Etimologicamente pelo menos, o mundo digital começa nos dedos de nossas mãos. Números contados nos dedos (digitus = dedo em latim), daí dígitos, digital. Um mundo traduzido em números e apenas dois números, seqüências de zeros e uns 100111100010011111101001011.
Um mundo convertido em bits (binary units), unidades mínimas de um sistema binário de numeração, - sim/não, ligado/desligado. Nosso entorno digitalizado é desmaterializado, fragmentado, tornado fluxo em redes telemáticas (telecomunicações + informática), armazenado em memórias eletrônicas, recriado e recombinado em múltiplas interfaces: telas de computadores, terminais de bancos, telinhas de celulares, ou mesmo em suportes mais antigos, como as telas dos cinemas ou o próprio papel.
Os efeitos especiais espetaculares das super-produções cinematográficas são produzidos digitalmente e muitos filmes são agora totalmente "rodados" em suporte digital (uma forma de dizer arcaica, sobrevivência de nosso imaginário mecânico, pois no fazer digital nada "roda"). Praticamente não existe hoje um só jornal no mundo que não seja inicialmente composto digitalmente para, só num segundo momento, ser impresso e circular como objeto sólido e material.
Este texto e o livro no qual ele está incluído foram digitalmente compostos.
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Na Internet, este texto seria um hipertexto. Na escrita hipertextual não há um caminho único, pré-determinado. A leitura torna-se não linear ou multilinear. Cada clic do mouse sobre um link ou hiperligação, à escolha do leitor, leva a um novo texto ou lexia.
Este texto também pode ser lido dessa forma.
CLIC....
Leia a lista de palavras a seguir e descubra o que elas têm em comum:
ciberespaço, web, rede telemática, www, spam hipertexto, site, sítio, mouse, chips, interface, clicar, navegar, página, deletar, disponibilizar, fazer um download, teclar, hackear, E-mail, correio eletrônico, formatar, abrir uma janela, digitalizar, scanear, intranet, Internet, disquete, vírus, vacina, online/offline, CD-Rom, hiperlink, endereço eletrônico, homepage, cibercultura, hiperficção, mecanismo de busca, postar, copiar e colar, menu, fórum, programa, arquivo, favoritos, sala de bate-papo, atalho....
Agora acompanhe esta breve descrição das desventuras de um jovem internauta:
"Hoje cedo, surfando na Web, abri meu sítio de MP3 e descobri que a home estava hackeada. Invasão primária, coisa de larva ou lamer. Mas desconfiei que pudessem ter me presenteado com um cavalo de Tróia. E não deu outra: era um Trj/Small.B. Não dou sorte com vírus.Tive que reformatar a página. Aproveitei para disponibilizar uns links novos, deletar os que estavam quebrados e atualizar o menu principal. Ficou bala! Cliquei no atalho do meu mail. Só tinha spam. Já ia entrar no chat para teclar com a galera e saber das baladas quando a conexão, que já estava em lag desde ontem à noite, deu pau de vez. Realmente tenho que trocar de provedor. Navegar assim é nenhuma...T+"
Mesmo se desconsiderarmos as gírias correntes neste início do século XXI e que podem ser facilmente deduzidas a partir do contexto, como "galera", "bala", "dar pau", "balada", "é nenhuma" e "T+" (Teh Mais = tchau), tanto a lista de palavras quanto a breve descrição das desventuras de um internauta na Web seriam quase totalmente incompreensíveis para qualquer pessoa há trinta, vinte anos. Muitas palavras seriam familiares e até comuns mas, de alguma forma, o sentido geral da mensagem escorregaria, ou soaria futurista e totalmente ficcional. A razão é simples: essas palavras e expressões foram criadas ou ganharam novos significados entre o final dos anos 60 do século XX e os dias atuais.
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Antes da digitalização do mundo, atalho era apenas um caminho mais curto, geralmente uma estradinha de terra; vírus um termo médico; se alguém falasse em teclar provavelmente teria em mente um piano ou máquina de escrever; as janelas costumavam ter ferrolhos e cortinas; os menus eram usados apenas em restaurantes; os sítios eram lugares onde se passava o fim de semana, colhendo frutas e metendo os pés na lama, na companhia de patos, galinhas e carrapatos.
Já estamos tão ambientados na nova cultura que todos os termos acima, em suas novas acepções, passaram a ser parte do imaginário e do vocabulário de qualquer pessoa medianamente informada. Exceto, é claro, quando se trata do jargão restrito a tribos e sub-culturas muito específicas, como as dos hackers e crackers. Entre eles, um lamer é um iniciante nas artes do hacking, ou seja, na arte de quebrar códigos, derrubar firewalls e invadir, remotamente, computadores e redes de comunicação; um larva é um ex-lamer, que já tem algum conhecimento e parte para suas aventuras de hacking. Firewalls são programas de proteção que tentam barrar a ação dos hackers. Tanto hackers quanto crackers têm grandes conhecimentos de informática, mas de uma forma geral, os crackers são considerados "do mal" (espionagem internacional, vírus, fraudes com cartões de crédito, destruição de informações etc) e os hackers nem sempre. Deu para entender? Se não, há uma série de sítios sobre o assunto, listados no final deste artigo.
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"O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Quase tudo
Mas ele é mudo
O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda."
(Gilberto Gil -1969)
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Gilberto Gil é ex-aluno da Escola de Administração da UFBA e tem sítio na Internet em http://www.gilbertogil.com.br/
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A transição para a chamada Sociedade da Informação é fortemente marcada pela coincidência histórica, a partir de finais dos anos 60 e meados dos anos 70, de três processos independentes :
a) Revolução nos costumes (anos 60) com surgimento e florescimento de movimentos sócio-culturais como o Feminismo, Ecologismo, Direitos Humanos, Gay Liberation etc e as reações por eles produzidas;
A interação desses três processos e as reações a eles produziram uma nova estrutura social dominante: Sociedade da Informação, Sociedade das Redes, com uma economia de tipo novo, informacional e global e uma cultura assentada no digital e no virtual.
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A nova economia, consolidada nas duas últimas décadas do século XX, caracteriza-se pela globalização, flexibilidade organizacional, maior poder da administração sobre o processo de trabalho, enfraquecimento do poder sindical, contração do Estado do Bem Estar Social.Trata-se de um novo tipo de capitalismo: mais endurecido em seus objetivos e mais flexível em seus meios, que sistematicamente exclui territórios e populações "sem valor", ou seja, sem possibilidade imediata de incorporação ao mercado, como consumidores de bens e serviços. A exclusão abrange segmentos de sociedades, áreas de cidades e até países inteiros.
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Juntamente com as transformações econômicas que marcam as décadas finais do século XX, começa a emergir um novo tipo de cultura, caracterizada por uma situação em que a própria realidade (a experiência simbólica/material das pessoas) é inteiramente captada, totalmente imersa em uma composição de imagens virtuais do mundo. As representações não apenas se encontram na tela comunicadora da experiência, mas se transformam na própria experiência. Todas as mensagens de todos os tipos são incluídas no meio porque este fica tão diversificado, tão maleável, que absorve no mesmo texto de multimídia toda a experiência humana, o passado, o presente e o futuro. Essa cultura da virtualidade real, como foi denominada e descrita pelo sociólogo Manuel Castells, é a cultura do mundo digital.
O computador mudou, a partir dos anos 90, de instrumento de trabalho para ferramenta usada para produção de conteúdos culturais que, uma vez criados, podem ser armazenados e distribuídos em um meio apropriado. No fim da década, com a popularização da Internet, o computador tornou-se uma máquina de mediação universal usada para criar, armazenar, distribuir e acessar todas as mídias.
O termo interface cultural é usado para descrever uma interface homem-computador-cultura. Um jogo de computador, um Webjornal ou o sítio de uma banda de rock são exemplos de interfaces culturais.
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O advento da Sociedade da Informação é usualmente descrito em termos de grandes rupturas na área da Comunicação Social. No entanto, se observarmos bem, veremos que, como em todo processo histórico, temos não só novidades e desvios de curso, mas também muitas continuidades e algumas potencializações de elementos já pré-existentes.
Apesar da emergência da cultura digital, continuamos a ler livros e jornais de papel. Uma enciclopédia já era um objeto hipertextual, dois séculos antes da Internet. O rádio não substituiu o impresso, como a televisão não substituiu o rádio, nem a fotografia acabou com a pintura ou o cinema com a fotografia. Não há um processo evolucionário de caráter linear e simplista, mas uma conjugação de tecnologias de comunicação que, muito mais que substituírem-se umas às outras, convivem e redefinem suas articulações.
A televivência, ou seja a capacidade de vivenciar o mundo à distância (do grego tele=longe), que já conhecíamos através do uso do rádio, da televisão e da própria escrita, potencializa-se enormemente. A Comunicação Mediada por Computador (CMC) em conjugação com a criação de uma rede mundial de computadores inteligados, a Internet, produz a passagem do PC (computador pessoal) ao CC (computador conectado).
Uma rupura evidente refere-se aos lugares de emissor e receptor de mensagens, claramente definidos nas formas de comunicação anteriores. No rádio ou na televisão há uma emissora ou um canal e uma massa de ouvintes ou telespectadores. Na Internet os pólos de emissão e recepção deixam de ser fixos. Pode-se não só acessar, mas também disponibilizar informação. Ocorre a chamada liberação do pólo de emissão, possibilitando uma multiplicidade de vozes e discursos simultâneos. Esta é uma diferença fundamental com relação aos meios de comunicação de massa e uma das características centrais da cibercultura (cibernética + cultura). Cibercultura é a cultura de conectividade generalizada. Cibercultura é a cultura da interatividade. Cibercultura é a cultura dos fluxos, da simultaneidade, da instantaneidade. Entre outras coisas.
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Na medida em que as tecnologias de comunicação possibilitam a interatividade e a participação dos indivíduos como produtores de informação e não apenas como consumidores, é de se esperar que seu volume cresça. Pela primeira vez na história da humanidade, fala-se em excesso e não em escassez de informação. No mundo digital é muito fácil produzir, reproduzir (Ctrl C/ Ctrl V, copiar e colar) e transformar informação. O número de sítios na Internet cresceu de cerca de 19 mil, em agosto de 1995, para 50 milhões, em maio de 2004. Como cada sítio tem, em geral, muitas páginas, o número de http:// s, de endereços eletrônicos (URLs) na Web anda pela casa dos bilhões. Os jornais online comerciais, que eram pouco mais de 20 em 1994, já chegavam a mais de mil em 1996 e superavam a casa dos cinco mil em 2002.
Estamos nos acostumando tanto à necessidade de garimpar informação, quanto de nos proteger contra ela. Na Web usamos motores ou instrumentos de busca (search engines) como o Google, Altavista, Yahoo. E Deus sabe como eles ainda são ineficientes! Inversamente, colocamos filtros em nossos programas de correio eletrônico para diminuir o número de spams, aquelas mensagens comerciais não solicitadas, que invadem também nossas caixas de correio tradicionais e atazanam nossa vida através do telemarketing telefônico ("Alô, boa tarde, é o Sr. Marcos? Nós temos uma promoção especial do Banco Méphitique que está oferecendo um cartão de crédito grátis, blá, blá, blá, blá...)
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Num ambiente digital como a Internet ocorre um fenômeno que contribui para o acúmulo de informações: mensagens efêmeras, como notícias sobre um show ou o lançamento de um livro, que em outros suportes simplesmente desapareceriam (onde estão os outdoors do ano passado? onde vão parar os volantes distribuídos nas calçadas?) ou iriam para um arquivo. Na Internet elas continuam disponibilizadas, sem qualquer hierarquia com relação a informações mais atuais ou permanentes.
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A crescente comunicação entre pesquisadores em todo o mundo, agiliza a circulação e a troca da produção científica, sua apropriação, crítica e portanto a geração de mais informação. O projeto Genoma Humano, que em 2001 resultou na publicação do sequenciamento genético do DNA humano, envolveu milhares de cientistas, em centenas de laboratórios em todas as partes do mundo, num esforço conjugado que foi grandemente acelerado e viabilizado pela troca de dados através de redes digitais. Cada vez mais a produção científica é disponibilizada na Net, em sítios especializados e periódicos eletrônicos (e-journals), tornando-se acessível a pesquisadores fisicamente distantes uns dos outros, em espaços de tempo muito mais curtos do que através de sua disseminação em congressos ou publicações de tipo tradicional. Cada vez mais a atividade científica se torna, verdadeiramente, um esforço de colaboração universal.
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A liberação do pólo de emissão, com a polifonia resultante, faz crescer exponencialmente o volume de informação disponível. A quantidade total de informação produzida no mundo dobrou de 1999 a 2002 e aumenta 30% a cada ano.
O primeiro grande estudo dedicado a medir quanta informação há no mundo, realizado na Universidade de Berkeley, estima que, em 2002, foram produzidos e estocados cinco hexabytes de dados de todos os tipos, somente em meios físicos (papel, filme, meios óticos e magnéticos). Que diabos é isso? Cinco hexabytes equivalem a cinco milhões de terabytes; uma locadora de vídeos de tamanho médio guarda em torno de oito terabytes de vídeo. Um byte equivale a 8 bits, portanto um terabyte equivale a oito trilhões de bits (binary digits). Um bit é a menor unidade de informação no mundo digital, equivalendo a um 0 ou 1 (desligado/ligado), numa sequência numérica binária.Tudo muito confuso? Para simplificar: cinco hexabytes equivalem aproximadamente ao conteúdo de 500 mil bibliotecas do Congresso Nacional dos Estados Unidos, cada uma delas com 19 milhões de livros e 56 milhões de manuscritos.
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As redes digitais inviabilizaram ou dificulturam ao extremo o exercício da censura. A situação vivida durante o regime militar no Brasil, quando as notícias sobre resistência política, torturas e assassinatos cometidos pela ditadura simplesmente não circulavam, é praticamente impossível hoje, com o uso da Internet e seus recursos.
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O fenômeno do excesso de informação deve ser cuidadosamente qualificado. À medida em que avançam as tecnologias de recuperação de informação (robots de busca, filtros mais sofisticados) menos teremos a sensação de excesso. Por outro lado, a preservação da memória se coloca como um problema seríssimo a ser enfrentado no mundo digital. Como manter registros de nossa cultura em meio a tal profusão de vozes e discursos (polifonia) e tal multiplicação de fontes? Como identificar o que é informação confiável e informação falsa ou enviesada? O que deve ser guardado e o que deve ser descartado? Quem deve decidir sobre isso? Por quanto tempo devem ser preservadas as gravações de conversas telefônicas (responsáveis por uma altíssima proporção de toda a informação armazenada no mundo), considerando-se que elas podem ter funções legais e de segurança? Essas gravações devem ser feitas? Quando e por quem? Em que suportes físicos (Cd-Roms, discos rígidos de computadores?) estocar a memória, possibilitando alta capacidade de armazenamento e, ao mesmo tempo, confiabilidade e durabilidade?
Seja como for, no caso da informação, antes excesso de que escassez...
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É muito difícil calcular-se o número exato de usuários na Internet, em virtude de seu crescimento rápido e contínuo, e da inexistência de uma metodologia de pesquisa confiável e universalmente aceita para as estimativas. Pode-se, por exemplo, fazer uma contagem de computadores conectados à Web, ou dos endereços de e-mails registrados. A dificuldade é que um único computador conectado pode ser usado por várias pessoas e, inversamente, uma única pessoa pode ter muitos e-mails. Alguns especialistas chegam a afirmar que estatísticas sobre a Internet não passam de educated guesswork, ou seja um processo de adivinhação sofisticado e bem informado.
Até 2005, segundo algumas projeções, a Internet deverá se aproximar da marca de um bilhão de pessoas conectadas em todo o mundo.
CRESCIMENTO DO NÚMERO DE USUÁRIOS NA INTERNET |
||
Ano |
Usuários |
% pop. Mundial |
|
26 |
0,63 |
|
55 |
1,34 |
|
101 |
2,47 |
|
150 |
3,67 |
|
201 |
4,78 |
|
377,65 |
6,22 |
|
552,41 |
8,50 |
|
605,60 |
9,70 |
|
852 |
13,3 |
10. (População Mundial em setembro de 2003 ~ 6,37 Bilhões) |
(Fonte: Nua Internet Surveys http://www.nua.ie/surveys/how_many_online/
Mês de base para tabela: Setembro. Dado de 2003 da E-Consulting
http://www.e-consultingcorp.com.br/index_1024.htm
Dados a para PopulaçãoMundial: http://www.ibiblio.org/lunarbin/worldpop)
O rápido crescimento da Internet pode ser melhor dimensionado quando comparamos o tempo decorrido para que as diversas tecnologias de comunicação ultrapassassem 50 milhões de usuários: 38 anos para o rádio, 16 para o computador pessoal, 13 para a televisão e apenas quatro anos para a Internet.
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Apesar de que centenas de milhões de pessoas estejam conectadas via Internet, isso representa apenas pouco mais de 10% da população mundial. E esses usuários estão distribuídos de maneira tremendamente desigual. Em 2001, apenas 4% dos internautas eram latino-americanos e 85% estavam concentrados no Brasil, Chile, Argentina e México. Enquanto isso, mais de 50% dos holandeses, suecos e dinamarqueses estavam conectados. Os Estados Unidos devem atingir a marca de 200 milhões de internautas até o final de 2004. A população norte-americana que acessa a Net (53%) gasta, em média, 25 horas online em casa e outras 74 horas no trabalho, mensalmente. No entanto, também lá, há vastas camadas excluídas, especialmente entre os negros e os latinos. A exclusão digital somou-se a outras exclusões já existentes: educação, saúde, habitação, alimentação. Mais de um sexto da população mundial -18%, o que corresponde a cerca de 1,1 bilhão de pessoas-, não tem acesso a fornecimento de água potável. Quase 40% não dispõem de saneamento básico. Metade dos habitantes do planeta nunca usou um telefone.
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Não é apenas a troca de mensagens que caracteriza a Internet. Sua descrição como "um novo meio de comunicação" é empobrecedora. Ela certamente funciona como um meio de comunicação. Através dela trocamos mensagens pessoais, como faríamos usando um telefone ou escrevendo uma carta, e podemos ler jornais e boletins informativos de todos os tipos. Mas isso não é tudo.
Quando se entra no sítio de uma rádio online, que reproduz através da Internet a programação que está transmitindo "ao vivo" através de ondas hertzianas, complementando-a com fóruns de ouvintes, possibilidade de compras online dos produtos anunciados, disponibilização de arquivos sonoros e visuais etc, podem estabelecer-se, nesse mesmo sítio, aberturas para ações sociais que vão além do acesso à informação.
O acionamento dos recursos de comércio eletrônico (e-commerce, e-business), que permitem a compra online de um CD anunciado ao final de uma resenha musical, caracteriza uma ação de caráter individual, envolvendo decisões psicológicas e cálculos de custo/benefício de âmbito pessoal, mas gerando efeitos sociais externos à pessoa do comprador, como movimentações bancárias, emissão de notas fiscais e de circulação de mercadorias, cobrança de cargas tributárias, pagamento de direitos autorias, acionamento de sistemas de empacotamento, de entrega etc.
Ao ouvir The Last Time I saw Paris na rádio online, posso sentir-me romântico por lembranças despertadas pela música e experimentar o impulso de supreender minha esposa levando-a para um jantar à luz de velas. Isso me impelirá, através de rápidas operações de busca, a avaliar e selecionar um restaurante (tendo inclusive acesso a seus menus e fotos de seus pratos principais), reservar uma mesa, encomendar e pagar flores, mandar um e-mail solicitando à babá que reserve seus serviços para nós esta noite, programar um táxi para recolher-nos em nossa residência a uma determinada hora. Ou mesmo, quem sabe (se meu crédito bancário permitir), comprar uma passagem aérea para a França, reservar um automóvel no aeroporto de Orly, uma suite num hotelzinho romântico no Boulevard San Michel e uma mesa no restaurante Tour d’Argent, após um show no Moulin Rouge.
Tudo isso, navegando na mesma rede que momentos atrás eu usava apenas para ouvir uma rádio online. A Internet é, simultaneamente, local e global, ou glocal. A Internet talvez seja melhor caracterizada como um ambiente sócio-técnico de comunicação, informação e ação. Mas esta é apenas uma possível definição, entre muitas.
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Criar meu web site
Fazer minha home-page
Com quantos gigabytes
Se faz uma jangada
Um barco que veleje
(...)
Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
(...)
(Gilberto Gil – 1996)
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As redes telemáticas e sócio-técnicas não se limitam à Internet. O termo ciberespaço se originou no livro de ficção científica Neuromancer, escrito pelo norte-americano William Gibson, em 1984, onde foi descrito como "uma alucinação consensual", criada pela conexão de todos os computadores do mundo, na qual bilhões de pessoas se deixavam submergir.
O ciberespaço de nossa realidade, neste início de século XXI, é muito mais amplo que o WWW (World Wide Web). Ele inclue a Internet e vários outros tipos de conexões digitais: interligações via satélites, redes de telefonia fixa e móvel, muitíssimas intranets privadas, ligando grupos fechados ou empresas, bolsas de valores, instituições bancárias, órgãos governamentais, grupos criminosos e terroristas internacionais, instituições militares etc, às quais não se tem livre acesso.
Além disso, crescentemente as tecnologias de rede incorporam-se ao nosso cotidiano, tornando-se "invisíveis" e confundindo-se com próprios equipamentos urbanos coletivos que nos rodeiam. Elas estão presentes em sistemas de controle de tráfego nas grandes cidades, possibilitando um melhor fluxo do transporte coletivo e evitando congestionamentos; inteligando centros médicos e permitindo diagnósticos à distância; conectando a rede bancária e facilitando saques e operações bancárias no terminal 24 horas na esquina de nossas casas; dinamizando e otimizando a oferta de vagas e a matrícula em escolas públicas; possibilitando que entreguemos via Internet nossa declaração de imposto de renda; dando acesso a informações sobre atividades culturais em nossa cidade a partir da telinha de um celular.
Usos socialmente adequados das tecnologias digitais nos equipamentos coletivos e no próprio tecido de nossas cidades, com geração de benefícios para o conjunto dos cidadãos, é também uma forma de se promover a inclusão digital e social.
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As tecnologias, incluindo naturalmente as digitais, não são unidirecionais, nem têm uma dinâmica própria e pré-determinada de desenvolvimento. A criação e o uso de tecnologias são processos sociais. É preciso cuidado com o pensamento enviesado pelo determinismo tecnológico, que nos leva a raciocinar em termos de uma suposta "neutralidade da técnica" e a concentrar esforços em estudar seus "impactos" na sociedade. Toda tecnologia é apropriada diferencialmente pelas sociedades. A apropriação e o uso da Internet são muito diferentes no Brasil, na Noruega ou no Nepal. As formas dessa apropriação são, em grande medida, atos políticos. Faz uma grande diferença, por exemplo, usar ou não usar softwares livres, - que não dependem de pagamento de licenças a multinacionais e podem ser modificados de acordo com nossas necessidades específicas -, em computadores de órgãos governamentais e empresas públicas. Nossa maneira de ver, de compreender as tecnologias é essencial para decidirmos nossos modos de usá-las.
Ou não usá-las.
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Bibliografia minimalista para saber mais sobre o Mundo Digital :
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Sítios essenciais para começar a explorar o Mundo Digital:
Marcos Palacios
gjol[arroba]ufba.br