Perda de amônia por volatilização em pastagem de capim-tanzânia adubada com uréia no verão



RESUMO

Parte do nitrogênio (N) do fertilizante aplicado à pastagem pode ser perdida do sistema e, em pastagens tropicais, a volatilização de amônia (NH3) é uma das principais vias de perda. Objetivou-se, com o presente estudo, estimar a perda de N-NH3 por volatilização em pastagem de Panicum maximum cv. Tanzânia adubada com uréia durante o verão. Adotou-se um delineamento inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo e três repetições. Nas parcelas, encontravam-se as doses de N-uréia (40, 80 e 120 kg/ha de N-uréia) e, nas subparcelas, o período depois da adubação nitrogenada (1, 5 e 9 dias). A interação entre o nível de adubação e o período depois da aplicação de uréia foi significativa para as variáveis volatilização acumulada de N-NH3 e taxa diária de volatilização de N-NH3. A combinação de elevada umidade do solo, ausência de chuvas durante o primeiro dia depois da adubação e alta temperatura elevada determinaram elevadas perdas de amônia por volatilização. A perda acumulada de N-NH3 no período representou 48%, 41% e 42% do N aplicado nas adubações com 40, 80 e 120 kg/ha de N-uréia, respectivamente. A volatilização acumulada de N-NH3 (kg/ha) aumentou, enquanto a taxa diária de volatilização de N-NH3 diminuiu com o aumento do tempo depois da adubação.

Palavras-chave: fertilizante nitrogenado, Panicum maximum, pastagem

ABSTRACT

Part of the fertilizer nitrogen (N) applied to pasture may be lost from the system and, in tropical pastures, the volatilization of ammonia (NH3) is one of the major pathways of loss. The present study aimed to estimate the NH3-N volatilization loss in Panicum maximum cv. Tanzania pasture fertilized with urea during the summer. A completely randomized design, following a repeated measure arrangement, with three replicates was used. The plots were represented by urea levels (40, 80 and 120 kg/ha urea-N) and the subplots by the time after fertilization (1, 5 and 9 days). The interaction between level of fertilization and time after urea application was significant for accumulated NH3-N volatilization loss and daily NH3-N volatilization loss rate. The combination of high soil water content, lack of rainfall in the day following fertilization and high temperature determined high ammonia volatilization losses. The accumulated NH3-N loss in the period represented 48%, 41% and 42% of the applied N in 40, 80 and 120 kg/ha urea-N fertilizations, respectively. The accumulated NH3-N loss (kg/ha) increased, while the daily NH3-N volatilization loss rate decreased with the increase in time after fertilization.

Key Words: nitrogenous fertilizer, Panicum maximum, pasture

Introdução

Parte do nitrogênio (N) do fertilizante aplicado à pastagem é freqüentemente perdida do sistema, o que reduz a eficiência de uso do N aplicado e, potencialmente, diminui a lucratividade dos empreendimentos de pecuária baseados na exploração de pastagens adubadas com fertilizantes nitrogenados. Em pastagens tropicais, a volatilização de amônia (NH3) é uma das principais vias de perda, principalmente quando a uréia é aplicada a lanço e em cobertura no final do período das chuvas (Martha Jr., 1999; Primavesi et al., 2001). Embora a incorporação de uréia ao solo a 4 a 5 cm de profundidade seja efetiva na redução das perdas de N-NH3 por volatilização (Ernst & Massey, 1960; Hargrove, 1988), essa prática não é recomendada para pastagens cespitosas, porque prejudica o sistema radicular da planta forrageira, diminuindo o vigor de rebrota subseqüente da pastagem (Corsi & Nussio, 1993; Corsi et al., 2001).

Entretanto, no Brasil, os fertilizantes nitrogenados são normalmente aplicados em cobertura, sem incorporação do fertilizante no solo. Desse modo, é necessário desenvolver alternativas para reduzir as perdas e maximizar o uso do N-fertilizante nessas condições. Contudo, avanços expressivos para o entendimento do ciclo do N e para o desenvolvimento de protocolos práticos de manejo desse nutriente só serão observados quando estimativas confiáveis da perda do N aplicado forem conhecidas. Intrínseca à essa argumentação está a necessidade dessas estimativas serem realizadas em campo, uma vez que os resultados gerados em laboratório ou em casa-de-vegetação, ainda que úteis para o entendimento de alguns processos, são de aplicabilidade limitada e contestável para plantas crescendo no campo. Ressalta-se, ainda, o limitado número de estudos realizados no país com esse propósito (Martha Jr., 1999; Primavesi et al., 2001) e a inexistência de trabalhos com Panicum maximum cv. Tanzânia, forrageira amplamente utilizada em sistemas intensivos de produção de bovinos em pastagem no país.

O presente estudo foi conduzido com o objetivo de estimar as perdas de N-NH3 por volatilização em pastagem de capim-Tanzânia adubada com uréia durante um ciclo de pastejo de verão.

Material e Métodos

O experimento foi realizado em pastagem irrigada de Panicum maximum cv. Tanzânia, estabelecida em área experimental da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba-SP (altitude 580 m; 22o41'30" S; 47o38'00" W), durante um ciclo de pastejo de verão.

O padrão e a extensão de volatilização de N-NH3, em razão de diferentes doses de adubação e de períodos depois da aplicação de uréia, foram avaliados na área não vegetada de parcelas (1 m x 1 m), distribuídas aleatoriamente em um piquete de 1.333 m2. A área não vegetada, que representou 70% da superfície da pastagem, correspondeu à superfície do solo não ocupada pela área basal das touceiras. No início das avaliações, no dia seguinte à retirada dos animais dos piquetes, a massa de forragem residual foi de, aproximadamente, 3.500 kg/ha de massa seca verde e a altura desse resíduo pós-pastejo foi de cerca de 40 cm. A massa seca de material morto presente na área não vegetada ("litter") foi de, aproximadamente, 1.500 kg/ha.

O delineamento foi o inteiramente casualizado, com medidas repetidas no tempo e três repetições. Nas parcelas, encontravam-se as doses de N-uréia (40, 80 e 120 kg/ha de N-uréia) e, nas subparcelas, o período depois da adubação nitrogenada (1, 5 e 9 dias). O tratamento controle (0 kg/ha de N) foi considerado como branco (i.e., as perdas de N-NH3 que ocorrem no sistema sem a influência do fertilizante nitrogenado) e usado para corrigir as perdas de N-NH3 nas adubações com 40, 80 e 120 kg/ha de N. Detalhes adicionais do protocolo experimental foram apresentados por Lara Cabezas & Trivelin (1990) e Lara Cabezas et al. (1999).

Algumas características climáticas registradas no período correspondente ao experimento de volatilização de N-NH3 (10/01 a 19/01) são apresentadas na Tabela 1.

Durante o experimento, a umidade do solo na camada de 0 a 20 cm de profundidade representou 90 a 105% da capacidade de campo, equivalente a -10 kPa. Por ocasião da instalação dos tratamentos (adubação nitrogenada; 10/01), verificou-se que, na superfície, o solo mostrava-se encharcado (presença de poças d'água). Detalhes adicionais da área experimental foram apresentados por Martha Jr. (2003).

O solo da área experimental era um Podzólico Vermelho-Escuro (Argissolo vermelho) de textura argilosa, cujas principais características químicas podem ser descritas como: matéria orgânica - 25 g/kg; pH (CaCl2) - 5,1; P (resina) - 19,1 mg/dm3; K - 4,2 mmolc/dm3; Ca - 41 mmolc/dm3; Mg - 21 mmolc/dm3; H + Al - 35 mmolc/dm3. A correção e a adubação do solo foram previamente feitas para se atingir 70% de saturação por bases, 20 mg/dm3 de P no solo e proporção de K no solo de 3 a 5% da CTC, conforme sugerido por Corsi & Nussio (1993). Adicionalmente ao N, cada parcela foi adubada com 10 kg/ha de enxofre na forma de sulfato de sódio.

Uma solução de uréia (500 mL da solução contendo o fertilizante seguida por mais 500 mL de água), de acordo com os tratamentos, foi aplicada às parcelas, com pulverizador comum de líquidos, no início da manhã do dia seguinte à saída dos animais do piquete (10/01). A eficiência de adubações nitrogenadas nas formas líquida e sólida tem sido equiparável. Watson et al. (1992) observaram que a aplicação superficial de uréia em pastagem de Lolium perenne, na forma líquida, não resultou em menores perdas de amônia por volatilização, em comparação com a uréia aplicada em forma granulada. De maneira semelhante, Volk (1959) observou que as perdas de N-uréia aplicada superficialmente em pastagem de Cynodon dactylon, na forma de solução, foi similar às perdas da uréia aplicada na forma de grânulo.

As medidas de volatilização de N-NH3 foram realizadas por meio de coletores semi-aberto estáticos (Lara Cabezas et al., 1999), que foram locados na área não vegetada da parcela, logo depois da aplicação dos tratamentos. Os coletores de N-NH3 utilizados nesse experimento foram descritos detalhadamente por Lara Cabezas & Trivelin (1990).

Resumidamente, os coletores consistiram-se de uma estrutura tubular de PVC transparente flexível (0,35 m de altura x 0,144 m de diâmetro interno x 1 mm de espessura), montada sobre suportes de PVC aleatoriamente colocados na área não vegetada da parcela (dois coletores por parcela) e enterrados no solo a profundidade de 3 a 5 cm. Na união do suporte com o coletor, utilizou-se massa para calafetar, com o objetivo de vedar as superfícies do suporte e do coletor, a fim de evitar que o N-NH3 que volatilizava do solo fosse perdido para fora do coletor. Na extremidade oposta ao solo, colocou-se um chapéu de PVC transparente, para evitar a incidência de chuvas no interior do coletor.

 


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