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Fatores associados ao tabagismo: estudo de pacientes com síndromes isquêmicas miocárdicas instáveis (página 2)

Marcelo Ribeiro

 

Resultados

Idade média da população é de: 59,63 + 10,64 anos.

Os resultados apontam que o tabagismo está associado com idade menor (idade média dos fumantes 54,58 anos, dos ex-fumantes 62,17 anos e dos não fumantes 63,73 anos ,p<0,05) sexo masculino(80%(108) dos homens são fumantes, 82,57% (90) são ex-fumantes e 54,81% (57) são não fumantes, p=0,001) nível de escolaridade maior (31,85% (43) dos fumantes têm até universitário incompleto, e 35,78%(39) dos ex-fumantes e 53,92% (55) dos não fumantes têm até 1º grau incompleto p=0,001).

As classes sociais predominantes foram B1 e C, mas não encontramos diferenças significantes entre os 3 grupos, em termos de classificação social.

Considerando os fatores psicológicos, temos maior frequência de transtornos de humor (74,81%(101) dos fumantes, 63,60% (69) dos ex-fumantes e 56,73%(59) dos não fumantes,p=0,011), maior frequência de depressão maior entre fumantes(44,72%) do que não fumantes(55,28%)(p=0,035), maior frequência de depressão maior entre os fumantes homens (50,93% (55) dos fumantes, 37,78% (34) dos ex-fumantes e 26,32% (15) dos não fumantes, p=0,007) e menores níveis de ansiedade-estado (49,30 para os fumantes, 48,22 para os ex-fumantes e 51,16 para os não fumantes, p=0,0069). Não há diferenças significantes em relação a Stress e Coping.

Fumantes apresentaram maior consumo de café e álcool. Através do teste de Mann-Whitney observamos que os grupos apresentam diferença significante em relação a quantia de café consumida(p=0.0001). O grupo fumante consome 7,19 xícaras de café/dia em média, enquanto que o grupo não fumante consome em média 2,24 xícaras/dia.

 

Tabela I .
– Distribuição da Frequência dos Fatores Estudados entre Fumantes, Ex-Fumantes e Não Fumantes

Fumantes

Ex-Fumantes

Não Fumantes

P

Idade Média
(em anos+DP)

54,58

62,17

63,73

0,0001

Gênero

Homens

Mulheres

 

42,35%

29,30%

 

35,29%

20,43%

 

22,35%

50,53%

0,0001

Escolaridade

analf/1ºgrau inc

1º grau

2ºgrau

universitário

 

26%

17,8%

31,9%

24,4%

 

36%

22%

25,7%

16,5%

 

54%

16,7%

11,8%

17,7%

0,0001

Classificação Sócio-Econômica

A1

A2

B1

B2

C

D

E

 

 

 

 

8,15%

25,19%

21,48%

17,04%

23,70%

4,44%

 

 

 

 

 

2,75%

17,43%

28,44%

18,35%

29,36%

3,67%

 

 

 

 

 

2,88%

14,42%

21,15%

26,92%

26,92%

6,73%

0,96%

0,128

Transtornos de Humor

74,81%

63,30%

56,73%

0,0011

Depressão Maior

Homens
Mulheres

53,33%

50,93%

63,96%

 

37,78%

63,16%

41,78%

26,32%

59,57%

0,035

0,007

0,943

Ansiedade

Ansiedade Traço

Ansiedade Estado

 

52,93

49,30

 

52,88

48,22

 

54,42

51,16

 

0,1085

0,0069

Estresse

Coping

19,35

20,30

17,53

20,72

17,74

20,49

AUDIT

2,59

1,56

0,89

<0,001

Consumo de Café

88,15%

56,88%

49,04%

0,001

 

Discussão

Os fumantes são mais jovens porque as Síndromes Miocárdicas Agudas incidem entre os fumantes mais precocemente do que entre os não fumantes. Os ex-fumantes também são mais velhos, do que os não fumantes, porque a vivência de eventos cardíacos, tais como o IAM, são mobilizadores para a cessação de fumar. Sendo mais velhos, têm mais chance de já terem tido eventos prévios e portanto terem se motivado a parar de fumar, tornando-se ex-fumantes.

Maior frequência de sexo masculino entre os fumantes liga-se ao fato de haver uma prevalência maior de tabagismo entre os homens, na população em geral. Estes dados se coadunam com a literatura.( )

Ao contrário do que encontramos em investigações com populações americanas ( ) o nível de escolaridade dos fumantes é significativamente mais alto do que dos não fumante e ex-fumantes. Podemos atribuir a prevalência de nível de escolaridade mais alto, entre os fumantes, ao fato deles serem mais jovens. De fato, graus de escolaridade maiores (2 e 3) estão associados a idades menores (Idade Média 56,44+10,82), enquanto graus de escolaridade menores (0 e1) estão associados a idade média maiores (62,09+9,82)(p<0001).Em nosso meio, a população mais jovem é mais escolarizada do que a mais velha (E).

A não associação do tabagismo com classe social, ao contrário do que observamos na literatura, onde tabagismo está associado com classes sociais mais baixas, pode se explicar pelas mudanças sociais ocorridas em nosso meio.

Da mesma forma que apontam outros estudos( ) a frequência de transtornos de humor e de depressão maior entre os fumantes é significativamente maior. É interessante salientar que estamos investigando uma população que está em abstinência e a depressão pode ser um dos sintomas da abstinência de nicotina entre fumantes deprimidos(a,b,c,d).

Muitos estudos estão sendo desenvolvidos para explicar a associação entre tabagismo e depressão. Algumas teorias consideram que o fumar nos deprimidos poderia ser uma tentativa de auto-medicação da depressão, uma vez que a nicotina pode, com seus efeitos estimulantes, aliviar o humor disfórico. Analisando do ponto de vista psicológico, o ato de fumar pode ser um comportamento mal adaptativo, de tentativa de escape da vivência de situações de tensão psíquica, que por falta de recursos internos para elaboração psíquica, podem configurar-se como experiências insuportáveis e insuperáveis .

Esta hipótese se confirma com o fato de vermos a Depressão Maior ser mais frequente entre os fumantes homens do que entre homens não e ex-fumantes, enquanto para as mulheres não há diferenças, independente da sua condição em relação ao tabagismo. Considerando que a representação social da masculinidade, para a faixa etária estudada, em nossa cultura, está associada a características tais como força, destemor, não expressão de sentimentos(f,g ), ou seja uma contenção de afetos e emoções. Pode-se criar assim, condições favoráveis para dificuldades de expressar e lidar com afetos e o fumar pode ser uma busca de alívio deste desconforto psíquico, bem como a procura de uma solução sem pedir ajuda .

As diferenças com relação ao nível de ansiedade-estado nos 3 grupos nos apontam que que enquanto os ex-fumantes e os não fumantes ficam mais ansiosos na situação pós infarto, os fumantes ficam mais deprimidos.

Os fumantes com IAM ou AI consomem álcool e café com mais frequência do que ex-fumantes e não fumantes porque estes funcionam como gatilhos para o fumar.

Estes resultados

Conclusão

O tabagismo em pacientes hospitalizados com Infarto Agudo do Miocárdio ou Angina Instável está associado a:

  • Ser do gênero masculino
  • Ser mais jovem do que não fumantes e ex-fumantes
  • Ter nível de escolaridade mais alto do que não fumantes e ex-fumantes
  • Ter Transtornos de Humor
  • Ter Depressão Maior, no caso dos homens
  • Consumir Álcool com maior frequência
  • Consumir Café e em maior quantidade

OU ?

Conclusão

Os fumantes com SIMI mais frequentemente são homens, mais jovens e mais escolarizados, apresentam nível de ansiedade-estado mais baixo, mas com mais frequência apresentam Transtornos de Humor, do que os ex-fumantes e não fumantes. Os homens fumantes têm Depressão Maior com mais frequência do que os não fumantes. Os fumantes apresentam também um maior consumo de álcool e café.

Referências Bibliográficas

  • A - Anda RF, Williamson DF, Escobedo LG, Mast EE, Giovino GA, Remington PL. Depression and the dynamics of smoking : a national perspective. J Am Med Assoc 1990;264(12):1541-5
  • B - Glassman AH, Helzer JE, Covey LS, Cottler LB, Stetner F, Tipp JE et al. Smoking, smoking cessation and major depression. J Am Med Assoc 1990; 264(12):1546-9
  • C - McKenna K, Higgins H. Factors influencing smoking cessation in patients with coronary artery disease Patient Education and Counseling 1997;32:197-205
  • D - Glassman AH. Cigarrette smoking: Implications for psychiatric illness. American Journal Of Psychiatry. 1993; 150:546-553.
  • Perfil Sócio Econômico da População Usuária dos Ambulatórios do Complexo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo- Salimene ACM, Nascimento CL, Nacao EF, Strong MI, Gazetta MLB, Santilli MLV, Raiza O, Albuquerque SMRL, Katsuda TS Jan, 1989
  • Badinter, Elisabeth . XY: Sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1995
  • Goldenberg, Míriam (Org) Os Novos Desejos: Das Academias de Musculação às Agências de Encontros Seis visões sobre mudanças de comportamento de homens e mulheres na cultura brasileira contemporânea Rio de Janeiro, Record, 2000

 

Glória Heloise Perez, Ronaldo Ramos Laranjeira, Bellkiss Wilma Romano, José Carlos Nicolau
laranjeira[arroba]uniad.org.br

Instituto do Coração (InCor)- HCFMUSP, Serviço de Psicologia
UNIFESP-Depto de Psiquiatria



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