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Doses e épocas de aplicação de nitrogênio e teores foliares deste nutriente e de clorofila em feijoe (página 2)

Carlos Alexandre Costa Crusciol; José Ricardo Machado; Orivaldo Arf; Ricard

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi desenvolvido em área experimental pertencente à Faculdade de Engenharia - UNESP, localizada no município de Selvíria (MS), apresentando coordenadas geográficas de 51 o 22 'de longitude Oeste e 20 o 22 ' de latitude Sul e altitude de 335 m. O solo do local é um Latossolo Vermelho distrófico típico argiloso A moderado hipodistrófico álico caulinítico férrico, compactado, muito profundo moderadamente ácido (LVd)(7). A precipitação média anual é de 1.370 mm, distribuída principalmente no período de outubro a janeiro e com déficit hídrico entre fevereiro e outubro, a temperatura média anual é de 23,5 oC e a umidade relativa do ar fica entre 70 e 80 % (média anual).

As características químicas do solo, cultivado tradicionalmente com milho, no verão, e feijão, no inverno, foram determinadas antes da instalação do ensaio, apresentando os seguintes valores: 5,3 de pH em CaCl2; 25,0 g dm-3 de matéria orgânica; 18 mg dm-3 de Presina; 2,2; 32,0; 15,0; 28,0 mmolc dm-3, respectivamente, de K, Ca, Mg, H + Al, e 64 % de saturação por bases (V).

O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro repetições, seguindo o esquema fatorial 3 x 5, totalizando 15 tratamentos, constituídos por três modos de aplicação (todo aplicado aos 15 DAE, todo aplicado aos 30 DAE e dividido em metade aos 15 e o restante aos 30 DAE) e cinco doses de N (0; 35; 70; 105 e 140 kg ha-1 de N) aplicadas em cobertura, procurando incluir limites inferiores e superiores de classes de resposta a N preconizados para o estado de São Paulo por Ambrosano et al. (1997).

Todos os tratamentos receberam a aplicação, na semeadura, de 230 kg ha-1 da fórmula 8-28-16, de acordo com os limites superiores indicados por Ambrosano et al. (1997). Utilizou-se o sistema de semeadura direta do cultivar de feijão IAC Carioca em um solo recoberto com palhada de milho em 25/05/99, com espaçamento entrelinhas de 0,45 m e 12 sementes viáveis por metro de sulco. As parcelas foram constituídas por 6 linhas de 5 m, sendo consideradas, como área útil, as quatro linhas centrais, desprezando-se 0,5 m em ambas as extremidades.

Foram realizadas as seguintes avaliações: (a) teor de clorofila nas folhas: por ocasião do florescimento pleno, efetuou-se a leitura indireta de clorofila, com o aparelho Minolta SPAD-502, na primeira folha completamente desenvolvida, média de 10 leituras por folíolo, em cinco plantas/parcela. Os dados de leitura foram transformados em teor de clorofila pela equação = -0,152 + 0,0996x (Barnes et al., 1992); (b) teor de N nas folhas: foi determinado usando-se as mesmas folhas coletadas após leitura de clorofila, que foram imediatamente destacadas e acondicionadas em sacos de papel e secas em estufa de circulação forçada a 60-70 oC, por 72 h, moídas e submetidas à digestão sulfúrica, conforme método descrito em Malavolta et al. (1997); c) produtividade de grãos: em duas fileiras da área útil, de cada parcela, as plantas foram arrancadas e deixadas para secar em pleno sol. Após a secagem, as plantas foram submetidas à trilha manual, e a produção obtida foi convertida em kg ha-1 (13 %, base úmida).

Os dados referentes ao teor de clorofila, de N e de produtividade de grãos foram submetidos à análise de variância convencional, com as médias de épocas comparadas pelo teste de Tukey e médias de doses avaliadas por análise de regressão, ambas a 5 %. Foi verificada a correlação (r) entre a produtividade de grãos e o teor de N nas folhas, produtividade e o teor de clorofila nas folhas e teor de N nas folhas com o teor de clorofila nas folhas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No quadro 1, estão apresentados os valores médios dos teores de N, de clorofila e produtividade de grãos de acordo com a época e doses de aplicação de N no feijoeiro, bem como o teste F para os valores médios, equações e desvio de regressão, além do coeficiente de variação (CV).

A época de aplicação de N não influenciou significativamente o teor de N nas folhas; contudo, houve efeito significativo das doses de N aplicadas. À medida que se aumentou a dose de N aplicado ao solo, em cobertura, houve incremento no teor de N nas folhas, sendo o teor máximo alcançado na dose de 108 kg ha-1 de N (Figura 1), o que também foi verificado por Bassan et al. (1999), trabalhando com cultivares do mesmo grupo e em condições semelhantes de clima e solo.

No presente estudo, foram obtidos valores para N-foliar de 28,31 (testemunha) até 43,46 g kg-1 (140 kg ha-1 de N), o que está de acordo com os relatos de Trani et al. (1983), Ambrosano et al. (1997) e Malavolta (1997), que consideram o valor de 30 g kg-1 como o mínimo adequado para feijoeiro. Tal fato pode ser comprovado no presente estudo, uma vez que, com a adição de 35 kg ha-1 de N, verificou-se um incremento de cerca de 10 g kg-1 no N-foliar e 596 kg ha-1 na produtividade de grãos.

Com relação ao teor de clorofila, observou-se que a aplicação de N em uma única vez aos 15 DAE apresentou teor inferior somente à aplicação parcelada. Furlani Junior et al. (1996), estudando a aplicação de doses crescentes de N na cultura do feijoeiro, obtiveram teores de clorofila variando de 2,93 a 3,62 mg dm-2, sendo estes próximos aos teores observados no presente trabalho (2,87 a 3,85 mg dm-2). Pode-se verificar um incremento no teor de clorofila com o aumento das doses de N (Figura 2), comportamento este que também foi verificado por Furlani Junior et al. (1996).

Para a produtividade de grãos, a época de aplicação de N não teve efeito significativo, concordando parcialmente com os resultados de Arf et al. (1990) e Buzetti et al. (1990). Verificou-se que o rendimento máximo seria alcançado com a dose superior a 140 kg ha-1 (Figura 3). Tais resultados são contrastantes com aqueles obtidos para teor máximo de N nas folhas com 108 kg ha-1 de N (Figura 1), evidenciando a necessidade de estabelecimento de uma marcha de absorção do nutriente e verificação da migração do N para diferentes partes da planta, principalmente no caso do plantio direto.

No sistema de plantio convencional, Silva et al. (1999), Soratto et al. (1999) e Bassan et al. (1999) obtiveram um efeito semelhante da dose de N aplicada sobre a produtividade, tendo estes autores verificado o máximo rendimento com a dose de 78,5 e 90 kg ha-1 de N, respectivamente. Esse fato reforça a idéia da necessidade de doses maiores em semeadura direta, o que está intimamente relacionado com a decomposição dos restos de cultura do milho, com alta relação C/N, competindo, portanto, com o feijão, principalmente nos estádios iniciais do desenvolvimento.

Os resultados obtidos indicam a necessidade de estabelecimento de vários momentos de amostragem durante o ciclo da planta para detecção das variações de teores foliares de clorofila e sua correlação com os teores foliares de N, considerando as variações ocasionadas pela decomposição da palhada.

Verifica-se que o teor de N nas folhas e o teor de clorofila apresentam relação com a dose de N aplicada ao solo, evidenciando a possibilidade de utilizar o medidor de clorofila, para indicar quais as doses de N deverão ser aplicadas à cultura, a fim de manter teores adequados de N nas folhas de acordo com o teor de clorofila, como já relataram Furlani Junior et al. (1996), demandando trabalhos específicos para recomendação como instrumento de campo para o agricultor.

Esse fato é justificado ainda pela correlação significativa e positiva (r = 0,96**) entre os teores de N e o teor de clorofila nas folhas. Na figura 4, observa-se a relação entre os teores de clorofila e de N nas folhas, que foi positiva entre as duas variáveis. Esse comportamento indica que, à medida que aumentam os teores de N nas folhas, o teor de clorofila aumenta proporcionalmente. Tais resultados são concordantes com aqueles obtidos por Furlani Junior et al. (1996) e com os obtidos por Caires & Rosolem (1999), ao estudarem, respectivamente, doses de N em feijoeiro e efeitos da calagem, do cobalto e do molibdênio sobre a concentração de clorofila nas folhas de amendoim.

A produtividade de grãos correlacionou-se com o teor de N nas folhas (r = 0,87**), e com o teor de clorofila (r = 0,90**). Isto indica que tanto os teores de N como os de clorofila nas folhas, no florescimento pleno, podem ser utilizados para estimar a produtividade da cultura.

Como foi verificado no presente trabalho, há boas perspectivas de detectar deficiências de N com o auxílio do clorofilômetro Minolta SPAD502, bem como a viabilidade de se corrigir adequadamente a carência de N com base nessas leituras. Como vantagem adicional, essa técnica pode fornecer informação de forma rápida e eficaz. Propõe-se sejam realizadas pesquisas adicionais, que possibilitem verificar o comportamento do teor de clorofila e de N nas folhas ao longo do ciclo da cultura, com vistas em estimar doses de N a serem aplicadas para corrigir possíveis deficiências e fornecer à cultura o nutriente em dose e época adequadas.

CONCLUSÕES

1. A concentração de clorofila correlacionou-se positivamente com o teor de N nas folhas e com a produtividade de grãos.

2. O uso do medidor portátil de clorofila mostrou-se promissor para avaliar o estado nutricional de N no feijoeiro.

LITERATURA CITADA

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M. A. C. CarvalhoI,IV; E. Furlani JuniorII; O. ArfII; M. E. SáII; H. B. PaulinoI,V; S. BuzettiIII
arf[arroba]agr.feis.unesp.br

IEngenheiro-Agrônomo, Doutor em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista – FCAV-UNESP. Caixa Postal 31, CEP 15385-000 Ilha Solteira (SP). E-mail: carvalho[arroba]agr.feis.unesp.br; hbpaulino[arroba]agr.feis.unesp.br
IIProfessor do Departamento de Fitotecnia e Tecnologia de Alimentos e Sócio-Economia, FEIS/UNESP. E-mail:
enes[arroba]agr.feis.unesp.br; arf[arroba]agr.feis.unesp.br
IIIProfessor do Departamento de Fitossanidade, Engenharia Rural e Solos, FEIS/UNESP. E-mail: sbuzetti[arroba]agr.feis.unesp.br
IVBolsista FAPESP
VBolsista CAPES



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