Desnutrição grave: alguns aspectos clínicos e epidemiológicos de crianças hospitalizadas



(no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), Brasil)

1. Abstract

Ninety-nine children admitted to the Instituto Materno Infantil de Pernambuco with severe malnutrition from May 1999 to May 2000 were investigated in a cross-sectional study focusing on key epidemiological and clinical variables. The majority of the children (88.9%) were less than 6 months of age, 42.4% had a history of low birth weight, and 36.4% were premature. Some 19.2% had never been breastfed, and 49.5% had been breastfed for less than 2 months. Some 15.2% of the mothers were illiterate. Most of the families (86.1%) had incomes less than twice the minimum wage (approximately US$150/month), and 51.5% had migrated from rural areas. Only 26.3% of the homes had running water, and 40.4% lacked sewage disposal facilities. Diarrhea was the reason for hospital admission in 55.6% of the cases. Hospital mortality was 34.3% in this group.

Key words Nutrition Disorders; Hospitalization; Child Health

2. Resumo

Foram estudadas todas as crianças, hospitalizadas no Instituto Materno Infantil de Pernambuco, com desnutrição grave, no período de maio de 1999 a maio de 2000. O estudo foi de natureza descritiva com desenho transversal. O objetivo do estudo foi conhecer o perfil dessas crianças, em relação a algumas variáveis clínicas e epidemiológicas. A maioria das crianças tinha idade menor que 6 meses (88,9%), tendo sido observado um percentual de 42,4% de baixo peso ao nascer e 36,4% de prematuridade. Dezenove vírgula dois porcento das crianças nunca receberam leite materno, e 49,5% foram amamentadas por um período inferior a 2 meses. Verificou-se que 15,2% das mães não tinham nenhum grau de escolaridade. A renda familiar foi menor que 2 salários mínimo em 86,1% das famílias. A maioria das crianças veio do interior do Estado (51,5%). Em relação ao saneamento básico, 26,3% das casas não tinham água encanada e em 40,4% não havia fossa séptica. A diarréia foi o motivo da internação em 55,6% dos casos. A mortalidade hospitalar no grupo do estudo foi de 34,3%.

Palavras-chave Desnutrição; Hospitalização; Saúde Infantil

3. Introdução

A desnutrição energético-protéica (DEP) constitui-se num dos principais problemas de saúde coletiva em escala mundial, por sua magnitude, conseqüências biológicas e danos sociais. No nordeste do Brasil, as formas graves de DEP chegam a atingir 24,0% das crianças menores de 5 anos de idade, hospitalizadas (Alves et al., 1988; Batista Filho et al., 1988). A II Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição (INAN/UFPE/SES-PE, 1998) encontrou, segundo o indicador peso/idade, um percentual de 4,9% de desnutrição grave e moderada (abaixo de -2 desvios-padrão) em todo o Estado de Pernambuco.

A letalidade hospitalar em menores portadores de formas graves de DEP chega a ser quase dez vezes mais elevada quando comparada com crianças eutróficas (Alves et al., 1988; Guillerman & Taboadela, 1984; Schofield & Ashworth, 1997). Estudo realizado no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), observou que, de 1.045 crianças carentes falecidas no hospital no ano de 1995, 60,1% tinham algum grau de comprometimento do estado nutricional (Alves et al., 1996). Em 1998, 15,1% das crianças desnutridas graves que foram hospitalizadas no IMIP evoluíram para o óbito (NEPI, 1998). Esses dados evidenciam, de forma expressiva, o papel do hospital como centro de demanda dos casos de desnutrição grave.

Com o objetivo de se obter um maior conhecimento do problema em nível hospitalar, realizamos esse estudo, que descreve alguns aspectos clínicos e epidemiológicos de crianças com desnutrição grave. Esses dados fornecerão uma base importante para a realização de estudo de intervenção que possa então contribuir de modo mais efetivo para melhorar a abordagem médica da criança com desnutrição grave hospitalizada.


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