Antonio Thomaz Júnior
www.prudente.unesp.br/ceget
Professor de Pós-Graduação em Geografia
UNESP/Presidente Prudente, Brasil
Para Misael Goyos:
(pelo aprendizado do irmão mais velho!)
Se a sociedade, tal como é, não contivesse, ocultas,
as condições materiais de produção e circulação necessárias a uma sociedade sem classes,
todas as tentativas de criá-las seriam quixotescas."
K. Marx
"Somente o trabalho tem, na sua natureza ontológica, um caráter claramente transitório."
G. Lukács
Resumo
Ontologicamente prisioneiro da sociedade, o trabalho, em todas as suas dimensões, é a base fundante do auto-desenvolvimento da vida material e espiritual. A Geografia do Trabalho se põe em cena, para responder as perguntas em relação a realidade. Dessa forma, se não existe diferença em relação ao objeto, é na ação do sujeito que as atenções se voltam. Isto é, em sua expressão geográfica o trabalho pode ser entendido tanto em nível da relação metabólica homem-meio, quanto na dimensão da regulação sociedade-espaço, nas suas diferentes manifestações (assalariado, autônomo, informal, domiciliar, terceirizado, etc.). Isso implica, pois, necessariamente, na discussão das localizações, que, não se limitam ao imediato, ao visível. As categorias de base da Geografia (paisagem, território e espaço) farão as mediações necessárias, atendendo os desafios postos pelo sujeito, que no esforço contínuo de teorização para a concreção de uma Geografia do Trabalho.
Palavras Chave: trabalho, geografia, espaço, território, luta de classe, emancipação social
For a Geography of the work! (A Preliminary Reflections).
Abstract
Ontologically prisoner of the society, the work, in all its dimensions, is the founding base of the auto-development of the material and spiritual life. The Geography of the Work puts itself in scene, to answer the questions regarding the reality. Thus, if there is no difference relating the object, it is in the action of the subject that the attentions turned to. That is, in its geographical expression the work can be understood either at the level of the metabolic relationship men-environment, or in the dimension of the space-society regulation, in its different manifestations (wage-earner, autonomous worker, informal, domiciliary, third part, etc). This implies, then, necessarily, in the discussion about the locations, which are not limited immediately to the visible. The base categories of Geography (environment, territory and space) will to the necessary mediations, attending the challenges put by the subject, which in a continuous effort of theorization to the concretization of a Geography of the Work.
Key words: work, geography, space, class fight, social emancipation.
Diante do desafio de refletir sobre o que pensamos e entendemos ser geografia do trabalho, se impôs o recurso a digressões e mediações imprescindíveis. Tudo isso para que pudéssemos iniciar nosso ensaio orientando os seguintes questionamentos: que trabalho é esse? A geografia a que se refere é aquela que aprendemos nos bancos escolares? Existem afinidades entre Geografia e trabalho? Como a temática do trabalho deverá ser investigada e "lida" pelo olhar do geógrafo, a "leitura" geográfica?
Isso já seria suficiente para aguçar um debate interno muito proveitoso, porém frágil de referenciais teórico-estruturais nesse campo da investigação científica, para este momento*.
Ao assumirmos esses limites e, sobretudo, nossas limitações, não vislumbramos apresentar um roteiro a ser seguido pelos pesquisadores em geografia, encimados com a temática do trabalho. Tampouco imaginamos que seria necessário fazermos afirmações prévias, desamparadas das pesquisas, se a geografia do trabalho deve ter esse ou aquele perfil, essa ou aquela marca. E mais, se realmente é um tema a ser abordado pela geografia, ou ainda, como sugerem alguns desavisados, se o trabalho é um tema geográfico. Propomo-nos, sim, a lançar algumas reflexões preliminares ao debate.
Tanto interna quanto externamente à geografia, as indefinições, as precipitações e os preconceitos eclodiram exemplarmente. De um lado, internamente, se prescreve com antecedência (como é de praxe), o que deve e o que não deve ser geografia do trabalho, quase sempre (ou invariavelmente), antecedido pela boa-nova, o que é geografia ou se o que se está fazendo ou se pretende implementar é ou não geografia. As afirmações a priori do que é e o que pode ser isso ou aquilo, sem antes experienciar as dificuldades da lida, portanto, sem se darem a chance de efetivamente praticizarem a análise geográfica em respeito à temática do trabalho, particularmente em torno dos assuntos que normalmente se transformam em problemas de pesquisa (situação, mobilidade, organização, exclusão, etc.) nas diferentes modalidades do trabalho de investigação (monografias, dissertações de mestrado, doutorado), eis o caldo cultural que ainda veste nossa disciplina, que remonta desde os sistematizadores. Estes muito se empenharam em nos cultuar a necessidade da definição a priori do objeto da Geografia, depois reformulado ao longo do tempo, mas negado por outros que, amparados no legado do materialismo histórico e dialético, entenderam que o objeto de cada ciência é a realidade, podendo, pois, essa, ser observada por diferentes olhares. Como reza a boa tradição marxista, isso necessariamente promoveria o retorno à totalidade, e do ponto de vista metodológico e epistemológico, haveria a priorização da relação sujeito-objeto e o primado do sujeito enquanto centralidade da práxis do conhecimento.
No entanto, todo esse esforço já materializado em muitas décadas de produção geográfica não foi capaz ainda, de autonomamente sugerir o primado do conhecimento com base na práxis investigativa. Por outro lado, externamente, comparecem avaliações que do inusitado ao incabível, questionam se o trabalho deve ou pode ser objeto de estudo da Geografia, de todo modo, ainda prevalece o elemento surpresa, muitas vezes tingido de indignação: o que tem a ver a Geografia com o trabalho? Assunto abordado por sociólogos, historiadores, cientistas políticos, economistas, etc., de sorte também nos apresentamos.
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