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O experimento foi conduzido na Unidade de Piscicultura da EPAGRI no setor de Nutrição de Peixes de Clima Tropical, localizado na cidade de Caçador (SC), durante o período de 17 de outubro a 20 de novembro de 2001.
Os peixes passaram por um período de adaptação de 4 dias nos aquários, e após receberam as rações definitivas conforme sistema rotineiro de produção de alevinos a partir de pós-larvas adotado pela Unidade de Piscicultura (Tabela I).
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Ou seja: nos primeiros 14 dias as pós-larvas são alimentadas 6 vezes ao dia na quantidade de 10% de seu peso vivo com a ração tipo I, após mais 7 dias sendo alimentadas 6 vezes ao dia na quantidade de 7% de seu peso vivo com ração tipo II, após mais 7 dias sendo alimentadas 4 vezes ao dia na quantidade de 5% de seu peso vivo com ração tipo III e nos últimos 7 dias serão alimentadas 4 vezes ao dia na quantidade de 3% de seu peso vivo com ração tipo IV. Desta fase em diante consideramos que a pós-larva já é alevino e esta pronto a ser entregue ao produtor para a engorda.
Com a utilização deste esquema foi instalado o experimento de restrição alimentar onde foram utilizados 1080 pós-larvas de carpa comum (Cyprinus carpio L.), sem distinção de sexo, procedentes da Unidade de Piscicultura/EPAGRI, com peso total inicial de cada repetição de 0.057 g o que resultou em peso médio inicial individual de cada pós-larva de 0.0019 ± 0.0002 g e o comprimento médio inicial de 0.70 ± 0.03 cm. Os tratamentos em número de seis foram montados da seguinte forma: I - sem restrição alimentar, II - com restrição alimentar ao 7º dia, III - com restrição alimentar ao 7º e 14º dias, IV - com restrição alimentar ao 7º, 14º e 21º dias, V - com restrição alimentar ao 7º, 14º, 21º e 28º dias, VI - com restrição alimentar ao 7º, 14º, 21º, 28º e 35º dias.
Para análise de variância utilizou-se o delineamento inteiramente casualizado com esquema de 6 tratamentos com 6 repetições sendo cada aquário uma repetição com 30 pós-larvas, e abastecido com água de modo continuo e filtrada. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa SAS/STAT - version 8.0
Para se fazer a amostragem para aferição dos pesos, no dia da amostragem, 100% das pós-larvas de cada tratamento eram capturadas e sensibilizadas com 1 ml de quinaldina para 15 l de água e posteriormente devolvidos aos aquários
As médias gerais de temperatura da água das parcelas experimentais oscilaram entre 18.8 e 20.8ºC (Tabela II) durante todo o período experimental. Embora as temperaturas tenham ficado perto do ideal (14 e 15), pode-se pressupor que tais temperaturas não influenciaram negativamente, pois observações comportamentais, ingestão de alimentos, crescimento e peso mantiveram-se satisfatórios durante todo período experimental.
A temperatura média do ambiente durante o experimento oscilou muito pouco, de um máximo de 24.3ºC a um mínimo de 22.5ºC ficando a média do período de 23.4ºC, dentro do esperado para o período observado na região (Tabela II).
Os valores do pH da água (Tabela II), variaram muito pouco de 7.2. Segundo Reid e Wood (16) e Huet (17), estes valores é normal para criações de peixes tropicais.
Os teores do oxigênio dissolvido (Tabela II) permaneceram entre um mínimo de 4.6 e um máximo de 5.9 mg/l que, segundo Arrignon (14) e Castagnolli (18), encontram-se dentro de uma faixa considerada boa para a carpa comum (Cyprinus carpio L.).
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A dureza (Tabela II), manteve-se sempre próximo do mínimo dos parâmetros aceitáveis de 30 a 100 mg/l de CaCO3. A alcalinidade, manteve-se entre 27.3 a 31.3 mg/l de CaCO3, sempre abaixo do nível recomendado por Boyd (19), e Tavares (20) que é de 30 a 300 mg/l. Mas, apesar disto, não ocasionou oscilação no pH e nem causou alteraçõescomportamentais nos peixes.
A amônia (Tabela II) sempre permaneceu em níveis toleráveis, oscilando entre 0.6 e 0.7 mg/l, apesar de autores como Lukowicz (21) e Ordog e Nunes (22), em trabalhos com Carpa comum (Cyprinus carpio L.), verificarem a tolerância das mesmas até 1.59 mg/l.
Diferentemente do que interpretava-se, que em outros animais, também a restrição alimentar leve influía negativamente na velocidade de crescimento, hoje vários pesquisadores (23 e 24) têm sugerido que a restrição severa no consumo de alimento, por período curto de tempo e em idade que permita a recuperação antes da idade de abate, pode resultar no fenômeno chamado crescimento compensatório através do fenômeno de hiperfagia. Em aves Gonzales e cols. (25) citam que este crescimento resulta em ganho de peso compensatório e redução no consumo de ração, consequentemente melhorando os resultados econômicos.
Na analise dos resultados do peso e comprimento médio final e consequentemente o ganho de peso (Tabela III) verifica-se que não ocorreu efeito significativo da restrição alimentar no período de desenvolvimento da pós-larva de carpa comum (Cyprinus carpio L.) até a transformação em alevino, em nenhum dos tratamentos realizados. Já Ribolli e cols. (26) que em trabalho com pós-larvas de dourado (Salminus maxillosus) recomenda evitar a restrição alimentar para o bom êxito da larvicultura diferente de Souza e cols. (27) que com trabalho com pacu (Piaractus mesopotamicus) chega a conclusão que pode-se usar do artificio da restrição no outono/inverno sem danos ao crescimento. Também Melard e cols. (28) comprovou que restrição alimentar em ciclos de um dia por semana proporcionaram um crescimento mais rápido em Oreochromis niloticus do que aqueles que foram alimentados diariamente, durante 24 semanas. Camargo e cols. (29) em trabalho desempenho de alevinos de matrinchã (Brycon cephalus) oriundas de fêmeas submetidas a restrição moderada do alimento conclui que os alevinos provenientes eram maiores, em peso e comprimento, que das fêmeas alimentadas continuadamente.
As evidências indicam que períodos mais curtos de privação alimentar sejam mais adequados do que períodos mais longos, para as espécies tropicais que apresentam intenso metabolismo e rápida taxa de crescimento (28).
Tabela III
Peso médio inicial, final e ganho em peso, comprimento médio inicial, final e ganho em comprimento em tratamentos de restrição alimentar.
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Também a taxa de sobrevivência final e a conversão alimentar (Tabela IV) não houve interferência dos tratamentos de restrição alimentar em nenhum momento, o que não ocorreu com Ribolli e cols. (26) em trabalho com pós-larvas de dourado (Salminus maxillosus) onde apresentou elevada mortalidade por canibalismo, especialmente se não forem alimentadas logo após a absorção do saco vitelíneo.
Na conversão alimentar também não ocorreu efeito significativo dos tratamentos e a quantidade do consumo de ração esta dentro dos sistemas de produção de alevinos de carpa comum (Cyprinus carpio L.), não ocorrendo o fenômeno de hiperfagia (10 e 11). Segundo Swingle (30) é coerente expressar como coeficiente aparente de conversão alimentar, quando se pretende calcular a conversão em um sistema de cultivo, onde se tem adubação química ou orgânica, pois o alimento natural pode contribuir com o crescimento dos peixes, o que no presente trabalho não ocorreu pois a água era com filtragem
Tabela IV
Taxa de sobrevivência inicial, final e conversão alimentar em tratamentos de restrição alimentar.
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Todos tratamentos com restrição alimentar mostraram-se viáveis e evidenciaram que podem ser estratégias de manejo alimentar, sem comprometimento do crescimento em peso e comprimento, visando melhorar os resultados econômicos no preço final do alevino de carpa comum (Cyprinus carpio L.) pela diminuição do consumo de ração.
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Alvaro Graeff, Evaldo Nazareno Pruner, Márcia Mondardo – agraeff[arroba]epagri.rct-sc.br
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina SA.
Estação Experimental de Caçador, Unidade de Piscicultura, Caçador. SC (Brasil).
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