Artigo original: "R. Bras. Zootec., Jun 2005, vol.34, no.3, p.796-806. ISSN 1516-3598"
Foram utilizados 263.390 registros de produção de leite no dia do controle (PDC) de 32.448 primeiras lactações de vacas da raça Holandesa com parto no período de 1991 a 2001, para estimar componentes de variância e parâmetros genéticos utilizando um modelo animal e a metodologia REML. Os dados de produção foram coletados pelo Serviço de Controle Leiteiro da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa e suas afiliadas estaduais e disponibilizados pela Embrapa Gado de Leite. O modelo para ajuste da produção de leite até 305 dias (P305) incluiu os efeitos fixos de rebanho-ano de parto, época do parto e idade da vaca ao parto, com termos linear e quadrático, e os efeitos aleatórios de animal e erro. Os mesmos efeitos foram incluídos no modelo para as produções de leite no dia do controle (PDC) tanto sob modelo uni- e bi-caráter como sob modelo de repetibilidade (MRS), exceto para o efeito fixo de grupo contemporâneo, definido por rebanho-ano-mês do controle. Alternativamente, ajustou-se um segundo modelo de repetibilidade (MRF), que além dos efeitos presentes no MRS, incluiu as covariáveis que descrevem a curva da lactação: dias em lactação (DEL)/305 e ln(305/DEL) com termos linear e quadrático. As estimativas de h2 para as PDC, com MRS e MRF foram 0,43 e 0,30, respectivamente. As estimativas de herdabilidade (h2) para as PDC variaram de 0,22 (PDC1) a 0,36 (PDC4) com o modelo uni-caráter. Para o modelo bi-caráter, as estimativas variaram de 0,23 (PDC1) a 0,33 (PDC3 e PDC4). Em ambos os modelos, observaram-se valores inferiores de h2 no início e no fim do período de lactação. A estimativa h2 para a P305 com o modelo uni-caráter foi 0,27, enquanto, pelo modelo bi-caráter, estas estimativas variaram de 0,27 a 0,30. As correlações genéticas (rg) entre as PDC e a P305 foram altas, variando de 0,86 (PDC1 e P305) a 0,99 (PDC3 e P305). Estimativas de herdabilidade maiores para as PDC que para a P305 e a alta correlação com a mesma indicam potencial de uso das PDC nas avaliações genéticas de animais da raça Holandesa no Brasil. Embora predominantemente altas, as estimativas de rg entre as PDC não foram homogêneas (0,64-1,0); entretanto as maiores freqüências foram para valores próximos ou iguais a 1. Assim, modelos de regressão aleatória devem ser também avaliados para se concluir sobre a melhor utilização das PDC da raça Holandesa no Brasil.
Palavras-chave: análise bi-caráter, componentes de variância, modelo de repetibilidade, parâmetros genéticos, produções de leite do dia do controle
Covariance components for test day records and lactation milk yield using 263.390 records of 32.448 first lactation Holstein cows, were estimated using animal models by REML. Besides the lactation model, two alternative repeatability models (RM) were analyzed. Lactation model included fixed effects of herd-year-season and age of cow with linear and quadratic terms, and random effects of animal and error. The first model for test-day yield (RMF) included the same effects, but fixed effect of contemporary group, defined as herd-year-month of test. Alternatively another model for test-day yield (RMF) used a logarithmic polynomial sub-model for the shape of the lactation curve. Heritability for lactation yield (0.27) was smaller than those estimated by RMF and RMS, 0.30 and 0.43, respectively. Heritability estimates for univariate (0.22-0.36) and bivariate models (0.23-0.33) for test day milk yields were found to be smallest during early and late lactation. Heritability estimate for lactation milk yield when estimated by univariate model (0.27) was smaller than estimates obtained by bivariate models (0.27-0.30). Genetic correlations were higher between consecutive test days than between test days in the beginning and end of lactation. Larger heritability estimates for test day models and large genetic correlations between test day and lactation yield (0.86-0.99) indicate a potential use of test day records in genetic evaluations.
Key Words: genetic evaluation, genetic parameters, milk yield, multivariate analysis, selection, test day model, variance components
A produção de leite até 305 dias (P305) é o indicador zootécnico geralmente utilizado para as comparações entre vacas nas decisões de manejo e descarte nos rebanhos leiteiros. A P305 é calculada usando os registros de produção provenientes dos controles leiteiros, que são realizados em intervalos aproximadamente mensais.
A utilização da P305 nas comparações entre os animais requer o seu ajuste para os efeitos de rebanho, ano de parto, época de parto, duração da lactação, entre outros. Entretanto, estes efeitos são considerados em termos médios, pois são definidos com base na data do parto.
Uma alternativa à utilização da P305 seria o uso da produção de leite no dia do controle (PDC). Este procedimento possibilita um ajuste mais preciso para os efeitos de ambiente temporário, visto que ele permite ajustar para os efeitos presentes em um dado dia ou mês de controle (Ptak & Schaeffer, 1993; Swalve, 1995), viabiliza o uso de mais dados de um mesmo animal e o uso de dados de animais com lactações em andamento ou parciais, sem necessidade de cálculo da P305, possibilitando-se avaliações genéticas mais freqüentes e redução do intervalo de gerações (Olori, 1997).
Em virtude do uso de mais dados de uma mesma vaca, as avaliações com base nas PDC, quando comparados àquelas utilizando a P305, podem ser mais confiáveis, o que é evidenciado pelas maiores estimativas de herdabilidade obtidas para as PDC (Visscher & Goddard, 1995; Strabel & Szwaczkowski, 1997). Neste contexto, Ptak & Schaeffer (1993) indicam a necessidade de considerar, no modelo de ajuste, a forma da curva de lactação, que pode ser incorporada usando coeficientes de regressão do caráter, em função do número de dias em lactação (DEL).
Outra consideração sobre os modelos para o ajuste das PDC refere-se à formação dos grupos contemporâneos. Danell (1982) recomenda o agrupamento de todas as vacas de determinado rebanho-data do controle. Em vários estudos (Reents et al., 1995; Swalve, 1995; Pösö et al., 1998; Rekaya et al., 1999), as estimativas de herdabilidade foram maiores quando os grupos contemporâneos foram definidos como rebanho-data do controle que quando definidos como rebanho-estação de parto. Isto também é observado quando se compara as estimativas de herdabilidade obtidas para as PDC àquelas obtidas para a P305 (Swalve, 1995; Strabel & Szwaczkowski, 1997; Ferreira et al., 2003), sugerindo maior confiabilidade nas estimativas dos valores genéticos dos animais. Neste contexto, o uso de modelos para o ajuste das PDC em substituição aos modelos para o ajuste da P305 tem sido investigado por vários autores (Van Tassell et al., 1992; Reents, et al., 1995; Rekaya et al., 1995; Wiggans & Goddard, 1997; Vargas et al., 1998).
Entre as alternativas para estimar componentes de variância e parâmetros genéticos adotando-se as PDC, o ajuste do modelo de repetibilidade (MR) caracteriza-se como a mais simples. O MR assume variâncias genéticas aditivas e de ambiente permanente constantes ao longo da lactação e correlações genéticas e de ambiente permanente entre as produções de uma mesma vaca iguais a um. Alguns estudos têm mostrado que correlações genéticas entre as PDC, dentro da primeira lactação, são próximas a um (Gadini, 1997; Gadini et al., 1998; Machado et al., 1998, Rekaya et al., 1999).
Pode-se, também, considerá-las como caracteres correlacionados e, então, analisá-las como medidas repetidas. Embora não assuma nenhuma estrutura de covariância entre os registros sucessivos, este procedimento é computacionalmente mais exigente, e, mesmo assim, é necessário conhecer a magnitude das covariâncias entre as PDC na lactação e entre as covariâncias e a P305, para avaliar a potencialidade e a estratégia de sua utilização nos procedimentos de seleção.
Alguns estudos desta natureza (Swalve, 1995; Machado, 1997; Rekaya et al., 1999) têm permitido concluir que estimativas de herdabilidades são menores para as produções do início e fim do período de lactação, em razão de menores estimativas de variância genética aditiva e de maiores estimativas de variâncias residuais para as PDC nestes períodos da lactação. De modo geral, estes resultados sugerem que as PDC podem ser usadas na seleção dos animais em substituição à P305. Entretanto, a escolha dos controles a serem utilizados deve considerar as estimativas de herdabilidade para as PDC e as estimativas de correlação genética entre as PDC e a P305. Assim, as PDC que apresentam maiores herdabilidades e maiores correlações genéticas com a P305 seriam as preferidas nos processos de seleção (El Faro, 2002).
Os mesmos estudos têm mostrado que as correlações genéticas entre as PDC e P305 são superiores no período intermediário da lactação quando comparadas àquelas do período inicial e do período final da lactação (Swalve, 1995; Rekaya et al., 1999), embora Rekaya et al. (1995) e Machado (1997) tenham relatado estimativas de correlações genéticas superiores entre PDC e P305 no início e fim da lactação.
Objetivou-se, neste estudo, estimar componentes de covariância e parâmetros genéticos, empregando modelos de repetibilidade, uni e bi-caráter, para o ajuste das produções de leite no dia do controle e para a produção de leite até 305 dias de primeiras lactações de vacas da raça Holandesa.
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