"um afastamento geral de uma preocupação com o desenvolvimento econômico e social e uma tendência idealista crescente, o que incentivou um interesse no estudo do simbolismo e das crenças (...). E hoje parece haver muito mais interesse em tentar compreender as crenças dos nativos, o que é o impacto do sistema de crenças no comportamento, de uma perspectiva simbólica. Claro que isso, em parte, reflete o fim de verbas para pesquisas sobre o desenvolvimento (...). O 16 interesse afastou-se de estudos sobre questões econômicas e políticas do desenvolvimento para esta espécie de esforço germânico para alcançar um tipo de verstehen, uma espécie de compreensão sintética da percepção dos nativos".
Ele acrescentou que, com o crescimento de um movimento político indígena no Canadá, os antropólogos procuram manter um papel não como intermediários, pois os povos nativos não precisam mais destes, mas como pessoas que estudam a interação de mundos diversos que são cognitivamente diferentes.
Richard Lee & Carolyn Filteau constatam que em 1978-79 havia 21 departamentos de antropologia nas universidades canadenses, treze departamentos de sociologia e antropologia, e um departamento de antropologia e arqueologia (1983:215).
Diferente da antropologia na Grã-Bretanha, na França, e no Brasil, a maioria dos departamentos segue a abordagem boasiana, o que é o padrão americano, dos quatro campos: antropologia social e cultural, antropologia física, arqueologia e lingüística. Por exemplo, segundo um informante, na Université de Montréal há cerca de 22 professores do quadro, cinco em arqueologia, três em lingüística, três em antropologia física, e onze em antropologia social/cultural. Contudo alguns departamentos romperam com essa abordagem, como o Departamento de Antropologia da Université Laval, que oferece somente antropologia social, e, em todos os departamentos a antropologia social-cultural é o campo central. Mais de 50% de todos os antropólogos no Canadá classificam-se como antropólogos socioculturais.
Em 1982 havia cerca de 250 professores de antropologia em 34 departamentos de antropologia (Lee & Filteau, 1983:216). Segundo Herman, Vallee, & Carstens, (1982 apud Preston, 1983:293-294), em 1983 havia 22 departamentos de antropologia, treze de antropologia e sociologia, um de antropologia e arqueologia, e três de arqueologia, além de haver alguns antropólogos nos 32 departamentos de sociologia. Do total de 39 departamentos com antropologia, onze departamentos tinham de 11 a 31 professores de dedicação exclusiva. Onze departamentos tinham programas de doutorado, onde se encontravam 250 professores. Doze outros departamentos tinham programas de mestrado, e quatorze de graduação. Além das universidades, em dez museus havia 38 antropólogos doutores e 83 sem doutorado. Nas palavras de Preston, a estrutura social da antropologia no Canadá apresentava "uma hierarquia complexa, marcada pelo ideal de excelência intelectual, e enfraquecida por tendências burocráticas para o carreirismo, a fragmentação da produção acadêmica, e a superficialidade" (1983:295).
Segundo Gold e Tremblay (1983:55), na antropologia francófona da década de 60, "havia poucos antropólogos que praticavam uma antropologia de ação". Contudo, na década de 70, a questão do nacionalismo quebequense e o controle da economia de Quebec preocupou muitos antropólogos. Assim, conforme Hedican (1995:17-18), a controvérsia em volta do projeto hidrelétrico da Baía de James enfocou menos o contexto da questão indígena e dos direitos aborígines e mais o contexto do nacionalismo quebequense e a independência econômica do Quebec do Canadá anglófono.
Apesar disso, houve também uma preocupação com a questão indígena por parte de alguns antropólogos no Quebec. O projeto de antropologia aplicada realizada pela equipe da Universidade de McGill junto aos Cree setentrional foi iniciado em 1964, dirigido por Norman Chance, que foi substituído por Richard Salisbury em 1971, quando o projeto passou a ser chamado Programa em Antropologia de Desenvolvimento, rompendo 17 com a tradição de separar antropologia teórica e aplicada. Salisbury ressalta que, na antropologia que se faz no Canadá, a teoria tem se desenvolvido em estreita relação com uma antropologia de ação (1979:229). Lee & Filteau assinalam que há "um senso de compromisso com questões políticas" (1983:221) que permeia a antropologia que se faz no Canadá, sobretudo junto a povos indígenas, o que conduziu muitos antropólogos a assumir uma orientação ativista. Acrescentam que "Este senso de compromisso distingue a antropologia social-cultural canadense da antropologia que se faz na Grã-Bretanha e nos EUA" (1983:221-223).
Michael Asch (1983:202) ressalta que a antropologia de ação, estreitamente relacionada a questões políticas dos povos indígenas, longe de distrair os pesquisadores de problemas teóricos, tem enriquecido a teoria. Na década de 70, no Canadá ocidental, o Inquérito sobre o projeto do Gasoduto do Vale do Rio Mackenzie conduziu a pesquisas sobre assuntos indígenas sensíveis, como a situação de dependência da nação Dene. O resultado do Inquérito, chefiado pelo juiz Thomas Berger, foi a recomendação de uma moratória de dez anos sobre o desenvolvimento da região de Mackenzie até a resolução de reivindicações territoriais indígenas e impactos ambientais. Asch (1983:202-204) mostra como o modelo de aculturação predominante na época, usado por testemunhas periciais da indústria de petróleo que favoreciam a construção do gasoduto, tornou-se obsoleto frente à rejeição pelos Dene e Inuvialuit de propostas baseadas nesse modelo. A década de 1970 trouxe um aumento na quantidade e na qualidade de pesquisas antropológicas sobre o impacto de mega-projetos, em trabalhos como os de Harvey Feit (1973) e Adrian Tanner (1981), que mostram, através de pesquisas sobre a economia de caça, que os povos aborígines são gerentes do seu meio ambiente e não agentes passivos dele.
Gold & Tremblay salientam que a participação de antropólogos junto aos Cree da Baía de James veio como conseqüência da incapacidade dos mesmos avaliarem o impacto do projeto hidrelétrico nas suas comunidades e na sua economia de caça que queriam continuar a praticar. Um modelo transacional surgiu das pesquisas, e, diferente de pesquisas anteriores, os antropólogos da equipe de Salisbury colocaram os territórios de caça dos Cree dentro de um modelo maior que enfocava a relação entre as comunidades, os recursos naturais, a divisão de trabalho e ideologias sobre o uso da terra, em trabalhos como os de Harvey Feit (Gold & Tremblay, 1983:62). Gold & Tremblay mencionam que a maior parte das pesquisas junto aos Inuit do norte de Quebec, após a Segunda Guerra Mundial, foram dirigidas por pesquisadores estrangeiros e antropólogos não quebequenses, e que essas pesquisas não abordam a situação colonial. Contudo, nas décadas de 60 e 70, Gold & Tremblay (1983:63) observam uma escassez de pesquisas no Quebec sobre as relações entre povos indígenas e brancos, as lideranças indígenas, a política indígena e indigenista, e a emergência de novas identidades étnicas no contexto do movimento indígena a nível de província e a nível nacional. A maioria das pesquisas enfocava comunidades indígenas com pouco contato. Além de pesquisas em etnologia indígena, houve pesquisas na área de antropologia urbana, sobre etnicidade entre imigrantes, industrialização, e antropologia de saúde. Gold & Tremblay concluem que as pesquisas antropológicas no Quebec são suficientemente diversificadas para dar uma identidade única à antropologia, marcada por um interesse em objetivos nacionais (quebequenses) e maior experiência cosmopolita.
Nos anos 60 e 70, Rémi Savard publicou estudos estruturalistas de mitos Inuit e Montagnais, influenciados por Lévi-Strauss. Savard mostra como os Montagnais, 18 ludibriados pelos brancos, inverteram simbolicamente sua situação ao se tornarem os embusteiros dos brancos, num discurso anti-colonial. Asen Balikci afirma que "Os quebequenses estudaram os índios de Quebec, seus índios, na sua província. A história dos índios foi, em parte, a sua história" (1980:124), um pouco parecido com o caso brasileiro, onde a antropologia tem sido relacionada ao processo de construção da nação brasileira (Peirano, 1991, Ramos, 1990).
Alcida Ramos, referindo-se à antropologia contemporânea brasileira, afirma que "é a questão indígena que é o foco principal de atenção política, mesmo que etnólogos dedicados a estudos indígenas constituam uma minoria na profissão" (1990:456).
Acrescenta Ramos:
"De todos os objetos concretos da pesquisa antropológica brasileira, as sociedades indígenas são as melhores representantes de `Alteridade' ... Contudo, os Índios brasileiros são nossos Outros, são parte do nosso país, constituem um ingrediente importante no processo da construção da nossa nação, representam um dos nossos espelhos ideológicos que reflete nossas frustrações, vaidades, ambições, e fantasias de poder. Não os consideramos tão radicalmente exóticos, remotos, ou arcanos, para transformá-los literalmente em `objetos'. Para nós, nunca se perde sua humanidade, seu predicamento é nossa culpa histórica, seu destino é tanto deles quanto o nosso. ...a questão indígena constitui um campo excepcionalmente privilegiado para o exercício do duplo projeto de trabalho acadêmico e ação política" (1990:456-457).
Na situação politizada de pesquisas etnológicas junto com povos indígenas no Canadá, é comum que as comunidades aborígines exijam que o pesquisador assine um contrato antes de iniciar suas pesquisas. Freqüentemente exigem que a pesquisa lhes traga benefícios definidos por eles, e que seja formulada dentro dos seus próprios interesses.
Vários antropólogos entrevistados ressaltaram que suas pesquisas eram orientadas em primeiro lugar para as necessidades definidas pelos povos nativos, e que, nos últimos anos, há uma tendência para uma antropologia mais aplicada, relacionada a problemas específicos enfrentados pelos povos como reivindicações territoriais. Apontaram para o fato de que, a partir da década de 1970, houve menos pesquisas de campo de longa duração que no passado, e mais pesquisas de campo realizadas em etapas de curta duração, porém estendendo-se por um período maior diacronicamente.
Há aproximadamente 400 sócios da CASCA (Canadian Association of Social and Cultural Anthropology), que não abrange todos os antropólogos do Canadá. Além da CASCA, há a SAAC (Society for Applied Anthropology in Canada), a CAMA (Canadian Association of Medical Anthropology), a Canadian Society of Sociology and Anthropology, e também organizações regionais de antropologia e organizações separadas para arqueologia e antropologia física.
Alguns dos principais periódicos canadenses em antropologia social/cultural são:
Culture, publicado pela CASCA; Anthropologie et Société, do Departamento de Antropologia da Universidade de Laval; Recherches Amérindiennes au Québec, fundado em 1971, por uma sociedade independente; Yuit; Études/Inuit/Studies; e Anthropologica, publicado no Ontário, além de periódicos regionais como BC Studies, fundado em 1969.
Muitos antropólogos trabalham fora da academia como consultores. Richard Salisbury (1983:192) distingue entre quatro tipos de antropólogos consultores: os independentes, que operam como homens de negócios que vendem seus serviços a clientes, os que trabalham em agências do governo, os que trabalham para empresas e os que trabalham para grupos locais indígenas. Dentro destes tipos, Salisbury distingue entre administradores, empregados e consultores. Os consultores contratados por comunidades indígenas e conselhos tribais realizam tarefas definidas pelo contratantes.
Os antropólogos têm sido tratados com bastante descaso por juízes, advogados e agências governamentais. Isso fica claro, por exemplo, no processo judicial de Delgamuukw v. B.C., no Supremo Tribunal da Colúmbia Britânica, cuja decisão tornou-se pública em 8 de março de 1991. O processo começou na cidade de Smithers, em 1987, quando chefes hereditários dos povos Gitksan e Witsuwit'en reivindicaram 55,000 km2 de terras devolutas no norte da província de Colúmbia Britânica. Em 1984, chefes hereditários processaram a província. Os povos aborígines perderam a sua reivindicação, e o juiz rejeitou os depoimentos dos chefes e dos antropólogos que agiram como testemunhas periciais (ver Miller, 1992; Ridington, 1992; Cruikshank, 1992; Culhane, 1992). Dos integrantes do grupo de três antropólogos que os Witsuwit'en e Gitksan convidaram para agir como testemunhas periciais, a pesquisadora Antonia Mills (1994) publicou seu laudo em forma de livro. A Corte de Apelação da província reconheceu, em 1993, que os povos nativos têm certos direitos relacionados ao uso tradicional e ocupação. Parecido com o caso da reivindicação territorial dos Mashpee, nos EUA (Clifford, 1988), o juiz deu muito mais crédito à documentação histórica do que à tradição oral indígena e às interpretações antropológicas.
No início da década de 1980 um terço dos etnólogos baseados no Canadá realizavam pesquisas dentro do país, e dois terços das teses de pós-graduação em etnologia tratavam de assuntos canadenses, num processo, identificado por Frank Manning, "em que etnólogos canadenses dirigiram a sua atenção para seu próprio país" (1983:4), com pesquisas junto a povos indígenas, outros grupos étnicos, e uma variedade de problemas sociais. Essa tendência da antropologia que se faz no Canadá de se dirigir a temas canadenses é ressaltada também por Burridge (1983). Quebec liderou em pesquisas sobre sociedades locais, onde Gerald Gold e Marc Adélard Tremblay observam a importância de pesquisas realizadas por equipes de pesquisadores sobre temas rurais e indígenas.
Nas minhas entrevistas, por um lado, a maioria dos antropólogos francófonos ressaltou as diferenças entre eles e os antropólogos anglófonos, e o pouco diálogo entre os dois grupos. Alguns antropólogos francófonos se apresentaram como mais cosmopolitas do que a maioria dos anglófonos com uma cultura mais sintonizada com a vida intelectual de Paris e dos grandes centros acadêmicos do nordeste dos EUA, do que com o provincianismo dos antropólogos anglófonos no Canadá. Por outro lado, muitos antropólogos anglófonos ressaltaram que, apesar da barreira lingüística, há bastante diálogo entre antropólogos anglófonos e francófonos, como se isso refletisse o desejo de se unirem numa única nação. Um antropólogo anglófono que trabalha há muitos anos no Quebec assegurou-me que existe um diálogo entre antropólogos anglófonos e francófonos através da CASCA, além de haver acadêmicos francófonos que lecionam em departamentos anglófonos e vice versa: "Há muitas pontes para o diálogo. Não vejo isso como um grande problema".
Entretanto, vários antropólogos anglófonos afirmaram que o diálogo e 20 intercâmbio entre antropólogos anglófonos e francófonos não são tão bons como "deveriam ser", acrescentando que esperam que melhorem. Um antropólogo anglófono, foi ao extremo de expressar seu desejo de que com a Internet as diferenças sejam diminuídas.
Quem compartilha da ideologia federalista do Canadá como uma nação bilíngüe (francófono e anglófono - uma ideologia que às vezes desenfatiza os povos aborígines e grandes comunidades de imigrantes) deseja que antropólogos francófonos e anglófonos possam se comunicar como membros da nação canadense. Enquanto aqueles que apoiam a separação do Quebec ressaltaram a precariedade do diálogo entre os anglófonos e francófonos, enfatizando seus laços estreitos com a antropologia nos grandes centros do nordeste dos Estados Unidos e na França mais do que com os antropólogos anglófonos do Canadá, identificados com seus opressores coloniais.
Pode ser que o forte enfoque nas antropologias metropolitanas também contribua para a falta de diálogo entre antropólogos dentro da província. Segundo Azzan Júnior:
"Essa certamente é uma das razões pelas quais parece haver tão pouco diálogo entre os antropólogos do/no Quebec. Muitas vezes trabalhando sobre temas semelhantes, senão os mesmos, sobre as mesmas sociedades, ou sociedades vizinhas, ou de características culturais semelhantes, esses antropólogos, separados às vezes por algumas salas, ou por uma viagem de ônibus, preferem citar colegas da França, ou EUA, ou Inglaterra" (1995:62).
Após afirmar que no Quebec há pouca platéia para o estudo de índios, um antropólogo quebequense me perguntou por que os quebequenses (com algumas exceções) não estudam os índios do Quebec. Respondi que um dos motivos poderia ser que a tradição antropológica desenvolvida nos países de centro, à qual aspirou a antropologia de Quebec, dirigiu sua atenção para o exótico além-mar. O entrevistado concordou que, de certa maneira, isso era correto, pois:
"nós também queríamos estudar no além-mar. Esta é a resposta da perspectiva antropológica. Mas, da perspectiva da sociedade, a questão é que nós somos os Índios aqui6. O que são os Índios nas Américas? Os primeiros ocupantes da terra.
Aqueles que realmente conhecem a natureza, que estão em contato com a terra, a mãe terra, etc. Saiba que em relação aos ingleses é assim que nós nos vemos.
Então, os Índios e nós ocupamos o mesmo nicho. Então, quanto à questão de estudar os direitos territoriais dos Índios, nós estamos lutando por nosso direito à terra. (...) Nosso problema com os Índios é a terra. Esta terra é nossa. Nossas terras foram usurpadas pela conquista. Quando se fala na conquista no Quebec, não é quando nós chegamos. É quando os britânicos chegaram. Claro, quando os franceses chegaram, eles não conquistaram nada. Não tinham a força (...) Não tinham um exército poderoso, nada parecido. Tal como no Brasil, os Índios aqui não podiam ser conquistados a não ser aldeia por aldeia. (...) Então, não houve uma conquista francesa (...) Nós fomos conquistados pelos britânicos. Então esta é
a conquista que é ilegítima. (...) Então, esta é a história do povo minoritário. (...) Pode ser expressa de maneiras diferentes. Pode ser expressa da maneira que nós somos tão próximos aos Índios que somos quase equiparáveis".
Ele descreveu os Índios e os imigrantes como "dois temas extremamente problemáticos na antropologia que se faz no Quebec (...). Dois temas sobre os quais o que os antropólogos têm a dizer não é benvindo pela sociedade em geral", o que conduziu os antropólogos contratados para etnologia indígena a desenvolver outros campos de pesquisa.
Ele acrescentou que o estudo de Índios no Quebec tem sido bastante limitado por esse motivo, em nítido contraste com a antropologia anglófona: "Há um grande desenvolvimento de etnologia indígena no Canadá anglófono. (...) Há um imenso espaço social para ouvir sobre os Índios". A grande questão, segundo esse entrevistado, é a da terra.
Enquanto a Inglaterra fazia tratados com os povos indígenas na maioria das colônias anglófonas que vieram a ser o Canadá, na colônia de Nouvelle France, ao longo do rio São Lourenço e ao norte dele, a França nunca fez tratados. Até hoje os povos nativos reivindicam essa região como seu território, e nunca houve uma negociação satisfatória com eles.
O mesmo antropólogo francófono realçou que havia mais antropólogos interessados em estudar os Índios no Quebec nos anos de 1970, "Aquela foi uma espécie de idade de ouro de militância (...) quando predominava a idéia de que havia soluções fáceis para quase todos os problemas sociais", e quando o movimento indígena apresentava "um discurso muito radical (...). Esse discurso aproximava-se muito do discurso nacionalista dos quebequenses radicais". Entretanto, com a implantação do projeto hidrelétrico da Baía de James, foram os antropólogos anglófonos da Universidade de McGill que deram o apoio antropológico aos povos nativos, e não os antropólogos francófonos que os haviam apoiado de maneira mais radical nos anos anteriores. Ele acrescentou que "Atualmente, o senso comum no Quebec está se empenhando numa luta contra os que percebe como os nossos opressores, e lavando as mãos dos Índios, que passaram a ser vistos como concorrentes à mesma terra, e aos mesmos recursos básicos".
Ao comentar a expressão "Nós somos os Índios aqui", uma antropóloga anglófona afirmou que, na década de 70, alguns nacionalistas quebequenses se diziam "os negros do Canadá" para ressaltar sua posição subordinada, e que já que se tornou politicamente incorreto dizer isso, talvez tenham mudado para "Nós somos os índios do Canadá". Outra antropóloga anglófona, de mãe judia quebequense e pai católico irlandês, comentou que, tendo sido criada em Montreal, conhecia o estreito laço histórico entre o nacionalismo quebequense e o anti-semitismo, e com pai irlandês desconfiava igualmente da chamada justiça britânica.
Um antropólogo francófono entrevistado comentou que alguns políticos nativos usam para fins políticos o movimento para a independência do Quebec, quando se dirigem a algumas platéias anglófonas, acusando o Quebec de atacar seus direitos fundamentais, e afirmando que "Nós (quebequenses) somos os piores racistas ... que nós somos etnonacionalistas, racistas". Ele acrescentou que "antropólogos são quebequenses, e são emotivos e nacionalistas também", o que conduz a um "confronto de nacionalidades (...) que não ajuda as boas relações entre os quebequenses e os povos indígenas". Uma antropóloga francófona afirmou que muitas das acusações de racismo dirigidas contra os 22 quebequenses fazem parte de um discurso público com fins políticos, e que alguns canadenses anglófonos, inclusive alguns antropólogos e advogados, "parecem contentes em ter representantes nativos que dizem o que eles mesmos não têm coragem de dizer". Outro enfatizou que a questão indígena está sendo usada tanto pelo governo federal quanto pelo governo da província de Quebec, e que os povos indígenas se aproveitam desta contradição para promover a sua própria causa.
Um antropólogo anglófono elaborou mais sobre essa questão, argumentando que o governo provincial do Quebec, "tem exacerbado muito o antagonismo entre os Índios e os quebequenses francófonos. Uma das conseqüências é que essa exacerbação alcança as relações de antropólogos francófonos, e aqueles que tiveram relações estreitas com os Índios no passado. Por isso, atualmente as relações são tensas. Os canadenses francófonos tendem a ver Índios como partidários do federalismo. E isso cria um ambiente tenso, um ambiente muito difícil e tenso entre antropólogos francófonos e os povos nativos", sobretudo a partir da crise de Oka de 1990. O então primeiro-ministro da província de Quebec, Robert Bourassa, planejando a construção de um novo projeto hidrelétrico na Baía de James, e receoso de enfrentar oposição por parte dos Cree, determinou uma intervenção da polícia provincial contra um grupo de Mohawk que ocupou terras tradicionais perto de Montreal que estavam sendo usadas para desenvolvimento urbano. O primeiro-ministro, numa tentativa de demonstração de força do governo provincial, acreditava que uma intervenção policial em área indígena também intimidaria os Cree no norte da província. O resultado foi a crise que durou todo o verão, até a intervenção do exército canadense:
"A conseqüência disso foi a criação de muita boa vontade romântica com relação aos Índios no Canadá anglófono, pois os Índios são vistos como adversários dos quebequenses francófonos e seus interesses (de independência). O papel político (dos Índios) tem sido muito realçado como conseqüência, e por isso os canadenses anglófonos, em geral, tendem a ser, atualmente, romanticamente bem dispostos com relação aos povos nativos. Embora, como digo, quando se trata de questões locais, eles são tão indispostos a ceder as terras ou os recursos que estão reivindicando aos Índios como em qualquer lugar (...). Atualmente, os antropólogos no Quebec têm que enfrentar a questão de qual é a sua lealdade à sua própria etnicidade. Como se relaciona isso aos povos nativos, considerando que esses são percebidos pela maioria dos francófonos como adversários, e, por outro lado, essa questão traz muito apoio para os povos nativos em outras regiões".
Segundo Sieciechowicz, "A crise de Oka de 1990 foi a conseqüência direta de anos de negociações sobre terras sem resultado. Os Mohawk de Oka e os Huron de Lorette não eram considerados indígenas do território do Quebec, e assim, da perspectiva da Província estavam lá pela boa vontade da província. Isso não foi a maneira como 23 os grupos indígenas entenderam sua situação. Estavam nessas terras ou porque foram convidados pelos jesuítas, no caso dos Huron, ou haviam sido realocados pelos Sulpicianos, no caso dos Mohawk. Da perspectiva indígena, um convite para se fixar era uma maneira digna de viver numa terra nova. Da perspectiva nãoindígena é um argumento fraco para reivindicar um território" (1995).
Os antropólogos quebequenses francófonos, que na sua maioria se identificam com o movimento de independência do Quebec, encontram-se numa situação tensa pelo fato de que a maioria dos povos aborígines do Quebec, muitos dos quais têm o inglês como segunda língua e vivem numa região incorporada ao Quebec no início deste século7, não apóia a separação do Quebec do Canadá, temendo um tratamento pior do que recebe do governo federal canadense (no plebiscito de outubro de 1995, 96,3% dos Cree votou contra a independência do Quebec, The Globe and Mail, 26 de outubro de 1995). Ao mesmo tempo que apóiam o respeito aos direitos dos povos indígenas, alguns antropólogos quebequenses não concordam com a divisão do Quebec através da possível perda de vastos territórios por povos indígenas que ameaçam romper com o Quebec no caso da sua separação do governo federal canadense8. A viabilidade econômica de um Quebec independente dependeria da venda da energia hidrelétrica para os EUA. Nas palavras de um antropólogo francófono, após afirmar a sua solidariedade com a causa indígena: "Não vamos deixar os Índios tomar o Quebec". A ideologia da construção da nação quebequense, com a qual muitos antropólogos se identificam como quebequenses, entra em choque direto com o seu compromisso com os interesses dos Índios. Segundo Savard, citado por Robert Crépeau, "A legitimidade do nacionalismo quebequense ... seria quimérica se se tornasse um nacionalismo tecnocrático insensível `ao riso pré-colombiano no Quebec de hoje'" (Crépeau, 1995:147).
Tremblay e Lévesque observam, no seu trabalho a respeito dos estudos quebequenses nas ciências sociais sobre os povos indígenas no norte de 1960 a 1989, que:
"Um bom número de eventos marcantes aconteceram nos últimos quatro ou cinco anos sem que os especialistas em questões indígenas e a sociedade quebequense tenham trazido uma contribuição científica notável que poderia esclarecer essas situações ao ponto de reconciliar visões contraditórias e de garantir relações interculturais construtivas. O silêncio dos antropólogos durante a crise de Oka é um exemplo que prova isso" (1993:33).
Alguns dilemas que pode enfrentar um antropólogo que se identifica com objetivos nacionais tornam-se claros no caso do antropólogo egípcio, Hussein Fahim, que descreve suas pesquisas com os núbios no sul do Egipto e no Sudão. Fahim mostra que, com a construção da grande represa de Assuão e o deslocamento do povo núbio, ele compartilhou "um sentimento de simpatia para com os núbios realocados - um sentimento comum entre os pesquisadores estrangeiros durante o período de levantamento" (1977:82).
Entretanto, depois de assumir um cargo realizando pesquisa orientada para política governamental, e obter uma "compreensão melhor dos objetivos nacionais" (1977:83), Fahim afirma: "comecei a sentir menos simpatia frente à sua recusa (a dos núbios) de tomar iniciativa para ajudar resolver seus próprios problemas. (...) como antropólogo indígena, para quem os objetivos nacionais são de primeira importância, comecei a perceber a situação dos núbios dentro de um contexto muito mais amplo" (Ibid.). Fahim descreve:
"quando mudou minha relação de pesquisa com o governo, mudou também a atitude dos núbios com relação a mim" (Ibid.), que "se tornaram distantes e reservados". Nesse caso a identificação do antropólogo com os objetivos nacionais passou a entrar em conflito direto com os interesses dos núbios.
Fahim compara seu papel de "antropólogo indígena (egípcio, mas não núbio)" com aquele de outro antropólogo, de nacionalidade estrangeira, que pesquisava na mesma região, e como, para ele (como egípcio que trabalhava para o governo), os núbios tornaramse "somente uma parte da totalidade que é a nação. Atualmente, os interesses da nação são para mim de primeira importância" (1977:84). Enquanto os núbios "não esperavam nada" do antropólogo estrangeiro, "exigiam de mim um retorno na forma de decisões sobre a política governamental" (Ibid.). Enquanto "eles sabem que ele (o antropólogo estrangeiro) não tem poder, no meu caso, os núbios exigem de mim uma ação" (Ibid.). As exigências dos povos nativos com relação a um "pesquisador indígena ligado ao governo" (Ibid.) obviamente são diferentes das suas exigências com relação a um antropólogo visto como estrangeiro.
Entretanto, esses mesmos dilemas podem ser enfrentados, tanto por antropólogos anglófonos que realizam pesquisas com povos nativos no Canadá, como por antropólogos francófonos que trabalham com povos nativos no Quebec. Alguns antropólogos francófonos salientaram que, se eles são nacionalistas, os anglófonos, maioria no poder do governo federal, são imperialistas, mesmo que não sejam conscientes disso, e seu aparente apoio aos povos indígenas do Quebec só existe em oposição ao movimento de independência quebequense. Um acadêmico anglófono revelou o ambiente anglocêntrico que reinava na academia canadense até a metade do século: "Foi somente a partir dos anos 60 que os intelectuais anglófonos começaram a levar a sério os intelectuais francófonos".
Nas palavras de uma antropóloga anglófona, que realizou pesquisas junto com comunidades aborígines no Quebec: "É fácil olhar para Quebec e dizer `É evidente que seus estudos nas ciências sociais são relacionados à nação de Quebec e aos interesses quebequenses'. Porém, eu argumento que este mesmo processo está acontecendo no Canadá, mas, já que nós estamos implicados nele, é muito mais difícil vê-lo com uma perspectiva de fora e realizar uma crítica à nação canadense. Dizem que, `Não, nós não somos muito nacionalistas'. Não acredite nisso!". Ela acrescentou que houve muito pouca análise crítica do nacionalismo canadense.
Um antropólogo francófono argumentou: "As antropologias metropolitanas também são antropologias com preocupações nacionais. Só que a forma é universal (...) uma afirmação de uma nação que se coloca como uma cultura universal". O mesmo antropólogo esclareceu que acha que a maioria dos seus colegas não vê a antropologia que fazem como periférica, mas acredita que está participando de uma antropologia mais global. Outro antropólogo francófono assegurou que, quando a antropologia expandiu-se 25 rapidamente como disciplina acadêmica na década de 1960, "Nós queríamos estudar tudo.
A antropologia nunca queria ser periférica. Apostamos numa antropologia central, e construímos nossos departamentos como os dos EUA e fomos estudar na Europa e nos EUA. Queríamos uma antropologia do primeiro mundo". Ele acrescentou que não queriam ser como os mexicanos "que eram ao mesmo tempo antropólogos e reformistas sociais. Nós eramos todos social-democratas, do primeiro mundo, ricos, e antropólogos".
Um antropólogo anglófono entrevistado, defensor de uma antropologia internacional e universalista, declarou que ele não vê a situação da antropologia no Canadá como colonial, "porque eu acho que os canadenses nunca se sentiram inferiores aos americanos ou aos britânicos". Ele argumentou que quaisquer tendências nativistas na antropologia que se faz no Canadá foram sobrepujadas pelo fato de que muitos antropólogos canadenses realizam pesquisas no exterior, "então, mesmo lá nós procuramos ser como os antropólogos americanos ou britânicos, procuramos nos comportar da mesma maneira deles".
Nas palavras de Maranda, falando de uma perspectiva quebequense a respeito das pesquisas de antropólogos canadenses no exterior: "os anglófonos colaboram mais com as autoridades políticas governamentais, enquanto os francófonos identificam-se mais com as necessidades das massas" (1983:123-124). Conforme Maranda:
"Os parâmetros descritivos dos anglófonos derivam diretamente da antropologia anglo-saxã `internacional'... Tanto na `antropologia de ação', quanto na antropologia ecológica, ou qualquer outra abordagem, nada distingue esses trabalhos daqueles dos americanos, cujo exemplo parecem ansiosos por seguir, a julgar pelo cuidado com que os anglófonos citam os modelos (anglo-saxões) que os influenciaram" (1983:125).
Acrescenta Maranda: "Existe uma diferença mais marcada entre os antropólogos britânicos e americanos do que entre canadenses anglófonos e americanos...", enquanto, "os parâmetros descritivos dos antropólogos francófonos do Canadá são diferentes tanto daqueles dos anglo-saxões quanto dos dos franceses. Quebec nunca foi um poder colonial mas sempre um país colonizado, onde se viu o desenvolvimento de uma etnografia do terceiro mundo por habitantes do terceiro mundo. Tanto os estruturalistas como Rémi Savard, Jean-Claude Muller, Bernard Arcand, Yvan Simonis, Bernard Saladin d'Anglure ou Eric Schwimmer, quanto os marxistas como Yvan Breton, Pierre Beaucage ou Bernard Bernier, ressaltam ... a subordinação dos grupos mais fracos pelos mais fortes ... são os dominados seguindo o retrato de outros povos dominados, enquanto, (no caso dos antropólogos anglófonos) são os vassalos do dominante seguindo o retrato dos dominados" (1983:125).
Ramos propõe que o "viés humanista da antropologia no Brasil, e o envolvimento social recorrente dos seus profissionais, pode ser devido a ainda outro fator, isto é o fato que o Brasil tem sido um país colonizado durante quatro séculos tanto antes quanto depois da sua independência política de Portugal..." (1990:456). Como já foi citado acima, Ramos 26 observa a reação à hegemonia euro-americana no Brasil na forma de uma postura crítica a coisas hegemônicas, freqüentemente de inspiração marxista. Gold & Tremblay (1983:55- 56) ressaltam o surgimento de uma perspectiva marxista na antropologia quebequense na década de 1970 junto com a emergência do nacionalismo quebequense, sobretudo em pesquisas sobre comunidades rurais.
Guilhermo Ruben chega à conclusão de que, diferente da sua "hipótese inicial de que existiria um alto grau de correlação entre a conflituosa questão da nacionalidade e a teoria da identidade formulada em Quebec no interior da antropologia (...) os dois conjuntos de problemas (a nacionalidade no Quebec e a teoria da identidade na antropologia) são conjuntos essencialmente autônomos" (1995:125). Ruben argumenta que a antropologia quebequense recusa-se a procurar definir suas origens quanto à sua história institucional (1995:133), pois, segundo sua hipótese, "as origens dos modernos programas universitários de pesquisa e ensino de antropologia no Quebec (nas Universidades de Montreal e de Laval) são o resultado de uma relação proibida, e eu diria até incestuosa, entre seus legítimos pais (Tremblay e Dubreuil), criadores (...) dos dois programas institucionais e de outro, socialmente proibido: a antropologia americana. Num contexto nacionalista, francês, católico e rural, como poderia ser aceita a participação de um parceiro inglês, protestante e industrial, como co-genitor dos modernos programas de ensino e pesquisa em antropologia no Quebec contemporâneo?" (1995:133-134).
Acrescenta Ruben: "o reconhecimento dos pais fundadores dos modernos programas de antropologia no Quebec implicaria reconhecer a profunda e íntima relação da província com o mundo inglês, o que inviabilizaria o caráter étnico que marca o estilo da disciplina no Quebec" (1995:134).
Roberto Cardoso de Oliveira afirma que "No caso do Canadá francês, no Quebec, já vamos observar um forte processo de etnização da disciplina, gerando, a rigor, duas modalidades de antropologia, uma francófona, outra anglófona, profundamente marcadas por seus horizontes lingüístico-culturais" (1995:188). Na antropologia anglófona no Canadá, como na antropologia castelhana na Espanha, não há a dimensão de etnicidade presente na antropologia francófona no Canadá e na emergente antropologia catalã na Espanha9.
Esses exemplos revelam como uma complexa configuração de lealdades nacionais e imperiais, no qual os antropólogos estão imersos como membros de estados-nações, permeiam as suas perspectivas. Enquanto muitos antropólogos francófonos sentem-se colonizados pelos anglófonos canadenses, a maioria, tanto dos francófonos como dos anglófonos sente-se colonizada pelos americanos.
Nas entrevistas, Rémi Savard, da Universidade de Montreal, conhecido por sua atuação política em questões indígenas e por sua postura explicitamente nacionalista (Azzan Júnior, 1995:100), insistiu em falar para mim, visto como anglófono, sobre etnohistória (embora, sobre a ocupação francesa e britânica do continente em relação aos povos indígenas - ver Savard, 1994). É como se, três meses antes do plebiscito sobre a possível separação do Quebec do Canadá, em que os antropólogos quebequenses ficaram numa situação de fogo cruzado entre os nacionalistas quebequenses extremistas e os povos indígenas anti-separatistas, falar diretamente sobre questões políticas atuais fosse algo demasiado sensível. No entanto, Bruce Trigger, da Universidade de McGill, conhecido por suas volumosas obras de etnohistória, falando como anglófono para anglófono, falava muito mais sobre as questões políticas dos povos indígenas do que questões históricas.
Richard Lee comentou um trabalho (1995) que ele apresentara em várias universidades na Austrália, sobre o estado atual da antropologia. Envolvido, ele mesmo, num diálogo internacional na área de estudos de caçadores e coletores, além de ter realizado consultorias para grupos indígenas no Canadá, Lee apresentou uma perspectiva em que os antropólogos canadenses "têm uma visão universal, que eu acho é uma das características da antropologia metropolitana, ela toma o mundo como sua ostra". Ele expressou o desejo que, com o aumento de diálogo entre antropólogos de países diferentes, "desapareça a distinção entre a metrópole e a periferia na antropologia".
Vários antropólogos que trabalham com povos indígenas afirmaram que é difícil falar num estilo de etnologia no Canadá, considerando a imensa diversidade de abordagens.
Além de diferenças entre os francófonos e anglófonos, vários antropólogos também apontaram diferenças grandes entre os anglófonos, e entre os francófonos. As diferenças entre os anglófonos tornam-se evidentes, por exemplo, nos estilos de etnologia indígena que se praticam na Colúmbia Britânica e no resto do Canadá. A etnologia indígena, como outros campos da antropologia na Colúmbia Britânica, foi apresentada como mais próxima à antropologia que se faz nos grandes centros da Califórnia, do que aquela que se pratica em Toronto e Montreal e em todo o leste do Canadá.
Ao comentar a antropologia na Universidade de Toronto, uma antropóloga entrevistada mencionou que:
"há uma verdadeira tensão entre a antropologia britânica e a antropologia americana. Há um forte diálogo culturalista, e ecológico e ambientalista vindo de pessoas como Richard Lee, que tem sido forte nessa área. Mas houve uma tendência contra isso vindo de pessoas como Gavin Smith que veio da Inglaterra (...). Eu acho que atualmente nós somos muito orientados para a antropologia britânica".
Alguns antropólogos entrevistados assinalaram a forte influência da antropologia social britânica e da escola de Chicago na antropologia social da Universidade de Toronto, enquanto o que se faz na Colúmbia Britânica, a partir das influências dos centros da Califórnia, é muito diferente, com ênfase mais em análise cultural. Tanto que uma antropóloga me assegurou que a antropologia que se faz na Colúmbia Britânica é diferente do que se faz no resto do Canadá. Outra antropóloga afirmou que "Quase todos os que trabalham na etnologia indígena na Universidade de Toronto são antropólogos sociais" que têm mais interesse em "questões ecológicas, econômicas e políticas".
A mesma pessoa ressaltou o destaque de uma tradição muito forte de etnohistória 28 na etnologia indígena que se faz no Canadá, e associava as Universidades de McGill e Concordia (em Montreal) ao Ontário anglófono, apesar de serem localizadas no Quebec.
Conforme Azzan Júnior, o antropólogo Guy Dubreuil "chega mesmo a dizer que considera McGill `fora do Quebec' por seu descaso quanto ao que se passa em Montreal e no restante da Província" (1995:198, nota 3). Azzan Júnior interpreta que "O que Dubreuil quis dizer ao alocar McGill `fora do Quebec' é que sua antropologia anglófona dedica-se menos ainda que a francófona aos problemas da Província, e que seu projeto acadêmico-administrativo parece inteiramente colado ao dos federalistas, não ao dos separatistas" (Ibid.).
Diferente do leste do Canadá, há um número muito maior de alunos indígenas na Colúmbia Britânica cursando antropologia na graduação e na pós-graduação. Kew assinala que, nas três universidades mais antigas da Colúmbia Britânica, "predominam as áreas de especialização na etnologia indígena da Colúmbia Britânica e América do Norte" (1993- 94:80), acrescentando que ele tem a impressão que, apesar das diversas áreas de interesse entre os professores de antropologia nos colégios, a área de especialização principal seja a etnologia indígena da América do Norte. Entrevistados afirmaram que uma aula de etnologia indígena, com a presença de três ou mais alunos indígenas, muda muito o caráter e dinâmica do ensino, pois o professor enfrenta vozes indígenas que constantemente questionam e contestam as premissas da antropologia. Nas palavras de Michael Kew da UBC, numa situação em que alunos indígenas se matriculam em cursos sobre seus próprios povos:
"As perguntas mais inquietantes que um professor de antropologia pode enfrentar no fim de uma aula sobre culturas indígenas canadenses vêm de alunos indígenas que perguntam: Como é que você sabe disso? Por que você diz isso? Como é que você tem o direito de afirmar isso a respeito de nós? Essas perguntas são incisivas por dois motivos. Em primeiro lugar, desafiam a autoridade do professor e concedem poder ao aluno cuja própria pessoa foi transformada em objeto de estudo e que sente o peso dos olhares de estranhos. Tais perguntas revelam imediatamente e em termos indisfarçados o contexto colonial da sala de aula. Em segundo lugar, `objetos de pesquisa' transformam-se em autênticos sujeitos que questionam as bases teóricas, epistemológicas, e éticas de tudo o que fazemos como antropólogos. Como, de fato, sabemos? Por que representamos o outro na maneira que o fazemos?" (1993-94:83-84).
Uma antropóloga entrevistada que trabalha na Colúmbia Britânica ressaltou que a diferença principal entre a etnologia indígena que se faz nessa província, "é que nós temos alunos indígenas, das comunidades onde realizamos pesquisas, na sala de aula, e acho que isso faz uma imensa diferença (...) aqui há uma ligação muito forte com as comunidades e esforços de realizar pesquisas que são de interesse das comunidades onde você trabalha, e um senso de responsabilidade". Acrescentou que vê isso como uma vantagem. Ela mencionou que há menos presença indígena nos departamentos de antropologia em Toronto e em Montreal, acrescentando "Não devo exagerar, porque existe esse tipo de pesquisa no Quebec, em algumas instituições. As pessoas (sobretudo antropólogos anglófonos) que realizam pesquisas com os Cree no norte. Porém, (...) os acadêmicos que trabalham naquelas instituições freqüentemente dizem que têm poucos alunos indígenas na sala de aula".
29 Há, também, um número crescente de professores universitários indígenas ministrando cursos de etnologia indígena, e muitos alunos aborígines de doutorado que, dentro de poucos anos, assumirão cargos como professores universitários. Vários antropólogos entrevistados salientaram que, na Colúmbia Britânica, ao contrário das universidades do leste do Canadá, com algumas exceções, há uma interação muito mais direta e pessoal entre antropólogos e povos indígenas. Os antropólogos estão constantemente sendo chamados para participar das reivindicações territoriais indígenas e a interação não pára em sala de aula. Muitos dos antropólogos entrevistados na Colúmbia Britânica observaram que nas universidades do leste do Canadá há uma distância muito maior entre antropólogos e os povos indígenas comparável à situação na maioria das universidades no nordeste dos EUA. Além disso, na Colúmbia Britânica, três professoras e um professor não-indígenas, de etnologia indígena, são ou haviam sido casados com cônjuges indígenas, o marido de uma sendo líder indígena e também doutorando em antropologia.
Nas palavras de outro antropólogo, que realiza pesquisas com povos indígenas, e leciona numa das principais universidades da Colúmbia Britânica:
"Lecionando antropologia neste departamento, os alunos estão diretamente engajados (...) e nosso compromisso é com as comunidades... As comunidades nos enviam alunos. Há uma proximidade e temos uma sala de aula que é verdadeiramente multicultural (...) ao nível de assuntos locais. (...) Eu tenho uma tendência a gerar perguntas que são assuntos sobre os quais a comunidade local está se preocupando, e é interessante observar que os centros intelectuais de poder como a Universidade de Chicago são muito diferentes. As diferenças aparecem durante reuniões quando estamos todos juntos, e a ênfase em teoria e práxis, se se pode ser tão simplista. (...) Nosso departamento tem um compromisso com essas comunidades".
Comparando a etnologia indígena que se faz no estado americano vizinho de Washington, ele acrescentou:
"A Universidade de Seattle se afastou da questão indígena. Eles não têm mais nenhum engajamento com as comunidades locais indígenas (...). Então eu estou realizando pesquisa de campo todos os dias. Estou em contato constante com o povo através do meu trabalho, o tempo todo. E envolvi alguns deles como colaboradores em produções acadêmicas. Por exemplo, atualmente estou publicando um livro sobre questões de justiça indígena, e alguns dos autores de capítulos são indígenas (...) Com essas comunidades nós temos uma relação recíproca (...). Trabalhei como testemunha pericial em tribunais várias vezes. (...) Estou tentando estabelecer relações de longo prazo com essas comunidades (...) trabalhando com elas por muitos anos, que é a única maneira que se pode ser útil para eles (...)." O mesmo antropólogo afirmou que no Canadá não há a mesma discriminação de classe entre os antropólogos que existe nos EUA: "Me parece que nós somos muito menos 30 preocupados com questões de status social. Temos mais proximidade com essas comunidades que a maioria dos antropólogos nos EUA". Ele alegou que mesmo em universidades como Oklahoma State ou Arizona não há a mesma proximidade que existe na Colúmbia Britânica, onde os antropólogos estão envolvidos diretamente em processos de reivindicação territorial. "Na Colúmbia Britânica, atualmente, estamos no processo de elaborar tratados com muitas tribos. É o assunto mais importante que esta província está enfrentando. (...) Sobretudo porque é uma província onde, na maior parte, não houve tratados assinados com os povos indígenas. Essa é a diferença aqui no Oeste. Então, o que nós fazemos é muito diferente do que se faz em Toronto". Ele ressaltou a distância entre os antropólogos e as comunidades indígenas no Nordeste dos EUA, e apontou que, na Colúmbia Britânica não é possível apresentar trabalhos antropológicos sobre povos indígenas que estão desligados dos seus interesses, pois as comunidades exigem que os antropólogos se dirijam a questões do seu interesse imediato:
"O debate aqui não é sobre a crítica pós-moderna da antropologia. O debate é sobre a prática da antropologia, o fazer antropologia. Conhecemos a literatura sobre a crítica pós-moderna (...) da epistemologia antropológica. Mas, aqui, no Canadá, há outro debate. O debate está à luz dessas questões, mas é diferente. É, o que vamos fazer? Qual é o nosso papel? Somos pessoas que agem para facilitar? mediadores? defensores? positivistas? observadores filosóficos? (...) Nós estamos trabalhando junto com essas pessoas. (...) Os acadêmicos de outras disciplinas facilmente aceitam (a crítica pós-moderna) acriticamente. Dizem, `Sim, vocês não valem nada, e vocês não têm nada para dizer. Seus métodos são falhos, e no fundo vocês são capitalistas e colonialistas'. Estamos ouvindo isso, que está sendo devolvido para nós (...) Temos que acabar com isso (...). Precisamos continuar o nosso trabalho. Porque não há outros acadêmicos que fazem o trabalho que nós fazemos. Ninguém vai para essas comunidades e passa anos conversando com essas pessoas".
Ele se designou colaborador, e explicou que as comunidades com que trabalha são freqüentemente mais sofisticadas, tecnologicamente, do que os antropólogos. Por exemplo:
"Eles estão manipulando a mídia internacional, o que eu não tenho condições de fazer, de maneira alguma (...). O tipo de colaboração que estou propondo não pressupõe que eu e o povo com que trabalho vamos acabar tendo o mesmo ponto de vista, nem que vamos acabar tendo o mesmo produto. (...) Eu produzo produtos acadêmicos do meu interesse, e também produzo produtos que são de interesse para eles. (...) O povo com que trabalho é sofisticado, e sabe bem que eu tenho os meus interesses, que não devem sempre e necessariamente coincidir com os seus interesses (...). Não vivemos as mesmas vidas. (...) Eu não me coloco como defensor, mas assumo como alguém que tem um compromisso com essas comunidades, e, assim, respondo imediatamente a questões que são do seu interesse".
31 Outra antropóloga anglófona argumentou que:
"Uma das tradições que temos na antropologia canadense é um forte compromisso. Uma antropologia e antropólogos muito comprometidos com os povos indígenas. (...) A antropologia no Canadá tem essa forte tradição de compromisso político com a defesa dos direitos dos povos indígenas. Porém, não deixa de ser um ativismo bastante tímido que não chega a criticar o governo, a não ser superficialmente. (...) O que vejo como uma limitação fundamental. (...) Enquanto se respeita a tradição de ativismo, há uma relutância em levar a crítica para frente. Não pretendo criticar meus colegas indevidamente. Porém, o problema é muito sério no Canadá. (...) o estilo político da antropologia que se faz no Canadá é preponderantemente social-democrata, liberal de esquerda. Então, enquanto as contradições se tornam cada vez mais evidentes, e enquanto o Estado se torna cada vez menos envolvido, e se exige cada vez menos que o Estado apresente uma face humanitária, acredito que um dos problemas enfrentados por antropólogos canadenses atualmente (...) É cada vez mais necessário tomar uma posição nitidamente crítica com relação ao Estado canadense, ao multiculturalismo, e examinar os povos aborígines dentro deste contexto".
Ela acrescentou que "tem havido muitas pesquisas muito detalhadas, profundas, locais, e de longo prazo", o que, argumenta ela, foi o ponto forte da etnologia indígena, porém "uma falta de contextualizar a situação dentro da economia política canadense como um todo".
Na Colúmbia Britânica há uma participação ativa de pessoas indígenas nos museus que se especializam em coleções indígenas, participando como curadores e consultores no planejamento e montagem de exposições, além de dirigir seus próprios museus (Kew, 1993-94:91). No Museu de Antropologia da UBC, artistas nativos expõem obras contemporâneas e trabalham na confecção de esculturas em algumas salas de exposição do museu. Nas palavras de James Clifford, após ter visitado quatro museus principais da Colúmbia Britânica com coleções indígenas: "... o clima político era carregado, de maneira que nunca senti em outros locais metropolitanos como Nova Iorque, Chicago, Washington, Paris, Londres" (Clifford, 1990:214, apud Kew, 1993-94:84). Os povos indígenas estão, também, desafiando os museus, exigindo uma reapropriação da sua arte e de restos humanos apropriados indevidamente no passado pelos museus. Durante minha entrevista com o chefe Shuswap, Ron Ignace, ele estava combinando, no seu telefone celular, viajar no dia seguinte ao Museu de Vitória para recuperar restos humanos e trazê-los de volta para o enterro.
Na Colúmbia Britânica houve programas de revitalização cultural, como o trabalho lingüístico dirigido por James Powell, da UBC, que age junto a vários povos indígenas dessa província desde os anos 60. Embora tenha havido pouco êxito em recuperar o uso cotidiano das línguas indígenas, muitas das quais deixaram de ser faladas há uma geração: "um objetivo muito mais alcançável é o de desenvolver um domínio da língua nativa que permite que seja usada como símbolo da identidade grupal".
Apesar de um crescente número de alunos indígenas que se matriculam em cursos de antropologia, como apontou um antropólogo anglófono que trabalha no leste do Canadá, em geral eles sentem mais afinidade com departamentos de Estudos Nativos do que com a 32 antropologia, que veio a ser associada aos estereótipos da exploração colonial. Enfrentei, pessoalmente, o desafio atual à antropologia por parte dos povos indígenas, quando falei com um de seus líderes por telefone, perguntando-lhe se poderia conversar comigo sobre meu levantamento de pesquisa. Ele respondeu que estava tratando de material politicamente sensível e indicou o nome de um antropólogo não-indígena, pois "Vocês antropólogos se entendem melhor". Quando comentei com outro líder indígena, que se apresentou para mim como chefe, que ele era, também, antropólogo, ele interrompeu:
"Chefe!". Esclareceu que ele não gostava do rótulo de antropólogo, e ironizou: "Não faço idéia do que é um antropólogo!" A década de 1990 trouxe uma imensa diversificação na etnologia indígena, tornando-se cada vez mais difícil de caracterizar um estilo. Também, como ressalta Dyck, "Durante as últimas duas décadas houve um crescimento extraordinário no número de publicações sobre culturas indígenas e assuntos nativos no Canadá produzidos por acadêmicos, jornalistas, agências governamentais e públicas e, não menos, por autores e organizações nativos" (1990:40), e "a preeminência acadêmica que antigamente desfrutavam os antropólogos neste campo de estudos foi ultrapassada pelo volume crescente de pesquisas realizadas dentro de outras disciplinas, inclusive a disciplina emergente de Estudos Nativos" (Ibid.).
Na Colúmbia Britânica, tanto quanto em outras partes do Canadá, há vários institutos de ensino superior para os povos indígenas, como aquele criado através de um acordo entre a Secwepemc Cultural Education Society e Simon Fraser University (SCES/SFU), na cidade de Kamloops, iniciado em 1988. O programa, que está crescendo rapidamente, oferece cursos universitários para as necessidades de ensino e de emprego de alunos indígenas, inclusive um programa de graduação com especialização em sociologia e/ou antropologia. Nas palavras de um líder Shuswap, presidente da SCES, "Precisamos inventar ou reinventar nossas próprias instituições, e isso inclui também o ensino. E os povos nativos foram reprovados pelo sistema dos brancos.
(...) O sistema de internato (...) matou muitos de nós e nos oprimiu. Então, achamos que uma saída era construir as nossas próprias instituições, que nós controlamos e gerenciamos".
A University of Northern British Columbia (UNBC), na cidade de Prince George, inaugurada em 1994, e localizada nos territórios de 16 Conselhos Tribais e 76 bandos, oferece programas de graduação e mestrado em Estudos Nativos (First Nations Studies), que inclui cursos de antropologia, além de um programa separado de graduação em Antropologia. Na UBC, em Vancouver, um programa de Estudos Nativos está sendo criado também.
Atualmente, com o desmantelamento do Estado de Bem-Estar Social e propostas do governo de auto-determinação nas quais torna-se evidente sua intenção de se livrar da questão de direitos aborígines, reduzindo suas responsabilidades para com os povos indígenas, sente-se um clima de decepção. Nas palavras de uma antropóloga anglófona que havia morado muitos anos numa comunidade indígena da Colúmbia Britânica: "Vamos enfrentar um futuro difícil. As pressuposições que aceitamos como dadas, que havia um movimento para maior auto-determinação e maior respeito, não estão mais inspirando confiança. Eu não acredito que é isso que está acontecendo mais ... Houve muito 33 determinismo econômico simplista ...". Acrescentou que o governo está oferecendo direitos territoriais aos povos indígenas, mas é o governo que determinará quais são esses direitos.
Numa retórica de autodeterminação indígena, as medidas estão sendo tomadas para facilitar o acesso das empresas transnacionais.
Numa nova época de cortes drásticos no ensino superior, as perspectivas do mercado de trabalho em antropologia são cada vez mais limitadas. Também, verbas para realizar trabalhos de consultorias com povos indígenas estão sendo reduzidas, assim limitando a atuação de antropólogos como consultores independentes.
Embora eu não tenha a pretensão de caracterizar a etnologia indígena que se faz no Canadá, alguns diacríticos que marcam a disciplina talvez sejam um enfoque nos povos indígenas do próprio país, numa antropologia de ação, em que a maioria dos antropólogos sentem um compromisso político com o destino desses povos. Ao mesmo tempo, há uma relutância, por parte de muitos antropólogos, em admitir que existe um estilo propriamente canadense de etnologia indígena, ou mesmo de antropologia, tão forte é a presença da antropologia americana (e também a da Grã-Bretanha e da França, embora a influência dessas últimas sejam muito menor). Alguns antropólogos, apesar de admitir, hoje em dia, o caráter periférico ou semi-periférico da disciplina no Canadá, aspiram a uma antropologia internacional. Entretanto, essa aspiração universalista na antropologia que se faz no Canadá não dá conta das desigualdades e da assimetria de uma situação colonial. Como também uma perspectiva mais local e nacionalista entra em contradição com a perspectiva universalista.
1. Professor Adjunto do Departamento de Antropologia, UnB, e pesquisador do CNPq. Meus agradecimentos ao Ministério de Relações Exteriores do Canadá pela Faculty Research Program Scholarship e ao CNPq por um Auxílio-Participação em Evento Científico que permitiram a realização do levantamento de pesquisa no Canadá. Meus agradecimentos também ao Prof. Julio Cezar Melatti, por ter lido uma versão deste trabalho e oferecido suas valiosas sugestões. Porém, a responsabilidade é inteiramente a minha.
2. Meus agradecimentos a todas as pessoas que aceitaram ser entrevistadas: Gilio Brunelli, de Développement et Paix, Montreal, doutorando em antropologia na Université de Montréal, que me ofereceu hospedagem em
Montreal; Robert Crépeau, Pierre Beaucage, Rémi Savard, Louise Paradis, e Roland Viau, professores do Departamento de Antropologia da Université de Montréal; Bruce Trigger, Departamento de Antropologia, e Ludger Muller-Wille, Departamento de Geografia, McGill University; Pierrette Dèsy, Departamento de História,
UQAM, Montreal; Yvan Breton, Université Laval, Quebec; Pierre Trudel, Montreal; Maxine Cole, Assembléia das Primeiras Nações, Ottawa; Roger Suffling, Faculdade de Estudos Ambientais, University of Waterloo, Ontário; Donna Patrick, doutoranda em antropologia-lingüística no Ontario Institute for Studies in Education, Toronto;
Richard B. Lee, e Krystyna Sieciechowicz, Departamento de Antropologia, University of Toronto; Lise Hansen, Diretora, Negotiations Support, Land Claims and Self-Government Negotiation, Ontario Native Affairs, Toronto; Anna DeAguayo, doutoranda em antropologia na University of Toronto; Rodney Bobiwash, coordenador, First Nations House, University of Toronto; Ron Ignace, and Marianne Ignace, Secwepemc Cultural Education Society
& Simon Fraser University Program, Kamloops, B.C.; Jim McDonald, Anthropology and First Nations Studies, UNBC; Antonia Mills, First Nations Studies, UNBC; Robin Fisher, e Mary-Ellen Kelm, História, UNBC; Marcelle Gareau, e Richard Lazenby, Antropologia, UNBC; Adam and Georgan Gagnon, Moricetown, B.C.; Jay Powell, David Aberle, Bruce Miller, e Julie Cruikshank, Departamento de Sociologia e Antropologia, UBC; Paul Tennant,
Departamento de Ciências Políticas, UBC; Darcy Dobell, Diretora, Treaty Mandates, Lands and Resources Policy Planning and Research Division, Ministry of Aboriginal Affairs, Victoria, B.C.; Lynne Gregor, Senior Negotiator, Federal Treaty Negotiation Office, British Columbia Region, Indian and Northern Affairs, Victoria, B.C.; Noel Dyck, e Dara Culhane, professores de antropologia da Simon Fraser University, e Cathy Narcisse, doutoranda em
antropologia em Simon Fraser. Contatos foram feitos por telefone com Robert Paine, Carleton University, Ottawa; Toby Morantz, McGill University, Montreal; Bernard Arcand, Université Laval, Quebec; e Gerald Gold, York University, Toronto. Agradeço a Harvey Feit, McMaster University, Hamilton, Ontário, que se encontrava no exterior durante o período da minha visita, e a Robert Paine, por me ter enviado alguns dos seus artigos. Não pude
entrevistar outros antropólogos, também conhecidos por suas pesquisas com povos indígenas, porque muitos estavam viajando nessa época. A minha curta estadia no Canadá também limitou o número de centros que pude visitar.
3. Por exemplo, Sally Weaver (1983a, 1983b, 1984), Noel Dyck (1985), B. Morse (1988), e muitos outros.
4. As traduções são minhas.
5. Ver Levin, 1993.
6. A ênfase é do antropólogo entrevistado. Aqui ele estava esboçando uma visão muito popular, baseado no senso comum, a respeito dos povos aborígines no Quebec.
7. As Atas de Extensão da Fronteira de 1898 e 1912 transferiram o território dos Cree da Baía de James do governo federal à Província do Quebec (Salisbury, 1994:157).
8. Feit observa que os Cree da região da Baía de James, "começaram a mobilizar oposição ao projeto de desenvolvimento em maio de 1971, quando o governo do Quebec recusou-se a tomar em consideração seus interesses no planejamento do projeto hidrelétrico e desenvolvimento da região" (1985:31).
9. A dimensão da etnicidade presente na antropologia que se faz na Catalúnha foi ressaltada pelo Professor Roberto Cardoso de Oliveira, numa palestra, "Identidade e Etnicidade Catalã", proferida no Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, em 29 de março de 1995.
Stephen G. Baines
stephen[arroba]unb.br