Orientação familiar para dependentes químicos: perfil, expectativas e estratégias

Enviado por Ronaldo Laranjeira


RESUMO:

Este trabalho procura mostrar uma alternativa de Orientação Familiar, segundo o modelo cognitivo, que tem por objetivo incrementar a qualidade nas relações do grupo, orientando sobre condutas mais adequadas para a família, obtendo ganhos tanto para os familiares, bem como para a recuperação dos dependentes.

O trabalho é desenvolvido em seis sessões semanais, com temas previamente estabelecidos, possuindo uma duração de 75 minutos, na qual são reunidos um ou mais membros de cada família, totalizando ao máximo oito famílias. Contamos com uma amostra de 146 famílias atendidas no ambulatório da UNIAD (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas) da UNIFESP/Escola Paulista de Medicina – Depto de Psiquiatria, durante o período de 1995 à 1998, sendo o dependente (álcool ou drogas) usuário do programa de tratamento ou não. Será descrita a população participante em termos de dados demográficos, tratamentos realizados para os familiares e dependente, expectativas em relação ao grupo de orientação familiar, formas que a família encontra para auxiliar o dependente e motivos para este ter desenvolvido a dependência.

UNITERMOS: Família, Dependência Química, Álcool, Drogas, Orientação

Family Orientation for Chemically Dependent Patients: family profiles, expectations and strategies

Abstract

This article describes a form of Family Orientation using concepts from cognitive therapy aimed at improving the quality of the relationship between the patient and his or her family, by orientating the family towards more appropriate responses to the patient's addictive behaviours.

The intervention takes place over 6 weekly sessions each lasting about 75 minutes, with one or more family members participating up to a maximum of 8 families. Each session is based on a predetermined topic, although families also have the opportunity to raise their own concerns. One hundred and forty-six families were treated at UNIAD (Alcohol and Drug Research Unit) of the Federal University of São Paulo from 1995 up to 1998, irrespective of whether the dependent family member was also undergoing treatment at the same institution. The results presented concern the sociodemographic details of the families that attended, their expectations in terms of the treatment offered, the coping strategies that they had already developed, how these strategies had developed, beliefs about why their family member had develpoed substance abuse and a description of the interventions suggested during the sessions.

Key words: Family intervention, Alcohol, Substance Misuse, Counselling

INTRODUÇÃO

A abordagem familiar em dependência química teve início em 1940, com a criação dos grupos de Al-Anon por parte dos Alcoólicos Anônimos. A partir desta época o tema passou a receber maior atenção, sendo encontrados aproximadamente 400 estudos entre o período de 1954 à 1978 (18) e pelo menos o dobro deste número até 1988 (8; 17; 12).

Em 1981, Wegsheider (22) introduziu o conceito de co - dependência, caracterizado por uma obsessão familiar sobre o comportamento do dependente e seu bem-estar, onde o controle do consumo alcoólico passa a ser o eixo da organização familiar (4) .

A abordagem sistêmica trouxe o conceito do paciente identificado, no qual o sistema familiar faz o pedido: "ajude-nos a mudar o paciente sem interferir em nossas relações". Este pedido, de certo modo, reflete que a pessoa sintomática parece ficar aprisionada num papel em que a família resiste às mudanças (1).

A literatura aponta a importância da família na reabilitação do dependente. Em estudo de seguimento com narcóticos em tratamento hospitalar, no estado de Nova York, foi encontrada a porcentagem de 90% de pacientes com idade ao redor de 22 anos, que após a alta voltavam a morar com suas respectivas mães, enquanto 59% dos pacientes na faixa de 30 anos voltavam a morar com as mães ou parentes, como avós ou irmãs (21). Goldstein et al. (7) situaram que os dependentes químicos tendem a utilizar o lar como um ponto de referência constante em suas vidas. Estudo com homens usuários de cocaína ou opiáceos, na faixa etária de 30 a 42 anos, mostrou que 82% mantinham um contato constante com sua família de origem por telefone ou pessoalmente e que em 60% dos casos, o pai era ausente na infância. Tal fato pode ter criado a necessidade prematura na criança em assumir responsabilidades adultas, contribuindo para a iniciação no consumo de drogas (3).

Na realidade, a abordagem familiar em dependência química como modalidade de tratamento é recente. Vários modelos de atuação estão em operação, sendo que a maioria dos terapeutas familiares vem descobrindo a sua própria mistura, utilizando uma gama de idéias e práticas diferentes (2). Indiscutivelmente, a família é um fator crítico no tratamento e sua abordagem é um procedimento fundamental nos programas terapêuticos (9). Contudo, até o momento não foi estabelecida uma abordagem de maior eficácia nesta área.

Na década de 90 houve rápido crescimento das terapias focadas na solução, onde o objetivo não é examinar as causas da doença ou disfunção, e sim enfatizar as soluções (5). Este método parece ser facilmente aprendido e aparentemente traz resultados rápidos porque se concentra no problema, sendo de maior aceitação para as famílias e dependentes, pois não atribui responsabilidades implícitas. Os sintomas são tratados como se existissem e funcionassem simultaneamente no indivíduo e entre os indivíduos. Neste contexto, o terapeuta utiliza o "reenquadramento", onde os problemas da família ou do paciente são colocados numa estrutura de significados, oferecendo novas perspectivas e possibilitando novos comportamentos. Não deve existir a preocupação da neutralidade analítica, necessitando que o terapeuta fique mais próximo do grupo , utilizando-se de orientações, informações, sugestões, incentivos, proibições, entre outros.

O que as pessoas esperam de uma terapia breve ou de um grupo de apoio depende do quanto elas estão envolvidas e afetadas com a situação do uso de drogas, podendo ocorrer variações entre diversos tipos de pessoas, culturas, subculturas e grupos étnicos. Logo, o tipo de suporte pode ser decidido com referência neste tipo de envolvimento, mas em geral é esperado (11):

  • Fazer com que as pessoas sintam-se mais contentes e felizes, menos preocupadas e ansiosas e consigam visualizar atividades, sentimentos ou situações positivas, reestabelecedoras de sua saúde mental;
  • Não estar sempre zangado ou frustrado, demonstrando capacidade de falar sobre seus sentimentos. Ao abrir um espaço para falar sobre estes, as pessoas envolvidas tornam-se mais conscientes de suas reações de violência, podendo evitá-las;
  • Não falar o tempo todo sobre drogas, mantendo um diálogo saudável sobre outros aspectos da vida;
  • Trabalhar a sensação de que nada pode ser feito ou sensação de estar amarrado. Perceber que existe a possibilidade de fazer algo ou simplesmente aceitar o fato de que não pode fazer nada em determinadas situações;
  • Tentar fazer o melhor pela família e para si mesmo, levando em conta as necessidades de todas pessoas envolvidas;
  • Estar apto para ouvir, pois muitas vezes o simples fato de ouvir pode ser terapêutico. Ser capaz de contar aos outros o que pode ser feito e não ficar chateado quando as coisas não acontecerem conforme o esperado;
  • Estimular a capacidade de sair e se divertir, sem sentir culpa por ter bons momentos, tornando as pessoas aptas para realizar atividades fora do lar.

Tendo em mente algumas destas idéias, foi organizado o serviço de Orientação Familiar, desenvolvido durante o acompanhamento ambulatorial de dependentes químicos de um serviço público. Vale ressaltar que não era condição necessária o paciente estar em acompanhamento. Em alguns casos a família deu continuidade ao tratamento, enquanto os pacientes o abandonaram.

O objetivo deste trabalho é apresentar os dados iniciais da criação de um serviço de orientação familiar para dependentes químicos na unidade, segundo o modelo cognitivo. Este grupo foi criado devido a necessidade de acolher familiares de dependentes/usuários de drogas ou álcool, que por vezes procuravam os terapeutas devido: 1- Recaídas dos dependentes; 2- Desistência do tratamento; 3- Condutas que dificultavam a recuperação do paciente (Ex.: dar dinheiro, fiscalizar, desconfiar e vigiar ostensivamente, entre outros); 4- Ansiedade no trato com o dependente/usuário no lar.

 


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