assim, desvirtuar-se do objetivo principal, que é o aumento da produção por unidade de área.

Os fatores que implicam a competição das plantas podem ser eliminados na escolha do cultivar copa ou porta-enxerto (características vegetativas e reprodutivas), no delineamento do pomar (clima e solo predominantes, espaçamento e condução) e nos tratos culturais (poda, irrigação, nutrição, fitossanidade, capina. Pelo quadro 1 pode-se visualizar a variação do número de pessegueiros/hectare, de acordo com as diferentes combinações de espaçamentos: as densidades maiores são ideais para os cultivares anões.

Para o aperfeiçoamento da técnica de condução dos pomares em ultra-alta  densidade de plantio, pesquisas complementares devem ainda merecer especial atenção. Dentre essas, as prioritárias acham-se ligadas às áreas de melhoramento genético, de fisiologia, de propagação e de mecanização.

No que se refere ao melhoramento genético, devem ser pesquisados genótipos rústicos de melhor adaptação; há carência tanto de cultivares altamente precoces como porta-enxertos adequados.

Nesse aspecto, a Seção de Fruticultura de Clima Temperado do IAC  vem atribuindo enfoque especial às pesquisas que visam à obtenção de cultivares superprecoces, produtivos e compatíveis com esse sistema de cultivo.

Pesquisou-se recentemente o comportamento de 29 seleções de pessegueiros em ultra-alta densidade de plantio, com poda drástica anual de renovação de copa. Os espaçamentos adotados, de 3,0 x 0,5 x 0,5m (0,875m2/planta) em fileiras duplas, e de 3,0 x 0,5m (1,500m2/planta) em fileiras simples, corresponderam  às densidades de 11.428 e 6.666 plantas por hectare respectivamente. Nessas densidades populacionais, não se evidenciaram nitidamente os efeitos negativos de competição biológica entre os diferentes indivíduos. Esse fato foi comprovado pelas altas produções das seleções pesquisadas. Dos cultivares experimentados, elegeram-se, a princípio, cerca de dez mais promissoras, que se destacaram pela precocidade, alta produtividade de frutos e razoável desenvolvimento vegetativo: ‘Flordaprince’, ‘Maravilha’, ‘Jóia-1’, ‘Jóia-2’, ‘Jóia-4’, ‘Dourado-1’, ‘Ouromel-3’, ‘Doçura-2’, IAC 4974-10. Conforme se verifica no quadro 2, as suas produções variaram na faixa de 25 a 35t/há, quando em fileiras duplas, e de 20 a 30t/ha, em fileiras simples. As demais seleções foram consideradas a princípio não adequadas ao sistema de poda drástica anual, pois com ciclo de maturação precoce-mediana, não conseguiram recuperar, em tempo hábil, nova copa fisiologicamente madura. A produção média, obtida no primeiro ano de frutificação, foi equivalente à de um pomar com idade de seis a oito anos de idade, conduzido convencionalmente no espaçamento tradicional (7 x 5m) (CAMPO DALL’ORTO et al, 1984a).

 


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