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A cana-de-açúcar ocupa no Brasil uma área de 5,2 milhões de hectares, sendo cerca de 2,5 milhões de hectares pertencentes ao Estado de São Paulo, responsável pela maior parcela da produção nacional de álcool e açúcar. Parte representativa dos canaviais está instalada em solos de baixa fertilidade, com predominância de textura arenosa, onde são mais sentidos os problemas ocasionados pelas pragas subterrâneas. No grupo de insetos de hábitos subterrâneos destacam-se os cupins, responsáveis por diferentes danos a esta cultura semi - perene durante o seu ciclo de 4,0 a 5,5 anos (Arrigoni, 1995).
Dentre os cupins subterrâneos, os da família Rhinotermitidae, das espécies Heterotermes tenuis (H.,1858) e Heterotermes longiceps (S.,1924) são consideradas uma das pragas mais importante em cana-de-açúcar. Sua ocorrência foi constatada pela primeira vez no Brasil por Pizano & Fontes (1986), com ampla distribuição nos Estados do Pará, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
Os danos causados por estas espécies ocorrem principalmente nos toletes usados como semente logo após o plantio, com a destruição das gemas, redução dos tecidos de reserva dos toletes e ataque às raízes primárias emitidas na região do nó, ocasionando falhas na brotação.
A partir do início do desenvolvimento da cana ocorrem danos às raízes, touceiras e colmos em crescimento até a fase de maturação, quando os cupins penetram nos colmos, provocando secamento. Após o corte verifica-se dano nas soqueiras e nos internódios basais dos colmos da safra anterior, causando morte dos brotos e perfilhos e falhas nas soqueiras nos sucessivos cortes. Esses prejuízos causam perda média estimada em 10 toneladas de cana por hectare a cada colheita (Novaretti, 1985).
Em função do hábito subterrâneo de Heterotermes tenuis e pela difícil localização do seu ninho torna-se muito problemático o controle, sendo necessário o uso de inseticidas de alto poder residual. Tradicionalmente eram utilizados os organoclorados heptacloro, aldrin e endrin, que apresentavam eficiência desde o início do desenvolvimento da planta até a colheita, mas devido ao alto poder residual e impacto que causavam ao ambiente foram proibidos pelo Ministério da Agricultura em 1985.
Com a proibição de utilização dos produtos organoclorados, as pesquisas para encontrar produtos substitutos foram intensificadas, sendo que as moléculas modernas com ação cupinicida não apresentam eficiência equivalente à dos organoclorados no controle dos cupins subterrâneos.
A partir de 1994 foram registrados os novos ingredientes ativos, tais como Fipronil (RegentR) e Isasofós (MiralR), que apresentam boa eficiência e período residual suficiente para serem utilizados dentro da estratégia de barreira química, além de causarem menor impacto ambiental (Macedo et al., 1995). Outros produtos como Imidacloprid (Confidor 700 GrDA), em subdosagens impregnado em iscas de papelão ondulado (TermitrapR), já foram testados em laboratório e apresentaram bons resultados (Macedo et al.,1997).
Almeida & Alves (1995) desenvolveram um tipo de isca artificial registrada como TermitrapR (rolo de papelão ondulado). Esta isca está sendo utilizada em monitoramentos (substituindo os levantamentos convencionais de arranquio de soqueiras ou plantio de mudas de cana-de-açúcar como iscas), estudos comportamentais (distribuição e dimensionamento de colônias no campo) e no controle de cupins (através de produtos microbianos e químicos).
Este trabalho teve como objetivo selecionar produtos que, se forem adicionados à isca de papelão ondulado (material básico constituinte da isca TermitrapR para cupins subterrâneos), poderão aumentar, ainda mais, sua atratividade ao forrageamento de Heterotermes tenuis, para uso futuro como método de controle deste inseto, na forma de iscas impregnadas por produtos químicos e ou microbianos, em condições de campo.
O trabalho foi conduzido no laboratório de Patologia de Insetos do Departamento de Biotecnologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de São Carlos, em Araras (SP), e, em áreas de cana-de-açúcar da Fazenda São José município de Rio Claro (SP), pertencentes à Usina São João de Araras (SP), de Outubro a Dezembro de 1994.
Localização dos focos de Heterotermes tenuis no campo: Em área de cana-de-açúcar (talhão 6, área de 12,19 ha, var. RB80-6043, 3º corte) citada como de ocorrência de cupins subterrâneos, foram distribuídas 20 iscas de papelão ondulado (isca padrão- TermitrapR) em 5 locais, com 4 pontos/local.
No laboratório, as iscas foram preparadas utilizando-se tiras de papelão ondulado (72 cm x 18 cm) enroladas e presas por elástico na forma de "charuto" de 18 cm de comprimento. Em seguida estas iscas foram levadas ao campo e, nos locais previamente escolhidos, foram enterradas verticalmente com a extremidade superior tangenciando a superfície do solo e umedecidas por água, permanecendo 15 dias no campo. Após este período, foram retiradas e avaliadas quanto à presença e espécies de cupins.
Seleção de produtos atrativos a Heterotermes tenuis: Com os pontos definidos pela presença de cupins em estudo (etapa anterior), inicialmente foram testados 17 produtos (futuros aditivos) onde não participou a isca padrão. Os tratamentos foram: T1 - bagaço de cana seco "in natura" (100%); T2 - bagaço de cana seco "in natura" (50%) + papelão ondulado picado (50%); T3 - bagaço de cana seco "in natura" (90%) + açúcar refinado (10%); T4 - bagaço de cana "in natura" (45%) + papelão ondulado picado (45%) + açúcar refinado (10%); T5 - bagaço de cana decomposto (100%); T6 - bagaço de cana decomposto (50%) + papelão ondulado picado (50%); T7 - bagaço de cana decomposto (90%) + açúcar refinado (10%); T8 - bagaço de cana decomposto (45%) + papelão ondulado picado (45%) + açúcar refinado (10%); T9 - torta de filtro "in natura" (100%); T10 - torta de filtro decomposta (100%); T11 - rolão de milho (100%); T12 - fezes frescas e secas de bovino (100%); T13 - papelão ondulado picado (100%); T14 - papel toalha picado (100%); T15 - serragem de pinus (100%); T16 - papelão ondulado usado picado (100%); T17 - folha de celulose picada.
No laboratório, cada produto ou mistura a ser testado no campo foi acondicionado em envelope de papel toalha (18,0 cm x 13,5 cm), com volume total de 150 cm3. As porcentagens de misturas dos produtos citados acima referem-se a volumes, sendo 150 cm3 equivalentes a 100%.
Para a instalação do experimento no campo foram utilizados apenas três dos cinco locais escolhidos, sendo que no local um e dois foram escolhidos um ponto em cada, e no local três foram escolhidos dois pontos, portanto, três locais e quatro pontos amostrais, e em cada ponto foram colocadas 17 estacas (uma de cada produto), totalizando quatro repetições.
O estaqueamento no campo, foi feito da seguinte forma: cada local amostral foi constituído de cinco linhas com espaçamento entre elas de 1,30 m, sendo que na terceira linha foi colocada uma estaca no ponto onde havia cupins (ponto central) e as demais ao redor deste ponto, com espaçamento entre as estacas de 1,50 m.
Após o estaqueamento dos pontos, os 17 produtos foram sorteados e cada envelope foi umedecido, enterrado a profundidade de 12 cm, coberto por um plástico fino transparente (22,0 cm x 16,0 cm) para a conservação da umidade, e em seguida recoberto com solo. Este procedimento foi feito para os quatro locais. Uma semana após a colocação, os envelopes foram removidos e avaliados quanto à presença de Heterotermes tenuis, obedecendo o seguinte critério de notas: (0) ausência de cupins; (1) 1 a 10 cupins; (2) 10 a 100 cupins; e (3) presença de mais de 100 cupins.
Dos resultados foram selecionados 7 tratamentos que apresentaram as maiores notas acumuladas (somatório das notas atribuídas aos pontos).
Localização dos focos de Heterotermes tenuis no campo: Neste experimento, através da avaliação das iscas de papelão ondulado (TermitrapR), colocadas em 20 pontos amostrais, verificou-se a presença de cupins em cinco pontos, sinais de ataque em quatro e, nos demais, a ausência tanto de cupins como sinais de ataque. Pode-se afirmar, também, que a distribuição desta espécie de cupim não ocorre de forma homogênea, portanto há necessidade de se monitorar as áreas onde se pretende trabalhar, utilizando-se as iscas, para localizar os focos antes de implantar qualquer experimento. Estudos recentes que vem sendo desenvolvido por Macedo et al. (não publicado) sobre abrangência e distribuição de colônias em condições de campo, confirmam a viabilidade técnica de localização dos focos através das iscas do tipo TermitrapR.
Seleção de produtos atrativos a Heterotermes tenuis: Os resultados de atratividade de 17 produtos a Heterotermes tenuis encontram-se na TABELA 1.
Verificou-se que os tratamentos fezes de bovino (100%) (T12); bagaço de cana "in natura"(90%) + açúcar refinado (10%) (T3) e rolão de milho (100%) (T11) foram os mais atrativos em três dos quatro locais amostrados. Para bagaço seco (50%) + papelão ondulado picado (50%) (T2) ; torta de filtro decomposta (100%) (T10); bagaço de cana seco "in natura"(100%) (T1) e celulose picada (100%) (T17) houve atratividade em apenas um dos locais amostrados.
Considerando-se a soma total das notas populacionais acumuladas para os 7 tratamentos (T1, T3, T6, T11, T12, T16 e T17) nos quatro locais observou-se que o tratamento com fezes de bovino (T12) obteve a maior nota, sendo considerado o mais atrativo ao cupim H. tenuis. A atratividade de Heterotermes tenuis por fezes de bovino foi relatada por Bandeira (1989), que estudou a termitofauna de pastagem na Amazônia Oriental e constatou a presença desta espécie na parte inferior de fezes bovinas mais recentes.
- Dos produtos testados, os mais atrativos ao cupim subterrâneo, Heterotermes tenuis, em ordem decrescente são: fezes frescas e secas de bovino; rolão de milho; bagaço de cana-de-açúcar "in natura"; bagaço decomposto + papelão picado; bagaço de cana + açúcar refinado; papelão usado picado; celulose picada.
M. B. S. Campos1; S. B. Alves2; N. Macedo1
sebalves[arroba]esalq.usp.br
1Centro de Ciências Agrárias/UFSCar, C.P. 153, CEP: 13600-000 - Araras, SP.
2Depto. Entomologia-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.
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