Formação, identidade profissional e desenvolvimento dos professores

 

 

ABSTRACT

Resumo: A adequação de material educacional usado em aula tradicional às mídias digitais como a Internet ou CD-ROM passa por uma aprendizagem pelo professor/autor de um novo tipo de escrita adaptada aos limites e possibilidades oferecidos pelas tecnologias. Assim, para resolver essa questão e para livrar o professor da tarefa de desenvolver seu próprio sistema, a equipe procurou detectar quais eram as dificuldades e as aspirações dos autores/professores na tarefa de criação ou de idealização de conteúdo instrucional. O objetivo deste segmento da educação era desenvolver estratégias diferenciadas no atendimento e na resolução do problema de utilização das Novas Tecnologias da Comunicação e da Informação, como metodologia de aprendizagem para melhorar a transmissão do conhecimento no âmbito das aulas de graduação. E mais particularmente como um conteúdo multimídia interativo poderia apoiar e aumentar o desempenho acadêmico de aprendizado. Planejado para ser usado nos centros acadêmicos da Universidade em situações e objetivos diferenciados, o material didático abrange as ementas dos cursos básicos, de nivelamento e de dependência. Para permitir essa versatilidade, a solução adotada foi a "modularidade" dos conteúdos fragmentados em unidades conceituais autônomas. O estilo pedagógico e literário de colocação de conteúdo, para atingir tais objetivos, caracterizou-se por uma abordagem dos assuntos objetiva e completa. Predeterminando as diretrizes de elaboração de conteúdo, libera-se o professor da tarefa de desenvolver um sistema próprio de disponibilização de material e concentra-se na detecção de suas dificuldades e aspirações na construção do conteúdo. O conteúdo tem como base: conceitos, ilustrações, simulações e auto-avaliações (por enquanto sem ligação com a monitoração do professor). O conteúdo didático é flexível e não limitativo, podendo ser acrescido de material produzido diretamente por um professor. Nesse caso o acréscimo é disponibilizado para todo o corpo docente. Para alcançar os objetivos desta nova metodologia adaptada, o material didático modular tem um papel importante, principalmente no âmbito da eficiência do processo de "roteirização" do curso. No atendimento ao professor, os projetos desenvolvidos foram escolhidos em função da relevância do assunto e da motivação dos diretores de curso e dos professores. No início, o atendimento do professor é personalizado (a motivação sendo fundamental nesta fase do projeto). Uma primeira avaliação das habilidades necessárias é realizada (grau de conhecimento em computação, experiências anterior de desenvolvimento de material didático, etc...) o que permite definir seqüências de trabalho e metodologias diferenciadas. Assim a equipe de apoio será solicitada de maneira diferenciada em função das habilidades do professor proponente. A proposta é aumentar o grau de autonomia na elaboração do conteúdo. Para isso o professor deve esquecer sua experiência presencial e aprender a objetivar o conteúdo e sua aula para conseguir "grau de conhecimento" pontuais e completos em nível da conceituação. A tarefa não pode ser vista como linear, temporalmente, mas como tijolos que se superpõem numa lógica compreensível e plural (várias entradas possíveis para responder as preocupações dos vários tipos de alunos). Para essa tarefa são escolhidas partes do curso para desenvolver conteúdos de domínio necessário. Inicia-se com a sua estruturação temática, sem pesquisar na parte de conteúdo em si. Uma vez os mecanismos de estruturação bem compreendidos, começa a aprendizagem tecnológica: quais são as capacidades do sistema, da equipe de desenvolvimento, do orçamento, para definir as estratégias ao nível das mídias e das interatividades. Nesta segunda fase o professor começa realmente a perceber os requisitos do sistema e as possibilidades de transcrição do conteúdo idealizado até a mídia definitiva. Palavras-chave: aprendizagem, tecnologias de comunicação e informação, inovação pedagógica, capacitação docente, universidade.

Palabras clave:
 · aprendizaje
 · competencia comunicativa
 · educación
 · información
 · metodología

 

Gênese do projeto

A Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, desde 1999, colocou à disposição dos docentes e discentes um ambiente colaborativo proprietário: EUREKA (1) (2) (convênio com o Laboratório de Mídias Interativas - LAMI (3)- da PUCPR e a Siemens Brasil SA). Com a utilização extensiva deste ambiente dentro da Universidade, novos paradigmas educacionais foram vislumbrados pelos professores, que viram a necessidade de acompanhar os progressos das TICEs e de seus recursos tecnológicos para dar conta das diretrizes do projeto pedagógico implantado no ano de 2000 na instituição. A linha mestra desse projeto pedagógico é levar o aluno de graduação a uma maior autonomia na construção do conhecimento, adequando o seu percurso na "sociedade de comunicação" constantemente em evolução.

A Pró-reitoria Acadêmica, decidiu acompanhar o processo de idealização das novas tarefas inerentes ao uso das TICEs a fim de definir uma política sustentável que atende a suas expectativas, criando o Núcleo de Tecnologias Educacionais - NTE (4) A criação deste núcleo teve como objetivos a definição de estratégias de implementação de aula não tradicionais usando as TICEs e o apoio ao docente na viabilização desta implementação. Dentro do núcleo, uma equipe de apoio foi criada para atender às necessidades dos professores engajados nesse processo, facilitando a transição da aula tradicional às inovadoras. As aulas não presenciais autorizadas pelo Ministério da Educação - MEC (5) – 20% dentro do curso presencial de graduação - foram um fato fundamental na motivação institucional e no corpo docente.

Num primeiro estágio foi definida uma forma qualitativa para não desperdiçar esta motivação, principalmente na criação de conteúdos interativos multimídias enriquecedores, evitando criar uma sobrecarga de trabalho que leva esses tipos de projetos à falência. O NTE, nesse processo, se instituiu também da qualidade de um agente facilitador, que permite aos professores/autores envolvidos superar os obstáculos gerados pela criação multimídia, como adequação de material educacional utilizado em aula tradicional às mídias digitais - como a Internet ou CD-ROM – o qual deve passar por uma nova abordagem (metodológica e literária) adaptada aos limites e possibilidades oferecidos pelas tecnologias.

 

Porque o Sistema de Apoio ao Aluno via Web - SAAW*?

Para uma aprendizagem pelo professor/autor desta nova abordagem, escolheu-se liberá-lo da tarefa de desenvolvimento e implementação dos aspectos técnicos relacionados ao projeto, podendo assim concentrar-se na elaboração metodológica e de criação de conteúdo instrucional. Concomitantemente, a equipe do NTE procurou detectar quais eram suas dificuldades e aspirações na execução destas tarefas orientando-o na busca da solução mais adequada na utilização das NTICs como metodologia de aprendizagem para a transmissão do conhecimento no âmbito das aulas de graduação. Mais particularmente buscou-se clarificar como um conteúdo multimídia interativo poderia apoiar e aumentar o desempenho acadêmico de aprendizado.

Percebeu-se, então, que o tráfego interativo entre os eixos professor, aluno e material didático poderia ser melhor explorado. Para um maior aproveitamento da relação pedagógica entre eles buscou-se a elaboração do SAAW, um ambiente on-line, que tem como proposta oferecer ao professor uma forma de gerenciamento dos processos do conhecimento para os alunos, mediante organização do material didático.

Apesar de ter sido desenvolvido como um projeto autônomo, faz parte da estratégia do SAAW ser integrado no EUREKA, pela complementaridade que este traz através de suas ferramentas de comunicação e colaboração síncrona e assíncrona (sala de bate papo, fórum, correio eletrônico, cronograma e outros). Pautado nos preceitos de um ensino construtivista, o sistema SAAW buscou desenvolver-se centrado no discente concedendo-lhe uma postura ativa e motivada, pela qual o docente torna-se parceiro na busca do conhecimento de uma maneira mais participativa e eficiente (6) (7) Com isto provê a possibilidade de adequação ao ritmo de aprendizagem de cada grupo discente através da análise de informações obtidas pela aplicação prática, transformando-o em um sistema flexível e escalonável.

A aplicação de um sistema pautado no construtivismo fez emergir questões pedagógicas referentes às dificuldades de implementação dos conceitos relacionados, na hora da elaboração do conteúdo instrucional. Por este motivo não se descartou de imediato o ensino diretivo no sistema SAAW, possibilitando uma adequação maior ao perfil dos usuários do sistema. Não se ignorou também a existência de freios culturais à aplicação de uma pedagogia construtivista pura num curso de graduação que precisa corresponder às metas de avaliação pré-definidas pelo MEC e a existência de fatores extras, como a formação dos professores nas novas metodologias.

Vista a necessidade de pensar uma maneira eficaz de passagem de um ensino diretivo para um ensino construtivista, deparou-se com a dificuldade de centrar-se em um planejamento de ótica incentivadora e não constrangedora. Assim, entendeu-se primordial para o desenvolvimento do projeto definir estratégias específicas de elaboração de conteúdo que induzisse a uma melhor transição. Estas estratégias deram origem ao conceito diretor para a produção do material didático (em formato digital - internet e CD-ROM) a ser disponibilizado no SAAW.

 

Primeiras ações

Tendo definidas as diretrizes de produção de conteúdo e as funcionalidades básicas constantes do sistema, as primeiras ações centraram-se na escolha das disciplinas (Programas de Aprendizagem, segundo o conceito do Projeto Pedagógico da instituição) que seriam geradores de conteúdo específico a ser disponibilizado e trabalhado pelo SAAW.

Os critérios para a escolha remeteram àquelas com histórico de baixo desempenho acadêmico entre os discentes (com maior índice de reprovação), àquelas com heterogeneidade de níveis de conhecimento dos discentes e com necessidade de prática constante para melhor compreensão do conteúdo. Foi também avaliada a motivação demonstrada pelo corpo docente na criação de material didático para mídia digital.

Estes critérios levaram, a princípio, à escolha de elaboração de conteúdo para os seguintes Programas de Aprendizagem: Cálculo, Sistemas de Controle, Informática Básica, Professor Multimídia, Inglês e Geometria Descritiva. As características decisivas na escolha dos PAs de Cálculo e Geometria Descritiva foram o alto índice de reprovação e as possibilidades de usar o sistema de maneira autônoma no quadro de curso de dependência (número de alunos reduzido e dificuldade para agendar esses cursos devido à disponibilidade tanto do professor que dos alunos); as de Inglês, Professor Multimídia e Informática Básica por sua abrangência e caráter trans-disciplinar; e as de Sistema de Controle e também Geometria Descritiva pela ligação com outras formas digitais de expor conteúdo (sistemas MATLAB e Cabri Géomètre). Estas mesmas características permitiram um planejamento de uso do material produzido em cursos de vários centros acadêmicos da Universidade, em situações e objetivos diferenciados, visto que abrange as ementas dos cursos básicos, de nivelamento e de dependência.

 

O material didático

O desenvolvimento do conteúdo didático ocorreu parcialmente desvinculado do SAAW, sendo disponibilizado pelo sistema seguindo as definições do professor e/ou do desempenho do aluno. Optou-se por esta metodologia de trabalho a fim de liberar o professor da tarefa de desenvolver um sistema próprio para disponibilizar material, concentrando-o no desenvolvimento de estratégias de aplicação das NTICs, buscando o apoio e aumento de desempenho do docente na relação pedagógica através do conteúdo multimídia.

Tentando dar conta destas questões, o material didático foi elaborado dentro de um perfil abrangente e versátil, reforçado pela adoção da "modularidade" dos conteúdos, fragmentados em unidades conceituais autônomas, caracterizados por uma abordagem objetiva e completa, abrangendo conceitos, ilustrações, simulações e auto-avaliações.

Por sua "modularidade", o mesmo conteúdo pode ser tratado de maneira e com enfoques diferentes para se adequar aos diversos cursos, o que, por exemplo, permite aos alunos do curso de mecânica verificar alguns conceitos da matemática.

Desta forma o conteúdo didático se torna flexível e não limitativo, podendo ser acrescido de material produzido em etapas diferentes diretamente por um professor, não necessariamente aquele que criou inicialmente o curso, sendo disponibilizado para todo o corpo docente.

 

Conceito de Módulos e Roteiro interativo no Sistema SAAW

O conceito básico do sistema SAAW é a possibilidade de trabalhar-se com conteúdo didático disposto em módulos de ensino/conteúdo, sendo eles conclusivos dentro de suas próprias estruturas e, assim, independentes entre si. Cada qual deve concretizar-se através do SAAW, permitindo ao discente um estudo on-line que não ultrapasse 40 minutos (estimativamente). Este conceito rege a elaboração do conteúdo e diz respeito a uma lógica específica de "roteirização" do conhecimento a ser partilhado.

O conceito de roteiro interativo é aplicado a partir da definição do conteúdo modular. O roteiro, que é elaborado pelo docente, define um caminho de estudo, ou seja, a seqüência que o aluno deve seguir para alcançar seus objetivos de aprendizagem, permitido pela permutação e intercalação de módulos em função das necessidades e habilidades adquiridas pelo grupo de alunos. A "roteirização" do material didático permite ao docente adicionar os módulos que lhe sejam convenientes destinados a um determinado grupo de alunos, e ignorar outros que não lhe são necessários para o mesmo grupo. Também permite a temporalização e "seqüencialização" da oferta, de acordo com a metodologia a que se propõe o aprendizado.

A flexibilidade do sistema permite que o roteiro preparado pelo docente abranja conteúdos de diversos Programas de Aprendizagem, não se atendo aos módulos de um somente. Sendo assim, um roteiro pode conter, por exemplo, três módulos do curso de Cálculo, mais dois módulos do curso de Inglês e um módulo do curso de Geometria Descritiva (números aleatórios, ilustrativos).

A seqüência para disponibilizar ou ordenar o estudo também é flexível e pode ser definida ou alterada de acordo com as necessidades do momento, as dificuldades ou pedidos dos alunos. O roteiro pode conter, juntamente com os módulos, avaliações, organizadas em seqüência, sendo que as modalidades de passagem de um módulo/avaliação para outro são predefinidas pelo docente, que pode escolher entre controlar ou não a progressão. Isto gera duas formas de gerenciamento do roteiro: controlada e semicontrolada (onde vários módulos podem ser disponibilizados ao mesmo tempo, sem controle de acesso cronológico, nem de tarefas realizadas).

As avaliações são geradas pelo sistema (template) e são compostas de uma série de questões (abertas ou não) criadas ou escolhidas pelo docente. O sistema autoriza o compartilhamento de questões entre docentes que atuam no mesmo Programa de Aprendizagem, criando uma sinergia e um banco de conhecimento que poupa tempo para alguns e ajuda aqueles menos criativos ou hábeis com as TICEs.

Para alcançar o objetivo metodológico/pedagógico proposto, o sistema gerencia um feedback (retroação) eficiente. Assim, foram respeitadas as regras de coerência interna, foram previstos atalhos pelos quais os módulos são organizados de maneira a ter etapas bem definidas tanto ao nível dos habilitadores, auto-avaliações e conclusões dentro de cada módulo, como ao nível da interface gráfica, objetivando minimizar a sobrecarga cognitiva (8)

A qualquer momento, o Aluno pode criar anotações em relação à página estudada, sendo que o acesso posterior a estas pode ser feito através do roteiro ou na própria página em si. O caminho inverso também é possível, sendo a página acessível através de sua referente anotação, acarretando grande flexibilidade de navegação e orientação no conteúdo. As anotações permitem que o Aluno possa marcar sua progressão à medida que estuda. Estas possibilidades permitem que cada página esteja acrescida de contribuições próprias do Aluno, apropriando-se delas e as personalizando.

A colaboração entre os atores que participam do processo de aprendizagem sempre é possibilitada através do ambiente colaborativo institucionalizado e de suas funcionalidades (edital, sala de bate papo, fórum, repositório, biblioteca de link...).

 

A motivação dos professores

A motivação dos professores e dos diretores de curso foi fator importante na escolha dos projetos a serem desenvolvidos, evidentemente aliados a relevância do assunto. Para estimular um interesse do professor que vá além do intrínseco (nem sempre resistente quando se trata de um projeto de médio prazo), foi instituído um sistema de retribuição financeira horária aos docentes envolvidos.

Estimulados pela motivação financeira, os professores foram apresentados a outras formas de motivações, derivadas diretamente do sistema SAAW. O fato de propor ao professor um ambiente seguro e planejado como o SAAW para disponibilizar e usufruir o material pedagógico, ajudou na sua motivação e, principalmente, a ter uma visão estruturada do resultado esperado.

A transição da experiência vivida na aula presencial tradicional para um sistema aparentemente desestruturado gera dificuldades que, a princípio, podem ser percebidas pelo professor como intransponíveis. Porém, esta sensação é atenuada pela estrutura modular inerente do material, que lhe devolve a segurança: cada módulo tem um início (habilitadores), um corpo (o conteúdo em si), uma verificação da assimilação conceitual (auto-avaliação) e uma conclusão (reforço dos objetivos atingidos), planejados para alcançar um objetivo específico dentro de um tempo médio de estudo estipulado em 40 minutos.

O desafio é achar, para cada curso, os vínculos lógicos entre os módulos, a fim de completar o conteúdo imaginado, deixando abertura para novas inserções nem sempre realizadas pelo próprio professor-autor inicial. Tudo isto deve estar permeado com unidade estrutural e pedagógica, complementado com as funcionalidades de colaboração e cooperação disponibilizadas pelo par EUREKA/SAAW.

A postura "pioneira" gera muita insegurança a ser compensada pela disponibilidade da equipe de suporte, também do NTE, e pela definição rigorosa das tarefas a serem realizadas, já que quanto mais detalhes sobre as tarefas são dados, mais o professor se sente seguro a que caminho trilhar.

A expectativa deve corresponder às possibilidades do professor e à infraestrutura disponibilizada sem, no entanto, inibir sua criatividade e boa vontade.

 

Primeiro contato com a equipe

No início do projeto, o atendimento pelo NTE ao professor é personalizado, sendo a motivação fundamental nesta fase do projeto. São mostrados trabalhos já realizados dentro do mesmo sistema, para bem esclarecer as expectativas que o NTE tem sobre seu o trabalho. Também são anotados quais são as expectativas de desenvolvimento e idealizações pelo lado do professor. Desta forma, ambos os lados ficam cientes da carga de trabalho a ser realizada e do caminho a percorrer.

Após estes contatos de esclarecimento, um pré-projeto para a aprovação pela Universidade precisa ser elaborado pelo professor interessado. Este pré-projeto segue as normas para apresentação acadêmica, sendo composto por: introdução, definição do problema, justificativa da pertinência do projeto (do âmbito da instituição e do âmbito do professor/curso), motivação, perspectivas de desenvolvimento com cronograma de tarefas e disponibilidade de horas do professor a serem trabalhadas. A aprovação deste pré-projeto oficializa o trabalho de parceria entre as partes (NTE/professor), o que dá valor à tarefa e cria comprometimento e contrato, importante para justificar o investimento da instituição e sustentar a motivação do professor.

Inicialmente, os professores tendem a se comportar e encarar o projeto seguindo algumas linhas gerais, que passam pelo entusiasmo, segurança e ansiedade. O papel do NTE é o de canalizar as energias para evitar a dispersão conseqüente e própria de cada um destes comportamentos. Ainda existem discrepâncias na compreensão da estrutura do NTE disponível para a produção do trabalho em questão, sendo que alguns prospectam um trabalho além do que permite esta estrutura, a realidade financeira e o tempo. Sempre que estas discrepâncias surgem, o NTE esclarece ao professor a abrangência e característica do projeto, bem como suas limitações. Existe uma grande dificuldade também em esclarecer ao professor o seu papel dentro do trabalho da equipe. Esse tende a confundir os limites da produção do conteúdo – sua tarefa objetiva - com a produção e implementação das mídias, tarefa que não lhe é solicitada, e que é de responsabilidade da equipe de desenvolvimento do NTE.

Estruturando o trabalho desta forma, rapidamente esses percebem que a carga de trabalho além da elaboração do conteúdo obriga a deixar mais autonomia criativa à equipe.

Por causa do vínculo que a maioria dos professores possui com esquemas lineares impostos pela "cultura do papel" e para definir etapas de trabalho e metodologias diferenciadas, uma primeira avaliação das habilidades do professor necessárias ao desenvolvimento do trabalho é realizada (grau de conhecimento em computação, experiências anterior de desenvolvimento de material didático, etc...). Nunca se impõe uma ferramenta para a elaboração do conteúdo, são escolhidos métodos em função do conhecimento do professor, que podem ir do tratamento de texto, para os mais adiantados, à escrita à mão pelos que não possuem familiaridade com editores digitais de texto.

 

Fases de desenvolvimento

À medida que o trabalho de elaboração do conteúdo é feito, o professor é colocado em contato com a tecnologia, e passa a se integrar cada vez mais com o processo como um todo. Mais do que uma mudança ferramental, o professor passa por uma mudança paradigmática, aprendendo a objetivar o conteúdo, almejando que o aluno chegue a graus de conhecimento pontuais e completos situados no nível da conceitualização.

A tarefa de objetivação e busca do grau de conhecimento conceitual não é cronologicamente linear. Para que esta tarefa se efetive, é necessário que o curso possua módulos ou partes de conteúdo de domínio necessário e imprescindível. A análise destas partes delineia uma estruturação temática anterior à construção do conteúdo em si, que produz um esqueleto do que o curso deverá ser e como o conteúdo será organizado A partir deste esqueleto é escolhido um módulo a ser desenvolvido empiricamente com o professor, que será a base da avaliação das suas aptidões. Esse trabalho é feito no NTE, acompanhado pelo designer instrucional.

O trabalho empírico inicial é acompanhado de tarefas a serem completadas, agendadas pelo NTE, como a escrita dos objetivos do módulo em questão, dos pré-requisitos e introdução, esclarecendo que tudo o que for feito permite flexibilização, retomada, evolução e eventual mudança no andamento do trabalho. Uma vez que estes itens iniciais são escritos, é solicitado ao professor a definição do conteúdo seguindo o conceito de "página informática", ou seja, cada uma devendo ser autônoma e conceitualmente objetiva, ilustrando ao máximo os discursos para minimizá-los aos poucos e usando soluções tecnológicas propostas no decorrer do processo. O conceito das páginas informáticas incentivam o professor a sintetizar e a fechar os objetivos de ensino.

Após a montagem deste primeiro módulo pode-se planejar o ritmo de trabalho e preparar uma estrutura geral do curso. O professor não tende mais a desenvolver um conteúdo exaustivo, mas cria módulos em função de objetivos claros e definidos, o que permite ter um mesmo assunto tratado de maneira diferente em relação ao público alvo ou/e do resultado desejado.

Uma vez que os mecanismos de estruturação sejam bem compreendidos pelo professor, inicia-se a aprendizagem tecnológica: quais são as capacidades do sistema, da equipe de desenvolvimento, do orçamento, para definir as estratégias ao nível das mídias e das interatividades. Nesta fase o professor começa realmente a perceber os requisitos do sistema e as possibilidades de transcrição do conteúdo idealizado à mídia definitiva. Percebendo que as habilidades necessárias para criar um curso multimídia interativo são numerosas, aprende a dimensionar suas pretensões.

Para alcançar um nível de qualidade profissional padrão, é imprescindível o trabalho em equipe. Uma sinergia se instaura entre os atores; códigos e intercâmbios se afinam e agilizam até achar uma linguagem comum que ameniza a necessidade do professor trabalhar presencialmente com a equipe técnica do NTE.

Algumas propostas de organização baseadas na experiência adquirida pelo NTE são sugeridas para facilitar a produção do professor. A sugestão normalmente recai sobre utilização do software "Visio" da Microsoft para a produção dos roteiros, onde é montado um espelho do conteúdo relativamente fiel a cada página a ser desenvolvida, permitindo correções estruturadas mais facilmente e sem perda de trabalho (não recai sobre a correção de ilustrações, animações, codificações ou diagramações). A utilização de um software de organização de conteúdo permite fixar de maneira tangível o conteúdo, evitando os acréscimos e as modificações indefinidamente e auxiliando na sua visualização e organização.

 

Conclusão

A relação entre Professor/autor, equipe de desenvolvimento e material didático é central na realização dos projetos. Sistemas de Apoio às aulas não presenciais são numerosos no mercado, porém percebeu-se o interesse da instituição em desenvolver sua própria metodologia e sistema/ferramenta a fim de capacitar seu quadro funcional e implicar o corpo docente no desenvolvimento das TICEs, com um resultado multiplicador e benéfico para a estrutura universitária como um todo.

Assim a instituição se beneficia do saber fazer para difundir novas tecnologias sem risco de rejeição dos atores, sendo eles os principais interessados à realização adequada da mudança tecnológica.

Pesquisas estão sendo realizadas sobre os resultados dos alunos em contato com o material e o projeto em si, com enfoque na capacidade e na autonomia de grupos diferenciados e sobre os parâmetros motivadores ou inibidores no sistema disponibilizado para esses grupos.

A fim de obter maiores dados sobre a eficiência e aplicação do sistema in loco e difundir mais os privilégios desta metodologia, foi planejado, pelo Serviço de Capacitação em Tecnologias da Universidade, a realização de oficinas, objetivando habilitar os professores no uso de novas tecnologias, com enfoque no uso e discussão do ambiente colaborativo e do SAAW (9)

* O SAAW é o resultado de um projeto final de graduação de Rochelle Maria Rigo, do curso de Análise de Sistemas da PUCPR orientado no NTE por Claude René Tarrit. O sistema está em via de desenvolvimento pela equipe do SEAP: Mauro Sans Junior (programação), Luciane Hilu (Design) e Cesar Augusto Ferenc (estagiário de programação).

 

Notas

· [1] - EBERSPÄCHER, Henri F.; VASCONCELOS, Cristiano D.; JAMUR, José H.; ELEUTERIO, Marco A. "Eureka: um ambiente de aprendizagem cooperativa baseado na Web para Educação à Distância". In: Simpósio Brasileiro de Informática na Educação (SBIE), 10., Anais..., Curitiba, 1999.

· [2] - EBERSPÄCHER, Henri F.; JAMUR, José H.; ELEUTERIO, Marco A.; GOMES, Péricles. V. Eureka: um ambiente de aprendizagem cooperativa baseado na Web. Ead.br. A Educação a distancia no Brasil na era da Internet. Organização: Carmem Maia. São Paulo: Editora da Universidade Anhembi Morumbi, 2000

· [3] - Laboratório de Mídias Interativas - LAMI - http://www.lami.pucpr.br/

· [4] - Núcleo de Tecnologias Educacionais - NTE- http://www.lami.pucpr.br/nte

· [5] - conforme portaria do MEC - Portaria n°2253 de 18/10/2001

· [6] - FORCIER, R.C. (1999) The computers as an educacional tool. Productivity and problem solving (2nd ed). New Jersey: Merill, Prentice-Hall.

· [7] - HEIDE, A. e STILBORNE, L. (1998). Internet pour les profs. Montréal : Beauchemin.

· [8] - SHNEIDERMAN, B. (1998) Designing User Interfaces for efective Human-Computer Interaction (3rd ed). Massachussetts: Addison-Wesley, 74-75p

· [9] - VARELLA, Péricles G.; VERMELHO, Sônia C.; SILVA, Ana Carolina C. da; HESKETH, Camile G. "Ambiente Virtual no Ensino Superior: análise de uma experiência brasileira". In: Virtua-Educa 2001 - Conferencia Internacional sobre Educación, Formación y Nuevas Tecnologías. Anais... Madri, 2001.

 

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"Este artículo es obra original de Lucia Izabel Czerwonka Sermann y su publicación inicial procede del II Congreso Online del Observatorio para la CiberSociedad: http://www.cibersociedad.net/congres2004/index_es.html"

 

Lucia Izabel Czerwonka Sermann
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