Eficiência da fertilização nitrogenada com uréia (15N)
em Brachiaria brizantha cv. Marandu
associada ao parcelamento de superfosfato simples e cloreto de potássio
Em pastagens, a avaliação da eficiência do processo de fertilização com N-uréia é importante em virtude das altas doses utilizadas. Vários trabalhos relatam que a aplicação de uréia associada com cloreto de potássio (KCl) e superfosfato simples (SFS) pode melhorar a sua eficiência. Na recuperação de pastagens degradadas ou em sistemas de exploração intensiva, as quantidades de KCl e SFS empregadas como fertilização corretiva são altas e aplicadas em novembro, no início da estação das águas. O parcelamento do KCl e SFS associado às coberturas nitrogenadas com uréia seria de fácil adoção sem custos adicionais. Com o objetivo de avaliar este manejo, foi desenvolvido um experimento em que se realizou o balanço anual da aplicação de 15N da uréia quando o SFS e, ou, o KCl foram parcelados, associados à aplicação da uréia em cinco coberturas, ou quando ambos foram aplicados de uma só vez, no mês de novembro. A maior produção de forragem ocorreu quando o SFS foi parcelado, seguido pelo parcelamento do KCl, da aplicação única de ambos e, finalmente, do parcelamento dos dois. A recuperação do N-uréia na parte aérea e no sistema solo-pastagem não diferiu com os tratamentos. Entretanto, a recuperação na coroa da planta e no sistema radicular diferiu entre os tratamentos e mostrou-se positivamente correlacionada com a produção de forragem. A recuperação de fertilizante na liteira foi favorecida pelo parcelamento do KCl. Apesar de não ter sido verificado aumento na recuperação total do sistema entre os tratamentos, o parcelamento do KCl e do SFS tem sido indicado por melhorar a recuperação do N-uréia em várias estruturas da planta, refletindo em maior produção da forrageira.
Termos de indexação: fósforo, potássio, balanço 15N, pastagens, perdas nitrogenadas.
In pastures, the evaluation of fertilization efficiency of urea-N is important since it is applied on a massive scale. Several studies report an enhancement of the fertilizer's efficiency by associated applications of urea with potassium chloride (KCl) and ordinary superphosphate (OSP). In the recovery of degraded pastures or in intensive exploration systems, high quantities of KCl and OSP used as corrective fertilization are applied at the november, beginning of the rain season. Split applications of KCl and OSP could easily be associated with urea-N surface application without additional costs. An evaluation of this management was the objective of this experiment. The annual balance of 15N application with urea was obtained in treatmentrs where OSP and/or KCl were split, top-dressed in five applications associated with urea, or when both were applied together in November. Highest forage production was obtained when OSP was split, followed by split KCl, the unique application of both together, and finally both split. The recovery of urea-N in the aerial part and the soil-pasture system remained unaltered by the treatments. However, the recovery of plant crown and root system differed among the treatments and was positively correlated with forage production. Fertilizer-N recovery in the litter was favored by splitting KCl. Even though the total recovery of the system was not improved by the treatments, splitting of KCl and OSP are indicated for an increased recovery of urea-N in numerous plant structures, resulting in a higher forage production.
Index terms: phosphorus, potassium, 15N balance, pastures, swards, nitrogen loss.
As perdas decorrentes da fertilização nitrogenada com uréia sempre foram bastante estudadas em razão de sua grandeza. Quando se aplica uréia na superfície do solo, esta sofre o processo de hidrólise (na presença de água e urease), formando amônia (NH3), dióxido de carbono (CO2) e água (Sengik & Kiehl, 1995).
Dependendo das condições do meio, a amônia pode ser perdida ou retida no sistema. Em condições em que a retenção da amônia no solo não é favorecida, poderão ocorrer perdas de grande significância por volatilização. Em pastagens, a baixa CTC de solos normalmente arenosos, as altas doses de N aplicadas e sua conseqüente saturação por amônia (Kiehl, 1989a) e a presença de uma camada de liteira rica em urease favorecem as perdas por volatilização, quando é feita a aplicação da uréia na superfície do solo.
Em pastagens, além da existência de urease na liteira, outro fator que certamente contribui para as perdas por volatilização é o pH alto deste material. Estudos com cana-de-açúcar, sem queima, mostram que as perdas diárias de N por volatilização da amônia aumentaram com o aumento do pH da palhada presente na superfície dos solos (Kong et al., 1991). Em trabalhos com adubação verde, Miyazawa et al. (2000) também verificaram efeito alcalinizante dos resíduos vegetais de diferentes espécies.
Diante do exposto, alternativas para o controle das perdas de amônia por volatilização tornam-se importantes para melhorar a eficiência das fertilizações com uréia em pastagens. O uso de sais inorgânicos associados à aplicação de uréia pode representar uma boa alternativa, de acordo com trabalhos realizados nos EUA por Fenn et al. (1982a,b).
No Brasil, Sengik & Kiehl (1995) desenvolveram trabalhos em laboratório com o objetivo de avaliar os efeitos de sais inorgânicos na redução das perdas de N por volatilização, oriundo da uréia, em solos sob condições tropicais. O autores verificaram que superfosfato simples (SFS) na relação 1:1 (massa de SFS: massa uréia) reduziu as perdas de N por volatilização em 14 %, na relação 2:1 em 17 % e na relação 3:1 em 19 %.
Os efeitos de redução das perdas de amônia por volatilização advindas da associação com o SFS provavelmente se devem à presença de ácido fosfórico, reduzindo o pH do meio, a atividade da urease e a adsorção específica do fosfato pela geração de cargas negativas no meio, levando à adsorção de íons amônio (Sengik, 1993; Tisdale et al., 1984).
Para o cloreto de potássio, acredita-se que a associação com a uréia seja efetiva porque existe uma troca, no complexo sortivo do solo, do Ca pelo K, havendo, em seguida, formação de carbonato de cálcio e cloreto de amônio (Fenn et al., 1982b; Sengik, 1993), conforme a equação:
ï-Ca + 2KCl + 2 H2O + CO(NH2)2 ®ï -2K + CaCO3 + 2 NH4Cl
Em estudo de laboratório com Areia Quartzosa, Rappaport & Axley (1984) encontraram que a adição de cloreto de potássio à uréia (relação 1:1, m/m) diminuiu as perdas de amônia de 42 para 4,6 %, sendo o melhor efeito encontrado quando a uréia estava em solução com o KCl. Em condições de campo, esses autores também encontraram efeitos benéficos da associação do KCl com a uréia para milho e capim Sudão.
Gameh et al. (1990) estudaram as perdas por volatilização de amônia, quando se associou uréia ao KCl em diferentes formas de fertilização (uréia e KCl em grânulos, solução de uréia + KCl, uréia recoberta com KCl), e verificaram que, para a mistura dos grânulos dos dois fertilizantes, as perdas foram reduzidas de 28 % no tratamento-controle para 17 %. No Brasil, esta seria a forma de mais fácil uso.
Em trabalhos desenvolvidos com cana-de-açúcar com preservação da palhada na superfície do solo, Kong et al. (1991) observaram que a recuperação do N oriundo da uréia foi praticamente o dobro (66 %) para uma mistura de KCl + uréia (relação 1:1, m/m) em relação ao tratamento com a uréia (34 %). Os autores atribuíram o efeito ao pH do KCl (6,0 em solução 1:10, massa KCl:volume de água), uma vez que, no tratamento em que foi empregado um fertilizante comercial Nitraking (uma composição de uréia com muriato de potássio) de pH 9,0, não houve eficácia na redução das perdas por volatilização da amônia. Segundo os autores, o aumento da eficiência do uso da uréia associada a outros compostos irá depender do potencial do composto em reduzir o pH do microssítio ao redor do grânulo da uréia.
Ouyang et al. (1998) avaliaram o parcelamento do SFS e do KCl junto com as aplicações de uréia em relação à aplicação em separado dos fertilizantes na cultura do milho em plantio direto e encontraram redução nas perdas de amônia por volatização, aumento na recuperação do N adicionado e na produção de milho quando parcelaram todos os fertilizantes.
O estudo da eficiência de uso do N da uréia por meio da aplicação conjunta de fertilizantes é muito importante, uma vez que, no processo de recuperação e intensificação de pastagens, utilizam-se, freqüentemente, doses elevadas de sais inorgânicos como 500 kg ha-1 ano-1 de SFS e KCl.
O objetivo deste trabalho foi verificar se o parcelamento destes fertilizantes junto às adubações nitrogenadas, após cada pastejo, seria um processo viável, por se tratar de uma técnica simples, de fácil adoção e que não acarretaria custo adicional ao pecuarista.
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