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O experimento foi conduzido a campo, no município de Porto Alegre, localizado a 30º 02’ 15" de latitude sul e a 51º 13’ 13" de longitude oeste, região fisiográfica da Depressão Central do estado do Rio Grande do Sul, no ano agrícola 2000/2001. O solo da área pertence à unidade de mapeamento Vacacaí, sendo classificado como Planosolo (EMBRAPA, 1999). O clima da região é classificado por Köppen como subtropical úmido, situado na transição entre os tipos fundamentais cfa1 (isoterma anual inferior a 18ºC) e cfa2 (isoterma anual superior a 18ºC). O experimento foi conduzido sob condições naturais de precipitação pluvial.
Foi testado o híbrido simples de milho Pioneer 32R21 (P 32R21), de ciclo superprecoce, com estatura de planta média de 212cm e grãos alaranjados semiduros (INDICAÇÕES, 2001), o híbrido simples Dekalb 214 (DKB 214), de ciclo precoce, com estatura média de planta de 199cm e grãos amarelos semiduros, e o híbrido duplo Agroceres 1051 (AG 1051), de ciclo normal, com estatura média de planta de 227 cm e grãos amarelos dentados. Os híbridos foram testados em três épocas, 22 de agosto de 2000 (cedo), 31 de outubro de 2000 (intermediária) e 25 de janeiro de 2001 (tarde). O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com quatro repetições.
O experimento foi instalado no sistema de semeadura convencional, dois dias após o preparo do solo. Conforme análise realizada, aplicaram-se 2,5t ha-1 de calcário, incorporado ao solo em toda área experimental, um mês antes da primeira época de semeadura. A adubação de base foi realizada em linha, por ocasião da semeadura, com 25kg ha-1 de N, 150kg ha-1 de P2O5 e 75kg ha-1 de K2O. A adubação nitrogenada de cobertura foi dividida em quatro doses iguais de 50kg ha-1 de N, aplicando-se quando as plantas estavam nos estádios de 3-4, 6-7, 10-11 folhas completamente desenvolvidas e no espigamento, conforme escala de RITCHIE & HANWAY (1993), utilizando-se a uréia como fonte.
A semeadura foi realizada manualmente, objetivando uma densidade de 60.000 plantas ha-1, colocando-se três a quatro sementes por cova. Aos 14 dias após a emergência, foi realizado desbaste. As parcelas constaram de seis linhas de 6m de comprimento, espaçadas em 0,7m entre si.
As determinações realizadas foram: duração dos subperíodos de desenvolvimento semeadura-emergência, emergência-diferenciação do pendão, emergência-diferenciação da espiga, emergência-pendoamento, emergência-espigamento, emergência-grãos em massa mole, emergência grãos em massa dura e emergência-maturação fisiológica; número de folhas completamente desenvolvidas, nas diferenciações do pendão e da espiga; número potencial de espiguetas por espiga; taxa de emissão de folhas e área foliar por planta, no espigamento, e número de espigas por planta, número de grãos por espiga, peso do grão e rendimento de grãos, na maturação de colheita.
Considerou-se a emergência do milho quando 75% das plantas estavam com o coleóptilo visível na superfície do solo. As diferenciações do pendão e da espiga foram realizadas em laboratório, sendo considerado diferenciado o pendão quando da elongação da gema apical e na base desta apareceram protuberâncias que originaram as ramificações do pendão. Já a diferenciação da espiga superior foi considerada quando da elongação da gema lateral e nesta apareceram algumas projeções (futuras espiguetas) separadas por sulcos transversais. O pendoamento e o espigamento foram determinados a campo, sendo considerado atingido o pendoamento quando em 75% das plantas o pendão estava totalmente visível e o espigamento quando 75% das plantas apresentavam estigmas visíveis.
O número potencial de espiguetas por espiga foi determinado na espiga superior, entre os estádios de pendoamento e espigamento, através da contagem do número de espiguetas por espiga. A taxa de emissão de folhas foi obtida pela divisão do número de folhas pela duração do período em dias e a área foliar pelo somatório da área foliar de cada folha viva (NOLDIN, 1985).
Os dados foram submetidos à análise de variância, e quando significativo a 5% pelo teste F, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade, com o uso do programa SAS, procedimento MIXED. Primeiro analisaram-se as épocas individualmente e, após, de forma conjunta, considerando a época de semeadura como fator aleatório.
A radiação solar global média durante a estação de crescimento 2000/2001 demonstra que, de outubro a março, a radiação solar foi superior a 400cal cm-2 dia-1, e a máxima radiação solar ocorreu no terceiro decêndio de dezembro (Figura 1A). Já a temperatura média do ar foi superior a 20ºC no período compreendido entre novembro de 2000 e março de 2001, sendo as máximas temperaturas médias verificadas no terceiro decêndio de fevereiro (Figura 1B).
A temperatura do solo a 5cm de profundidade elevou-se de 13,7ºC a 27ºC com o atraso da semeadura de agosto para janeiro (Figura 1B). A redução na duração do subperíodo semeadura-emergência em aproximadamente 15 dias à medida que foi retardada a semeadura de agosto para janeiro, pode ser atribuída ao incremento na temperatura do solo (Figura 2). Conforme BERLATO et al. (1984), para cada 1°C de aumento da temperatura do solo ocorre redução de meio dia na duração desse subperíodo. O híbrido de ciclo normal, na semeadura do cedo, apresentou baixa emergência (48%) devido, provavelmente, a sua maior sensibilidade a baixas temperaturas, já que nas demais épocas a emergência foi similar a dos demais híbridos, demonstrando que é inadequada a utilização de híbridos de ciclo normal em semeaduras de agosto (cedo).
A duração dos subperíodos de desenvolvimento do milho, especialmente no período vegetativo, diminuiu à medida que a semeadura foi atrasada de agosto para janeiro, independente do ciclo do híbrido (Figura 2). Isto se deve ao incremento na temperatura do solo e do ar à medida que se atrasou a semeadura, pois, quando o meristema apical está abaixo da superfície do solo, a temperatura do solo é quem governa o desenvolvimento do milho (STONE et al., 1999) e, quando acima da superfície do solo, a temperatura do ar é quem determina a duração dos subperíodos de desenvolvimento em híbridos considerados insensíveis ao fotoperíodo (LOZADA et al., 1999). Conforme STONE et al. (1999), para cada 1°C de elevação na temperatura do ar há redução de cinco a seis dias na duração do período compreendido entre emergência e espigamento. Entre híbridos, verificou-se que a duração dos subperíodos de desenvolvimento foi maior no de ciclo normal em relação ao de ciclo precoce e deste para o superprecoce, nas três épocas de semeadura.
Nas diferenciações do pendão e da espiga, o número de folhas completamente desenvolvidas variou pouco em função de época de semeadura e ciclo do híbrido de milho (Tabela 1). Na diferenciação do pendão, o número de folhas variou de 6,0 a 7,0 e na diferenciação da espiga o número de folhas variou de 10,0 a 10,9.
Estes resultados estão de acordo com NOLDIN (1985), que verificou que as diferenciações do pendão e da espiga ocorreram, respectivamente com 6,9 a 8,1 e com 9,2 a 12,1 folhas desenvolvidas. Assim sendo, pode-se afirmar que o momento da diferenciação destas estruturas reprodutivas está associado ao número de folhas desenvolvidas. Portanto, a aplicação de práticas culturais com o objetivo de potencializar o rendimento de grãos deverá ser baseada nos estádios fenológicos da cultura, independente do híbrido e da época de semeadura.
A taxa de emissão de folhas foi maior na semeadura de outubro e no híbrido de ciclo superprecoce, em relação a das demais épocas e híbridos, respectivamente (Tabela 2). A área foliar foi similar nas semeaduras de agosto e outubro, sendo estas superiores à obtida na semeadura do tarde (Tabela 2). Esperava-se que o milho semeado em outubro apresentasse maior área foliar do que o implantando em agosto, devido às condições mais favoráveis de ambiente (temperatura e radiação) naquela época. Isto não ocorreu, provavelmente devido ao déficit hídrico verificado de novembro a janeiro (dado não apresentado), o qual reduziu a expansão foliar na semeadura de outubro. A área foliar diminuiu com a redução do ciclo do híbrido, nas três épocas de semeadura (Tabela 2).
Quanto ao número potencial de espiguetas por espiga, os dados obtidos estão de acordo com o relatado por ALDRICH & LENG (1972), que se situa ao redor de 700 a 1000 espiguetas por espiga. O número potencial de espiguetas por espiga foi menor na semeadura de janeiro do que nas demais épocas de semeadura, com exceção do híbrido de ciclo normal, para o qual não houve diferença entre as épocas de semeadura de outubro e janeiro. Esta redução na semeadura do tarde, provavelmente, está associada à menor disponibilidade de fotoassimilados e aos maiores custos respiratórios, devido a radiação solar desta época encontrar-se em fase decrescente e às altas temperaturas incrementarem as perdas respiratórias (CIRILO et al., 1994). A menor redução no número potencial de espiguetas por espiga para o híbrido de ciclo normal na semeadura de janeiro, provavelmente, está relacionada com a maior diferença temporal entre a diferenciação da espiga e o pendoamento (18 dias) (Figura 2) o que reduziu o nível de protandria, evidenciando ser os híbridos de ciclo normal uma boa alternativa para semeaduras em janeiro (tarde). Para o híbrido de ciclo precoce, o número de espiguetas por espiga diminuiu à medida que se atrasou a semeadura. Já para os demais híbridos, obteve-se maior número de espiguetas na semeadura de outubro, apesar de não haver diferença significativa entre esta e a época do tarde para o híbrido de ciclo normal e do cedo para o híbrido de ciclo superprecoce (Tabela 3).
O rendimento de grãos foi maior na semeadura de outubro em relação ao da semeadura de agosto e esta em relação à de janeiro, independente do ciclo do híbrido (Tabela 3) devido, provavelmente, às melhores condições de temperatura e radiação solar verificadas na semeadura de outubro. Na semeadura do tarde, os rendimentos de grãos foram inferiores ao das demais épocas, principalmente, devido ao menor peso de grão nesta época (Tabela 3). Conforme KINIRY & OTEGUI (2000), o menor peso de grão no tarde pode ser atribuído à menor radiação solar desta época em relação a das demais e também ao fato de que a radiação encontra-se em fase decrescente, reduzindo por conseqüência a produção de fotoassimilados e a área foliar (Tabela 2). O número de espigas por planta não variou em função de híbridos, sendo inferior na época do tarde em relação ao das demais épocas testadas (Tabela 3), devido ao menor acúmulo de fotoassimilados (KINIRY & OTEGUI, 2000) e o maior custo respiratório na época do tarde devido às elevadas temperaturas do ar (CIRILO et al., 1994).
O número de grãos por espiga foi maior na semeadura de outubro, com exceção do híbrido de ciclo superprecoce em agosto e do híbrido de ciclo normal em janeiro (Tabela 3), provavelmente devido às melhores condições ambientais verificadas na semeadura de outubro e também porque os híbridos de ciclo superprecoce são mais adaptados a temperaturas amenas e os de ciclo normal a temperaturas mais elevadas. Verificou-se que o número de grãos por espiga foi aproximadamente 30% inferior ao número potencial de espiguetas diferenciadas, na média das três épocas de semeadura e dos três híbridos testados. Esta redução provavelmente está associada a característica protândrica do milho, que pode ser visualizada pela grande diferença temporal entre as diferenciações do pendão e da espiga e pelo curto espaço de tempo entre a diferenciação da espiga e o pendoamento (Figura 2).
A duração dos subperíodos de desenvolvimento do milho diminui com o atraso da semeadura de agosto para janeiro na Depressão Central do RS, independente do ciclo do híbrido. Já as diferenciações do pendão e da espiga ocorrem, respectivamente, nos estádios de 6 a 7 e de 10 a 11 folhas, independente do ciclo do híbrido e da época de semeadura. A taxa de emissão de folhas é maior na semeadura de outubro e no híbrido superprecoce, respectivamente, em relação a das semeaduras de agosto e janeiro e os híbridos de ciclo precoce e normal. A área foliar por planta é menor na semeadura de janeiro, em relação às de agosto e outubro, sendo incrementada à medida que aumenta o ciclo do híbrido. A semeadura de outubro propicia maior rendimento de grãos do que as semeaduras de agosto e janeiro.
ALDRICH, S.R.; LENG, E.R. Modern corn production. Illinois : Few Corp Printed, 1972. p.172.
BERLATO, M.; MATZENAUER, R.; SUTILI, V.R. Relação entre temperatura e o aparecimento de fases fenológicas do milho. Agronomia Sulriograndense, Porto Alegre, v.20, p.111-132, 1984.
CIRILO, A.G.; ANDRADE, F.H. Sowing date and maize productivity: II. Kernel number determination. Crop Science, Madison, v.34, p.1044–1046, 1994.
EMBRAPA-CENTRO NACIONAL DE PESQUISA DE SOLOS. Sistema brasileiro de classificação de solos. Rio de Janeiro : Embrapa, 1999. 412p.
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NOLDIN, J.A. Rendimento de grãos, componentes do rendimento e outras características de planta de três cultivares de milho em duas épocas de semeadura. 1985. 149f. Dissertação (Mestrado em Fitotecnia) - Curso de Pós-graduação em Agronomia, UFRGS.
RITCHIE, S.W.; HANWAY, J.J. How a corn plant develops. Iowa State University. Special report n. 48, Ames, 1993. Online. Disponível na Internet www.maize.agron.iastate.edu/corngrows.html.
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Everton Leonardo ForsthoferI; Paulo Regis Ferreira da SilvaII; Gilber ArgentaIII; Mércio Luiz StriederIV; Elias SuhreIV; Lisandro RamboV - lisandro.rambo[arroba]syngenta.com
IEngenheiro Agrônomo, Mestrando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Departamento de Plantas de Lavoura, Faculdade de Agronomia (FA), Universidade Federal do rio Grande do Sul (UFRGS). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (CAPES). IIEngenheiro Agrônomo, PhD, Professor Adjunto, Departamento de Plantas de Lavoura, FA, UFRGS, Pesquisador do Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Av. Bento Gonçalves, 7712. 91501-970, Porto Alegre-RS. IIIEngenheiro Agrônomo, Dr, Desenvolvimento de Produtos, Syngenta Seeds Ltda IVAcadêmico de Graduação em Agronomia-UFRGS. Bolsista de iniciação científica do CNPq VEngenheiro Agrônomo, MSc, Doutorando do Programa de Pós-graduação em Fitotecnia, Departamento de Plantas de Lavoura, FA,UFRGS. Bolsista do CNPq.
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