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4. Material e métodos

Os dados foram extraídos do Arquivo Zootécnico Nacional (AZN), gerenciado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Leite da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa/CNPGL). O arquivo básico foi submetido a várias restrições para verificar os números mínimos de observações por subclasse rebanho-ano, filhas/reprodutor e touros/fazenda, tendo sido feitas várias eliminações pertinentes. Os dados remanescentes para os respectivos estudos ficaram assim constituídos: para a idade ao primeiro parto, 4780 registros, 21 rebanhos e período de estudo de 1960 a 1995; para o intervalo de partos, 8168 registros, 36 rebanhos e período de estudo de 1960 a 1995.

As estimativas de componentes de variância, parâmetros genéticos e dos valores genéticos foram obtidas pelo programa MTDFREML (Boldman et al., 1995), sob modelo animal, utilizando-se os seguintes modelos mistos:

(a) Para idade ao primeiro parto:

Yijk = RANi + ENJ + Aijk + eijk

em que,

Yijk = idade ao primeiro parto, da vaca k, na época j, na classe de rebanho-ano i; RANi = efeito fixo do iésimo rebanho-ano de nascimento, sendo i=1, 2, ..., 390; ENj = efeito fixo da jésima estação de nascimento, sendo j = 1 (out.-mar.) e 2 (abr.-set.); Aijk = efeito genético do animal k, tomado como aleatório, na época j, na classe de rebanho-ano i; eijk = erro aleatório associado a cada observação, suposto normal e independente;

(b) Para intervalo de partos:

Yijkl = RAPi + EPj + b l (IijklI) + b 2 (IijklI)2 + Aijk + EPijk + eijkl

em que,

Yijkl = intervalo de partos observado no parto 1, da vaca k, na época j, na classe de rebanho-ano i; RAPi= efeito fixo do iésimo rebanho-ano de parto, sendo i = 1, 2, ...., 268; EPj = efeito fixo da jésimo estação de parição, sendo j = 1 (out.-mar.) e 2 (abr.-set.); bl e b2 = coeficientes de regressão linear e quadrático da característica Yijklm em relação à idade ao parto, incluída no modelo como covariável; Iijkl = idade ao parto, em meses; I = média da idade ao parto, em meses; Aijk = efeito genético do animal k, tomado como aleatório, na época j, na classe de rebanho-ano j; EPijk = efeito ambiente permanente do animal k, tomado como aleatório e independente de Aijk, na época j, na classe de rebanho-ano i; eijkl = erro aleatório associado a cada observação, suposto normal e independente.

As tendências fenotípicas (bF.T) foram calculadas por análises de regressão linear das médias das observações ponderadas pelo número de observações, em função do ano de nascimento das fêmeas. Como não se dispunha do ano de nascimento dos touros, este foi considerado como sendo o ano em que o touro teve maior número de filhas nascidas. As tendências genéticas foram calculadas por análises de regressão linear dos valores genéticos, ponderados pelo número de observações, em função do ano de nascimento das fêmeas (bG.T). As tendências de ambiente foram calculadas por diferença entre os coeficientes de regressão linear fenotípico e genético (bF.T - bG.T).

5. Resultados e discussão

A média ajustada da idade ao primeiro parto e respectivo erro-padrão foi 45,52±0,09 meses, com coeficiente de variação de 12,98%. Ela é elevada, tomando por base o que ocorre em outros grupamentos raciais leiteiros. Trata-se de característica que se expressa tardiamente nas raças zebus, com média de 44 a 49 meses (Ramos, 1984; Ledic, 1993). Na raça Holandesa ela está abaixo de 31 meses (Silva, 1995; Ribas et al., 1995a), com os mestiços Holandês-Zebu apresentando valores intermediários de 34 meses (Balieiro, 1996) a 39 meses (Polastre et al., 1987).

A média do intervalo de partos e respectivo erro-padrão foi 495,86±1,03 dias, com coeficiente de variação de 18,79% (16,26± 0,03 meses). Ela é elevada, porém assemelha-se a outras estimativas em Gir Leiteiro (Souza et al., 1991b; Mello, 1994). Trata-se de valor superior àqueles descritos em mestiços (Polastre et al., 1990), ou ainda bastante elevado quando comparados à média na raça Holandesa (Ribas et al., 1995b).

As estimativas de parâmetros genéticos para as características reprodutivas obtidas por meio de análises uni e bivariadas estão apresentadas na Tab. 1.

A herdabilidade de 0,17 para idade ao primeiro parto é um dos menores valores registrados na literatura para animais da raça Gir, devido possivelmente à metodologia utilizada. Nessa raça foram observados valores entre 0,29 (Ledic, 1993) e 0,87 (Souza et al., 1991a), em trabalhos que utilizavam "modelo reprodutor". Sob "modelo animal", observa-se, em geral, redução na magnitude das estimativas desse parâmetro, como de 0,07, observado por Monardes et al. (1995), e de 0,05, em Silva (1995), ambos trabalhando com a raça Holandesa.

A estimativa de herdabilidade para intervalo de partos assemelha-se a outras estimativas encontradas na raça Gir (Verneque, 1982; Souza et al., 1991b), em mestiços (Campos, 1987; Balieiro, 1996) e na raça Holandesa (Rege, 1991; Silva, 1995; Jahageerdar et al., 1996). Por se tratar de característica de baixa herdabilidade, somente pequena redução nos intervalos de partos dessa população poderá ser obtida por seleção massal.

A estimativa de repetibilidade para intervalo de partos foi 0,17. É uma estimativa de baixa magnitude conforme pesquisas anteriores, com os valores limites na raça Gir variando de 0,09 (Souza et al., 1991b) a 0,22 (Verneque, 1982). Em mestiços leiteiros, as estimativas estão entre 0,11 (Balieiro, 1996) e 0,41 (Campos, 1987), enquanto em raças especializadas estão próximas a 0,25 (Rege, 1991). Por meio do valor estimado, a melhoria da eficiência reprodutiva das vacas deve levar em conta mais de um registro de interparto.

O valor econômico de um animal é determinado por várias características, as quais dependem uma das outras, de forma que a seleção de algumas atinge automaticamente a outra. O consenso geral entre melhoristas é de que as características econômicas nos animais são, em regra, correlacionadas entre si. Esta assertiva foi pesquisada por meio das estimativas de correlações fenotípica, genética e de ambiente da idade ao primeiro parto com o intervalo de partos, as quais estão resumidas na Tab.1. Pelo valor da correlação genética (0,37 ± 0,00), trata-se de relação favorável, porquanto redução da idade ao primeiro parto pode ser acompanhada de menores intervalos de partos. A discussão desses resultados dentro da raça fica prejudicada pela escassez de literatura sobre o tema. Contudo, a correlação genética, neste estudo, assemelha-se ao valor de 0,24 encontrado por Teixeira et al. (1994), em rebanhos da raça Holandesa, no Brasil.

As estimativas de mudanças anuais fenotípicas, genética e de ambiente para idade ao primeiro parto são apresentadas na Tab. 2.

As mudanças fenotípicas na idade ao primeiro parto, com reduções de 7,6 e 2,7 meses, foram conseqüência de melhoria do ambiente (nutrição e manejo) a que foram submetidas as vacas que pariram entre os anos de 1977 e 1993 e, talvez, ao uso de touros com maior número de filhas que pariram entre os anos de 1977 e 1991 (Fig. 1 e 2). Estimativas similares a essas foram encontradas por Polastre et al. (1990) e Chaudhary et al. (1995). Geneticamente, verifica-se que o programa de seleção para leite nos rebanhos estudados se faz à revelia e independentemente do desempenho da idade ao primeiro parto.

As estimativas de mudança anuais fenotípica, genética e de ambiente para intervalo de partos são apresentados na Tab. 3 e Fig. 3 e 4

As tendências anuais fenotípicas, genéticas e de ambiente para intervalo de partos foram negativas. A despeito da pequena magnitude, geneticamente concluiu-se que o intervalo de partos diminuiu um a dois dias por ano. Reduções pequenas foram observadas não somente na raça Gir (Ledic, 1992; Mello, 1994), como em mestiços (Polastre et al., 1990), e mudanças genéticas negativas expressivas de –3,08 até –12,0 dias/ano foram observadas na Índia, em animais da raça Guzerá (Chaudhary et al., 1995), e de –21,4 dias/ano na raça Holandesa criada no Brasil (Teixeira et al., 1994). Em síntese, há indicação de que, no período estudado, parte da seleção foi ou está sendo direcionada para a eliminação de vacas de baixa fertilidade, a despeito do baixo valor de herdabilidade para essa característica.

6. Conclusão

Pela correlação genética entre idade ao primeiro parto e intervalo de partos, concluiu-se que a seleção para diminuição da idade ao primeiro parto pode ser acompanhada de redução no intervalo de partos. A tendência fenotípica de redução da idade ao primeiro parto, paralelamente à seleção para leite, sugere ter havido melhora no desempenho dos animais em crescimento. De modo geral, as tendências anuais fenotípica, genética e de ambiente para intervalo de partos, a despeito da pequena magnitude, permitem concluir que houve melhora no desempenho reprodutivo, representado pelo menor intervalo de partos. Essas respostas correspondem a –0,20 e –0,33% em relação à média geral da população, tomando por base os valores genéticos das vacas e dos touros, respectivamente. A mudança genética favorável sobre o intervalo de partos sugere que, paralelamente à seleção para leite, tem havido esforço no sentido de descartar fêmeas com problemas reprodutivos, resultando em aumento da eficiência reprodutiva nos rebanhos avaliados.

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1Instituto de Zootecnia da UFRRJ 23851-970-Seropédica, RJ 2Escola de Veterinária da UFMG 3CNPGL/Embrapa



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