RESUMO. A utilização de práticas culturais mais adequadas permite aumentar a produtividade bem como melhorar a qualidade dos grãos produzidos pelas culturas. Assim, o trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar o efeito de manejos do solo (grade pesada + grade niveladora; escarificador + grade niveladora; plantio direto) e da aplicação de nitrogênio, em diferentes épocas de desenvolvimento da cultura do arroz de terras altas, sendo conduzido no município de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, durante os anos agrícolas 2001/02 e 2002/03, em solo do tipo Latossolo Vermelho distrófico, originalmente sob vegetação de cerrado. O manejo do solo praticamente não interfere nos componentes do rendimento de engenho do arroz de terras altas irrigado por aspersão, com os preparos do solo com grade aradora ou escarificador proporcionando produtividade semelhante. A adubação nitrogenada na semeadura e/ou no perfilhamento proporciona maior produtividade de grãos em relação à testemunha sem nitrogênio.
Palavras-chave: Oryza sativa L., preparo do solo, plantio direto, fases de desenvolvimento.
ABSTRACT. Soil management and time of nitrogen application on upland rice crop.
The appropriate management of crops allows to increase the productivity as well as to improve grains quality produced by crops. This study aimed at evaluating the soil management (heavy disk + leveling disk; disk plow + leveling disk; no-till) and nitrogen application at different growth stages on upland rice crop under sprinkler irrigation conducted in Selvíria, Paraná, in the agricultural years 2001/02 and 2002/03. The soil used was a typical Acrustox, originally under savannah vegetation. The soil management does not interfere in the industrial quality components of rice, as soil management with disk-plow and/or moldboard-plow provided similar productivity. The nitrogen application on the sowing and/or at tillering stage provides higher grain yield than control without nitrogen.
Key words: Oryza sativa L., soil management, no-till, growth stages.
A produtividade média de arroz no Brasil é considerada atualmente baixa, uma vez que, utilizando técnicas mais adequadas de cultivo, existe possibilidade de, em curto prazo, triplicar ou mesmo quadruplicar tal produtividade. Diversas são as causas apontadas para esse baixo rendimento, entre elas a principal é o baixo uso de fertilizantes e, com o cultivo contínuo, conseqüentemente ocorre uma redução na fertilidade do solo.
O plantio direto constitui-se em uma prática eficiente para o controle de erosão, propiciando maior disponibilidade de água e nutrientes para as plantas, melhorando as condições físicas do solo com o aumento da matéria orgânica, e melhorando as condições químicas do mesmo (Balbino et al., 1996).
O sucesso desse sistema de cultivo depende da rotação de culturas e, principalmente, da produção de palhada para proteção do solo contra o impacto das gotas de chuva e redução do escorrimento superficial de água. Em algumas regiões do país, são adotadas variações do método convencional de preparo do solo, o qual é feito através do uso de grade pesada, associada com uma ou duas gradagens com grade mais leve. O uso dessa prática por anos sucessivos, além de ocasionar a excessiva desintegração física e preparo superficial (12 a 15 cm), pode levar à formação de uma camada impermeável abaixo da superfície do solo, conhecida como "sola de grade" (Fornasieri Filho e Fornasieri, 1993).
De acordo com Pedroso e Corsini (1983), no preparo convencional do solo, as operações são realizadas continuamente em uma mesma camada, podendo ocasionar, em alguns tipos de solo, uma camada compactada, resultante da pressão do arado como também da grade sobre o solo, conhecidas como "pé de arado" e "pé de grade". A compactação do solo é uma condição que tem efeito marcante sobre a aeração devido às modificações que provoca na estrutura do solo e na drenagem da água. O efeito imediato da compactação é a redução no volume de macroporos, afetando a difusão da água e dos gases e dificultando o desenvolvimento das plantas.
Castro et al. (1987), estudando vários sistemas de preparo (convencional, escarificação e plantio direto), verificaram que o conteúdo de água no solo no plantio direto foi consideravelmente maior nas tensões de 0,06, 0,33 e 1,00 bar em comparação com o solo preparado no sistema tradicional. Sob plantio direto, o conteúdo de água na capacidade de campo, considerando em nível de 0,33 bar, nas camadas de 3- 10, 11-20 e 21-30 cm, superou o convencional em 31%, 20% e 5%, respectivamente. O preparo reduzido com escarificador ocupou posição intermediária sem diferir estatisticamente dos demais.
Procurando determinar o efeito de diferentes sistemas de preparo do solo nas perdas de solo e água, Castro et al. (1986), verificaram que o arado escarificador ofereceu um controle de 55% e 43% nas perdas de solo e água em relação ao arado de discos, em um Podzólico Vermelho-Amarelo textura arenosa/média, enquanto que no Latossolo Roxo o controle nas perdas de solo e água foi de 35% e 32%, respectivamente. Estudando vários métodos de preparo de solo, Kluthcouski et al. (2000), verificaram que o enraizamento do arroz de sequeiro aumentou em 26% no perfil de 0 a 60 cm, quando o solo sofreu descompactação nos primeiros 30 cm.
Observaram, ainda, que no preparo superficial contínuo, ou seja, compactado, 85% das raízes encontravam-se nos primeiros 10 cm enquanto no solo descompactado foram observados apenas 51% do total. De acordo com Oliveira et al. (1996), um período de deficiência hídrica moderada ocasionou decréscimos de 13,7% na produção de grãos e de 14,7% na de matéria seca do arroz de sequeiro. O preparo profundo do solo com arado de aiveca minimizou o efeito da deficiência hídrica, ocasionando aumentos de 28,4% na produção de grãos e de 23,9% na produção de matéria seca. Esse resultado indica que, em situação de deficiência hídrica moderada (10 a 15 dias de estiagem), um preparo do solo bem feito é capaz de substituir com vantagens a irrigação suplementar.
Stone e Moreira (1998), estudando o desenvolvimento do sistema radicular dos cultivares Canastra e Maravilha, em área preparada com arado de aiveca ou grade aradora e no sistema de plantio direto, observaram que a densidade radicular do cultivar Maravilha, considerando todo o perfil amostrado, foi menor no plantio direto em relação aos outros dois sistemas de preparo. Já para o cultivar Canastra a densidade radicular sob plantio direto foi semelhante à observada no solo preparado com grade e menor do que a observada no preparo com arado.
Os autores constataram, que o cultivar Maravilha apresentou menor densidade radicular do que o Canastra sob plantio direto e maior nos outros sistemas de preparo.
Uma adubação adequada pode aumentar a produtividade do arroz de sequeiro em solo de cerrado, se outros fatores não forem limitantes (Santos et al., 1982). Através da irrigação por aspersão, elimina-se o risco de deficiência hídrica, tornando viável a utilização de um nível mais elevado de adubação em relação ao usado no cultivo de arroz de sequeiro. A recomendação, quando se utiliza irrigação por aspersão, é aumentar a adubação fosfatada em cerca de 50% e a potássica em 30% (Stone e Pereira, 1994). Entretanto, o manejo inadequado da água de irrigação e do nitrogênio tem ocasionado nos cultivares de sequeiro forte tendência ao acamamento, já que a maioria apresenta porte relativamente alto e colmos com baixa resistência ao acamamento. Assim, altos níveis de nitrogênio em cultivares do tipo tradicionais provocam acamamento parcial ou total das plantas, principalmente com o uso da irrigação por aspersão.
Entretanto, plantas do tipo moderno, nas mesmas condições de solos e tratos culturais, não sofrem acamamento, mesmo com altos níveis de adubação nitrogenada (Diniz et al., 1976). Em razão da sua arquitetura, respondem, em produção e sem acamar, à utilização de altas doses de nitrogênio, principalmente porque têm um sistema eficiente de translocação dos fotossintatos acumulados na fase vegetativa, para os grãos (Crusciol, 1998). Dentre os nutrientes, o nitrogênio é absorvido em grande quantidade pela maioria das culturas e não existe ainda recomendação oficial de adubação para o sistema de plantio direto, sendo a recomendação atual realizada com base em pesquisas desenvolvidas com as culturas implantadas sob preparo convencional do solo. Assim, a adoção de um sistema que possibilite melhorar as condições do solo, associada ao fornecimento adequado de nitrogênio pode ser de suma importância para o aumento da produtividade das culturas.
O fornecimento de nitrogênio provoca mudanças nas características morfológicas e fisiológicas do arroz, o que, nem sempre, influi de maneira positiva na produtividade. Aplicação de doses relativamente altas de nitrogênio na semeadura, geralmente, aumenta o crescimento vegetativo e o índice de área foliar, ocasionando aumento no uso de água (Viets Junior, 1966; Fagade e de Datta, 1971) e redução na produtividade da cultura, por causa do acamamento e/ou acentuação dos efeitos da deficiência hídrica na fase reprodutiva (Bloch, 1966; Ward et al., 1973).
Stone et al. (1979), avaliando os efeitos de doses de nitrogênio em diferentes cultivares de arroz de sequeiro, associado ou não à eficiência hídrica, obtiveram aumentos da produção de grãos com adubação nitrogenada nas doses de até 60 kg ha-1 de N, quando o conteúdo de água no solo não foi limitante. Já Arf et al. (1996), estudando o comportamento dos cultivares Rio Paranaíba, Guarani e Araguaia, submetidos a diferentes doses de nitrogênio em cobertura, verificaram que a adubação nitrogenada não influenciou as características agronômicas e os componentes do rendimento de engenho. A adubação nitrogenada aumenta o número de colmos e panículas por área (Diniz, 1975; Campello Junior, 1985), o número de espiguetas (Fornasieri Filho e Fornasieri, 1993) a fertilidade e o peso dos grãos (Aquino, 1984). Além disso, é atribuído ao nitrogênio que o mesmo é o que mais afeta a altura da planta, proporcionando acamamento (Diniz, 1975; Campello Júnior, 1985; Arf, 1993).
O trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do manejo do solo, aplicação de nitrogênio no desenvolvimento e produção da cultura do arroz de terras altas na região de Selvíria, Estado do Mato Grosso do Sul, em solo originalmente sob vegetação de cerrado.
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