RESUMO. O nitrogênio é um elemento fundamental nos programas de adubação, embora sua inclusão nem sempre conduza a um diferencial de produtividade na cultura do feijão, Phaseolus vulgaris L. (Leguminosae-Faboideae). O trabalho foi desenvolvido em duas safras, procurando verificar a influência de concentrações de uréia, (0, 30, 60, 90 e 120 g . L-1), em duas pulverizações e níveis de nitrogênio em cobertura, (0, 25, 50 e 75 kg . ha-1), no feijoeiro irrigado. O delineamento utilizado foi blocos casualizados, esquema fatorial 5x4, com quatro repetições. As semeaduras foram realizadas mecanicamente em 06/05/1997 e 08/06/1998, utilizando os cultivares Pérola e IAC Carioca, respectivamente. Em área considerada de baixa resposta, não houve efeito do N aplicado via foliar ou no solo na produtividade. Em área com incorporação de material com alta relação C/N, a aplicação de nitrogênio via foliar aumentou a produtividade, enquanto a aplicação no solo proporcionou aumento no teor de N foliar, massa de 100 sementes e produtividade.
Palavras-chave: Phaseolus vulgaris, feijão, nitrogênio, aplicação foliar.
ABSTRACT. Leaf and soil nitrogen on common bean crop. Almost every fertilization program has nitrogen, but its application does not always lead to increase in grain yield on bean crop, Phaseolus vulgaris L. (Leguminosae-Faboideae). This study was conducted in order to verify the urea rate (0, 30, 60, 90 and 120 g . L-1) applied via leaf, twice, and the covering N rate (0, 25, 50 and 75 kg . ha-1) on irrigated bean crop. A randomized complete block design, in a factorial scheme 5x4, with 4 replications was used.
The seeding was accomplished mechanically on 06/05/1997 and 08/06/1998 with the ‘Pérola’ and ‘IAC Carioca’ cultivars, respectively. In low response area to N, there was no effect of N applied neither on leaf nor soil. In area with incorporation of crop residue (high C/N), the N applied on leaf increased the grain yield. The N applied on soil provided increase on N leaf content, 100 seed weight, and grain yield.
Key words: Phaseolus vulgaris, common bean, nitrogen, leaf application.
No Brasil, a cultura do feijão tem apresentado baixas produtividades, devido a fatores como clima desfavorável, falta de controle fitossanitário e adubação desequilibrada, os quais muitas vezes são decorrentes da falta de recursos financeiros dos produtores. Atualmente a irrigação tem possibilitado a produção de feijão em épocas em que os preços são mais favoráveis, dando segurança para que investimentos sejam adotados.
Muitas vezes o insucesso no cultivo do feijoeiro é determinado pela adubação nitrogenada inadequada (Guerra et al., 2000). O nitrogênio é o nutriente absorvido em maior quantidade pelo feijoeiro, podendo chegar a 2,46 kg/ha/dia no período do florescimento (Gallo e Miyasaka, 1961), ou 200 kg/ha/safra (Haag et al., 1967). A planta apresenta deficiência de nitrogênio quando ocorrem teores menores que 20 g de N . kg-1 de matéria seca apresentando, além de outros sintomas, folhas com coloração verde-pálida e amarelada, e produção de sementes menores e em menor número (Oliveira et al., 1996). Carvalho et al. (1999) citaram que a adubação nitrogenada é imprescindível para a obtenção de boas produtividades. Assim, Carvalho et al. (1992) recomendaram a aplicação de 90 kg de N . ha-1; já Silveira e Damasceno (1993) recomendaram uma dose menor (72 kg de N ha-1), para que se obtenha a máxima produtividade. Franco (1977) afirmou que o fornecimento de nitrogênio mineral via solo em regiões tropicais pode apresentar baixa freqüência de resposta devido a perdas do nutriente.
Este problema é ainda mais acentuado em solos arenosos, pobres em matéria orgânica ou muito ácidos (Duque et al., 1985; Embrapa, 1990). Tais perdas ocorrem principalmente através de lixiviação e desnitrificação (Gamboa et al., 1971). No caso do feijoeiro, Boaretto e Rosolem (1987) preconizaram a adubação foliar como complemento à adubação tradicional, principalmente de nitrogênio, com o objetivo de reduzir o efeito das perdas do nutriente no solo. A eficiência do fornecimento de nutrientes via foliar é geralmente maior que o fornecimento via solo, acarretando economia de fertilizantes (Rosolem, 1987). Entretanto, segundo Rosolem (1996), dificilmente se poderá nutrir a planta adequadamente por via foliar, pois a aplicação de grandes quantidades de nutriente pode causar fitotoxidade. Desta forma, de acordo com Bulisani et al. (1973), fica plenamente justificado o prosseguimento dos estudos sobre a adubação foliar, pelo promissor aumento alcançado na produtividade (26% em relação à testemunha), pela facilidade de aplicação e custos relativamente baixos, principalmente se a pulverização com fertilizantes for associada a defensivos.
O trabalho teve como objetivos verificar o efeito da aplicação foliar de nitrogênio na cultura do feijão "de inverno", Phaseolus vulgaris L. (Leguminosae- Faboideae), na região de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, bem como as possíveis interações dessa prática com a adubação nitrogenada em cobertura, via solo, em áreas de baixa e alta resposta à adubação nitrogenada.
O experimento foi conduzido por dois anos em área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira - Unesp, localizada no município de Selvíria (MS), apresentando como coordenadas geográficas 51º 22’ de longitude oeste de Greenwich e 20º 22’ de latitude sul, com altitude de 335 metros. Através do levantamento detalhado do solo, efetuado por Demattê (1980), assim como, utilizando-se do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 1999), o solo do local é um LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico argiloso. A precipitação média anual é de 1.370 mm, a temperatura média anual é de 23,5o C e a umidade relativa do ar está entre 70 e 80% (média anual).
As características químicas do solo foram determinadas antes da instalação dos experimentos, seguindo metodologia proposta por Raij e Quaggio (1983), e os resultados estão apresentados na Tabela 1. No primeiro ano, o experimento foi instalado em área anteriormente cultivado com milho colhido antes da maturação, sendo retirado da área a planta inteira, destinada à alimentação animal. Essa ausência de material orgânico de alta relação C/N pode caracterizar a área como de baixo potencial de resposta à adubação nitrogenada. Em 1998, a área do experimento também teve como cultivo anterior a cultura do milho. Entretanto foi realizada a colheita apenas dos grãos, sendo os restos da cultura incorporados ao solo através das operações de preparo para o feijão.
O solo foi preparado através de uma aração e duas gradagens, sendo a primeira, logo após a aração e a segunda realizada às vésperas da semeadura. A semeadura foi realizada mecanicamente no dia 06 de maio de 1997, utilizando-se o cultivar Pérola e, no dia 08 de junho de 1998, utilizando-se o cultivar IAC Carioca, no espaçamento de 0,5 m entrelinhas e densidade de 12 - 13 sementes viáveis por metro. A adubação básica, nos sulcos de semeadura, foi realizada levando-se em consideração as características químicas do solo e as recomendações de Ambrosano et al. (1996a), sendo aplicados, no primeiro ano, 220 kg . ha-1 da formulação 4-30-10 + 0,4% de zinco e, no segundo ano, 240 kg . ha-1 da formulação 4-20-20 + 0,4% de zinco. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com 4 repetições em esquema fatorial 5x4 envolvendo diferentes concentrações de uréia (0, 30, 60, 90 e 120 g . L-1) em solução, aplicadas via foliar após as 16:00 horas, nas seguintes fases de desenvolvimento das plantas (Fernandez et al., 1992): primeira aplicação, na fase vegetativa V4 (emissão da 3ª folha trifoliolada) e a segunda aplicação, na fase reprodutiva R5 (préfloração) e diferentes níveis de nitrogênio (0, 25, 50 e 75 kg . ha-1) aplicados em cobertura (via solo), aos 20 dias após a emergência das plantas, como uréia.
As parcelas foram constituídas, no primeiro ano, por 6 linhas de 5,5 m de comprimento, sendo consideradas úteis as 4 linhas centrais e, no segundo ano, por 5 linhas de 6,0 m de comprimento, sendo consideradas úteis as 3 linhas centrais, desprezando-se 0,5 m em ambas as extremidades de cada linha. Para o controle de plantas daninhas, no primeiro ano, foi aplicado herbicida em pré-plantio-incorporado (trifularin - 800 g . ha-1 de i.a.) e, aos 27 dias, após a emergência, realizou-se o cultivo com tração animal, com o objetivo de eliminar as plantas daninhas não atingidas pelo herbicida. No segundo ano, o controle químico foi realizado com o mesmo herbicida (dose de 890 g. ha-1 de i.a.) e, aos 18 dias após a emergência, realizouse pulverização com outro herbicida, em pósemergência (bentazon - 720 g . ha-1 de i. a.), para eliminar as plantas daninhas não atingidas pela aplicação em pré-plantio-incorporado. As irrigações foram realizadas por aspersão convencional (no 1º ano) e por pivô central (no 2º ano). Os demais tratos culturais utilizados foram os recomendados à cultura do feijão de inverno para a região.
Foram realizadas as seguintes avaliações: a) massa da matéria seca das plantas, (por ocasião do florescimento pleno foram coletadas, em local prédeterminado na área útil de cada parcela, oito plantas que foram levadas ao laboratório, lavadas, acondicionadas em sacos de papel devidamente identificados e colocados para secagem em estufa de ventilação forçada à temperatura média de 60 - 70ºC, até atingir peso em equilíbrio); b) teor de nitrogênio total das folhas (no florescimento pleno foram coletadas as folhas de 4 plantas de cada parcela), que, uma vez lavadas e colocadas para secagem em estufa de circulação forçada de ar a 60- 70oC, por 72 horas, foram moídas em moinho do tipo Wiley para posterior digestão sulfúrica, conforme metodologia proposta por Sarruge e Haag (1974); c) número de vagens/planta; d) número médio de grãos/vagem; e) massa de 100 sementes e f) rendimento de sementes.
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