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Introdução dos cultivares de uva de mesa `Fantasia' e `Ruiva' no Brasil (página 2)

C. V. Pommer

 

MATERIAIS E MÉTODOS

Os cultivares `Crimson Seedless' e `Fantasy Seedless' resultaram dos cruzamentos esquematizados na Figura 1, efetuados em 1979 e 1978, respectivamente.

Figura 1 - Genealogia dos cultivares Ruiva e Fantasia.

O experimento foi conduzido no Centro Experimental de Campinas, em Latossolo Vermelho escuro, fase arenosa. O clima predominante, segundo a classificação de Köppen, é do tipo mesotérmico de inverno seco, cwa.

O delineamento foi o de blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro repetições, com uma planta por parcela.

As plantas foram enxertadas sobre os porta-enxertos Kober 5BB, IAC 766 `Campinas' e Ripária do Traviú (106-8 Mgt) em 1991, obedecendo espaçamento de dois metros entre linhas e um metro entre plantas.

As videiras foram conduzidas em cordão esporonado unilateral espaldeira com três fios de arame, o primeiro a 70cm, o segundo a 110cm, e o terceiro a 140cm do solo, respectivamente. As plantas sofreram poda de inverno mista, alguns ramos com apenas uma gema e outros ramos, com 10 a 12 gemas, para verificação da sua fertilidade.

Após a poda, todas as plantas receberam tratamento com cianamida hidrogenada (Dormex), na dose de 2,5% para quebra da dormência e uniformidade da brotação.

O controle fitossanitário realizado foi o usual da região, com aplicação de fungicida à base de Mancozeb para o controle do míldio (Dithane) e fungicida sistêmico Triadimefon (Bayleton) para controle do oídio.

Na poda efetuada no início de agosto de 1994 os ramos podados foram pesados, como forma de avaliar o vigor relativo das plantas. Com essa mesma finalidade, foi medido o diâmetro do caule das plantas a 60cm do solo.

O ciclo vegetativo dos cultivares foi caracterizado por meio de avaliações semanais conforme escala sugerida por Eichorn & Lorenz (1984) (Figura 2).

Figura 2 - Estádios fenológicos da videira, de acordo com Eichorn & Lorenz (1984).

A produção de cachos foi pequena, devida especialmente a certa dificuldade inicial na condução das plantas. Por essa razão, foi feita uma amostragem geral dos cachos colhidos sem levar em conta o porta-enxerto. Nessa amostra foram avaliados o peso, o comprimento e a largura dos cachos e o número de bagos. A avaliação das características dos bagos foram obtidos de quatro sub-amostras, nas quais se avaliaram o peso, o comprimento e a largura dos bagos e o teor de sólidos solúveis.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As estimativas de vigor por intermédio do peso dos ramos podados e do diâmetro do caule estão na TABELA 1. Pode ser observado que `Ruiva' e `Fantasia' equivaleram-se em vigor, avaliado por qualquer dos componentes mensurados. O vigor das plantas enxertadas sobre Kober 5BB foi maior que daquelas enxertadas sobre Ripária do Traviú e IAC 766, na média. Entretanto, IAC 766 equivaleu-se a Kober 5BB em peso dos ramos podados, quando enxertados com `Ruiva'. Considerando que a videira é planta perene, com longevidade alcançando facilmente 10-15 anos, pode-se esperar que essa relação copa/porta-enxerto possa se modificar, o que não é incomum na cultura.

A evolução do ciclo vegetativo dos cultivares é mostrada na Figura 3. Embora a figura forneça informações preciosas sobre a fenologia dos cultivares `Ruiva' e `Fantasia' sobre três porta-enxertos, a avaliação foi interrompida cerca de 45 dias antes da maturação das uvas. É possível verificar, no entanto, que o desenvolvimento vegetativo dos cultivares copa foi muito semelhante nos três casos. `Fantasia' mostrou-se, ao longo de todo o período avaliado, 4 a 6 dias mais precoce que `Ruiva'. Esse fato veio a se consumar na colheita, quando `Fantasia' pode ser colhida 10 dias antes de `Ruiva'. É preciso relatar que o ano de 1994 foi extremamente seco, chovendo em Campinas, de 1º de junho a 31 de outubro, 55 mm, em comparação com 361 mm em 1992 e 287 mm em 1993. Este fato abreviou sobremaneira o ciclo dos cultivares que acabou sendo de 110 dias para Fantasia e de 120 dias para Ruiva. Isto é bastante interessante, pois eles foram consideradas, no seu lançamento, como tardia (Ruiva) e de meia-estação (Fantasia) (USDA, 1989a e b). Comparadas com outros cultivares colhidas no mesmo local, os ciclos podem ser considerados como médio-precoce e médio, para `Fantasia' e `Ruiva', respectivamente.

 

Figura 3 - Ciclo vegetativo de `Ruiva' e `Fantasia' enxertadas sobre diferentes porta-enxertos: A-kober 5BB; B-Ripária do Traviú; C-IAC 766.

 

Os cachos de ambos os cultivares tiveram excelente aparência. A TABELA 2 traz os valores obtidos nas avaliações. Tanto `Ruiva' como `Fantasia' produziram cachos com pesos comercialmente desejáveis. Em média, os de Ruiva foram maiores que os de Fantasia. Nas informações de lançamento, informou-se que ambos teriam peso de cacho equivalente (0,5kg) (USDA, 1989a e b). É importante observar que o comprimento médio dos cachos de `Ruiva' foi sensivelmente maior que o de `Fantasia' (21cm contra 14cm). Com largura média equivalente, vê-se que `Ruiva' apresentou, em média, 5 bagos por cm de cacho e Fantasia, 4 bagos/cm, o que justifica claramente a classificação dos cachos quanto à compacidade: os de `Fantasia', de compacidade média a solta; os de `Ruiva', levemente compactos, (USDA, 1989a e b). Comercialmente, porém, esses graus de compacidade (ou de soltura, de fato) são muito favoráveis, pois são comparáveis aos de `Redglobe', e melhores que os de `Centennial Seedless', cultivares que, no noroeste paulista, dispensam o raleio de bagas.

Na TABELA 3 encontram-se os resultados obtidos nas avaliações dos bagos. O peso médio, de quase 6g, foi igual para as duas cultivares, considerado excelente para uvas sem sementes. As dimensões dos bagos de Ruiva e Fantasia mostraram-se muito semelhantes. Os de Fantasia mostram tendência de formato oval a cilíndrico e os de Ruiva são elípticos. O teor de sólidos solúveis na colheita foi excelente em ambas as cultivares, próximo a 18 °Brix, em média. É preciso destacar que essas avaliações foram obtidas sem uso de ácido giberélico ou de anelamento, isto é, os bagos são naturalmente grandes.

A análise sensorial levada a efeito pelos autores confirmou observações dos pesquisadores que obtiveram esses cultivares: os bagos de `Fantasia' são carnosos, de textura média, com sabor doce agradável; os de Ruiva são firmes, de textura bem crocante, de sabor neutro, porém com melhor equilíbrio açúcar/acidez .

Badr & Ramming (1994) aplicaram uma série de práticas culturais no cultivar Ruiva ("Crimson Seedless") e verificaram que sua poda deve ser longa, com 12 gemas, para boa produtividade, de cerca de 22t/ha; o anelamento na época do pegamento dos frutos, aumentou o tamanho dos bagos em mais de 17% em média; não houve resposta em aumento dos bagos ao ácido giberélico, mas houve efeito deletério na safra seguinte.

Informações preliminares de plantios experimentais de `Ruiva' no pólo Petrolina/Juazeiro indicam excelente comportamento do cultivar na região (Mashima, 1995). Da mesma forma, produtores do noroeste paulista que receberam o cultivar para testes dão conta da boa performance.

Os resultados ora obtidos, complementados com informações de outros autores e observações de viticultores, bem como o conhecimento prévio dos autores sobre os cultivares, levam à constatação do elevado potencial produtivo de `Ruiva' e `Fantasia', aliado a excelentes características comerciais de seus cachos e bagos.

 

CONCLUSÕES

- `Ruiva' e `Fantasia', nomes dados aos cultivares `Crimson Seedless' e `Fantasy Seedless', tiveram vigor semelhante quando enxertados sobre Kober 5BB, IAC 766 e Ripária do Traviú.

- Kober 5BB conferiu maior vigor aos dois cultivares, quando comparado ao Ripária do Traviú e ao IAC 766.

- Os cachos de `Ruiva' (526g) e os de `Fantasia' (395g) mostraram tamanho comercialmente desejável, sendo os de `Fantasia' um pouco mais soltos que os de `Ruiva', porém ambas dispensando raleio de bagos.

- Os bagos de `Ruiva' e de `Fantasia' revelaram peso médio naturalmente excelente (6,0g).

- Os ciclos vegetativos de `Ruiva' (120 dias) e de `Fantasia' (110 dias) foram bastante precoces, num ano extremamente seco.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • BADR, S.A.; RAMMING, D.W. The development and response of crimson seedless cultivar to cultural practices. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON TABLE GRAPE PRODUCTION, Anaheim, 1994. Anais. Davis: American Society for Enology and Viticulture, 1994. p.219-222.
  • BAZAK, H.; PEARL, A. The development and production of new seedless table grape varieties. In: INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON TABLE GRAPE PRODUCTION, Anaheim, 1994. Anais. Davis: American Society for Enology and Viticulture, 1994. p.125-126.
  • EICHORN, K.W.; LORENZ, D.H. (1977). Phaenologische Entwicklungsstadien der Rebe. Nachrichtembl. astsch. Pflanzenschutzdienstes. Brauschweig 29, 119-120.
  • MASHIMA, C.H. Projeto uvas sem sementes. Valexport, Petrolina: Valexport, 1995, 4p. (Informativo, 3)
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  • RAMMING, D.W. `Autumn Seedless' Grape. Fruit Varieties Journal, v.41, n.3, p.92-93, 1987.
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  • UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Notice to fruit growers and nursery men relative to the naming and release of the Crimson Seedless grape. Washington: Agricultural Research Service, 1989a.
  • UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. Notice to fruit growers and nurserymen relative to the naming and release of the Fantasy Seedless grape. Washington: Agricultural Research Service, 1989b.
  • WEINBERGER, J.H.; HARMON, F.N. `Flame Seedless' Grape. Hortscience, v.9, n.6, p.602, 1974.

 

Celso Valdevino Pommer
pommer[arroba]unb.br

Celso Valdevino Pommer1,2,*; Maurilo Monteiro Terra1,2; Erasmo José Paioli Pires1,2; Ilene Ribeiro Silva Passos1; Fernando Picarelli Martins1
1. Seção de Viticultura-IAC, C.P. 28, CEP: 13001-970 - Campinas, SP.
2. Bolsista do CNPq.

 



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