Fungos endofíticos isolados de ápices caulinares de pupunheira cultivada in vivo e in vitro



Resumo

A perda de plantas micropropagadas ocorre, principalmente, pela presença de microrganismos, responsáveis pela morte das plantas no início da cultura ou em seu estabelecimento no campo. O trabalho teve como objetivo a identificação, por taxonomia clássica, e por meio de técnicas moleculares, de fungos presentes nos ápices caulinares de pupunheiras sadias, cultivadas no campo, e a comparação com os fungos isolados, em plantas micropropagadas há dois anos. Os isolados da microbiota fúngica endofítica, das plantas cultivadas in vitro, foram: Fusarium oxysporum, Neotyphodium sp. e Epicoccum nigrum; e das plantas in vivo, foram: Fusarium sp., F. proliferatum, F. oxysporum, Colletotrichum sp., Alternaria gaisen, Neotyphodium sp. e Epicoccum nigrum. As sete espécies de fungos foram reintroduzidas in vitro na planta hospedeira, demonstrando diferentes comportamentos. Neotyphodium sp. e E. nigrum estabeleceram uma interação endofítica com a planta, e as demais comportaram-se como patógenos, diminuindo o desenvolvimento das plântulas em relação às plantas sem inoculação. As espécies endofíticas apresentam potencial para o uso no controle biológico de patógenos de pupunha.

Termos para indexação: Bactris gasipaes, patógenos latentes, fungos, controle biológico.

ABSTRACT

Losses of micropropagated plants occur in its majority due to presence of microorganisms responsible for plant death both in culture beginning and plant establishment in field. Two years in vitro cultivated pejibaye shoot tips, showed the presence of fungi colonies after transference for new culture medium. This paper aimed at identifying fungi, by classical taxonomy and by molecular methods, present in shoot tip of healthy pejibaye plants, cultivated in the field, and to compare them with isolated ones of in vitro plants. The isolates of endophytic fungi community of the in vitro plants were Fusarium oxysporum, Neotyphodium sp. and Epicoccum nigrum; from the in vivo plants were Fusarium sp., F. proliferatum, F. oxysporum, Colletotrichum sp., Alternaria gaisen, Neotyphodium sp. and E. nigrum. The seven species of fungi were reinoculated in host plant, revealing different behaviour. Neotyphodium sp. and E. nigrum established an endophytic interaction with the host; the other fungi acted as pathogens causing decrease in seedlings development when compared to the non-inoculated plants. Species acting as endophytes present a potential use in biocontrol of pejibaye pathogens.

Index terms: Bactris gasipaes, latent pathogens, fungi, biological control.

Introdução

A pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) é uma palmeira encontrada na costa Atlântica das Américas Central e do Sul, ao longo da costa do Pacífico (litoral da Colômbia e oeste do Equador), e ao sul da Costa Rica e norte do Peru (Clement & Manshardt, 2000). Essa planta pode ser cultivada nas mais diversas condições climáticas, porém é notório que seu melhor desempenho ocorre em regiões de clima tropical quente e úmido (Deenik et al., 2000).

Em virtude da excelente qualidade do palmito, seu cultivo é cada vez mais freqüente, com plantios em escalas consideráveis no Pará, Acre, Rondônia e Mato Grosso. Essa cultura encontra-se em intenso processo de disseminação fora da Amazônia, principalmente no Sudeste, e está sendo plantada em praticamente todo o Estado de São Paulo. O cultivo ecologicamente correto da pupunheira contribui para a diminuição do consumo extrativista do palmito nativo (Euterpes edulis L.), extraído e industrializado de forma clandestina e ilegal.

A obtenção de plantios uniformes dessa espécie pode ser feita por meio da micropropagação de matrizes selecionadas, como foi observado por Almeida & Kerbauy (1996), que obtiveram excelentes resultados, a partir da reversão de botões florais em gemas vegetativas. A elevada ocorrência de contaminação, que pode ser verificada em culturas in vitro, restringe a realização de pesquisa nessa área com pupunheira, considerando tal fato como um agravante da técnica em questão. Observou-se, no entanto, que nem sempre tais contaminantes debilitavam as plantas micropropagadas, por isso seu isolamento e identificação dera origem a uma nova área de pesquisa, dentro da cultura de tecidos de pupunheira.

A interação e o isolamento desses microrganismos, além do controle das condições ambientais e da composição do meio de cultura, são extremamente facilitados em condições in vitro, em decorrência da produção maciça e velocidade de crescimento das plantas.

Contribuição importante na área de fitopatologia tem sido obtida a partir da aplicação de técnicas de cultura de tecidos (Helgeson & Deverall, 1983). O sistema de co-cultura de patógenos e tecidos de plantas hospedeiras permite o estudo das relações entre os dois organismos, em condições controladas, e pode levar à descoberta de mecanismos de patogenicidade e de resistência em nível celular (Duval et al., 1998).

Na avaliação do comportamento de microrganismos endofíticos, Serafini et al. (2002) também destacam a importância da técnica de cultura in vitro, no estudo da relação entre microrganismos endofíticos e a planta micropropagada. Esses microrganismos foram definidos, por Hallmann et al. (1997), como aqueles que podem ser isolados do interior de tecidos vegetais desinfectados superficialmente, e que não causam danos ao hospedeiro. Essa definição inclui relações neutras e simbióticas.

Segundo Cutter (1986), o ápice caulinar é uma região sub-meristemática formada por células derivadas, que se encontram em constante divisão celular, e assim geram uma estreita faixa de células em diferenciação. Essa informação conduz à idéia de que se trata de uma região axênica ou, pelo menos, de pequena mobilidade para os microrganismos no vegetal.

O objetivo deste trabalho foi identificar a microbiota fúngica presente em ápices caulinares de pupunheiras adultas cultivadas in vivo, e compará-la com a observada em plantas micropropagadas.

 


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