Para observar a permeabilidade (maior, menor ou nula para algumas substâncias – permeabilidade selectiva) membranar e a difusão (transporte de substâncias de um meio mais concentrado para um meio menos concentrado, que ocorre simplesmente por factores físicos) de sacarídeos, glicose e amido, foi realizada uma experiência, utilizando uma tripa de porco seca como membrana.
Para tal, empregou-se o licor de Fehling, nas suas duas soluções, alcalina e cúprica. A primeira é preparada utilizando sal de Seignette (ver anexo III), hidróxido de sódio e água (cor beije clara). A segunda contém sulfato de cobre cristalizado e água (cor azul céu). O teste do licor de Fehling é positivo quando a amostra apresenta uma tonalidade cor de tijolo/acastanhada escura, quando aquecida, significando isto que se denota a existência de glicose e, negativo quando se mantém a cor azul escura.
A glicose é um monossacarídeo formado por uma cadeia ou anel de seis carbonos (representando assim, uma hexose), apresentando-se na sua forma cíclica em meio aquoso (ver anexos I e II). Demonstra função energética em diversos grupos de seres vivos.
Possui dimensões bastante reduzidas (permeando com relativa facilidade membranas – quanto mais pequena for uma partícula, mais facilmente transpassa uma membrana), apresentando assim alguma tendência para se ligar a outros monosacarídeos, especialmente a outra molécula idêntica, sendo por isso, um monoméro de inumeráveis polímeros de glícidos, como por exemplo, o amido.
Esta substância, constituida por glicose, apresenta grandes dimensões, sendo portanto, considerada como um polissacarídeo (macromolécula). Divide-se em duas formas: amilose e amilopectina. A amilose é uma forma linear de amido (ver anexo IV). A amilopectina apresenta-se ramificada em diversas cadeias interligadas entre si (ver anexo V). O Amido possui a função principal de reserva energética vegetal.
É identificada a existência de amido numa amostra através do teste do soluto de lugol ( o soluto de lugol contém iodo e iodeto de potássio). A amilose é detectada porque coreia de roxo escuro/azul escuro em presência de iodo, devido, não a uma reacção química senão, à fixação de iodo na superfície da molécula, o qual só ocorre em frio.
A membrana constituída pela tripa de porco seca é comparável em termos de permeabilidade à membrana plasmática, que constitui um objecto importante de estudo, quando relativa ao funcionamento celular, mantendo a integridade da mesma célula e permitindo a passagem exclusivamente a determinadas substâncias. Por conseguinte os fenómenos que se tentam observar, a difusão e a permeabilidade selectiva membranar, utilizando a tripa de porco, são comparáveis aos que acontecem a nível celular, mais especificamente, a nível do plasmalema.
Considero importante referir que quando as concentrações dos meios se igualam, graças à difusão, o movimento da(s) substância(s) que permeia(m) a membrana não pára, este se torna igual nos dois sentidos.
1. Foram marcados os tubos de ensaio como A1, A2, B1, B2, C1, C2, D1 e D2 e, colocados no suporte.
2. Foi atada uma extremidade da tripa de modo a formar uma saco.
3. Dita tripa, foi molhada um pouco com água destilada.
4. Foram colocados 40 mL de solução de glicose a 20% y 40 mL de solução de amido a 2 %, no interior da tripa (medidos com ajuda de provetas).
Imagem 1: Colocação da glicose (40 mL) e do amido (40 mL) na tripa.
5. Foi enchido o gobelé com cerca de 150 mL de água destilada.
6. Foram retirados 3 mL de solução do interior da tripa e, adicionados 1mL ao tubo A1 e 2 mL ao tubo B1.
7. Foram retirados 3 mL da água do gobelé e adicionados 1 mL ao tubo C1 e 2 mL ao tubo D1.
8. Foi colocada a tripa e o seu conteúdo no gobelé, segundo a seguinte figura, e foi deixado repousar durante 40 minutos.
Imagem 2: Ilustração da colocação da tripa e conteúdo dentro do gobelé (procedimento experimental).
9. Foram adicionados 0.5 mL de licor de Fehling (solução cúprica) e 0.5 mL de licor de Fehling (solução alcalina) ao tubo A1.
10. Foi adicionada uma gota de soluto de lugol ao tubo B1.
11. O tubo A1 foi aquecido, com ajuda da lamparina (mantendo-o sempre em movimento sobre a chama, e, com a boca do tubo de ensaio virada para a parede – de forma a evitar acidentes – utilizando a pinça de madeira para tubos de ensaio).
12. Foram repetidos os passos 9, 10 e 11 para os tubos C1 e D1.
13. Ao fim de 40 minutos, foram repetidos os passos 6, 7, 9, 10, 11 e 12 para os tubos 2.
Detecção da presença de glicose (teste do licor de Fehling).
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Imagem 3: Tubo de ensaio A1 (teste positivo). Imagem 4: Tubo de ensaio C1 (teste negativo).
Imagem 5: Tubo de ensaio A2 (teste positivo). Imagem 6: Tubo de ensaio C2 (teste positivo).
Determinação da presença de amido (teste do soluto de lugol).
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Imagem 7: Tubo de ensaio B1 (teste positivo). Imagem 8: Tubo de ensaio D1 (teste negativo).
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Imagem 9: Tubo de ensaio B2 (teste positivo). Imagem 10: Tubo de ensaio D2 (teste negativo).
Como foi possível verificar nos resultados, o objectivo principal, que radicava na observação da permeabilidade membranar e do fenómeno da difusão (a passagem de substâncias do meio mais concentrado – hipertónico - para o meio menos concentrado – hipotónico -, simplesmente por fenómenos físicos espontâneos) foi atingido.
A única variação em relação à análise inicial (tubos 1) é refente à verificação da existência de glicose no exterior da membrana (gobelé), o que significa que dita substância, pelas dimensões reduzidas das suas moléculas (ver anexo I), atravessou a membrana. O Amido não passou através desta pelo grande tamanho que as suas moléculas apresentam (ver anexos IV e V).
Unicamente, foi verificado que a tonalidade tomada pela amostra do interior da tripa (antes e depois dos 40 minutos), no teste do soluto de lugol, não apareceu tão azul/roxo como deveria estar (no entanto, a amostra corou o suficiente como para saber que o teste foi positivo). Isto pode ser explicado pela existência de uma pequena quantidade de amido no interior da tripa, uma vez que, ao final da experiência, encontraram-se restos da substância na respectiva proveta. Igualmente, é possível que a temperatura ambiental fosse muito elevada e, por conseguinte, o teste não pode ter a sua máxima eficácia, dado que, o soluto de lugol só produz efeito a uma temperatura relativamente baixa.
Concluída a experiência e investigação consequente, só resta ratificar que os objectivos propostos foram alcançados, observando a forma como se realiza o processo de difusão e as características da permeabilidad selectiva: quanto mais pequena for uma partícula, mais facilmente penetrará e atravassará a membrana (claro, existindo, todavia, outros factores, como a polaridade das mesmas, que não constavam nos dados a observar nesta experiência).
Como existe a "necessidade" natural de igualar as concentrações dos meios, deu-se a difusão da única substância capaz de atravassar a membrana, a glicose (não tendo em consideração a água), pelo seu reduzido tamanho, minúsculo em relação ao amido.
Afinal de contas, os resultados concordam totalmente com o que se pensava suposto acontecer, devido à teoria (tamanho das moléculas e permeabilidade; fenoméno da difusão segundo o gradiente de concentração).
Igualmente, é possível inferir que, como a membrana constituída pela tripa de porco é semelhante à membrana plasmática, o processo de difusão e o fenómeno da selecção de substâncias por intervenção de uma barreira semi-permeável, ocorre, da mesma forma, a nível celular.
Anexo I.
Anexo I: Glicose em cadeia aberta e em anel de carbono.
Anexo II.
Anexo II: Formação de aneis de carbono em glícidos.
Anexo III.
Anexo III: Sal de Seignette.
Anexo IV.
Anexo IV: Amilose (amido).
Anexo V.
Anexo V: Amilopectina (amido).
Autor:
Maycoll Ferreira Vieira
imigranteeuropeo[arroba]hotmail.com
Ponta do Sol, 16 de Novembro de 2005.