Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 

Efeito da niclosamida no controle de girinos de anuros na propagação de pós-larvas de Carpa Comum (página 2)

Álvaro Graeff

 

4. Material e Métodos

Foram realizados seis experimentos, cada um para uma fase de desenvolvimento dos girinos e peixes (ovo, 7, 12, 21, 27 e 34 dias de vida). Para cada experimento foram utilizados 20 aquários de seis litros, sendo todos abastecidos até o momento do início dos tratamentos, quando então foi interrompido o fluxo de água, sendo povoados com pós-larvas de carpas comum (Cyprinus carpio L.) e girinos de sapo (Bufo sp.) na quantidade de 100 unidades de cada um em cada repetição.

O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com cinco tratamentos (0,00; 0,10; 0,15; 0,20; e 0,25 ppm de niclosamida) e quatro repetições, com observações aos 20, 30, 40, 50, 60, 70 minutos e até 24 horas após o inicio do experimento. Em cada observação retirou-se o número de indivíduos mortos, anotados em planilhas específicas. Foram repetidos estes tratamentos com pós-larvas de carpas e girinos da mesma população, no período de 10 de novembro a 30 de dezembro de 1999, nas fases de: ovo, 7, 12, 21, 27 e 34 dias de vida. No sistema de produção normal após os 34 dias, as pós-larvas tornam-se alevinos e são entregues; os girinos têm sua metamorfose completa, quando o princípio ativo não tem mais efeito. Para a primeira semana de vida dos girinos, em que foram testadas as cinco doses do produto, foram obtidas as equações de regressão para a porcentagem de mortalidade em função das avaliações (20-70 minutos), para cada dose. A avaliação às 24 horas foi feita somente para observação prática do efeito residual.

A dieta oferecida foi a mesma que as pós-larvas de carpas comum (Cyprinus carpio LINNAEUS, 1758) recebem no sistema produção na Estação de Piscicultura/EPAGRI em Caçador/SC, conforme a Tabela 1.

A alimentação foi feita com as rações conforme Tabela 1, em quatro vezes por dia, de acordo com OGINO (1980) e NRC (1993), sendo ajustadas semanalmente.

A temperatura da água, foi medida diariamente às 9 e 15 h, com um termômetro de coluna de mercúrio (esc: -20 a +70oC). O pH, oxigênio dissolvido, gás carbônico, dureza, alcalinidade e amônia foram analisados semanalmente no Laboratório de Qualidade de Água/EPAGRI.

5. Resultados e Discussão

A temperatura da água durante o período experimental (Figura 1), no sistema de produção onde se retirava a amostra de girinos e pós-larvas de carpa comum, manteve-se entre 16,2 e 28,1oC, ficando a média do período em 23,1 ± 2,3oC, próxima da relatada por ARRIGNON (1979), CASTAGNOLLI (1986), 24 e 28oC para carpas. A temperatura média no ambiente no período manteve-se entre 16,0 e 28,2oC, ficando a média em 22,9 ± 2,8oC dentro dos parâmetros normais para esta época do ano, em nossa região.

Na avaliação da qualidade da água, os parâmetros: pH, oxigênio, amônia, gás carbônico, dureza e alcalinidade estavam dentro do preconizado por BOYD (1997) HUET (1978), ARRIGNON (1979), LUKOWICZ (1982), WOYNAROVICH (1985) e CASTAGNOLLI (1992).

A sobrevivência obtida dos alevinos, no fim do ciclo, nos dois viveiros de produção experimentais, de onde foram retiradas as amostras experimentais, foi de 5000 e 45.000 unidades ou seja 6 e 51%, respectivamente das pós-larvas povoadas. Em contrapartida, a produção de girinos de várias idades, nos dois viveiros, foi de 40,0 e 5,0 quilogramas, respectivamente, demonstrando claramente a influência de concorrência por espaço e alimentação durante o cultivo.

Não ocorreu efeito da niclosamida nas doses testadas (0,00; 0,10; 0,15; 0,20; e 0,25 ppm) na fertilização e eclosão dos ovos de girinos (Bufos sp.) e peixes (Cyprinus carpio L.) e nem na sobrevivência na primeira semana de vida das pós-larvas de carpa comum. Para a mortalidade dos girinos na primeira semana de vida, ocorreu interação entre as doses de niclosamida testadas (0,00; 0,10; 0,15; 0,20; e 0,25 ppm) e os períodos de avaliação (20, 30,40,50,60 e 70') e procedeu-se análise de regressão para a percentagem de mortalidade em função do tempo para cada dose (Figura 2).

A equação de regressão linear que melhor explica a eficiência da dose de 0,10 ppm é Y= -24,6+1,08X; de acordo com esta equação, aos 70 dias em torno de 50% dos girinos estariam mortos. À dose 0,20 ppm corresponde a equação de regressão quadrática Y= -85,329 + 4,934 X - 0,03214 X2; de acordo com esta equação a mortalidade é de 100% aos 65 minutos. À dose 0,25 ppm a equação de regressão quadrática é Y= -138,193 + 8,489 X - 0,0735 X2 e, também de acordo com a equação, a mortalidade de 100% atingiria aos 48 minutos. Para a dose de 0,15 ppm não foi obtido bom ajuste dos valores observados nos modelos testados.

Analisando os resultados da Tabela 2, verifica-se tendência de diminuição da mortalidade com o aumento da idade dos girinos na dose 0,15 ppm, porém, após as 24 horas, os girinos com 27 dias estavam todos mortos. Na dose 0,10 ppm, constatou-se pequeno efeito nos girinos de 21 dias até os 70 minutos e, após as 24 horas, também ocorreu o efeito decrescente com as idades. O resultado explica-se pelo fato de, durante a metamorfose, os anuros necessitarem de muito oxigênio difundido na água, pois nesta fase seu metabolismo é acelerado e, portanto, o consumo de oxigênio é elevado (VIZOTTO, 1978). A melhor eficiência ocorre aos 27 dias de vida do girino com a dose de 0,15 ppm com 100% de mortalidade no primeiro dia de contato.

Na Tabela 3 observa-se sobrevivência baixa de pós larvas de carpa comum, somente na dose de 0,15 ppm na idade de 12 dias, após 24 horas de exposição ao produto.

Baseado nas observações das Tabelas 2 e 3, a melhor combinação de resultados entre a mortalidade de girinos e sobrevivência de carpas comum seria obtida na dose de 0,15 ppm aos 27 dias de vida (100% mortalidade dos girinos e 100% sobrevivência das pós-larvas), embora não tenha sido possível realizar esta comparação estatisticamente. A dose de 0,10 ppm deverá de preferência ser aplicada a partir de 21 dias de idade das pós-larvas de carpa comum e os girinos com menos de 21 dias (Tabelas 2 e 3).

6. Conclusões

A niclosamida nas dosagens utilizadas não apresentou efeito sobre a fertilização e eclosão dos ovos de carpas comum (Cyprinus carpio L.) e girinos (Bufos sp).

Na primeira semana de vida das carpas comum, as dosagens utilizadas não tiveram efeito deletério, enquanto estimou-se que 100% de mortalidade dos girinos ocorreu após os 70, 65 e 48 minutos, após o contato nas doses de 0,10; 0,20 e 0,25 ppm, respectivamente.

Existe tendência de a dose de 0,15 ppm aos 27 dias ter provocado maior mortalidade de girinos, com a maior sobrevivência de pós-larvas de carpa comum.

A dosagem de 0,10 ppm de niclosamida também apresentou tendência de melhor resultado aos 21 dias das pós-larvas de carpa comum (sobrevivência) e girinos (mortalidade), após 24 horas de contato.

Agradecimento

À Empresa Bayer S.A., na pessoa do Dr. João Paulo Gomes, pelo fornecimento do produto.

Ao técnico em Agropecuária Roberto Dal Pont, responsável pelo Laboratório de Qualidade de Água, pela dedicação durante as etapas de trabalho de campo.

7. Referências Bibliográficas

ARRIGNON, I. 1979. Ecologia y piscicultura de águas dulces. Madri: Mundi-Prensa. 365p.

BOYD, C.E. 1997. Manejo do solo e da qualidade da água em viveiro para aquicultura. Campinas: Associação Americana de Soja. 55p.

CARTHY, J.D. 1980. Comportamento animal. São Paulo: EPU: Ed. Universidade de São Paulo. 79p.

CASTAGNOLLI, N. 1986. Piscicultura nos trópicos. São Paulo: Manole, 152p.

CASTAGNOLLI, N. 1992. Piscicultura de água doce. Jaboticabal: Ed. Funep. 189p.

FIGUEIREDO, G.M., SENHORINI, J.A. 1990. Influência de biocidas no desempenho da carpa comum (Cyprinus carpio LINNAEUS, 1758) e sobre zooplâncton, durante o período de larvicultura. Bol. Téc. CEPTA, 3(único): 5-22.

HUET, M. 1978. Tratado de piscicultura. Madrid: Mundi-Prensa. 705p.

JHINGRAN, V.G., PULLIN, R.S.V. 1985. A hatchery manual for the common chinese and indian major carp. Manila: Asian development Bank; International Center for living Aquatic Resources Management. 191p. (ICLARM Studies and reviews, n.11).

JUAREZ, L.M., ROUSE, D.B. 1983. Acut toxicity of trichlorfon to juvenile freshwater prawn. Progr. Fish-Cult., 45(4): 214-216.

LOPES, S., MACHADO, A. 1996. A vida. São Paulo: Atual. (Ciências; 6a Série). 103p.

LUKOWICZ, M.V. 1982. Intensive carp Cyprinus carpio L. rearing in a farm pond in southern Germany and its effects on water quality. Aquaculture Engineers, 1(2):121-137.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. 1993. Nutrient requirements of fish. N.A.P. Washington, D.C. 114p.

OGINO, C. 1980 Protein requirement of carp and rainbow trout. Bulletin Japanese. Society Sciences fisheries, 46:385-388.

OPUSZYNSKY, K., SHIREMAN, J.V., ALDRIDGE, F.J. 1984. Environmental manipulation to stimulate rotifers in fish ponds. Aquaculture, 42:343-348.

PRUNER, E.N. 1984. Dados não publicados. Caçador: Estação de Piscicultura EPAGRI.

ROTHBARD, S. 1984. Induced reproduction in cultivated cyprinids - the common carp and the group of chinese carps: II. The rearing of larval and the primary nursing of fry. Bamidgeh, 34(1):20-32.

TAMAS, I., HORVÁTH. 1976. Growth of cyprinids under optimal zooplankton conditions. Bamidgeh, 28:50-56.

VIZOTTO, L.D. Aspectos técnicos da ranicultura. In: ENCONTRO NACIONAL DE RANICULTURA, 1, 1978, Brasília. Sumula... Brasília, 1978. p.27-60

WOYNAROWICH, E. 1985. Manual de piscicultura. Brasília: MINTER/CODEVASF. 71p.

Alvaro Graeff1, Evaldo Nazareno Pruner2, Marcia Mondardo Spengler3agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br

1 Médico Veterinário CRMV SC-0704 - Nutrição/EPAGRI - Estação de Piscicultura de Caçador. E.mail: agraeff[arroba]epagri.rct-sc-br

2 Médico Veterinário CRMV SC-0401 - Reprodução/EPAGRI - Estação de Piscicultura de Caçador. E.mail: pruner[arroba]unc-cdr.rct-sc.br

3 Engenheiro-Agrônomo CREA 10-26092, M.Sc., Estatística/EPAGRI - Estação Experimental de Caçador. Fone: (0xx49) 563-0211, Caixa Postal 591 CEP 89500 - Caçador, SC. E.mail: mmondardo[arroba]epagri.rct-sc.br



 Página anterior Voltar ao início do trabalhoPágina seguinte 



As opiniões expressas em todos os documentos publicados aqui neste site são de responsabilidade exclusiva dos autores e não de Monografias.com. O objetivo de Monografias.com é disponibilizar o conhecimento para toda a sua comunidade. É de responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa, incluindo o autor e o site Monografias.com.