Crescimento de raízes dos capins aruana e tanzânia submetidos a duas doses de nitrogênio



RESUMO

Foram avaliadas características do sistema radicular (pré e pós-pastejo) dos capins aruana e tanzânia submetidos a doses de nitrogênio (150 e 300 kg ha-1 de N) e pastejados por ovinos em lotação rotacionada com três a sete dias de pastejo e período de descanso variável. O delineamento experimental foi o de blocos completos casualizados (dois) com duas repetições, em esquema de parcelas subdivididas (parcelas =capins e subparcelas=doses de N) e medidas repetidas no tempo. No pré-pastejo, o capim-tanzânia, na média entre doses de N e períodos de pastejo, apresentou maior quantidade de massa seca da matéria orgânica (MSMO) (1,7 mg cm-3 de solo) que o capim-aruana (1,2 mg cm-3 de solo), além de maior comprimento de raízes (119,1 cm cm-3 de solo e 68,7 cm cm-3 de solo, respectivamente). A dose de 300 kg ha-1 de N contribuiu para maior comprimento do sistema radicular (107,1 cm cm-3 de solo) que a dose de 150 kg ha-1 de N (80,7 cm cm-3 de solo). O crescimento radicular pós-pastejo demonstrou similaridade de comportamento entre as variáveis mensuradas, de modo que o crescimento de raízes se tornou mais evidente após a segunda semana de rebrotação. Na média de capins, doses de N e idades de crescimento, no período equivalente ao outono/inverno, o crescimento de raízes (em MSMO foi de 3,9 mg 100 cm-3) aumentou para 12,9 mg 100 cm-3 no inverno, caiu para 4,7 mg 100 cm-3 na primavera e elevou novamente para 17 mg 100 cm-3 no verão. Comportamento semelhante foi observado para comprimento e superfície de raízes, coincidindo os períodos de maior crescimento com os de maior pluviosidade. A dose de 150 kg ha-1 de N promoveu maior crescimento em comprimento e superfície de raízes que a dose de 300 kg ha-1 de N nos períodos de maior pluviosidade.

Palavras-chave: fertilização nitrogenada, Panicum maximum, sistema radicular

ABSTRACT

The root system (pre and post grazing) characteristics of aruanagrass and tanzaniagrass under two nitrogen rates (150 and 300 kg ha-1 N year) grazed by sheep in variable rotational stocking (three to seven grazing days) and variable rest period were evaluated in this study. The treatments were assigned to a complete randomized block (two) design with two replicates (plots = grasses and split-plots = nitrogen rates)within repeated measures. In the pre-grazing tanzaniagrass, averages within nitrogen rates and grazing period showed higher amount of dry matter of organic matter (DMOM) (1.7 mg cm-3 of soil) than aruanagrass (1.2 mg cm-3 of soil) and greater root length (119.1 cm cm-3 of soil x 68.7 cm cm-3 of soil). The 300 kg ha-1 N rate contributed to a higher root system length (107.1 cm cm-3 of soil) than the 150 kg ha-1 N rate (80.7 cm cm-3 of soil). Post-grazing root growth showed similar behavior among the variables measured and was more evident after the second regrowth week. Considering averages within grasses, nitrogen rates and growth age, in the period equivalent to Autumn/Winter, the DMOM growth root was of 3.9 mg 100 cm-3, increased by 12.9 mg 100 cm-3 in Winter, decreased by 4.7 mg 100 cm-3 from Winter to Spring, and increased by 17 mg 100 cm-3 on Summer. Similar behavior for both root length and surface was observed, when the periods with higher growth coincided with the ones with higher rainfall. The 150 kg ha-1 N rate promoted higher length and surface than the 300 kg ha-1 N in the periods with higher rainfall.

Key Words: nitrogen fertilization, Panicum maximum, root system

Introdução

Tendo em vista a importância econômica da produção de ovinos em pastagens, são de extrema relevância medidas acertadas no manejo, incluindo a adubação, visando aumentar sua produtividade e lucratividade. Além disso, tem-se verificado crescente preocupação de técnicos e produtores por sistemas intensivos de pastejo para ovinos, com interesse em cuidados com o manejo da pastagem, a manutenção e reposição da fertilidade do solo. Todavia, são poucas são as informações na literatura sobre manejo de pastagens de cultivares de Panicum maximum Jacq. para ovinos.

Para a lotação intermitente com ovinos, a utilização de capins do gênero Panicum seria uma alternativa interessante, em razão de sua elevada capacidade de produção de forragem por unidade de área e hábito de crescimento cespitoso. O manejo proposto em capins de hábito de crescimento cespitoso para ovinos, com rebaixamento acentuado da forragem (15 - 20 cm de altura), é recomendado para reduzir a infestação da pastagem por larvas de helmintos. Com manejo baixo, há redução significativa no número de larvas infestantes pela exposição à radiação ultravioleta, maior ventilação e temperatura elevada nos estratos inferiores (Santos et al., 2001).

A produtividade da parte aérea é reflexo do que acontece com o sistema radicular, pois ambos interagem. Logo, qualquer fator que limite o crescimento de raízes pode prejudicar a produção de massa seca da planta forrageira. As informações sobre o crescimento de raízes na literatura são poucas, contrariamente àquelas disponíveis para a parte aérea. Ainda pouco se conhece sobre os mecanismos de crescimento do caule, muito menos se sabe sobre os da raiz (Scurlock & Hall, 1998; Matta, 1999; Bono et al., 2000). Pelo conhecimento prévio do crescimento e da distribuição do sistema radicular, pode-se orientar práticas que visem aumentar a perenidade e produtividade da pastagem no sistema de produção (Da Costa et al., 1983).

O ecossistema de pastagens é dinâmico; apresenta a distribuição de sua produção anual entre as partes aérea e subterrânea, mas pode sofrer alterações decorrentes das condições de meio ambiente. Em um sistema de pastejo, a parte vegetativa aérea é mais estudada e valorizada porque é consumida pelos animais, mas a planta deve ser estudada como um todo, pois as diferentes estruturas que a compõem interagem para seu crescimento e sua produção. Embora não sejam consumidas, as raízes devem ser consideradas e estudadas em virtude de sua elevada importância na capacidade de armazenar carboidratos e proteínas, o que influencia diretamente na rebrotação após desfolhação. O pastejo afeta diretamente o crescimento do sistema radicular, influindo na capacidade das plantas forrageiras de resistir a períodos de estresse hídrico e competir por nutrientes no solo (Herling et al., 2001).

Segundo Richards (1993), estudos com plantas C3 e C4 têm mostrado que o crescimento de raízes cessa após a remoção de cerca de 50% ou mais de sua área foliar. Portanto, é inevitável a redução no crescimento do sistema radicular imediatamente após a desfolhação, proporcionalmente à frequência de corte ou pastejo. Por outro lado, esse comportamento após a desfolhação parece ser uma estratégia fisiológica da planta forrageira, que busca proporcionar rápida recuperação da parte aérea (rápida retomada do processo fotossintético) e, conseqüente equilíbrio positivo de carbono na planta por meio da diminuição da demanda de carbono pelo sistema radicular (Richards, 1993). Contudo, essa redução do crescimento de raízes também implica em menor capacidade de absorção de água e nutrientes pela planta forrageira.

A disponibilidade de água no solo afeta a taxa de elongação das raízes e a absorção dos nutrientes pelas mesmas (Singh, 1998). De acordo com Voorhees et al. (1980), a massa seca de raízes é um atributo fácil de ser obtido em relação a resultados de comprimento do sistema radicular, mas somente a massa seca de raízes não expressa a extensão em que determinado volume de solo é explorado pelo sistema radicular e, conseqüentemente, não se pode avaliar de forma consistente os processos de absorção de água e nutrientes. Nesse sentido, o comprimento das raízes pode ser uma variável importante para o estudo de crescimento da planta, contribuindo para gerar informações relacionadas à fisiologia e ao estado nutricional do vegetal.

A camada de 0-20 cm de solo seria a responsável pela maior proporção do volume radicular de gramíneas (Carvalho, 1999; Matthew, 1992; Bono et al., 2000). A dificuldade de coleta em maiores profundidades pode ser fator limitante para a maior parte dos estudos com raízes (Pagotto, 2001), pois, a partir de 20 cm de profundidade, a amostragem se torna difícil e trabalhosa. A amostragem de raízes na camada de 0-20 cm, por ser mais fácil de se realizar, dispende menor tempo, podendo-se coletar maior número de amostras, buscando diminuir a variabilidade dos dados, que é excessivamente alta para estudos com raízes (Vogt & Bloomfield, 1991; Pagotto, 2001). Segundo Deinum (1985), a variação na medida de massa seca de raízes é normalmente grande e varia de 20 a 50%.

Portanto, verifica-se a importância do estudo do sistema radicular, pois é um dos responsáveis pela produção e perenidade do pasto, juntamente a fatores ligados ao manejo, à adubação nitrogenada, ao solo e ao clima. Neste experimento, objetivou-se avaliar o crescimento de raízes de acordo com o manejo da pastagem e a adubação nitrogenada, visando fornecer bases para maior entendimento do comportamento da planta forrageira no sistema de produção.

 


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