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Patogenicidade de Beauveria Bassiana Vuill. ao Ácaro Tetranychus urticae Koch (página 2)

Júlio Marcos Melges Walder

 

MATERIAL E MÉTODOS

Os testes foram conduzidos em câmara B.O.D. a 25 ± 2°C, 70 ± 5% UR e 12 horas de fotofase. Foram utilizadas fêmeas adultas recém-emergidas do ácaro T. urticae, multiplicado em condições de laboratório sobre plantas de feijão-de-porco, Canavalia ensiformis (L.) DC. (Dicotiledonea: Fabaceae). O patógeno utilizado foi o isolado 447 do fungo B. bassiana, obtido de Solenopsis invicta (Hymenoptera: Formicidae), e que se encontra armazenado no Banco de Patógenos do Laboratório de Patologia e Controle Microbiano de Insetos, do Departamento de Entomologia da ESALQ/USP, em freezer a 12°C negativo na forma de conídios puros.

Inicialmente, foram preparados discos de folha de C. ensiformis de 2,5 cm de diâmetro, usando-se um vazador circular de metal e folhas tenras e bem desenvolvidas de plantas com 15 a 20 dias de idade. Os discos, foram então inoculados com o patógeno por meio de imersão em 10 ml de suspensão do fungo, por 30 segundos, em diferentes concentrações. As suspensões, foram preparadas com conídios do patógeno mais água destilada e espalhante adesivo (Tween 40Ò) a 0,1%. Após a inoculação, 12 discos foram transferidos para dentro de uma placa de Petri de 15 cm de diâmetro, contendo duas camadas de papel de filtro circular sobre uma espuma de polietileno umedecida. Os discos foram colocados com sua face abaxial voltada para o papel de filtro. Em seguida, a placa de Petri foi colocada em câmara de fluxo laminar, por aproximadamente uma hora, para secagem da suspensão de conídios presente na face adaxial do disco. Cada disco foi então infestado com 15 fêmeas de T. urticae, sendo após doze horas, retirados os ácaros mortos e o excedente, de forma a deixar apenas 10 ácaros por disco. A placa foi mantida aberta dentro da B.O.D. e os discos não foram trocados durante todo o período de observação. A espuma de polietileno foi mantida permanentemente umedecida, permitindo a conservação dos discos de folha.

As concentrações utilizadas foram 5x106, 1x107, 5x107, 1x108, 5x108 e 1x109 conídios/ml. O teste com cada concentração foi constituído por uma placa de Petri, sendo cada disco uma repetição, totalizando-se assim doze repetições/tratamento.

As avaliações foram realizadas uma vez ao dia, anotando-se as mortalidades diárias (total, confirmada e corrigida) em cada disco da placa. A mortalidade corrigida foi calculada pela formula de Abbott (1925), enquanto que a mortalidade total e confirmada corresponderam a porcentagem de ácaros mortos e esporulados de cada tratamento, respectivamente. Para a confirmação da morte pelo patógeno, os ácaros mortos foram lavados em álcool 70%, por 5 minutos, e posteriormente colocados em câmara úmida. A câmara úmida consistiu em uma caixa plástica hermética, com espuma umedecida no fundo.

No segundo e quarto dia após a infestação, foram retirados os ovos e teias produzidas pelos ácaros, através de um pincel de poucos pêlos, assegurando-se assim, um ambiente mais favorável aos ácaros.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O isolado 447 de B. bassiana mostrou-se patogênico ao ácaro T. urticae, apresentando aumento nos valores de mortalidade acumulada (total, corrigida e confirmada) à medida que a suspensão de conídios utilizada, se tornou mais concentrada (TABELA 1). Em nenhuma das concentrações testadas, houve mortalidade de ácaros até o segundo dia após o contato com os conídios.

Nas seis concentrações utilizadas, os valores de mortalidade corrigida ao sexto dia foram inferiores a 50%, sendo observada apenas na concentração de 1x109 conídios/ml, mortalidade total superior a 50%. Nas duas concentrações menores, 5x106 e 1x107 conídios/ml, as mortalidades total e corrigida no mesmo período, não alcançaram 10 e 2%, respectivamente, correspondendo a uma mortalidade inferior a 1 ácaro/disco de folha. Quando foram utilizadas as concentrações de 5x107 e 1x108 conídios/ml, os valores de mortalidade corrigida e confirmada foram muito semelhantes entre si, sendo de aproximadamente 20 e 15%, ao sexto dia, respectivamente (TABELA 1).

Nas duas maiores concentrações, 5x108 e 1x109 conídios/ml, os valores de mortalidade corrigida e confirmada ao sexto dia foram de aproximadamente 34 e 48%, e de 23 e 28%, respectivamente. Estes valores indicam uma diferença considerável entre os tratamentos quanto à mortalidade corrigida, entretanto, foram menores quando se faz a comparação entre os valores de mortalidade confirmada (TABELA 1). Isto ocorreu, porque poucos ácaros mortos confirmaram a mortalidade pelo fungo ao terceiro dia após o contato com os conídios, momento em que houve o primeiro pico de mortalidade na concentração de 1x109 conídios/ml de suspensão.

Para todos os tratamentos, o que se observou foi uma baixa patogenicidade do isolado 447 de B. bassiana para fêmeas recém-emergidas de T. urticae, mesmo em concentrações muito elevadas, como 1x109 conídios/ml. Esta concentração apresenta limitações práticas para a sua utilização, como a dificuldade de homogeneização dos conídios na suspensão, devido à elevada quantidade de conídios necessária para sua preparação. Por outro lado, nas concentrações de 5x107 e 1x108 conídios/ml, a eficiência foi muito baixa, não superando 15 e 30% de mortalidade confirmada e total, respectivamente, aos seis dias após a inoculação (TABELA 1).

No desenvolvimento de um programa de controle microbiano de pragas, é de fundamental importância, a utilização de linhagens e/ou isolados apropriados do agente biológico. Para isso, é importante contar com um banco de isolados devidamente preservados e com variabilidade genética comprovada, para então, iniciar o programa a partir da seleção dos materiais mais promissores.

A variabilidade genética entre isolados de uma mesma espécie de fungo é amplamente relatada na literatura. Muitos dos trabalhos conduzidos para espécies de interesse entomológico foram feitos com Metarhizium anisopliae (Metsch.) Sorokin e B. bassiana, em muitos casos, como testes iniciais visando à utilização em programas de controle microbiano.

Os resultados deste trabalho mostraram que apesar de patogênico, o isolado 447 de B. bassiana não é eficiente para o controle de T. urticae. Assim, faz se necessário avaliar outros isolados de B. bassiana quanto a sua patogenicidade para T. urticae, como parte de um amplo trabalho que visa selecionar isolados promissores deste fungo, com qualidades que lhes permita futuramente serem utilizados como micoacaricidas.

 

CONCLUSÃO

O isolado 447 de Beauveria bassiana é pouco patogênico para fêmeas recém emergidas de Tetranychus urticae.

 

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos).

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Marco Antonio Tamai1*; Sérgio Batista Alves1; Pedro Janeiro Neves2
sebalves[arroba]esalq.usp.br
1Depto. de Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola - ESALQ/USP, C.P. 9 - CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.
2Depto. de Agronomia - UEL, C.P. 6001 - CEP: 86051-970 - Londrina, PR



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