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3. Material e métodos

3.1 Local do estudo

O Estado de Pernambuco possui cerca de 184 municípios, além do Distrito Estadual de Fernando de Noronha, sendo a capital do Estado — a cidade de Recife - o município mais populoso, com cerca de 1.421.947 habitantes em agosto/2000. A população do Estado era de 7.910.992 pessoas, com uma densidade demográfica de 78,37 habitantes/km2 e uma concentração de 76,5% nas áreas urbanas. A população estimada entre 15 e 19 anos era de 859.450 pessoas. No ano de 1999, o total de leitos disponíveis no Estado para o SUS era de 21.916, dos quais 11.906 (54,33%) apenas na Região Metropolitana do Recife(2).

3.1 Dados

Foi realizado um estudo descritivo, cuja fonte de informação foram os arquivos reduzidos da base de dados, em CD-ROM, do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS) do DATASUS, relativa ao ano de 1999 (MS, 1999) no estado de Pernambuco, com informações hospitalares obtidas dos formulários de Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Utilizou-se a AIH 1, que contém registro de identificação do paciente, procedimentos, diagnose e tratamento realizado, acompanhado dos respectivos códigos das afecções diagnosticadas. Foi construído um banco de dados com os códigos de diagnóstico principal, segundo o CID-10, incluídos nos capítulos XIX e XX, sendo selecionada a população de 0 a 19 anos de idade.

4. Resultados

Durante o ano de 1999, ocorreram em Pernambuco 190.485 hospitalizações para todos os diagnósticos, na faixa etária de 0 a 19 anos de idade. Destas, cerca de 9.220 foram motivadas por causas externas (4,8%), sendo 7.807 por traumatismos; 71,4% no sexo masculino e 55,3% entre 10 a 19 anos.

O custo total dos internamentos para todas as faixas etárias em Pernambuco, no ano de 1999, representou para o SUS cerca de R$ 212.073.716,90. Considerando-se apenas a faixa etária até os 19 anos, este valor foi de R$ 58.382.850,70 (custo médio de R$ 306,49 por paciente). As afecções relativas aos capítulos XIX e XX corresponderam a 6,27% desse total com um custo médio de R$ 396,91 por paciente. O custo médio das hospitalizações por traumatismo foi de R$ 370,66.

Nas Tabelas de 1 a 6 observam-se os principais tipos de traumatismos com seus respectivos custos, de acordo com a localização do trauma.

Em relação aos custos por diagnóstico, observamos que os Traumatismos na mesoregião Recife, responderam por 77,9% do total dos gastos, seguido por queimaduras 15,2% e complicações e seqüelas de causas externas 5,2%. Outras causas externas corresponderam a 1,7% dos diagnósticos.

 

5. Discussão

No presente trabalho, buscou-se verificar os gastos diretos do SUS com as internações por traumas, sendo deixados de fora os custos com o seguimento ambulatorial após alta e tratamentos de reabilitação. Deve ser levado em consideração que esses custos estão subestimados, uma vez que não foram computados os atendimentos que não resultaram em hospitalizações, ou ainda os que procuraram e não conseguiram atendimento, ou ainda morreram no local da ocorrência, não entrando assim no cômputo geral do SUS.

Em Pernambuco, o custo das internações hospitalares por Causas Externas, no SUS, apresentaram um crescimento de 47,20 % entre os anos de 1996 à 1999. O percentual gasto pelo SUS com todas as internações no ano de 1999 correspondeu a algo em torno de 0,05 % do PIB do estado(3). Estudo pioneiro na estimativa de impacto econômico dos acidentes e violências no Brasil revelou que as internações por estas causas em todo o país geraram um gasto anual que, em 1994, correspondia a 0,07% do produto interno bruto nacional(6).

Os traumatismos foram as principais causas de internamento no estado de Pernambuco, para todas as faixas etárias, perfazendo 84,7% e com maiores freqüências na faixa de 5-19 anos. Em áreas urbanas, já se observou que o trauma é uma doença com alto risco de recorrência, pois há um grupo de pessoas que não é apenas vítima de trauma, mas vítima de seu próprio comportamento de alto risco, com taxas de recorrência que podem chegar até 44% dos casos, quando é possível um seguimento médico adequado risco(8,10, 12).

Os traumatismos do segmento cefálico e do pescoço foram os que representaram os maiores custos ao SUS, representando o traumatismo intracraniano 76,6% dos gastos totais com os traumas da cabeça e do pescoço. Outros estudos apontam esse tipo de trauma, juntamente com aqueles que atingem as extremidades dos membros como os de maiores custos(7,8). Nossos achados indicaram as fraturas dos membros superiores e inferiores, respectivamente como a segunda e a terceira causa de maiores gastos pelo SUS. Mackenzie et al.(7) observaram que os traumas em membros chegavam a representar 43% dos custos totais com o tratamento.

É importante ressaltar que a mensuração dos gastos para o sistema público de saúde gerado por todas as formas de traumatismos ainda não pode ser realizada em toda a sua magnitude, já que a avaliação dos custos indiretos carece de dados fidedignos que a fundamentem e a própria medição dos custos diretos não médicos é difícil de ser realizada. Entretanto, para que o real impacto dos traumatismos sobre a saúde pública possa ser avaliado, suas repercussões sociais e sobre a força de trabalho produtiva, devidamente mensurada, é fundamental que pesquisas com esse intuito sejam continuamente fomentadas.

Para que políticas públicas de combate ao trauma sejam eficazes, faz-se necessário, em paralelo às medidas de segurança, que a "saúde pública" também estabeleça quais as populações de risco em cada região e quais as características das lesões sofridas por essa mesma população. Isto servirá como subsídio às autoridades, para que possam estabelecer as prioridades peculiares de cada bairro, cidade ou estado.

Os custos diretos médicos, conforme descritos neste trabalho, são elevados e estariam muito melhor empregados se, porventura, pudessem ser aplicados em educação e saúde preventiva e não no tratamento, muitas das vezes paliativo, de lesões que, em níveis crescentes têm sido intencionalmente infligidas. Os custos financeiros para o país têm sido muito elevados, como os têm sido os custos sociais. Urge a busca de soluções em caráter definitivo para este grave problema, que, embora não tenha solução a curto prazo, pode ser combatido em várias frentes e cujos resultados far-se-ão sentir a médio e longo prazos.

6. Conclusões

• Foi elevado o gasto do SUS com a hospitalização de crianças e adolescentes vítimas de traumas no estado de Pernambuco em 1999,

• Traumatismos foram as principais causas de internamentos na população estudada, representando mais de 80% dentre as causas externas estudadas.

• Os traumatismos que representaram os maiores custos ao SUS foram o traumatismo intracraniano e as fraturas de membros superiores e inferiores.

7. Referências bibliográficas

1. Barros MDA, Ximenes R, Lima MLC. Mortalidade por causas externas em crianças e adolescentes: tendências de 1979 a 1995. Rev Saúde Pública 35:142-149, 2001.

2. Clancy TV, Misick LN, Covington D, Churchill MP, Maxwell JG. The financial impact of intentional violence on community hospitals. J Trauma 37:1-3, 1994. www.bireme.br

3. CONDEPE. Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Social. Pernambuco em Dados. Recife, 2000.

4. Deslandes SF, Silva CMFP, Ugá MAD. O custo do atendimento emergencial às vítimas de violências em dois hospitais do Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública 14:287-299, 1998.

5. Farrel C. The economics of crime. Business Week 13:72-80, 1993.

6. Iunes RF. Impacto econômico das causas externas no Brasil: esforço de mensuração. Rev Saúde Pública 31:38-46, 1997.

7. Mackenzie EJ, Shapiro S, Siegel JH. The economic impact of traumatic injuries. One-year treatment-related expenditures. JAMA 260:3290-3296, 1988. www.bireme.br

8. McGarry LJ, Thompson D, Millham FH, Cowell L, Synder PJ, Weinstein MC. Trauma 53:1152-1159, 2002.

9. Miller TR, Cohen MA, Rossman SB. Victim costs of violence crime and resulting injuries. Health Affairs 12:195-197, 1993.

10. Minayo MCS, Deslandes SF. The complexity of relations between drugs, alcohol, and violence. Cad Saúde Pública 14:35-42, 1998.

11. Morrison W, Wright JL, Paidas CN. Pediatric trauma systems. Crit Care Med 30(Suppl.):448-556, 2002.

12. Poole GV, Griswold JA, Thaggard VK, Rhodes RS. Trauma is a recurrent disease. Surgery 113:608-611, 1993. www.bireme.br

13. Weaver K, Maddaleno M. Youth violence in Latin America: Current situation and violence prevention strategies. Rev Panam Salud Publica 5:4-5, 1999.

Trabalho realizado no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP)

Roberto Natanael da Silva MendonçaI; João Guilherme Bezerra AlvesII - joaoguilherme[arroba]imip.org.br

IMestre em Saúde Materno Infantil pelo IMIP IIProfessor Adjunto da UPE e do IMIP.



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