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Realizou-se o levantamento nutricional em 20 propriedades da região de Jales, Estado de São Paulo, situadas a 20º16' S, 50º33' W e 483 m de altitude.
A escolha das propriedades foi ao acaso, e de cada propriedade foi selecionado um talhão de vinhedo em produção, com práticas culturais semelhantes. Nos talhões amostrados haviam 230 plantas espaçadas de 5 mx3 m, com idade média de 5 anos e enxertadas sobre o porta-enxerto 420-A.
De cada talhão foram selecionadas 20 plantas ao acaso, das quais foram coletadas cinco folhas por planta, totalizando 100 folhas por amostra. As folhas colhidas foram as recém-maduras de cada ramo produtivo, correspondendo a primeira folha oposta ao 1º cacho, contando-se a partir do ápice dos ramos. Das folhas coletadas, separaram-se imediatamente seus pecíolos e limbos, formando assim amostras distintas.
A coleta de folhas foi feita em três épocas distintas: a primeira no florescimento, quando ocorre um pico de concentração da maioria dos nutrientes nas folhas; a segunda quando as bagas estavam no estádio entre ervilha e meia-baga, fase intermediária; e no início do amolecimento das bagas realizou-se a terceira coleta, quando há maior estabilidade nos teores de nutrientes das folhas, permitindo assim maior amplitude na época de coleta.
As amostras de pecíolos e limbos foram processadas e analisadas separadamente quanto aos teores de N, P, K, Ca, Mg, S, B, Cu, Fe, Mn e Zn, de acordo com Bataglia et al. (1983).
A interpretação dos resultados de análise foliar, considerando-se a relação de nutrientes no limbo e no pecíolo e a produção da videira, foi feita aplicando-se o método DRIS.
Para o cálculo dos índices do DRIS, separou-se os vinhedos em duas classes: 1) População A - alta produtividade (27,3 t/ha ou mais) e 2) População B - baixa produtividade (menor que 27,3 t/ha ), em que o valor de 27,3 t/ha foi a média de produção encontrada entre os vinhedos amostrados e considerada alta para a cultura da videira na região.
Com as normas assim estabelecidas, calculou-se os índices DRIS e os índices de balanço nutricional (IBN) de acordo com a metodologia desenvolvida por Beaufils (1973) e também relatada por Bataglia & Dechen (1986), utilizando-se a seguinte fórmula:
I
BN = S[índice X] em valores absolutos
onde
A,B,...Z e a,b,... z representam qualquer concentração de nutrientes possíveis de diagnose.
CV é o coeficiente de variação da relação na população não anormal
K é o coeficiente de sensibilidade, de valor arbitrário =10
X/A, X/B,...X/Z são as relações dos nutrientes na amostra
n - S X/A + X/B + ...+ X/Z
m - S a/X + b/X + ...+ z/X
Foram selecionados para os cálculos dos índices DRIS seis vinhedos com produtividades superiores a 27,3 t/ha.
Beaufils (1973) referindo-se ao DRIS, observou que a escolha da população padrão, ou população de referência, é primordial para o sucesso do método e deve constituir-se de plantas não anormais, isto é, plantas que não tenham sido afetadas por condições anormais de cultivo.
A partir dos resultados das análises químicas das amostras de limbo e pecíolo dos vinhedos selecionados, correspondentes às três épocas de coletas, calculou-se as médias e os coeficientes de variação dos nutrientes no limbo e no pecíolo, conforme mostra a Tabela 1.
Levando-se em consideração que quanto maior o coeficiente de variação maiores são os desequilíbrios nutricionais, e que quando os valores de coeficiente de variação estão em torno ou acima de 50%, esses desequilíbrios tornam-se preocupantes, pois podem limitar a produção; Admite-se que os vinhedos amostrados apresentam desordens nutricionais com relação ao fósforo, potássio, magnésio, enxofre e cobre.
O estudo do estado nutricional usando o DRIS permite também determinar a ordem pela qual os nutrientes estão limitando a produção (Tabelas 2 a 7), através dos índices DRIS obtidos para cada nutriente. Os valores negativos indicam deficiências que diminuem à medida que os mesmos tendem a zero.
Segundo Sumner (1977), quando se tem deficiência de vários nutrientes, a ordem de grandeza dos índices é que determinará o tratamento a ser aplicado para melhorar a produtividade dos vinhedos.
De acordo com esse sistema, também pode-se realizar estudos pelo Índice de Balanço Nutricional (IBN), que corresponde à soma dos valores absolutos dos índices DRIS de cada nutriente dividido pelo número de nutrientes estudados, que neste trabalho corresponde a 11, sendo que, quanto menor o IBN ou mais próximo de zero, melhor o estado nutricional do vinhedo, de forma semelhante às observações de Sumner (1977a).
Cabe ressaltar o fato de ser comum um vinhedo com IBN adequado e até mesmo inferior aos dos vinhedos com produtividade alta apresentarem baixa produtividade, sugerindo melhor equilíbrio nutricional que os mesmos. Este fato sugere que a principal limitação na produtividade desse vinhedo é de ordem não nutricional, o que está de acordo com o afirmado por Snoeck (1984). A afirmação deste autor é que nem sempre uma planta em equilíbrio nutricional terá alta produtividade, sendo apenas o inverso verdadeiro, ou seja, alta produtividade só é alcançada quando as plantas estiverem em equilíbrio nutricional.
Outro dado que se pode obter através da calibração dos IBN são os seus valores que poderão ser usados como referência de equilíbrio nutricional para vinhedos da região em estudo (Tabela 8).
De acordo com os valores de referência obtidos, o limbo foi o órgão que apresentou enquadramento mais coerente, pois os valores de referência foram semelhantes para as três épocas estudadas, enquanto que os valores para pecíolo variaram muito de época para época. Baseado nesse fato, o valor do índice de balanço nutricional 11 pode ser considerado uma referência para vinhedos de alta produtividade.
Certas plantas, pela sua constituição morfológica, permitem facilmente a separação das folhas em pecíolo e limbo para fins de análise química. O pecíolo de algodoeiro, batatinha, tomateiro e videira tem apresentado concentração mais elevada de potássio do que o limbo (Silva et al., 1971; Gallo et al., 1965; Hiroce et al., 1972; Hiroce e Terra, 1984; Terra et al., 1998) e, portanto, constitui a parte da folha mais indicada para o estudo específico da nutrição potássica. Beattie e Forshey (1954) utilizaram pecíolo da folha madura mais nova para estudo da situação nutricional de 56 vinhedos da cultivar Concord. Gallo e Oliveira (1960) utilizaram pecíolo mais limbo da folha madura mais nova da videira cultivar Angélica em diferentes estágios de desenvolvimento da planta. Hiroce e Terra (1984) determinaram os teores de macronutrientes em pecíolo e limbo, analisados separadamente, da folha recém-madura da videira cultivar Niagara Rosada, no estágio de chumbinho. Concluíram que no pecíolo houve concentrações mais elevadas de K e Mg e, no limbo, teores mais elevados de N, Ca e S. Em conseqüência, concluíram que deve-se levar em conta ambas as partes da folha da videira para estudo da nutrição mineral.
Gergoletti (1995) e Costa (1998), avaliando o estado nutricional da videira 'Itália', respectivamente, nas regiões de São Miguel Arcanjo e Jundiaí, SP, usando o DRIS, concluíram que o limbo foi o órgão ideal de coleta.
As épocas mais adequadas para a amostragem de folhas foram no florescimento e no início do amolecimento das bagas, pelo fato da maior coerência dos índices de balanço nutricional adotados como referência.
Estes resultados são concordantes com os de Christensen et al. (1982), Gergoletti (1995) e Costa (1998) que afirmaram que a coleta do órgão para amostragem deve ser realizada no florescimento, e com os de Dal Bó (1992) que afirmou ser no início do amolecimento das bagas.
A partir da definição do melhor órgão e das melhores épocas de amostragem de folhas, procedeu-se ao estudo de cada vinhedo em particular, considerando-se apenas os dados de limbo coletados no florescimento e no início de amolecimento das bagas.
Observou-se que quando há nutrientes deficientes no balanço nutricional, a ordem de grandeza dos índices é que orientará a escolha dos melhores tratamentos, visando o aumento da produção, o que concorda com as observações feitas por Sumner (1977b).
Através da interpretação desses dados, verificou-se desordens nutricionais ligadas à deficiência dos macronutrientes potássio, fósforo, magnésio e enxofre. Quanto aos micronutrientes, as deficiências nutricionais foram pouco significativas. Desordens nutricionais ligadas à excesso, nos vinhedos selecionados, se deram para o nitrogênio quando se coletou folhas no estádio de florescimento e para o cobre nos estágios de florescimento e de início de amolecimento das bagas.
Diversos trabalhos mostraram vantagens do DRIS em relação ao nível crítico foliar para se fazer diagnose com o propósito de recomendação de complementação de adubação (Escano et al., 1981; Jones, 1981; Jones e Bowen, 1981; Hanson, 1981; Jones et al., 1986; Walworth e Sumner, 1987; Schaller, 1988), com as seguintes observações: (a) para se fazer diagnose considera-se o equilíbrio nutricional com base em padrões nutricionais de referência ou normas. Isto é particularmente importante em altos níveis de produção, em que o equilíbrio nutricional é muitas vezes o fator crítico na determinação da produtividade vegetal; (b) as normas, ou composição de referência para o equilíbrio nutricional de uma determinada cultura, podem ser extrapoladas para diversas regiões dos países; (c) pode-se fazer diagnoses em diferentes fases de desenvolvimento vegetal independentemente da cultivar; (d) os nutrientes limitantes da produção podem ser prontamente identificados e ordenados em função de sua importância na limitação da produtividade.
A importância do DRIS para a cultura da videira 'Itália' se dá, principalmente, pelo fato de ser uma cultura perene para a qual as desordens nutricionais afetam as plantas cumulativamente ao longo dos anos, além do fato destas correções de deficiência ou excesso, muitas vezes, não poderem ser feitas durante o ciclo da cultura, tornando a diagnose um fator fundamental no início do mesmo.
1) O limbo foi considerado o melhor órgão para amostragem de folhas.
2) Os estágios de florescimento e início de amolecimento das bagas foram consideradas as épocas mais adequadas para amostragem de folhas de videira.
3) De vinte vinhedos avaliados, seis foram considerados em equilíbrio nutricional, com produção superior à média de 27,3 t/ha e IBN igual a 11.
4) O DRIS permitiu determinar os vinhedos que, em geral, apresentavam deficiência de potássio, fósforo, magnésio e enxofre, e excesso de cobre, principalmente.
1. (Trabalho 102/2002)
Maurilo Monteiro TerraI,II; Marsia Antonieta Souza GuilhermeIII; Wagner Rodrigues dos SantosIII; Erasmo José Paioli-PiresI,II; Celso Valdevino PommerI,II; Renato Vasconcelos BotelhoIII
pommer[arroba]unb.br
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IIBolsista do CNPq
IIIBolsista da FAPESP.
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