INTRODUÇÃO: O pectus excavatum caracteriza-se por uma depressão do esterno e das cartilagens para-esternais inferiores. Medidas clínicas para classificar essas depressões são poucas e de difícil aplicação.
OBJETIVO: Criar medidas clínicas para quantificar a deformidade e poder comparar os resultados entre os períodos pré e pós-operatório.
MÉTODO: Dez pacientes portadores de pectus excavatum, foram operados utilizando-se a técnica de Robicsek modificada pelo grupo de Cirurgia Torácica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, sendo também medidos clínica e radiologicamente nos periodos pré e pós operatõrio. Dez pacientes controles que não apresentavam anormalidades torácicas clínicas e ou radiológicas foram medidos da mesma forma. O defeito foi avaliado no nível do manúbrio e da maior deformidade através do índice antropométrico e do índice de Haller.
RESULTADOS: A análise multivariada para as médias do índice antropométrico mostrou diferenças significativas entre o pré operatório e o grupo controle e entre as médias do pré e do pós operatório, e diferença não significativa entre o pós operatório e o grupo controle. A mesma análise, aplicada às médias do índice de Haller, demonstrou os mesmos resultados. O estudo pareado entre as médias do pré e do pós operatório mostrou tratarem-se de grupos diferentes. A correlação canônica evidenciou que o índice antropométrico e o índice de Haller têm correlação de 86%.
CONCLUSÃO: Pacientes portadores de pectus excavatum podem ter a deformidade quantificada através de medidas do índice antropométrico no pré e no pós operatório, as quais permitem uma avaliação objetiva e comparativa dos resultados, e são de fácil realização.
Descritores: Pectus excavatum. Índice de Haller. Índice Antropométrico.
Desde o século XV as deformidades congênitas da parede torácica são descritas e discutidas na literatura(1). O pectus excavatum (PEX) é a deformidade congênita da parede torácica anterior mais freqüente, acomete 1/400 crianças nascidas vivas, acarretando alterações estéticas com possíveis conseqüências psicológicas e sociais que interferem na qualidade de vida destes indivíduos(2). Poucos estudos classificam clínica e objetivamente o grau de distorção anatômica para que se possa quantificar a depressão, comparar grupos e avaliar os resultados pós-operatórios(3).
A etiologia do PEX ainda não está bem estabelecida. Alguns autores relatam existir um crescimento anormal das cartilagens condrocostais, que deslocaria o esterno em direção à coluna vertebral(4). A primeira monografia sobre o assunto, lançando a suposição de que o afundamento do esterno seria devido ao crescimento anormal das cartilagens, foi publicada por Ochsner et al., em 1939(5).
O PEX pode ser classificado como simétrico ou assimétrico, sendo que, quando assimétrico, a maior depressão está quase sempre à direita. O manúbrio esternal, o primeiro e o segundo arcos costais geralmente são normais ou pouco deformados. Nos casos mais graves, há um deslocamento importante do coração para cima e para a esquerda, com diminuição significativa do volume torácico. Apesar da deformidade, a maioria dos estudos cardiológicos e da função pulmonar é normal, ou apresenta apenas moderada redução na capacidade pulmonar total e na capacidade vital inspiratória(6). Neste sentido, inúmeros trabalhos têm se preocupado com os resultados funcionais pré e pós operatórios no PEX, e o consenso é de que não há mudanças significativas mensuráveis na função cardiorespiratória, embora haja melhora subjetiva, principalmente no aumento da tolerância ao exercício(7).
O tratamento do PEX grave ou acentuado é aceito como cirúrgico pela grande maioria dos autores(8-10). A idade ideal para a indicação da correção é controversa, sendo que a faixa de indicação preferencial está entre quatro e doze anos(11-14). A indicação da cirurgia baseia-se nos achados estéticos e/ou psicológicos dos pacientes. Portanto, o resultado cosmético deve ser não só valorizado, mas também avaliado como o melhor indicador do sucesso terapêutico.
A avaliação dos pacientes, tanto no período pré quanto no pós-operatório, tem sido realizada, de maneira subjetiva(15) (inspeção clínica) ou objetiva(3,16-20) (medidas clínicas ou radiológicas), na dependência da experiência do cirurgião. Poucos trabalhos podem ser encontrados na literatura sobre medidas clínicas para classificar ou quantificar o PEX.
Medidas radiológicas também foram adotadas com o objetivo de dimensionar o PEX. Derveaux et al.(20), utilizando radiograma de tórax em perfil, e avaliando a relação das medidas ântero-posteriores no nível do ângulo de Louis e do xifóide, classificaram os pacientes que eram portadores de defeitos torácicos quando comparados a indivíduos normais. A tomografia computadorizada do tórax também foi usada para quantificar o PEX. Haller et al.(16), em 1987, criaram o índice de Haller, que é a razão entre as distâncias látero-lateral e póstero-anterior, obtidas no corte axial tomográfico na janela mediastinal no nível da maior depressão. Quando esta razão é maior que 3,25, o PEX é tido como moderado ou grave e haveria indicação cirúrgica visando à correção da deformidade. Nakahara et al.(21) também se basearam na tomografia computadorizada, e quantificaram numericamente a depressão, a assimetria e o achatamento da deformidade.
Nosso trabalho tem como principal objetivo criar medidas clínicas antropométricas, de fácil execução, com instrumentos simples, para quantificar adequadamente o PEX em caráter ambulatorial. Com isto, desejamos não só tornar possível a comparação entre diferentes grupos de pacientes no pré e no pós operatório, mas também permitir que os resultados obtidos possam ser avaliados de forma mais concreta e objetiva, possibilitando inclusive a realização de estudos multicêntricos.
Página seguinte |
|
|