Intervenção Breve em Familiares de Dependentes Químicos. Resultados de um estudo de seguimento de 30 meses

Enviado por Laranjeira, R. R.


Resumo

A inclusão da família no tratamento de dependentes químicos tem sido consideravelmente estudada, no entanto não existe um consenso sobre o tipo de tratamento a ser utilizado, dentre os vários propostos. O objetivo deste estudo foi verificar o desfecho de uma intervenção breve, baseada na abordagem cognitiva-comportamental, após 30 meses. Trata-se de um estudo de seguimento desenvolvido em um programa de tratamento ambulatorial do serviço público federal universitário, onde foram estudadas 94 famílias que participaram de um programa de orientação familiar, no período de 1996 a 1998. Foi utilizada uma entrevista semi-estruturada, realizada por telefone, que englobava dados demográficos; Client Satisfaction Questionnaire (CSQ-8); questões sobre procura para tratamento por parte do dependente antes e depois da participação no serviço; utilização de substâncias psicotrópicas na atualidade e modificações ocorridas com os familiares e dependentes após a participação no tratamento.

De modo geral, o desfecho foi considerado positivo tanto do ponto de vista do familiar em termos de satisfação para com o serviço recebido, quanto da percepção de melhora no relacionamento com o dependente.

Unitermos: família; cognitivo-comportamental; dependência química; estudo de seguimento.

Brief Intervention in families of addicted - Results of Follow-up Study of 30 months

Abstract

The inclusion of the family in addiction treatment has been studied considerably, however there is not a consensus about the type of treatment to be used, among the several proposed. The objective of this article was to check the outcome of a brief intervention, based on the cognitive-behavioral therapy, after 30 months. It is a follow-up study developed in a program of outpatient in the Federal University public service, where 94 families were studied and attend a program of family orientation, from 1996 to 1998. A semi-structured interview was used, accomplished by telephone, and included demographic data; Client Satisfaction Questionnaire (CSQ-8); questions about help seeking treatment from the dependent before and after the attendance in the service; use of drugs at the moment and modifications occurred with the relatives and dependents after the treatment.

On the whole, the outcome was considered positive due the relative’s satisfaction with the service and the increase of relationship with the dependent.

Key Words: family; cognitive-behavioral models; addiction; follow-up.

Introdução

A consideração de que os problemas das pessoas necessitam ser compreendidos dentro de um contexto de vida familiar e cotidiano, indo além das teorias sobre o que acontece com as pessoas individualmente, possibilitou o desenvolvimento de formas de tratamento que incorporam a família, originando a terapia familiar com diversas formulações teóricas e técnicas.

A inclusão da família no tratamento de dependentes químicos tem sido consideravelmente estudada, no entanto, não existe um consenso sobre o tipo de tratamento a ser utilizado, dentre os vários propostos. A literatura tem concluído que a terapia familiar e de casal produz um melhor desfecho quando comparado com famílias que não são incluídas no tratamento (31, 38). Dentro deste contexto, três modelos teóricos têm dominado a conceitualização das intervenções familiares em dependência química: modelo da doença familiar; o sistêmico e o comportamental.

O modelo de doença familiar considera o alcoolismo ou o uso nocivo de drogas como uma doença que afeta não apenas o dependente, mas também a família. Esta idéia teve origem nos Alcoólicos Anônimos, em meados de 1940, sendo melhor exemplificada pelos livros de Black(5) e Wegsheider(43) que descrevem a criança que cresce em uma família alcoólica e como suas expectativas influenciarão seu comportamento adulto. Mais recentemente, estudos têm focado que a doença do alcoolismo manifesta sintomas específicos nas esposas e companheiros de dependentes químicos, dando origem ao conceito de co-dependência (2,36), embora este tenha recebido críticas(16, 17, 26).

Este modelo envolve o tratamento dos familiares sem a presença do dependente (Grupos de Al-Anon), que consiste em grupos de auto-ajuda com o objetivo de entender os efeitos do consumo de álcool e drogas por parte dos dependentes nos familiares e como reparar o que a convivência com um dependente faz na família, seguindo os princípios do AA. Até o presente momento os resultados em pesquisa são limitados(34). No entanto, as intervenções familiares baseadas neste modelo são muito comuns em programas de tratamento em dependência química e produzem forte impacto na opinião pública.

O modelo sistêmico considera a família como um sistema, no qual famílias com problemas de dependência química mantém um equilíbrio dinâmico entre o uso de substâncias e o funcionamento familiar. Em meados de 1970 à 1980, este modelo passou a exercer grande influência entre profissionais de saúde no tratamento da dependência química. Na perspectiva sistêmica, um dependente químico exerce uma importante função na família, pois esta se organiza de modo a atingir uma homeostase dentro do sistema, mesmo que para isso a dependência química faça parte do seu funcionamento e muitas vezes, a sobriedade pode afetar tal homeostase. O terapeuta utiliza varias técnicas para clarificar o núcleo familiar e promover mudanças de padrões e interações familiares. Pesquisas sobre esta abordagem têm mostrado efeitos benéficos na interação familiar e consequentemente no comportamento aditivo (3, 4, 18, 39, 40, 44).

O modelo comportamental é uma extensão do constructo da teoria da aprendizagem e assume que as interações familiares podem reforçar o comportamento de consumo de álcool e drogas. O princípio é que os comportamentos são apreendidos e mantidos dentro de um esquema de reforçamento positivo e negativo nas interações familiares. Inclui a teoria da aprendizagem social, modelo do comportamento operante e condicionamento clássico, incluindo os processos cognitivos(9).

Este modelo tem propiciado a observação de alguns padrões típicos observados nas famílias, tais como: reforçamento do beber como uma maneira de obter atenção e cuidados; amparo e proteção do alcoolista quando relata conseqüências e experiências negativas decorrentes do hábito de beber; punição do comportamento de beber (23, 24). O tratamento tem como objetivo a modificação do comportamento da esposa ou das interações familiares que podem servir como um estímulo para o consumo nocivo de álcool ou desencadeadores de recaídas, melhorando a comunicação familiar, a habilidade de resolver problemas e fortalecendo estratégias de enfrentamento que estimulam a sobriedade. Vários estudos utilizando este modelo têm alegado desfechos melhores e redução na utilização da substância de abuso (7, 8, 10, 11, 29, 30, 32, 33) .

Em geral, a literatura mostra que tanto estudos clínicos quanto controlados são favoráveis ao uso da terapia familiar em dependência química, no entanto os vários modelos propostos têm apresentado efetividade, mas nenhum deles têm ocupado uma posição dominante(41). Em nosso meio, estudos de seguimento com famílias são escassos e o objetivo desta pesquisa foi verificar o desfecho de uma intervenção breve, baseada na linha cognitiva-comportamental, após 30 meses.

 


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