Nitrogênio em cobertura no feijoeiro cultivado em plantio direto

Enviado por Orivaldo Arf


RESUMO

O cultivo do feijoeiro em sistema plantio direto apresenta diferenças na dinâmica de nutrientes, principalmente do N, requerendo mais informações para o seu manejo adequado. O trabalho foi realizado em um Latossolo Vermelho distrófico, em Selvíria (MS), e teve como objetivo avaliar o efeito de doses e épocas de aplicação de N sobre a produtividade do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.). O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, em esquema fatorial 3 x 5, constituído pela combinação de três épocas de aplicação (15, 30 e 15 + 30 dias após a emergência) e cinco doses (0, 35, 70, 105 e 140 kg ha-1 de N) do fertilizante nitrogenado (uréia) em cobertura, com quatro repetições. A aplicação de N em cobertura, aos 15 e, ou, 30 dias após a emergência, proporcionou acréscimos nos componentes da produção, até à dose de 140 kg ha-1 (maior dose), acarretando aumento da produtividade do feijoeiro irrigado em sistema plantio direto.

Termos para indexação: Phaseolus vulgaris L., época de aplicação, doses, uréia, produtividade.

SUMMARY

Nutrient dynamics of common bean grown under no-tillage system presents some particularities, requiring additional information for its adequate management. The present study was carried out on a typic Haplustox, in Selvíria County, MS, Brazil, with the objective of evaluating the effect of different levels and periods of nitrogen application on common bean (Phaseolus vulgaris L.) yield. A randomized complete block design in a 3 x 5 factorial scheme, with four replications was used. Treatments consisted of sidedressing urea at five doses (0, 35, 70, 105, and 140 kg ha-1 of N) at three different periods (15, 30, and 15 + 30 days after plant emergence). The sidedressing nitrogen application up to the highest dose (140 kg ha -1) at 15 and/or 30 days after plant emergence led to an increase in the number of pods per plant, grains per pod, 100 grain weight and grain yield of irrigated common bean in no-tillage system.

Index terms: Phaseolus vulgaris L., application period, doses, urea, yield.

INTRODUÇÃO

A manutenção de resíduos culturais na superfície do solo no plantio direto proporciona aumento da retenção de água e maior proteção do solo contra o impacto direto das chuvas (Igue, 1984). A pouca movimentação do solo e a grande quantidade de resíduos deixados em sua superfície, nesse sistema, diminuem significativamente as perdas de solo por erosão, tendo, como conseqüência, a melhoria das condições físicas, químicas e biológicas no solo que irão repercutir na sua fertilidade e na produtividade das culturas (Moody et al., 1961; Wutke et al., 1993).

No cultivo do feijão (Phaseolus vulgaris L.), vem crescendo a adoção do sistema plantio direto. Entretanto, nesse sistema, a taxa de mineralização da matéria orgânica é mais lenta, quando comparada à do sistema onde é feita a incorporação dos resíduos, pelo fato de os resíduos vegetais permanecerem na superfície do solo (Merten & Fernandes, 1998; Gonçalves & Ceretta, 1999), o que tem acarretado menor disponibilidade de N às plantas, desde a fase de instalação até a estabilização do sistema (Soratto et al., 2001; Silva et al., 2002; Soratto et al., 2004). Além disso, a dose de N na adubação do feijoeiro pode estar condicionada ao tipo de resíduo vegetal (gramínea ou leguminosa) na superfície do solo, já que palhada com elevada relação C/N, característica da maioria das gramíneas, proporciona maior imobilização de N para sua decomposição (Ceretta et al., 2002). Tem sido constatada a deficiência de N nesse sistema de cultivo (Balbino et al., 1996), fazendo-se necessária a antecipação da adubação e a utilização de maiores doses, considerando a insuficiente quantidade de nutriente que o solo fornece para o feijoeiro (Soratto et al., 2001, 2004), principalmente quando cultivado em sucessão a gramíneas.

O feijoeiro é considerado uma planta exigente em nutrientes em decorrência do sistema radicular superficial e ciclo curto (Rosolem & Marubayashi, 1994), devendo os nutrientes ser colocados à disposição da planta, em tempo e locais adequados. A adubação nitrogenada deve ser realizada de modo a propiciar uma boa nutrição da planta em época que ainda favoreça o aumento do número de vagens por planta, isto é, até o início do florescimento, já que a nutrição mineral afeta diretamente a fixação de flores de vagens (Portes, 1996). Miyasaka et al. (1963) recomendam aplicação do N em cobertura até 20 dias após a emergência das plântulas (DAE). Outros trabalhos indicam que o aproveitamento do adubo é maior quando a cobertura é realizada até 36 DAE (Rosolem, 1987). Soratto et al. (2001) verificaram que em feijoeiro cultivado em sistema plantio direto, após a cultura do milho, a aplicação do N em cobertura aos 15 DAE proporcionou maior massa de matéria seca das plantas no florescimento e maior produtividade de grãos, quando comparado com a aplicação realizada aos 35 DAE.

Por ser um nutriente que apresenta grande dinâmica no sistema solo-planta, o manejo adequado do N é tido como um dos mais difíceis (Santos et al., 2003), sendo essencial, para a obtenção de altas produtividades que este nutriente seja colocado à disposição da planta em tempo e locais adequados (Carvalho et al., 2001). A aplicação de N mineral nos solos tropicais pode resultar, às vezes, em baixa freqüência de resposta pela cultura do feijão (Vieira, 1998; Piaskowski et al., 2001). Conforme Rosolem (1987), têm sido obtidas respostas do feijoeiro ao N aplicado, de maneira generalizada no Brasil, embora a freqüência e a amplitude de resposta variem de região para região, e ainda dentro da mesma região de acordo com o clima, condições fitossanitárias e manejo da cultura. Dessa forma, técnicas de manejo que possibilitem a maximização de absorção de N pelo feijoeiro são de extrema importância, em razão do alto custo dos fertilizantes nitrogenados e das perdas de N por lixiviação, que podem representar riscos ao ambiente pela contaminação de mananciais de água (Santos et al., 2003).

A maioria das informações da literatura faz referência à aplicação de N em feijoeiro cultivado com preparo convencional do solo, sendo escassas as pesquisas a respeito do sistema plantio direto. O trabalho objetivou verificar a resposta da cultura do feijão a diferentes doses e épocas de aplicação do fertilizante nitrogenado em cobertura, em sistema plantio direto.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram realizados no período de outono-inverno, dos anos de 1999 e 2000, na área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia UNESP, Campus de Ilha Solteira, localizada no município de Selvíria (MS), apresentando coordenadas geográficas de 51 ° 22 ' de longitude Oeste e 20 ° 22 ' de latitude Sul e altitude de 335 m. A precipitação média anual de 1.370 mm encontra-se distribuída principalmente no período de outubro a janeiro e com déficit hídrico entre fevereiro e outubro. A temperatura média anual é de 23,5 °C e a umidade relativa do ar situa-se entre 70 e 80 % (média anual).

As características químicas do Latossolo Vermelho distrófico típico argiloso (Embrapa, 1999), foram determinadas antes da instalação dos experimentos, segundo método proposto por Raij & Quaggio (1983) (Quadro 1).

O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, em esquema fatorial 3 x 5, com quatro repetições. Os tratamentos foram constituídos por três épocas de aplicação do adubo nitrogenado em cobertura (todo aplicado 15 dias após a emergência das plântulas (DAE), todo aplicado 30 DAE, e dividida metade aos 15, metade aos 30 DAE) e cinco doses de N (0; 35; 70; 105 e 140 kg ha-1 de N) aplicados em cobertura, tendo como fonte a uréia. As doses de N foram 0,0, 0,5, 1,0, 1,5 e 2,0 vezes o preconizado para o Estado de São Paulo por Ambrosano et al. (1997), considerando o solo como sendo de alta resposta à adubação nitrogenada e expectativa de produtividade de grãos entre 2,5-3,5 t ha-1.

A adubação básica de semeadura constou da aplicação, em todos os tratamentos, no primeiro ano, de 230 kg ha-1 da fórmula-NPK 08-28-16 e, no segundo ano, de 240 kg ha-1 de fórmula-NPK 04-30-10. As semeaduras foram realizadas mecanicamente, em 25/05/99 e 27/06/2000, utilizando o cultivar IAC Carioca em sistema de semeadura direta, em solo recoberto com palhada de milho. Utilizou-se espaçamento entrelinhas de 0,45 m e 12 sementes viáveis por metro de sulco. As parcelas foram constituídas por seis linhas de 5 m, sendo consideradas, como área útil, as quatro linhas centrais, desprezando-se 0,5 m em ambas as extremidades.

Nas adubações de cobertura, o adubo foi distribuído sobre a superfície do solo ao lado e aproximadamente 10 cm das fileiras de plantas. As irrigações foram realizadas por meio de um sistema de irrigação convencional por aspersão com precipitação média de 3,3 mm h-1. Após as aplicações de N, foram feitas irrigações em todo o experimento, aplicando-se uma lâmina d'água de 5 mm, visando minimizar perdas por volatilização.

O controle das plantas daninhas que surgiram na área foi efetuado por meio de duas aplicações seqüenciais do herbicida fluazifop-p-butil + fomesafen (100 + 125 g ha-1 do i.a.). Durante o desenvolvimento da cultura, foram realizados os demais tratos culturais e fitossanitários, recomendados para a cultura do feijão.

Foram feitas as seguintes avaliações: (a) matéria seca da parte aérea das plantas: por ocasião do florescimento pleno, coletando-se 10 plantas de cada parcela, que foram colocadas em estufa com circulação forçada de ar a 60–70 °C, até atingir massa constante; (b) teor de N total nas folhas: foram coletadas todas as folhas de cinco plantas de cada parcela no florescimento pleno e colocadas em estufa com circulação forçada de ar a 60–70 °C, por 72 h, e, em seguida, moídas e submetidas à análise, conforme método descrito em Malavolta et al. (1997); (c) componentes da produção: por ocasião da colheita dos grãos em 10 plantas por parcela, determinaram-se o número de vagens/planta, o número de grãos/vagem e a massa de 100 grãos; (d) produtividade de grãos: em duas fileiras da área útil, de cada parcela, as plantas foram arrancadas e deixadas para secar em pleno sol e, em seguida, submetidas à trilha manual. A umidade dos grãos foi corrigida para 0,13 kg kg-1.

Os resultados foram submetidos à análise de variância. As médias das épocas de aplicação foram comparadas pelo teste t a 5 %, enquanto os efeitos das doses de N foram avaliados pela análise de regressão, adotando-se, como critério para escolha do modelo, a magnitude dos coeficientes de regressão significativos a 5 % pelo teste t. As características agronômicas do feijoeiro foram submetidas à análise de correlação simples, visando determinar o grau de associação entre elas.

 


Página seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.