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O experimento foi realizado no Campo Experimental Santa Mônica, pertencente à EMBRAPA-Gado de Leite, em dois invernos (estação seca e de temperatura amena) e dois verões (estação chuvosa e de temperatura elevada) de anos consecutivos, nos meses de junho a agosto de 1998 (inverno - ano 1), novembro de 1998 a janeiro de 1999 (verão - ano 1), junho a agosto de 1999 (inverno - ano 2) e janeiro a março de 2000 (verão - ano 2). As variáveis climáticas observadas durante os períodos experimentais encontram-se na Tab. 1.
Foram utilizadas 35 vacas da raça Gir com idades entre 5 e 15 anos (média 8,9 anos), peso médio de 454,8kg, e 12 vacas da raça Guzerá com idades entre 4 e 14 anos (média 8,3 anos), peso médio de 483,2kg, não gestantes, não lactantes, selecionadas com base nos registros de estros anteriores e por palpação transretal para confirmar a existência de atividade ovariana. Em um único período experimental, foram avaliados os mesmos animais no estro induzido e no natural subseqüente, entretanto, os animais não foram os mesmos em todos os períodos.
A sincronização do estro foi feita com duas aplicações de 500µg de prostaglandina sintética (Ciosin - Cloprostenol, Coopers), via intramuscular, com intervalo de 11 dias. Aproximadamente 24h (verão - ano 2) ou 48h (inverno e verão - ano 1, inverno - ano 2) após a segunda aplicação de prostaglandina, os animais foram observados continuamente por 24h durante três (inverno - ano 2), quatro (inverno e verão - ano 1) ou cinco (verão - ano 2) dias consecutivos. Para isso formou-se uma equipe cujos membros se revezaram a cada três horas.
Os critérios para identificação do estro seguiram as recomendações de Valle et al. (1994). Foram consideradas montas verdadeiras aquelas acompanhadas por imobilidade do animal montado. Devido ao risco de interpretações subjetivas do comportamento, considerou-se que a primeira monta seria aquela de uma seqüência de montas, desde que o intervalo entre a primeira monta e a subseqüente fosse inferior a 90 minutos.
Os critérios para a determinação do estro natural foram iguais aos utilizados para o estro sincronizado. As observações relacionadas ao comportamento do estro natural foram conduzidas por seis dias (inverno - ano 1), sete dias (inverno - ano 2) ou oito dias (verão - anos 1 e 2) consecutivos, a partir do 19º dia (verão - ano 2), 20º dia (verão - ano 1 e inverno - ano 2) ou 21º dia (inverno - ano 1), após a segunda aplicação de prostaglandina.
As avaliações ovarianas foram realizadas utilizando-se um aparelho portátil de ultra-som (Concept LC, Dynamic Imaging) equipado com transdutor linear bifrequencial de 5,0/7,5 MHz, conforme Pierson e Ginther (1984).
Os exames foram iniciados no dia da segunda aplicação de prostaglandina (verão - anos 1 e 2) ou 24h após (inverno - ano 2) e realizados diariamente durante o período previsto para a manifestação do estro induzido. Da mesma forma, durante o período previsto para manifestação do estro natural no inverno - anos 1 e 2 (entre o 20º e 26º dia após o tratamento hormonal), verão - ano 1 (entre o 20º e 27º dia após o tratamento hormonal) e verão - ano 2 (entre o 18º e 27º dia após o tratamento hormonal) foram realizados exames ultrassonográficos diários dos ovários. Essas avaliações visaram identificar o folículo dominante presente em cada ovário e sua posição relativa.
Aproximadamente 18h após a identificação do início do estro os exames ultra-sonográficos passaram a ser realizados a cada três horas, até a ocorrência da ovulação, determinada pelo desaparecimento do folículo dominante.
Os dados referentes à duração do estro (n=150), intervalos início do estro-ovulação (n=107), fim do estro-ovulação (n=107), aplicação de prostaglandina-início do estro (n=81) e aplicação de prostaglandina-ovulação (n=52) foram analisados por meio do procedimento GLM do SAS (1999). Previamente às análises de variância os dados foram avaliados quanto à normalidade usando-se o procedimento Univariate do SAS (1999).
O modelo matemático utilizado para análise da duração do estro incluiu os efeitos fixos de raça, estação, tipo de luteólise, ano experimental e as interações raça x tipo de luteólise e raça x estação. Para estudo dos intervalos início do estro-ovulação e fim do estro-ovulação, o modelo incluiu os efeitos fixos de raça, tipo de luteólise, ano experimental, todas as interações entre essas variáveis, e os efeitos de estação dentro de ano e de estação dentro da interação raça x ano. Para análise do intervalo prostaglandina-início do estro, os efeitos fixos incluídos no modelo matemático foram raça, estação e ano experimental e todas as interações entre essas variáveis. Para análise do intervalo prostaglandina-ovulação foram considerados os efeitos fixos de raça e ano experimental, a interação raça x ano e os efeitos de estação dentro de ano e de estação dentro da interação raça x ano.
Para as comparações múltiplas entre as médias foi usado o teste t a 5% de probabilidade de erro, por meio do procedimento PDIFF do SAS (1999). Correlações simples de Pearson foram estabelecidas entre todas as variáveis estudadas.
A duração média do estro de vacas da raça Gir foi de 12,13±0,47h (n=95) e a da raça Guzerá de 12,30±0,63h (n=55) (P>0,05), próximos aos resultados obtidos por Lamothe-Zavaleta et al. (1991) e Viana et al. (1999) em raças zebuínas e por Walker et al. (1996) e Van Vliet e Van Eerdenburg (1996) em raças européias.
Não se observou efeito de sincronização sobre a duração do estro. O estro natural nas duas raças foi de 12,76±0,54h (n=70) e o induzido de 11,67±0,57h (n=80) (P>0,05). Barros et al. (1995) não verificaram diferença na duração de estros natural e induzido por prostaglandina em vacas da raça Nelore. No entanto, segundo Pinheiro et al. (1998), o estro natural de vacas da raça Nelore foi 3,1h mais longo do que o induzido por prostaglandina. Há discrepâncias quanto à duração do estro induzido ou natural (Vaca et al., 1985; Valle et al., 1994; Rocha et al., 1999).
A duração do estro nas duas raças foi de 11,96±0,54h (n=78) no inverno e de 12,47±0,57h (n=72) no verão (P>0,05). Zakari et al. (1981) e Voh et al. (1987) observaram menor duração do estro de vacas zebuínas durante a estação seca.
Os intervalos início do estro-ovulação e fim do estro-ovulação não diferiram (P>0,05) entre as raças Gir e Guzerá (Tab. 2 e 3). A literatura consultada mostra grande variação quanto aos intervalos estudados (Plasse et al., 1970; Gonzalez, 1972; Viana et al., 1999; Borges, 2001), o que pode estar relacionado aos métodos de determinação do momento de ovulação, mais acurados pelo uso da ultrassonografia do que pelo da palpação transretal, à freqüência de exames sucessivos dos ovários e aos métodos de detecção de estros (observação contínua versus periódica).
Randel (1976) observou em novilhas Brahman menor intervalo início do estro-ovulação (18,9h) do que em novilhas mestiças Brahman x Hereford (29h) e Hereford (28,6h). A hipótese de que nos animais Bostaurus indicus a ovulação ocorre em menor intervalo após o início do estro não se confirmou nesteestudo, uma vez que os intervalos foram similares aos observados por Randel (1976) em novilhasmestiças e da raça Hereford, por Solano et al. (1982) nas raças Holandesa (28,8h) e Charolesa (30,3h) epor Walker et al. (1996) em vacas Holandesas (27,6h).
O coeficiente de variação do intervalo início do estro-ovulação, 22,6%, foi menor do que o do intervalo final do estro-ovulação, 38,3%, mostrando a importância de se identificar o início do estro para se determinar o momento ideal da IA. Observou-se correlação positiva de 0,38 (P<0,05) entre a duração do estro e o intervalo início do estro-ovulação, indicando que as vacas com estro mais curto deveriam ser inseminadas mais cedo. Dransfield et al. (1998) utilizaram o sistema "Heat Watch" para detecção de estros em rebanhos leiteiros e verificaram que o intervalo início do estro-IA influenciou a percentagem de vacas gestantes. O melhor índice foi obtido quando se inseminou entre 5 e 16h após o primeiro evento de imobilidade à monta. Segundo Nebel et al. (2000), o esquema de IA proposto por Trimberger (1948) pode diminuir a probabilidade de concepção porque muitas vacas observadas em estro possivelmente já estariam em estro várias horas antes da detecção e, desconhecendo-se o seu início, a IA deveria ser realizada 6h após a primeira observação do estro. A Tab. 4 apresenta a freqüência e porcentagem de ovulações segundo o intervalo fim do estro-ovulação.
O momento da ovulação não foi influenciado pelo tipo de luteólise. Também não se observaram efeitos da interação raça x tipo de luteólise sobre os intervalos início do estro-ovulação e fim do estro-ovulação (Tab. 2 e 3). Pinheiro et al. (1998) não verificaram diferença no intervalo início do estro-ovulação após estro natural e induzido por prostaglandina em vacas da raça Nelore, enquanto que Valle et al. (1994) observaram que vacas da raça Nelore com estro induzido por progestágenos ovularam mais tarde após o fim do estro do que aquelas com estro natural.
Não se observou efeito de estação dentro de ano (P>0,05) e de estação dentro da interação raça x ano (P>0,05) sobre os intervalos início do estro-ovulação e fim do estro-ovulação (Tab. 5 e 6). Lamothe-Zavaleta et al. (1991) não verificaram diferenças quanto aos intervalos início do estro-ovulação e fim do estro-ovulação entre as estações chuvosa (24,8 e 15h, respectivamente) e seca (25,7 e 14,9h, respectivamente).
O intervalo administração de prostaglandina-início do estro foi maior (P<0,05) na raça Guzerá do que na raça Gir (73,47± 3,45h e 64,68± 2,41h, respectivamente). Estes valores encontram-se dentro da variação citada na literatura para vacas zebuínas sincronizadas com prostaglandina (Vaca et al., 1985; Cavalieri et al., 1997; Pinheiro et al., 1998). A distribuição de freqüência dos estros após a segunda aplicação de prostaglandina evidenciou ampla variação na resposta dos animais à ação luteolítica desse hormônio (21 a 117h, CV=26), segundo os diferentes estádios de desenvolvimento folicular no momento do tratamento. Segundo Bo et al. (1994), as vacas que apresentaram folículo dominante em fase de crescimento no momento do tratamento hormonal manifestaram estro em 48 a 60 h, enquanto que as com folículos na fase estática ou em regressão levaram de cinco a sete dias para manifestarem estro. Neste estudo, a maioria das vacas (95,1%) exibiu comportamento estral em até 96 horas após a sincronização, contudo, a maior porcentagem (35,8%) exibiu estro entre 48-60h após o tratamento (Tab. 7). Ampla variação no intervalo da aplicação de prostaglandina ao início do estro foi também observada por Cavalieri et al. (1997) em vacas da raça Brahman (41,2 a 155,6h) e por Fuentes et al. (1998) em animais mestiços (72 a 168h).
O intervalo prostaglandina-início do estro foi similar (P>0,05) durante o inverno e o verão, nas duas raças (Tab. 8) e não se observou interação raça x estação (P>0,05). Provavelmente o desenvolvimento folicular não foi influenciado pela estação, conseqüentemente, o intervalo prostaglandina-início do estro no verão foi próximo àquele observado no inverno. Voh et al. (1987) não verificaram diferença no intervalo prostaglandina-início do estro entre as estações seca (69,7h) e chuvosa (63,9h), enquanto que Rubio et al. (1989) verificaram redução na concentração sérica de progesterona e resposta mais lenta à administração de prostaglandina no inverno, atribuídas à influência da temperatura ambiente sobre o desenvolvimento folicular e à ingestão de forragem de pior qualidade.
O momento de ovulação relativo à segunda aplicação de prostaglandina não diferiu (P>0,05) entre as raças Gir (96,62± 4,25h; n=32) e Guzerá (104,01± 6,51h; n=20). Intervalos de 102,3h foram relatados em vacas da raça Brahman (Cavalieri et al., 1997) e de 119 e 113h nas raças Nelore e Gir, respectivamente (Borges, 2001). A variação do momento de ovulação pode estar associada à alteração no crescimento e diferenciação do folículo ovulatório e, assim, à síntese de estradiol e indução da onda pré-ovulatória de LH (Ireland, Roche, 1982).
Não se observou efeito de estação dentro de ano (P>0,05) e de estação dentro da interação raça x ano (P>0,05) sobre o intervalo prostaglandina-ovulação (Tab. 9).
Foi observada correlação positiva, 0,97 (P<0,0001), entre os intervalos prostaglandina-início do estro e prostaglandina-ovulação, a qual associada à variação no intervalo prostaglandina-início do estro sugere que algumas vacas poderão ter a fertilidade comprometida quando uma única IA for realizada em tempo fixo após a sincronização, visto que serão inseminadas muito cedo ou muito tarde em relação à ovulação. Dessa forma, a sincronização de estro e ovulação por duas aplicações de prostaglandina não foi suficientemente precisa para permitir a adoção de IA programada, e melhores resultados de fertilidade poderão ser obtidos com o uso de IA após a detecção de estros.
A duração do estro e os intervalos início do estro-ovulação e fim do estro-ovulação não diferiram entre raças, tipos de luteólise e estações. A menor variação no intervalo início do estro-ovulação e a correlação entre este e a duração do estro demonstraram a importância da identificação inicial do estro para se determinar o momento ideal da IA. A ampla variação no intervalo prostaglandina-início do estro e a alta correlação entre este e o momento de ovulação sugeriram que a sincronização do estro e da ovulação, por duas aplicações de prostaglandina intervaladas de 11 dias, não foi suficientemente precisa para permitir a adoção de IA programada.
Agradecimentos
À EMBRAPA-Gado de Leite pelo suporte financeiro e por tornar disponíveis os animais e a infraestrutura necessários à realização deste experimento, à FAPEMIG pelo suporte financeiro, ao CNPq pela bolsa concedida e à comissão examinadora da Dissertação de Mestrado da primeira autora pelas valiosas sugestões.
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